07 novembro, 2010

Viva hate

http://bibo-porto-carago.blogspot.com/

Este fim-de-semana o FCP defronta os enc@rnados em hóquei em patins, andebol e futebol, por ordem cronológica. A equipa de hóquei já nos deixou orgulhosos e passa agora a bola às de andebol e futebol, que defendem amanhã as nossas cores em Lisboa e no Dragão, respectivamente.

Em vésperas de jogos como estes, e sobretudo no caso do futebol, é normal dizer-se que se trata de um jogo especial. Porquê, se não vale mais do que três pontos e "meia" vantagem no confronto directo?

Sinto sempre um ligeiro desconforto quando, a meio de um cântico, dou por mim a gritar a plenos pulmões que “guardo ódio a todos eles” ou que “todo o Porto te odeia, sentimos ódio por ti”. Porque eu, sinceramente, não sinto ódio por esse clube. É claro que também depende da nossa concepção pessoal de ódio, um conceito tão complexo e profundo que nenhum dicionário nos pode ajudar. Segundo o da Priberam, por exemplo, ódio é "aversão inveterada e absoluta; raiva; rancor; antipatia", o que ainda complica mais as coisas, porque essas palavras não são sinónimas umas das outras. Antipatia por eles, sinto sim senhor. Raiva, às vezes. Ódio, não. O ódio, que normalmente até tento converter em qualquer coisa mais positiva pois corrói-me mais a mim do que ao objecto desse sentimento, reservo-o para os pedófilos, para os líderes sanguinários, para os que exploram e maltratam pessoas ou animais. Não se preocupem que não vem aí um sermão do tipo “a vida é muito mais do que a bola”. Julgo que todos nós sabemos isso, e quanto mais conheço pessoalmente este grupo de gente a quem um olhar externo chamaria "fanáticos muito para além do razoável", mais compreendo o quão equilibrados somos. Fazemos do Porto uma grande parte da nossa vida por opção, e isso faz-nos felizes. E não nos impede de viver tudo o mais que a vida tem para oferecer, de bom e de mau.

Mas voltando aos enc@rnados, sei que há muitos portistas que definem como "ódio" aquilo que sentem por eles. O que pode dever-se a uma percepção diferente do conceito de ódio – ou não. Também sei que há portistas que viveram experiências que eu não vivi, nomeadamente em deslocações ao estádio adversário, e que por isso têm uma perspectiva diferente. Quero que fique claro que não estou a julgar ninguém, e que todos temos as nossas razões para sentir as coisas como sentimos.

Eu, pessoalmente, embora não sinta ódio, sinto certamente qualquer coisa de muito negativo por aquele clube e pela sua massa adepta. Mas não sem razão. As rivalidades no futebol não caem do céu, nem são tão gratuitas como geralmente se faz crer. Ocasionalmente, o que sinto por eles é raiva, por exemplo quando inventam castigos de 4 meses para os nossos jogadores ou quando perseguem o nosso presidente de forma tão reles como tem vindo a acontecer. Porque são eles que fazem isso, não tenham dúvidas. Não necessariamente (embora também) a instituição benfica, mas benfiquistas espalhados pelos mais diversos sectores da sociedade nacional. Como aqueles que relegam os feitos do FCP para um canto da primeira página, para fazer manchete com o novo corte de cabelo de algum jogador deles, embora isso já só me faça encolher os ombros e pensar "coitados".

Mas aquilo que sinto por eles em estado latente, isto é, aquele sentimento que está sempre lá mesmo quando não se pensa nele, também não é raiva. Já se sabe que as generalizações são perigosas e que a massa adepta de qualquer clube não é totalmente homogénea, mas para mim esse clube representa tudo o que há de mais negativo em Portugal. É o Portugal ignorante, do "bom pai de família" que chega a casa podre de bêbedo e vinga-se do benfica ter perdido batendo na mulher. Um Portugal com cheiro a mofo, que ficou parado no tempo da TV a preto e branco e que se acha maior e mais importante do que efectivamente é. Um Portugal que me envergonha.

