http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/
Em 16 de Dezembro de 1973, jogava-se o 13.º minuto do FC Porto – Vitória de Setúbal da 13.ª jornada do Campeonato Nacional de futebol…
13.ª Jornada – 16 Dez.1973; Estádio das Antas, Porto
Árbitro: Porém Luís (Leiria)
FC Porto 2 – Vitória de Setúbal 0
FC Porto ► Tibi; Rodolfo, Ronaldo, Rolando e Guedes; Pavão (Vieira Nunes, 13’), Marco Aurélio e Bené; Oliveira, Abel e Nóbrega. Treinador: Béla Guttmann.
Vitória de Setúbal ► Joaquim Torres; Rebelo, Carlos Cardoso, José Mendes e Lino; Octávio, Matine (Vicente, 60’) e José Maria; Campora (José Torres, 46), Duda e Jacinto João. Treinador: José Maria Pedroto.
Golos: 1-0, Abel (7 m); 2-0, Marco Aurélio (25 m).
Trágico acontecimento nas Antas
Fernando Pascoal das Neves (Pavão), ao 13.º minuto do jogo da 13.ª jornada com o Vitória de Setúbal, nas Antas, caiu inanimado no relvado depois de um passe para o colega Oliveira. Prontamente os componentes do banco portista e os seus companheiros acorreram, bem como os elementos da equipa setubalense, pois todos pressentiram que algo de grave se passara. Retirado de maca, já inconsciente, foi conduzido ao Hospital de S. João que pouco depois confirmava o óbito. A hemorragia cerebral ou paragem cardíaca tornaram impossível salvá-lo. Tinha 26 anos. O clube e o futebol português perdiam os dos mais talentosos jogadores portugueses de sempre e com qualidades humanas muito apreciadas por todos. No estádio, um manto de silêncio cobriu o recinto. Profundamente consternados, os seus companheiros de equipa ganharam o jogo (2-0). Tinha sido a vitória mais chorada e triste das suas vidas. A cidade do Porto e o clube vestiram-se de luto.
A tristeza de Pedroto
“Pela primeira vez vi os jogadores saírem do campo a chorar. Foi a maior tristeza da minha vida desportiva” – afirmou José Maria Pedroto, citado pelo JN, adversário nessa tarde mas que já treinara Pavão.
Pavão ao ser transportado para o hospital após o ataque cardíaco que sofreu em jogo, com o médico José Santana amparando-o
A notícia no JN
18 Dez. 2012 - Os companheiros de equipa seguem o féretro de Pavão coberto pela bandeira do FC Porto
Uma triste recordação
Naquele fatídico dia 16 Dez.1973 eu estava em Lisboa a aguardar a hora de tomar o avião que me levaria, de novo, à Guiné-Bissau. Tinha gozado os 35 dias de férias que concediam aos que enfrentavam aquela maldita guerra colonial. No hotel, seguia pela rádio o desenrolar do jogo que opunha o FC Porto ao Vitória de Setúbal. Ao minuto 13 fiquei apreensivo, muito apreensivo face ao ocorrido. Os meus receios vieram a revelar-se justificados. Infelizmente. Quando soube da morte de Pavão entrei em estado de choque, inconsolável na dor que atingiu toda a família portista e o povo português.
Horas depois, antes de sair do hotel a caminho do aeroporto, ainda telefonei ao meu Pai que assistiu horrorizado, no Estádio das Antas, ao triste desenlace. Quando cheguei a Bissau não se falava de outra coisa e também aí foi muito sentida a irreparável perda.
Um dia trágico para o desporto em Portugal.
Fernando Moreira
Participantes num jogo homenageando Pavão junto à placa em sua memória, no Estádio das Antas.
Biografia de Pavão – Fernando Pascoal das Neves (n. Chaves, 12 Ago.1947 – m. Porto 16 Dez.1973), um grande jogador com enorme talento, um médio com excelente visão de jogo.
