15 janeiro, 2011

Capítulo 3: 1921 a 1930 – Primeiro clube a conquistar títulos de âmbito nacional (Parte IX)

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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto


Capítulo 3: 1921 a 1930 – Primeiro clube a conquistar títulos de âmbito nacional (Parte IX)

Época 1925-1926

1 Jan.1926 – Muito antes das provas da UEFA, jogo em Lisboa, com o campeão da Suécia
Uma fase do encontro FC Porto-Helsingborg, no antigo Campo Grande. O campeão da Suécia ganhou por 4-3, com um golo marcado no último minuto.

5 Abr.1926 – Vitória retumbante sobre o campeão bávaro!

O FC Porto lograva resultados brilhantes a nível internacional. Depois do excelente jogo com o Helsingborg, a coroa de glória alcançar-se-ia a 5 de Abril ante o Verein Razenspiele Furth, campeão da Baviera, que em Lisboa tinha ganho todos os jogos disputados, sucumbindo no Campo do Covelo, no Porto, por 2-3. A façanha tomou contornos épicos!

O jogo com o Furth e a metáfora da Guerra
Eis a deliciosa crónica de “Os Ecos dos Sports”, em jeito de metáfora da Guerra: “Com uma assistência boa e um tempo esplêndido, travou-se uma verdadeira batalha de pontapés à bola entre Aliados, como na Grande Guerra de má memória, e autênticos, genuínos, boches. Juntaram-se no campo, que sem dúvida serviu de batalha, nada menos do que checos (Siska), ingleses (Hall), brasileiros (Gama) e portugueses (nós ...), com o encargo de vencerem o Furth, e conseguiram-no. O Furth, grupo de aparência esplêndida, pôde fazer-se aplaudir com alma. Numa marcha olímpica, rítmica, avançou aos dois lados do campo e cumprimentou respeitosamente a multidão. Logo ficou de boas simpatias. Somente não se podia esperar que lhe desejasse a vitória ali, onde ia pelejar, tal como quando se batia contra nós, por outros princípios e por outros meios... Vinham precedidos de um reclame imenso, toda a gente aguardava outro trabalho do seu conjunto, da sua técnica apregoada. Com boa vontade não se lhe pode reconhecer maior valia do que ao seu adversário — e por isso custaria que o campeão de Portugal se deixasse subjugar por eles. Marcaram dois pontos, nós três. Nós tivemos, ainda desta vez, a supremacia sobre os alemães. Resta-nos saber se, como na Grande Guerra, eles é que vieram a lucrar. Não sabemos das condições financeiras — mas oxalá que os organizadores desta prova hajam sido mais felizes do que... os outros — da outra”.

Campeões Regionais apurados para o Campeonato de Portugal:
Sport Clube Vianense (VIANA DO CASTELO)
Sporting Clube de Braga (BRAGA)
Futebol Clube do Porto (PORTO)
Sport Clube de Vila Real (VILA REAL)
Sporting Clube de Espinho (AVEIRO)
Clube Futebol União de Coimbra (COIMBRA)
Clube Futebol Os Belenenses (LISBOA)
Sport Grupo Scalabitano Os Leões (SANTARÉM)
Sport Clube Estrela (PORTALEGRE)
Luso Sporting Club (BEJA)
Sporting Club Olhanense (ALGARVE)
Club Sport Marítimo (FUNCHAL)

1.ª eliminatória

FC PORTO – VILA REAL, 10-0
9-5-1926, Porto (Campo do Covelo)
Marcadores: Norman Hall (8 golos), Balbino da Silva (2 golos)
FC Porto – Treinador: Akos Teszler (húngaro)
Miguel Siska; Pedro Temudo e Júlio Cardoso; Coelho da Costa, Gama Lobo e Flávio Laranjeira; Álvaro Sequeira, Augusto Freire, Balbino da Silva, Norman Hall (cap.) e Oliveira.
Vila Real – Treinador: ...
Álvaro; Silva e Nascimento; Aranha, Militão e Nunes; Victor, Figueiredo, Américo, J. Alonso e Lelo.

2.ª eliminatória

FC PORTO – SP. BRAGA, 3-0
16-5-1926, Porto (Campo do Covelo)
Árbitro: Ilídio Nogueira (Lisboa)
Marcadores: 1-0 Norman Hall, 2-0 Balbino da Silva, 3-0 Balbino da Silva.
FC Porto – Treinador: Akos Teszler (húngaro)
Miguel Siska; Júlio Cardoso e Pedro Temudo; Coelho da Costa, Gama Lobo e Flávio Laranjeira; Sequeira, Augusto Freire, Balbino da Silva, Norman Hall e António Oliveira (Noise).
Sp. Braga – Treinador: ...
Morais; Augusto Romão e Aragão; Júlio Gonçalves, Alberto Augusto e José Pereira; José Rodrigues Chelas, Neca, Laureta, Jaime Gomes e Cruz.