O país onde vivemos é muito melhor do que isso. Ou pode ser muito melhor do que isso. Não estou a dizer que o benfica é a causa dos problemas do país, meramente o seu reflexo. Um clube triste, com um complexo de superioridade e uma arrogância que não encontram justificação na realidade, que não atinge nada por mérito próprio e quando as suas estratégias insidiosas não produzem resultados, declara-se vítima. De tudo isso, tenho apenas nojo. E quero distância. É por isso que não ouço os papagaios que falam em nome desse clube nos programas de TV, não leio os jornais “semi-oficiais” que o vangloriam, nem sequer discuto futebol com os poucos adeptos desse clube que conheço. Mas compreendo que é importante ter o inimigo debaixo de olho, e que eles, obcecados por nós, estão sempre a planear alguma, e por isso agradeci e felicitei o Antas e os outros que fazem esse "trabalho sujo". Porque eu não o conseguiria fazer, da mesma forma que não conseguiria nadar num tubo de esgoto.

Os jogos deste fim-de-semana são realmente especiais. São especiais porque uma vitória nesses jogos é uma vitória contra esse Portugal em que não queremos viver. A vitória do mérito e da garra dos nossos jogadores, da dedicação dos nossos adeptos, da inteligência dos nossos treinadores e dirigentes, sobre o clientelismo, a arrogância e a obscuridade dos túneis. Por isso, é sempre importantíssimo vencer estes jogos. E recolocando o foco sobre a vertente desportiva, que num mundo ideal seria a única a importar, temos que vencer para seguir firmes, quer no andebol, quer no futebol, em busca do nosso único objectivo: sermos campeões. Sendo que no futebol estão também em jogo os efeitos psicológicos de um avanço com dois dígitos sobre o segundo classificado já em Novembro.

Mas para lá do barulho das luzes, do nome do adversário e até do contexto desportivo específico, relembro as palavras do André Villas-Boas após o jogo com o Besiktas: no FC Porto, o objectivo de qualquer jogo está definido por defeito pela grandeza do clube: ganhar, ganhar, ganhar!

10 comentários:

  1. Perfeito Enid! Parabéns por mais um post brilhante! Continua o teu magnífico trabalho pois é um enorme prazer ler os teus posts!

    Para dar continuidade à vitória de hoje no pavilhão da Luz, queremos mais 2 vitórias amanhã para fechar um fim de semana que seria perfeito! Vamos a isso! :)

    Beijinhos

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  2. Enid mais uma vez no fundo da questão.

    Um FC Porto vs Regime não é só um jogo de futebol/hóquei/Andebol/Basquetebol, joga-se muita coisa e principalmente joga-se uma história.

    Não vivendo obsecado pelo clube rival nunca deixo de esquecer aquilo que nos fazem ou aquilo que nos fizeram e se juntarmos e revivermos esses momentos acredita que rapidamente passamos da fase do "coitaditos" para a fase "que fdp´s".

    Acima de tudo amo o meu clube, mas como sempre nunca esquecendo o inimigo, levo esta rivalidade muito a sério mas também te digo que só em determinadas alturas é que dou paleio/atenção a esta gente, as situações são simples quando atacam o nosso clube e acima de tudo quando jogam contra nós.

    Hoje fomos grandes de patins, amanhã mataremos a 7 metros da baliza para acabar a noite aos pontapés na bola até à baliza do inimigo.

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  3. Eu não tenho nenhuma relutância em dizer que os odeio. Odeio benfas, mouros e seus aliados. Não foi sempre assim, mas desde que, em 1987, quando eu ia para casa ver o meu Porto na sua 1.ª final da Taça dos Campeões, me apareceu um benfas a dizer “havíeis de apanhar 6 ou sete…”, nunca mais os pude ver à frente. Não os gramo nem com molho de tomate.

    Acresce que a história desse clube está infestada de manigâncias e da usurpação dos direitos (desportivos e não só) dos Clubes da chamada “província”. Esse clube de bairro é a origem e o pólo de todas as discórdias no meio desportivo português. O clube do regime (como apropriadamente foi denominado) ainda o é porque as teias do poder se enredaram em volta dele para o promover contra tudo e contra todos. Em nome do “Império” e da capital do mesmo. Em nome de, muitas vezes, interesses inconfessáveis outras em nome de uma postura despótica, centralista e retrógrada que tarda em desaparecer deste país prisioneiro da mouraria.

