08 dezembro, 2011

Capítulo 5: 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte XI)

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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto


Capítulo 5: 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte XI)

Época 1948-49 (Continuação)

1948 – Foi assinada a escritura de aquisição dos terrenos das Antas.

Ago.1948 – Alejandro Scopelli, argentino, foi treinador do FC Porto na época de 1948-49. Vindo do Belenenses, substituiu o seu compatriota Vaschetto. Apesar de nessa altura já ser um treinador conceituado, em pleno Estado Novo não conseguiu levar a equipa portista além da 4.ª posição no Campeonato, tendo averbado 9 derrotas. Outros tempos...!








• 5 Set.1948 – Em jogo particular ganho ao Famalicão (3-0), por deliberação da FPF os jogadores do FC Porto utilizaram, pela primeira vez na sua história, camisolas numeradas de 1 a 11. Nesse encontro estrearam-se os portistas Carlos Vieira e Lino.

Estreias sul-americanas
• Em meados de Set.1948 debutava na equipa do FC Porto o brasileiro Da Silva, que havia jogado na época anterior no Barcelona. Mas a direcção portista não se ficaria por aí na tentativa de reforço dos seus quadros. Fortalecimento que tão necessário era.
• Em Outubro, contra o Sporting de Braga (derrota por 0-1), estreou-se o argentino Fandiño, oriundo do Porto Alegre e que custara 20 contos ao FC Porto. Esteve aqui apenas uma época.
• Em 24 do mesmo mês, o avançado sul-americano, de seu nome completo Fernando Sixto Fandiño, brilhou ao marcar no Campo Grande (Lisboa) ao Benfica. O FC Porto arrancou o empate (1-1) com esta equipa:
Barrigana; Virgílio, Alfredo Pais, Ângelo Carvalho, Vieira, Romão, Joaquim Machado, Silva, Araújo, Fandiño e Sanfins.
Fandiño apontou o golo aos 68 minutos.

Vitória gorda no Bessa

Vitórias saborosas sobre os da capital
• Em 5 de Dezembro vitória (1-0) na Constituição ante o Sporting dos “5 violinos”. Com Correia Dias e Vital no lugar de Silva e Fandiño, o FC Porto obteve o golo do triunfo no primeiro (!) minuto do jogo por intermédio de Sanfins.
• Já em Jan.1949, vitória difícil sobre os vermelhos dum bairro de Lisboa.

• “Vitória histórica”…
Em Maio “vitória história” sobre os “leões”: é que “os cinco violinos”, os “super-violinos” do Sporting, foram batidos no seu próprio reduto por 2-1! Façanha, sim, porque o Sporting, nos 3 últimos Campeonatos que conquistou, só havia perdido uma vez em casa.

Esperanças, ardis, azares, cobiça e um jeitinho do Ministro…
• O FC Porto trouxe Scopelli na esperança de que ele projectasse de novo o Clube para feitos iguais a outros antes cometidos. Mas as frustrações sucediam-se e era convicção, cada vez mais dolorosa, de que, em Lisboa, por ardis vários, se teciam manobras para desfavorecer e apequenar o clube do Norte.
Todavia, ano a ano, renascia a esperança... “Só que FC Porto não era ainda o clube dos insaciáveis dragões das línguas de fogo”.
• E também de ventos azarados se fez a época. Primeiro contratempo: misteriosa doença atacou Araújo, o eficiente rematador da equipa. De baixa estava, também, Barrigana, que partira um pé num jogo particular, entre as selecções do Porto e de Coimbra. Acreditava Barrigana que isso aconteceu por não ter jogado com a camisola verde que era o seu talismã. O que é certo é que, um choque com o academista Bentes e… o pé partido.
E o horizonte só não ficou mais carregado porque o FC Porto conseguiu que os futebolistas Virgílio Mendes e Carlos Vieira, que tinham sido colocados em Elvas e em Tancos para cumprimento de serviço militar, fossem transferidos para um dos regimentos no Porto. Um jeitinho do Ministro da Guerra… Isto quando já corriam rumores de que poderiam ir parar a um quartel de Lisboa por estarem a ser cobiçados por um grande clube da capital...