Meia-Final

MARÍTIMO – FC PORTO, 7-1
23-5-1926, Lisboa (Campo Grande)
Árbitro: Ilídio Nogueira (Lisboa)
Marcadores: 0-1 Hall, 1-1 M. Ramos, 2-1 Alves, 3-1 Alves, 4-1 Camarão, 5-1 Alves, 6-1 M. Ramos, 7-1 Alves.
Marítimo – Treinador: Francisco Ekker (húngaro)
Ângelo Ortega Fernandes; António Sousa e José Correia; Domingos Vasconcelos cap, Francisco Lopes e José de Sousa; José Ramos, António Alves, António Teixeira “Camarão”, Manuel Ramos e José Fernandes.
FC Porto – Treinador: Akos Teszler (húngaro)
Miguel Siska; Júlio Cardoso e Pedro Temudo; Coelho da Costa, Gama Lobo e Flávio Laranjeira; Sequeira, Augusto Freire, Balbino da Silva, Norman Hall e António Oliveira (Noise).

Espanto e humilhação
O Marítimo surpreendeu e humilhou o FC Porto na meia-final no Campo Grande, em Lisboa. Ninguém esperava tal desfecho em face do que a equipa vinha produzindo sob o comando de Akos Teszler. O treinador húngaro, considerado um mágico do futebol, não conseguiu que a turma azul e branca se opusesse a uma estupenda e bem organizada equipa madeirense orientada pelo seu compatriota Ekker. Desiludidos, portistas houve que rasgaram cartões e exigiram reparo. Foi um grande abalo.
A crónica do “Ecos dos Sports” rezava assim: “Esta é a verdade: Siska não foi batido só pelo ataque do Marítimo, mas, sobretudo, pela sua própria defesa. Siska foi no grupo do Porto o único que jogou. Ele teve, na realidade, um trabalho extenuante, porque os avançados da Madeira atiraram ao goal quase quando e como quiseram. Assim desajudado qualquer guarda-redes sucumbiria. A arbitragem de Ilídio Nogueira foi, quanto a nós, muito acertada, não se perturbando ante as ruidosas manifestações do público de Lisboa que, a todo o transe, queria fouls contra o Porto”.

O Marítimo acabaria por ganhar o Campeonato de Portugal (2-0 ao Belenenses), numa final em que, aos 70 m, o árbitro deu por suspenso o jogo em virtude do jogador belenense Augusto Silva, expulso, se recusar a abandonar o campo.

Balbino da Silva (José Balbino da Silva, n. 23 Mar.1896 – m. ??), um bom interior-direito que também jogava à esquerda e no centro do ataque. De baixa estatura era robusto e ágil. Qualquer que fosse a sua posição de avançado, a mesma apetência e jeito especial para os golos.
• Por várias vezes marcou mais que um golo nas balizas dos adversários do FC Porto, clube que representou durante toda a década de 20 (século XX). Foi autor do primeiro golo na finalíssima da 1.ª edição do Campeonato de Portugal, em 1921-22, que o FC Porto ganhou ao Sporting, por 3-1.
• Envergou a camisola do FC Porto com garbo e dedicação e foi companheiro de muitas outras glórias do clube; na primeira metade dos anos 20: Lino Moreira, José Magalhães Bastos, José Ferreira da Silva, Floriano Pereira, Hamilton, Tavares Bastos, Joaquim Reis, Edward Bull, Velez Carneiro, Alexandre Cal e o grande "capitão" Norman Hall; na segunda, Waldemar Mota, Acácio Mesquita, Álvaro Pereira, Avelino Martins, Francisco Castro e o mítico Miguel Siska.
• Vestiu a camisola da Selecção Nacional, em 16 Dez.1923, em jogo disputado em Sevilha com a Espanha (0-3).
Carreira no FC Porto
1920-21 a 1929-30
Palmarés
2 Campeonatos de Portugal (1921-22 e 1924-25)
10 Campeonatos do Porto (1920-21 a 1929-30)
  • No próximo post: Capítulo 3 (Continuação) – A regra que mudou o jogo; 1.º título nacional de atletismo; Afonso Freire Themudo, presidente; atletas do FC Porto nas Selecções Nacionais de Natação e Pólo Aquático; Campeonato de Portugal 1926-27; o tempo dos "roubos de igreja" pelos árbitros do Sul; Acta falsificada e o despotismo da capital a manifestar-se… já!; Fridolf Resberg.