    Na história do nosso FC Porto, que publicamos em sucessivos post, só vamos no ano de 1920 e vejam as tramóias já relatadas dessa odiosa agremiação lá do bairro…! E o mais que virá…

    Amigos, eu odeio-os e tenho gosto em dizê-lo.
    Um abraço.

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  4. Hoje prevejo grande arraial de porrada em campo por parte do caceteiro do costume, aquele brasileiro branco de caracolinhos. Com um árbitro da capital a ajudar à festa, fechando os olhos, estou mesmo a ver um jogo à base da intimidação para procurar garantir que não saem de cá com uma derrota. Aliás, a intimidação já começou com a palhaçada do cortejo *militar* nos últimos quilómetros da auto-estrada. Estou mesmo a ver que vamos ficar confinados a casa porque vão fechar ruas no Porto. Esta é que é a equipa do regime em todo o seu esplendor. A equipa e o governo. É uma vergonha para o desporto. Queria atirar-lhes umas flores e não vou poder, que pena! Não me apercebi que tivessem feito o mesmo no jogo de hóquei. Afinal, quem foi de facto agredido foram os jogadores do FCPorto, com o Filipe Santos a ficar em coma. Temos de fazer-lhes a vida difícil dentro do estádio.

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  5. Enid, com ódio ou sem ódio, raiva, desprezo, seja o que for, é preciso ganhar-lhes.

    Agora e até pelo que vimos ontem, com aquele nunca visto e vergonhoso aparato policial, a fazer lembrar países de 5º mundo, podemos perceber que o Benfica, tal como no passado, continua a a ser o clube do regime. De um regime centralista, castrador, que seca tudo que esteja fora de Lisboa, que trata uns como filhos e outros como enteados, um Portugal que definha, cada mais pobre e medíocre. No futebol o Benfica é a bandeira desse regime, um Benfica agarrado ao passado, arrogante sem subtracto, parolo e analfabeto, liderado por gente como o Vieira, Rui Gomes da Silva, Sílvio Cervan e outros, broncos, populistas, demagogos.

    Ódio?, não, pena, muita pena que o mérito seja maltratado, insultado, denegrido e a mediocridade e a probreza de espírito mereça um grande destaque.

    Um país assim, não tem futuro!

    Beijinhos

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  6. Excelente e brilhante crónica Enid, que relata muito bem o que continua a ser uma grande parte da sociedade portuguesa actual... onde os resquícios do passado, da ditadura, do antigo regime, deste tipo de mentalidade benfiqueira, do quero, posso e mando, bacoca e parola, continuam bem vincados...

    Meu nojo e repulsa por essa gentinha toma proporções ainda maiores para com os galináceos que não têm qualquer ligação à capital do império e a defendem-na... esses sim, são os verdadeiros parolos e provincianos deste país...

    Resta-nos demonstrar em campo quem somos e o que nos vai na Alma... é esta a nossa sina... e regra geral a nossa superioridade de "espírito" e de competência vem ao de cima...

    Um abraço, e até logo...

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  7. Obrigada pelos comentários, pessoal :) Cada um sente as coisas como sente, mas esta semana de certeza que a alegria que nos enche o peito é a mesma! Espectáculo!!!

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Enid, a forma como escreves e te expressas agrada-me muito, mas muito mesmo, adoro ler as tuas crónicas, com o teu toque feminino e relaxante, consegues dizer tudo o que nos vai na alma!

    Parabéns, e venham mais iguais a este...;)

    BIBÓ PORTO

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  10. eNID,

    está-me no sangue, não consigo raciocionar direito, não consigo sequer alinhar ideias... sempre que o confronto é o bem (fcPORTO) contra o mal (clube de ciclistas com nome de bairro), tá o caldo entornado.

    chamem-me radical, chamem-me anormal, chamem-me irresponsável... o ódio de estimação, tolhe-me literalmente as ideias.

    solução? não existe!!!

    não misturo amizades com futebóis... mas não pensem comigo, misturar futebóis com amizades... é melhor mesmo afastarem-se ou não azucrinar sequer, senão, «quem não se sente, não é filho de boa gente» e tá tudo dito ;)

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