A fuga de Da Silva
• Para agravar ainda mais a situação, em Mai.1949 o brasileiro Da Silva fugiu para o Brasil, sem dar cavaco aos dirigentes portistas, tentando jogar numa equipa brasileira para que pudesse, depois, regressar à Europa e a Espanha como detentor da sua carta. O FC Porto apresentou queixa à CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e à FIFA. Da Silva sentiu o seu futuro em risco. Correu ao Porto pedindo compreensão e agradecendo que o negociassem para Barcelona. Assim se fez, o FC Porto arrecadou 100 contos e numa das cláusulas da transferência combinou-se a disputa de um jogo entre o FC Barcelona e o FC Porto, na Catalunha.

Bons resultados mas classificação sofrível
Não fosse o sofrível 4.º lugar no Campeonato, os adeptos do FC Porto considerariam que a sua equipa tinha obtido bons resultados, pois assim se poderão considerar o triunfo (2-1) sobre o Sporting e o empate (1-1) com o Benfica em jogos disputados em Lisboa. Para além disso na sua cidade o FC Porto ganhou aos “leões” por 1-0 e às “águias” por 4-3.

O FC Porto, mais uma vez, não conseguiu os seus intentos, sendo eliminado pelo Vitória de Setúbal nos quartos-de-final da Taça de Portugal (0-1 na cidade do Sado).
De salientar que o Tirsense, a militar em Divisão secundária, cometeu a proeza de banir da Taça o Sporting dos “cinco violinos” (2-1). E quem treinava a equipa de Santo Tirso? Nada mais nada menos que Pinga que, assim, viveu um momento de glória como nos seus tempos de jogador.

Scopelli – Alejandro Scopelli Casanova (La Plata, Argentina, n. 12 Mai.1908 – m. Cidade do México, 23 Out.1987), ainda era estudante quando ingressou no Estudiantes de La Plata.
• Futebolista de invulgar habilidade e intuição, integrou a selecção argentina finalista do primeiro Campeonato do Mundo, disputado em Montevideu (1930). E aí começou a peregrinação. Jogou na Roma e no Inter, depois no Racing de Buenos Aires. Regressou à Europa e ingressou no Red Star FC93 de Paris. Estalou a II Grande Guerra Mundial e Scopelli, acompanhado por Óscar Tarrio e Francisco Tellechea, procurou Portugal como refúgio. O Belenenses interessou-se pelos três argentinos, que contratou (1939).
• Não muito depois passou a treinador do Belenenses, onde impôs e consagrou o sistema táctico WM e a marcação individual, novidades em Portugal. Depois de uma breve passagem pelo Benfica, como jogador, esteve no “Universidade do Chile” como jogador/treinador. Voltou a Portugal e ao Belenenses agora com a única função de técnico da equipa (1947-48). Incidente lamentável, com o presidente do clube de Belém, levou ao seu despedimento que contestou no Tribunal de Trabalho. A 11 Ago.1948, a DGD remeteu-lhe o despacho que considerava legítimo o despedimento.
• O FC Porto contratou Scopelli, treinador conceituado, na convicção de que era uma excelente aposta para o relançamento da equipa. Substituiu o compatriota Vaschetto, mas nem por isso os resultados se alteraram, pois protagonizou uma temporada de 1948-49 irregular, acabando em 4.º lugar no Campeonato Nacional. A intenção dos dirigentes portistas era, mesmo assim, de lhe renovar contrato, mas optou por aceitar uma proposta do Desportivo da Corunha, para onde se transferiu em Jul.1949.
• Em Espanha e América do Sul fez grande parte do seu percurso profissional antes de passar pelo Sporting (1954 a 1956), sem resultados de salientar. Entre 1966 e 1968 preparou e orientou a selecção nacional chilena. Regressaria ao Restelo (1972/1974), ao seu amado Belenenses, já em final de carreira. Faleceu, na Cidade do México, em Outubro de 1987.
Carreira no FC Porto
Ago.1948 a Jul.1949

A estreia de Virgílio Mendes com a “camisola das quinas”
27 Fev.1949 – Jogo amigável, Stadio Comunale Luigi Ferraris (Marassi), Génova, 60.000 espectadores.
Itália 4 – Portugal 1
Itália
Seleccionador: Ferrucio Novo
Valerio Bacigalupo (A.C. Torino); Aldo Ballarin (A.C. Torino), Virgilio Maroso (A.C. Torino), Carlo Annovazzi (A.C. Milan), Omero Tognon (A.C. Milan), Eusebio Castigliano (A.C. Torino), Romeo Menti (A.C. Torino), Ezio Loik (A.C. Torino), Giuseppe Baldini (U.C. Sampdoria), Valentino Mazzola (c) (A.C. Torino) e Riccardo Carapellese (A.C. Milan).
Portugal
Seleccionador: Armando Sampaio
Barrigana (FC Porto); Virgílio (FC Porto), Serafim das Neves (Belenenses), Canário (Sporting), Feliciano (Belenenses), Francisco Ferreira (c) (Benfica), Lourenço (Estoril Praia), Vasques (Sporting), Peyroteo (Sporting), Travassos (Sporting) e Albano (Sporting).