14 comentários:

  1. Dragão azul Forte, hoje sou a primeira,;)

    Mais um pst cheio de dedicação e trabalho!

    Diaga-me só uma coisita, porque é que nos anos vinte tivemos mais do que um treinador, Húgaro?

    BIBÓ PORTO

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  2. Obrigado pelo seu comentário, Mafaldinha.
    E tenho todo o gosto em responder, com a minha modesta opinião, à questão pertinente que põe.
    Pois bem, os treinadores húngaros predominaram no FC Porto até finais dos anos 40 do sec. XX. Até 1947/48, em 10 técnicos, 6 tinham a nacionalidade húngara. Mas ao longo da sua história, o FC Porto já teve 11 treinadores “magiares”. O último foi Bella Guttmann, em 1973/74, depois de ter passado por cá também em 1958/59.

    Veja-se, como curiosidade, as nacionalidades mais representadas entre os treinadores que serviram o nosso Clube até hoje:
    Portugueses – 21;
    Húngaros – 11;
    Brasileiros – 8;
    Argentinos – 5.
    (Nota: alguns deles estiveram no FC Porto por mais que uma vez).

    Porquê, então, tamanha predilecção por técnicos de futebol da Hungria?
    A “escola húngara” de futebol fez furor em toda a Europa. Ela perfilhava o jogo curto onde a desmarcação e o toque suave de bola tinham cunho de arte. E assumia que o apuro técnico dos jogadores era fundamental. Além disso, pelo que eu conheço (estive na Hungria e convivi com gente de todos os quadrantes culturais e desportivos), o povo húngaro tem qualidades ímpares de comunicabilidade, além de uma postura de grande rectidão perante o trabalho e a vida em sociedade.
    Terão sido estes atributos que, conjugados com as características dos nossos futebolistas, atraíram técnicos húngaros não só para o FC Porto, mas também para outros clubes portugueses. E revolucionaram o futebol português; e tiveram êxito. Em breve veremos isso… na nossa “história”… Refira-se, ainda, que outros países da Europa também se “serviram” de treinadores magiares. Em Espanha, por exemplo, o primeiro título de campeão do Real Madrid, foi obtido, em 1931-32, pelo húngaro Lippo Hertzka que também treinou o FC Porto e… não só.

    Outras curiosidades:
    - Só em 1947/48 o FCP contratou o 1.º treinador português, por sinal uma velha glória como jogador (Carlos Nunes);
    - Na mesma época ingressou no Clube o 1.º argentino (Eladio Vaschetto), seguindo-se a “onda” de técnicos das pampas sul-americanas;
    - Em 1955-56 chegou o 1.º brasileiro, o famoso e bem sucedido “Homão” (Dorival Yustrich);
    - Além de Cattulo Gadda (primeiro treinador do FC Porto – 1906/1907) tivemos mais 3 italianos: Lino Taiolli (1952-53), Ettore Puricelli (1959-60) e… Luigi Del Neri;
    - Depois veio o único francês, Cassaigne, talvez o primeiro treinador “a sério”;
    - Por cá estiveram também: 2 austríacos, 2 espanhóis, 2 jugoslavos, 1 escocês, 1 chileno, 1 “Sir” Bobby Robson (que saudade!), etc.

    Eh pá! Espero que não tenha sido enfadonho. Isto já parece outro post…
    Um abraço.

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  3. Mais uma parte da sempre interessante narração da História do F. C. Porto. Aqui (na sequência do que referi no meu recente post), felizmente a História é descrita com pormenor e englobando tudo e todas as modalidades, mantendo desperta a curiosidade e aumentando o conhecimento.
    Abraço.
    http://longara.blogspot.com/

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  4. Caro Dragão Azul Forte, lindas fotos, já as encaminhei para o meu arquivo pessoal.

    Uma dúvida... creio que o Oliveira da partida contra o Vila Real seja o António Oliveira, vulgo "Noise", das duas partidas seguintes... certo?

    Um abraço

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  5. Mais um post fantástico, como diz o Rogério -"ladrão de fotos" -, com imagens muito bonitas e que nos fazem ter algumas surpresas. Por exemplo, levamos sete(7) do Marítimo?! O que vale é que agora vingamo-nos e só lhes ganhamos, há mais de trinta anos, mas na nossa casa que na Madeira, ainda sofremos um bom bocado.

    O Fernando e o Armando, mais o Vara, do Paixão pelo Porto, podiam escrever um livro a três mãos...