• "Pavão" lhe começaram a chamar nos jogos de rua, em Chaves, por fintar de braços abertos, em jeito de pavão. Tinha 13 anos quando se iniciou no Desportivo de Chaves, nas escolas de António Feliciano, e desde logo demonstrou uma grande aptidão para o desporto rei. Mas o futebol não era a sua única paixão. Atleta nato, aproveitou a estrutura do desporto escolar para praticar atletismo, voleibol e andebol, sem que isso o fizesse abandonar o futebol. Exercendo também Feliciano o nobre cargo de professor de educação física na Escola Comercial de Chaves, conta-se que, tal era o entusiasmo de Pavão e dos seus colegas, quando as aulas terminavam, punham-se todos a correr atrás do automóvel do professor Feliciano, da escola ao estádio! Chamavam-lhe o “treino de fôlego”. Com esse espírito, pertinaz, lutador e com o talento que já revelava, foi sem surpresa que Pavão começou a ser cobiçado pelos “grandes” do futebol português. Em 1964, por 300 contos, o FC Porto ganhou a corrida ao Benfica que já se tinha enamorado pelo talentoso flaviense.
• Era ainda juvenil quando veio para o FC Porto pela mão do “mestre” Artur Baeta (responsável pelas escolas portistas) que viu nele qualidades irrefutáveis. Foi integrado na equipa de juniores, ganhando o Campeonato da categoria em 1964-65. Na época seguinte (1965-66), com 18 anos, o médio flaviense é desde logo promovido à primeira categoria e, numa equipa orientada por Flávio Costa, estreou-se contra o Benfica na vitória por 2-0 do FC Porto, nas Antas, à 3.ª jornada do Campeonato (26-9-1965). Pavão não se perturbou com o teste de fogo assinando uma exibição excepcional e conseguindo, inclusive, “secar” Mário Coluna o motor dos encarnados.
• Fernando “Pavão” depressa confirmou ser um predestinado, detentor de excelente técnica e invulgar capacidade táctica que faziam dele um genuíno estratego do futebol moderno. José Maria Pedroto, que regressou às Antas na ânsia de resgatar o clube do longo jejum de títulos, fez dele a estrela da companhia tornando-o também capitão de equipa. Uma atitude ousada do astuto treinador já que Pavão era o mais jovem jogador do plantel.
• Ambos venceram a Taça de Portugal 1967-68. Depois de eliminar Beira-Mar (2-1, 2-0), Varzim (4-0, 5-1), Sporting da Covilhã (4-0, 5-1), Belenenses (3-1, 0-0) e Benfica (2-2, 3-0), na final, no Jamor, o FC Porto defrontou e venceu (2-1) o Vitória de Setúbal de Fernando Vaz. Na equipa de Pedroto a "estrela", mais uma vez, chamou-se Pavão que rubricou uma exibição esplendorosa.
A equipa que venceu a Taça de Portugal 1967-1968. Pavão é o terceiro a contar da direita, em cima.
Pavão com parte do plantel de 1970-71, já com o treinador António Teixeira que substituiu Tommy Docherty. Foi o ano do sensacional 4-0 ao Benfica, nas Antas.
Em cima, a partir da esquerda: Vítor Hugo (massagista), Rui, Vieira Nunes, Rolando, Valdemar, Armando Manhiça, Pavão, Gualter, Armando e António Teixeira (treinador);
em baixo: Abel, Lemos, Custódio Pinto, Bené, Nóbrega e Chico Gordo.
O estilo inconfundível de Fernando “Pavão” que espelha, em lances de jogos com o Oriental e com o Benfica, todo o espírito de luta, apego e tenacidade com que defendeu a sua camisola de sempre, a do FC Porto
Mocidade vigorosa, elegância, talento às mãos cheias, eis o ditoso Fernando “Pavão” que aqui se recorda cumprimentando Amália Rodrigues. Por ele o Porto, que o admirava, verteu lágrimas sentidas.
• Pavão foi internacional A por seis vezes, estreando-se num jogo amigável disputado em Lourenço Marques, Moçambique, em 30 Jun.1968. O adversário de Portugal foi o Brasil que venceu por 2-0. Na segunda parte desse encontro, Pavão foi substituído, não se sabe por que razão, pelo avançado academista Artur Jorge. Este, no final do jogo, diria: “Substituí o melhor jogador em campo”. De facto os jogadores do FC Porto eram, por essa altura, deliberada e repetidamente preteridos a favor dos do Sporting e, sobretudo, dos do Benfica. O despotismo de Lisboa que imperava no futebol português (não erradicado ainda) coarctava a carreira internacional aos futebolistas portistas. Pavão, que também foi vítima do “polvo” sulista, integrou a equipa nacional em 2 Mai.1973, em Sófia, contra a Bulgária (1-2), em jogo da fase de qualificação para o Campeonato do Mundo. Mal ele sabia que jogara com a camisola das quinas pela última vez…
• A genialidade e a postura de Pavão em campo seduziram o Manchester United que, no início do ano de 1973, envidou todos esforços para o contratar e lhe dar a posição do mítico Bobby Charlton. Os dirigentes portistas não admitiam sequer discutir proposta que envolvesse menos de 5.000 contos, uma fortuna para a época.
