24 dezembro, 2011

O Porto das vitórias e o Porto das derrotas

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Só há um que partido em que milito, uma religião que pratico, uma crença que partilho: o nosso Porto. O das vitórias, pois claro, não a cidade, esse Porto de derrotas. Politicamente, tanto me identifico com os ideais de Esquerda como com os de Direita. Não voto, portanto, em partidos, nem em ideologias, nem em programas políticos. Voto em pessoas. Ou contra pessoas, como foi o caso das duas últimas eleições para a Câmara que gere os destinos da minha ‘mui nobre e leal’ cidade Invicta.

Por esta altura, assinalam-se – e não se comemoram, porque não concebo celebrar um desastre – dez anos da primeira vitória de Rui Rio no Porto, dez anos que o poder lhe caiu nas mãos, quando nem ele próprio acreditava, dez anos em que a cidade parou e iniciou um definhamento agoniante “até cair de joelhos e tornar-se moribunda”, como um dia disse e muito bem Pedro Abrunhosa. Na verdade, em 2001, não foi Rio que ganhou, foi Fernando Gomes e a sua sobranceria que perderam. E também o povo portuense que não lhe perdoou a traição quando, a meio do mandato, trocou o Porto por um lugar no Governo, com a promessa da Regionalização que a capital, obviamente, não o deixou fazer no País.

E assim ficámos nós, portuenses, entregues a um senhor que quase ninguém conhecia e que se deu a conhecer pelos piores motivos. Na sua estratégia de afirmação, esgrimindo o pacóvio argumento da promiscuidade entre a política e o futebol, Rio achou que devia afrontar e comprar uma guerra com uma das principais instituições da cidade, que mais contribui na promoção da marca “Porto” nos quatro cantos do mundo. Primeiro, foi o famoso Plano Pormenor das Antas, que não mais serviu do que para irritar o clube e mostrar quem é que manda. Depois, foi a indecorosa comparação de Pinto da Costa com Bernard Tapie e Jesus Gil y Gil – presidentes de clubes de futebol condenados pela Justiça por ligações nebulosas entre o futebol e a política – numa altura em que o País se masturbava de contente com o processo “Apito Dourado”.

Não satisfeito, Rio resolveu fechar as portas do edifício dos Paços do Concelho ao clube, logo num período em que, para mal dos seus pecados, as glórias foram tantas. Os festejos da conquista dos sete campeonatos, da Taça UEFA, da Liga dos Campeões, da Taça Intercontinental e da Liga Europa, ao longo desta década, não passaram pela varanda dos campeões, como um dia lhe chamou Fernando Gomes, o político. A festa é feita ali, na Baixa, com a Câmara tristemente de luzes apagadas, de costas voltadas para as vitórias que continuam a incomodar solenemente o senhor presidente. Porque Rui Rio continua sem perder uma oportunidade para atacar a única instituição vencedora que ainda sobrevive na cidade – até na visita do Papa, há dois anos, foi capaz de arranjar um conflito por causa de um simples lençol de boas-vindas colocado na varanda da antiga sede do clube, na Praça Humberto Delgado.

Uma década depois, o Porto é hoje uma sombra daquilo foi, regrediu em todos os indicadores de desenvolvimento: tem hoje menos habitantes e a mesma população que tinha há um século; a reabilitação urbana está estagnada; a maioria das instituições de relevo desertou da cidade em litígio com a autarquia; muitos equipamentos, se não encerraram, estão moribundos – o Rivoli, o Cinema Batalha são apenas dois exemplos; o Bolhão continua por privatizar. Mais: a voz regional e nacional do Porto silenciou-se e Rio riscou-o do mapa das decisões nacionais e da euroregião.

Sim, o Porto mudou. Tem hoje uma marca internacional reconhecida pelo mundo e divulgada incessantemente pela imprensa estrangeira, que a transformou num dos destinos turísticos preferidos dos europeus. O que foi conseguido, aliás, à custa do sector privado a quem a Autarquia deu a cidade de mão beijada, demitindo-se, sem pudor nem vergonha, das suas funções. Pois, é verdade, o Porto tem também a maioria dos seus bairros sociais reabilitados, numa estratégia que resultou num enorme sucesso, pois foi ali que Rio foi buscar as duas maiorias absolutas conseguidas em 2005 e 2009.

É pouco, muito pouco para uma cidade que teve sempre uma ambição maior do que a terra que ocupa. E ainda Faltam dois anos para Rui Rio desaparecer. Uma eternidade, portanto. O Porto urge, desesperadamente, recuperar do coma em que entrou desde que Rio desaguou na Câmara.

2 comentários:

  1. tazse bem mas apesar de tudo uma palavra ao boavistao ficaria bem feliz Peras doces para doces para 2012

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  2. Um post fabuloso!


    «Por esta altura, assinalam-se – e não se comemoram, porque não concebo celebrar um desastre – dez anos da primeira vitória de Rui Rio no Porto, dez anos que o poder lhe caiu nas mãos, quando nem ele próprio acreditava, dez anos em que a cidade parou e iniciou um definhamento agoniante “até cair de joelhos e tornar-se moribunda”»


    Estamos em total sintonia!

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