    Um abraço

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  6. Dragão Azul Forte, muito obrigado, não podia ter esclarecido melhor a minha curiosidade, é genial os conhecimentos que tem sobre o futebol, principalmente sobre o nosso PORTO, mais uma vez muito obrigado! ;)))


    BIBÓ PORTO

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  7. Caro Rogério Almeida:
    Obrigado pela sua intervenção.
    Penso que sim, que tem razão: o Oliveira referido no jogo com o SC Vila Real é o “Noise”. Mas, porque me rejo pelo princípio (“sagrado”) de não arriscar a desfiguração da história, não modifiquei a denominação que encontrei publicada. Só quando tenho a certeza absoluta de poder alterar uma referência, é que o faço.
    Já agora: reparou nos 8 golos, no mesmo jogo, do nosso grande “capitão” Norman Hall?! Embora fossem outros tempos, é obra!
    Um grande abraço. Bibó POOOORTO!

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  8. Já nessa altura estavamos um passo à frente dos invejosos, senão leiam o q secreve o nosso ilustre historiador:

    "Depois do excelente jogo com o Helsingborg, a coroa de glória alcançar-se-ia a 5 de Abril ante o Verein Razenspiele Furth, campeão da Baviera, que em Lisboa tinha ganho todos os jogos disputados, sucumbindo no Campo do Covelo, no Porto, por 2-3. A façanha tomou contornos épicos"

    Em Lisboa os Alemães passearam mas no PORTO tombaram:)

    abraço e continue;)

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  9. Caro DAF, entendo perfeitamente, pois realmente existem muitas discrepâncias nos vários registos "históricos" a que vamos tendo acesso, daí algumas infindáveis dúvidas e incertezas que vamos tendo. Quanto ao Norman Hall, eu já sabia sim desses 8 golos. Era o nosso “Falcao” da altura. Pena aquele descalabro com o Marítimo...

    Abraço

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  10. Dragão Azul Forte, muito obrigada por mais este belo pedaço da nossa história! Por acaso já tinha reparado na predominância de treinadores húngaros no nosso clube, que sempre achei bastante curiosa. Até porque a fama da "escola húngara" que predomina até hoje tem mais a ver com os anos 50, e a maioria dos treinadores húngaros no FCP são anteriores a essa época.

    Mas a marca dos húngaros no FC Porto não deixa de ser também mais uma prova da abertura do FC Porto ao Mundo. Fundado por portugueses e ingleses, com uma estrela italiana logo nos primeiros anos, depois um treinador francês, vários treinadores húngaros, a primeira equipa a jogar no estrangeiro e a receber uma equipa estrangeira... Um clube do Porto, vestindo as cores de Portugal, mas aberto ao Mundo - ao contrário de "outros", que se orgulham da postura fechada e discriminatória que marca grande parte do seu historial.

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  11. És terrível! Onde foste desencantar fotos tão bonitas? E os 1-7?! Se fosse hoje, o "nosso" amigo João Jardim não permitia tal desfaçatez... Ou então era a independência da Madeira!
    Já sei, já sei. Vêm aí mais vitórias, muitas vitórias e, depois, um período difícil. A vida do nosso Clube é mostrada por ti com muito encanto e uma grande, enorme, enorme paixão. Eu sei como é...
    Um beijão. BIBÓ PORTO!

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  12. fERNANDO mOREIRA,

    escusado será dizer o mesmo de sempre, como é óbvio... desta vez até, com uma patuá aqui de troca de comments que ajuda ainda a elucidar dúvidas extra que surgiram entre os seus visitantes (e comentadores) já fieís do seu cantinho, aproveitando ainda para com mais umas linhas, mostrar a sua sábia sabedoria dos tempos vividos d'outrora.

    registei, igualmente como aqui o Lucho, a questão de que «lá», passaram... mas «aqui», tombaram!!!

    nota negativa para esse anormal e atipico resultado com os madeirenses... ca ganda abada, mostrando que mesmo nestas alturas, tb era possivel crescer... até aos dias de hoje!

    finalizo, agradecendo mais uma vez, toda essa sua gigantesca dedicação e porque não dizê-lo, pesca submarina a que se vê obrigado para ao seu (bom) jeito, mostrar em linguagem simplex, a história do clube que a todos nós orgulha... o nosso fcPORTO!!!

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  13. AzulForte arrisco-me a dizer que este foi o melhor trabalho até hoje apresentado.

    Continue a tratar-me assim tão bem, que depois no dia em que apresentar um post só com 5 estrelas eu caio-lhe em cima. :)

    Azulforte é escusado dizer, obrigado pelo grande trabalho.

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  14. Amigo Fernando, consultei o meu arquivo "físico" pessoal e pude verificar que, afinal, já possuía a foto do jogo com os suecos. Penso que saiu numa qualquer edição de um pasquim da mouralândia refrente à história dos três "grandes" de Portugal.

    Abraço

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