Mas o flaviense teria pouco tempo para continuar a mostrar a sua prodigiosa aptidão para o futebol. A auspiciosa carreira viria a ser abruptamente interrompida. Pavão viria a falecer, tragicamente, durante um jogo nas Antas.
• Em 16 de Dezembro de 1973 o FC Porto defrontava, no Estádio das Antas, o Vitória de Setúbal de Pedroto em jogo a contar para a 13.ª jornada do campeonato. Ao 13.º minuto, quando a equipa portista já ganhava e as bancadas festejavam, Pavão ganhou um lance a meio-campo, dominou a bola, endossou-a com rigor milimétrico ao colega António Oliveira, deu mais um passo em frente e caiu de bruços, inanimado, no relvado. De pronto assistido foi, por ordem do médico do clube Dr. José Santana, conduzido ao Hospital de S. João.
O jogo prosseguiu no meio de grande apreensão e comoção. Ao intervalo, através da instalação sonora das Antas, era anunciado que se tinha tratado de uma indisposição. Perto do final do encontro foi difundida através da rádio a morte de Pavão. No estádio, no final do jogo, a mesma notícia era transmitida aos espectadores presentes. A estupefacção e a dor tomaram conta de todos. Lágrimas incontidas prantearam o desaparecimento de um ídolo muito querido.
A hemorragia cerebral ou paragem cardíaca tornaram impossível salvar Pavão. O clube e o futebol português perdiam os dos mais talentosos jogadores de então. Uma perda irreparável. Profundamente consternados, para os seus companheiros de equipa (que ganharam o jogo por 2-0) tinha sido a vitória mais chorada e triste das suas vidas. E foi o dia mais triste da longa existência das Antas. A cidade do Porto e o clube vestiram-se de luto. Em memória do malogrado futebolista o FC Porto erigiu um monumento, no Estádio das Antas, que depois transitou para o Estádio do Dragão.
• Pavão deixou órfã uma filha de tenra idade. O presidente Américo de Sá prometeu ajudar a família. Pelos vistos, ajudou pouco. A filha, Cristina, só teria os estudos pagos quando Pinto da Costa assumiu a presidência do FC Porto.
• Fernando Pascoal das Neves, “Pavão”, um jogador genial, um ídolo inesquecível de todos os portistas.
Carreira no FC Porto (equipa sénior)
1965-66 a 16 Dez.1973
Palmarés
1 Taça de Portugal (1967-68)
Fernando Moreira (Dragão Azul Forte)
13.ª Jornada – 16 Dez.1973; Estádio das Antas, Porto
Árbitro: Porém Luís (Leiria)
FC Porto 2 – Vitória de Setúbal 0
FC Porto ► Tibi; Rodolfo, Ronaldo, Rolando e Guedes; Pavão (Vieira Nunes, 13’), Marco Aurélio e Bené; Oliveira, Abel e Nóbrega. Treinador: Béla Guttmann.
Vitória de Setúbal ► Joaquim Torres; Rebelo, Carlos Cardoso, José Mendes e Lino; Octávio, Matine (Vicente, 60’) e José Maria; Campora (José Torres, 46), Duda e Jacinto João. Treinador: José Maria Pedroto.
Golos: 1-0, Abel (7 m); 2-0, Marco Aurélio (25 m).
Trágico acontecimento nas Antas
Fernando Pascoal das Neves (Pavão), ao 13.º minuto do jogo da 13.ª jornada com o Vitória de Setúbal, nas Antas, caiu inanimado no relvado depois de um passe para o colega Oliveira. Prontamente os componentes do banco portista e os seus companheiros acorreram, bem como os elementos da equipa setubalense, pois todos pressentiram que algo de grave se passara. Retirado de maca, já inconsciente, foi conduzido ao Hospital de S. João que pouco depois confirmava o óbito. A hemorragia cerebral ou paragem cardíaca tornaram impossível salvá-lo. Tinha 26 anos. O clube e o futebol português perdiam os dos mais talentosos jogadores portugueses de sempre e com qualidades humanas muito apreciadas por todos. No estádio, um manto de silêncio cobriu o recinto. Profundamente consternados, os seus companheiros de equipa ganharam o jogo (2-0). Tinha sido a vitória mais chorada e triste das suas vidas. A cidade do Porto e o clube vestiram-se de luto.