0:1 (21’) Lourenço; 1:1 (57’) Romeo Menti; 2:1 (67’) Riccardo Carapellese; 3:1 (75’) Valentino Mazzola; 4:1 (81’) Virgilio Maroso.

A despeito da pesada derrota, a estreia do portista e defesa-direito Virgílio Mendes na Selecção Nacional foi brilhante. Num jogo avassalador da "squadra azzurra", Virgílio realizou uma portentosa exibição que lhe valeu o epíteto de "Leão de Génova". Ele anulou o então famosíssimo Carapellese, extremo esquerdo italiano. Nesse encontro, o jogador português mostrou todas as suas qualidades e ficaria para sempre o "Leão de Génova".

Mai.1949 – Dr. Miguel Pereira foi eleito presidente do FC Porto, substituindo no cargo Júlio Ribeiro Campos. Pouco depois de tomar posse havia de ser criado o jornal “O Porto”. Durante o seu mandato, Miguel Pereira contratou dois treinadores para a equipa de futebol: Alberto Augusto, para substituir Scopelli, e Augusto Silva que tomou o lugar de Alberto. Em Dez.1949 foi este presidente que lançou a primeira pedra do Estádio das Antas. Em Jan.1950 presenciou o arranque das obras.
Sucedeu-lhe o seu próprio antecessor (Júlio Ribeiro Campos), em Março de 1950.




24 Mai.1949 – Criação do jornal "O Porto"

O n.º 1 do jornal “O Porto”, edição de 24 de Maio de 1949
(Imagem cedida por Armando Pinto - http://longara.blogspot.com/)

Estas edições em ilustração são posteriores à data da fundação do jornal. O primeiro exemplar é de 1955 e narra a assinatura do contrato do treinador Dorival Knippel (Yustrich).

Jun.1949 – Jogo na Catalunha
Para a Catalunha partiu o Porto para disputar o encontro acordado com o Barcelona. O jogo serviu para homenagear uma das estrelas mais refulgentes dos catalães, Escolá (José Escolá Segalès), avançado, que se retirava após ter vestido a camisola “blaugrana” durante doze anos.
O FC Barcelona venceu o FC Porto por 3-1 e os portistas alinharam com:
Barrigana; Virgílio e Alfredo Pais; Ângelo Carvalho, Joaquim e Romão; Lino, Fândino, Sanfins, Gastão e Vieira.

Jun.1949 – Jogo com selecção de Saragoça
No regresso à Invicta Cidade, o FC Porto defrontou uma selecção de Saragoça (em que jogava o ex-estorilista Bravo), vencendo por 5-2, tendo Augusto marcado quatro golos!

  • No próximo post.: Capítulo 5, 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte XII) – Época 1948-49 (continuação); os terrenos das Antas; Alberto Augusto, novo treinador; biografia de Frederico Barrigana.

5 comentários:

  1. Passar os olhos por estas páginas, melhora a auto-estima, permite-nos perceber que, apesar de uma ou outra frustração, agora tudo é diferente.

    Abraço

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  2. Grande post, mais um. Folgo muito por continuares aqui, junto do teu grande amigo BlueBoy e de todos os portistas e amigos que te querem bem.

    No post: lá está o Barrigana de camisola verde… E lá está o teu homónimo Fernando Moreira no 1.º número do jornal “O Porto”.

    Beijinhos.
    BIBÒ PORTO, sempre!

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  3. Trabalho fantástico. Merecedor de livro.

    Vitória bonita no campo dos 5 violinos.

    abraço

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  4. Grande trabalho, com rigor e pormenores que dá gosto ver.
    Abraço.

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  5. Hernani Rocha15 outubro, 2014

    Abraço a todos ..... Sou um leitor assíduo de tudo o que faz parte da historia do FC porto ....gostaria que me dissessem quem e o Augusto que marcou quatro golos pelo F c Porto em Saragoça pois o porto nessa época não tinha nenhum Augusto .....Saudacoes Portistas e parabéns pelo excelente trabalho. Hernani Rocha Acores

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