A tristeza de Pedroto
“Pela primeira vez vi os jogadores saírem do campo a chorar. Foi a maior tristeza da minha vida desportiva” – afirmou José Maria Pedroto, citado pelo JN, adversário nessa tarde mas que já treinara Pavão.
Pavão ao ser transportado para o hospital após o ataque cardíaco que sofreu em jogo, com o médico José Santana amparando-o
A notícia no JN
18 Dez. 2012 - Os companheiros de equipa seguem o féretro de Pavão coberto pela bandeira do FC Porto
Uma triste recordação
Naquele fatídico dia 16 Dez.1973 eu estava em Lisboa a aguardar a hora de tomar o avião que me levaria, de novo, à Guiné-Bissau. Tinha gozado os 35 dias de férias que concediam aos que enfrentavam aquela maldita guerra colonial. No hotel, seguia pela rádio o desenrolar do jogo que opunha o FC Porto ao Vitória de Setúbal. Ao minuto 13 fiquei apreensivo, muito apreensivo face ao ocorrido. Os meus receios vieram a revelar-se justificados. Infelizmente. Quando soube da morte de Pavão entrei em estado de choque, inconsolável na dor que atingiu toda a família portista e o povo português.
Horas depois, antes de sair do hotel a caminho do aeroporto, ainda telefonei ao meu Pai que assistiu horrorizado, no Estádio das Antas, ao triste desenlace. Quando cheguei a Bissau não se falava de outra coisa e também aí foi muito sentida a irreparável perda.
Um dia trágico para o desporto em Portugal.
Fernando Moreira
Participantes num jogo homenageando Pavão junto à placa em sua memória, no Estádio das Antas.
Biografia de Pavão – Fernando Pascoal das Neves (n. Chaves, 12 Ago.1947 – m. Porto 16 Dez.1973), um grande jogador com enorme talento, um médio com excelente visão de jogo.
• "Pavão" lhe começaram a chamar nos jogos de rua, em Chaves, por fintar de braços abertos, em jeito de pavão. Tinha 13 anos quando se iniciou no Desportivo de Chaves, nas escolas de António Feliciano, e desde logo demonstrou uma grande aptidão para o desporto rei. Mas o futebol não era a sua única paixão. Atleta nato, aproveitou a estrutura do desporto escolar para praticar atletismo, voleibol e andebol, sem que isso o fizesse abandonar o futebol. Exercendo também Feliciano o nobre cargo de professor de educação física na Escola Comercial de Chaves, conta-se que, tal era o entusiasmo de Pavão e dos seus colegas, quando as aulas terminavam, punham-se todos a correr atrás do automóvel do professor Feliciano, da escola ao estádio! Chamavam-lhe o “treino de fôlego”. Com esse espírito, pertinaz, lutador e com o talento que já revelava, foi sem surpresa que Pavão começou a ser cobiçado pelos “grandes” do futebol português. Em 1964, por 300 contos, o FC Porto ganhou a corrida ao Benfica que já se tinha enamorado pelo talentoso flaviense.
• Era ainda juvenil quando veio para o FC Porto pela mão do “mestre” Artur Baeta (responsável pelas escolas portistas) que viu nele qualidades irrefutáveis. Foi integrado na equipa de juniores, ganhando o Campeonato da categoria em 1964-65. Na época seguinte (1965-66), com 18 anos, o médio flaviense é desde logo promovido à primeira categoria e, numa equipa orientada por Flávio Costa, estreou-se contra o Benfica na vitória por 2-0 do FC Porto, nas Antas, à 3.ª jornada do Campeonato (26-9-1965). Pavão não se perturbou com o teste de fogo assinando uma exibição excepcional e conseguindo, inclusive, “secar” Mário Coluna o motor dos encarnados.
• Fernando “Pavão” depressa confirmou ser um predestinado, detentor de excelente técnica e invulgar capacidade táctica que faziam dele um genuíno estratego do futebol moderno. José Maria Pedroto, que regressou às Antas na ânsia de resgatar o clube do longo jejum de títulos, fez dele a estrela da companhia tornando-o também capitão de equipa. Uma atitude ousada do astuto treinador já que Pavão era o mais jovem jogador do plantel.
• Ambos venceram a Taça de Portugal 1967-68. Depois de eliminar Beira-Mar (2-1, 2-0), Varzim (4-0, 5-1), Sporting da Covilhã (4-0, 5-1), Belenenses (3-1, 0-0) e Benfica (2-2, 3-0), na final, no Jamor, o FC Porto defrontou e venceu (2-1) o Vitória de Setúbal de Fernando Vaz. Na equipa de Pedroto a "estrela", mais uma vez, chamou-se Pavão que rubricou uma exibição esplendorosa.
A equipa que venceu a Taça de Portugal 1967-1968. Pavão é o terceiro a contar da direita, em cima.
Pavão com parte do plantel de 1970-71, já com o treinador António Teixeira que substituiu Tommy Docherty. Foi o ano do sensacional 4-0 ao Benfica, nas Antas.
Em cima, a partir da esquerda: Vítor Hugo (massagista), Rui, Vieira Nunes, Rolando, Valdemar, Armando Manhiça, Pavão, Gualter, Armando e António Teixeira (treinador);
em baixo: Abel, Lemos, Custódio Pinto, Bené, Nóbrega e Chico Gordo.
O estilo inconfundível de Fernando “Pavão” que espelha, em lances de jogos com o Oriental e com o Benfica, todo o espírito de luta, apego e tenacidade com que defendeu a sua camisola de sempre, a do FC Porto
Mocidade vigorosa, elegância, talento às mãos cheias, eis o ditoso Fernando “Pavão” que aqui se recorda cumprimentando Amália Rodrigues. Por ele o Porto, que o admirava, verteu lágrimas sentidas.
• Pavão foi internacional A por seis vezes, estreando-se num jogo amigável disputado em Lourenço Marques, Moçambique, em 30 Jun.1968. O adversário de Portugal foi o Brasil que venceu por 2-0. Na segunda parte desse encontro, Pavão foi substituído, não se sabe por que razão, pelo avançado academista Artur Jorge. Este, no final do jogo, diria: “Substituí o melhor jogador em campo”. De facto os jogadores do FC Porto eram, por essa altura, deliberada e repetidamente preteridos a favor dos do Sporting e, sobretudo, dos do Benfica. O despotismo de Lisboa que imperava no futebol português (não erradicado ainda) coarctava a carreira internacional aos futebolistas portistas. Pavão, que também foi vítima do “polvo” sulista, integrou a equipa nacional em 2 Mai.1973, em Sófia, contra a Bulgária (1-2), em jogo da fase de qualificação para o Campeonato do Mundo. Mal ele sabia que jogara com a camisola das quinas pela última vez…
• A genialidade e a postura de Pavão em campo seduziram o Manchester United que, no início do ano de 1973, envidou todos esforços para o contratar e lhe dar a posição do mítico Bobby Charlton. Os dirigentes portistas não admitiam sequer discutir proposta que envolvesse menos de 5.000 contos, uma fortuna para a época.
Mas o flaviense teria pouco tempo para continuar a mostrar a sua prodigiosa aptidão para o futebol. A auspiciosa carreira viria a ser abruptamente interrompida. Pavão viria a falecer, tragicamente, durante um jogo nas Antas.
• Em 16 de Dezembro de 1973 o FC Porto defrontava, no Estádio das Antas, o Vitória de Setúbal de Pedroto em jogo a contar para a 13.ª jornada do campeonato. Ao 13.º minuto, quando a equipa portista já ganhava e as bancadas festejavam, Pavão ganhou um lance a meio-campo, dominou a bola, endossou-a com rigor milimétrico ao colega António Oliveira, deu mais um passo em frente e caiu de bruços, inanimado, no relvado. De pronto assistido foi, por ordem do médico do clube Dr. José Santana, conduzido ao Hospital de S. João.
O jogo prosseguiu no meio de grande apreensão e comoção. Ao intervalo, através da instalação sonora das Antas, era anunciado que se tinha tratado de uma indisposição. Perto do final do encontro foi difundida através da rádio a morte de Pavão. No estádio, no final do jogo, a mesma notícia era transmitida aos espectadores presentes. A estupefacção e a dor tomaram conta de todos. Lágrimas incontidas prantearam o desaparecimento de um ídolo muito querido.
A hemorragia cerebral ou paragem cardíaca tornaram impossível salvar Pavão. O clube e o futebol português perdiam os dos mais talentosos jogadores de então. Uma perda irreparável. Profundamente consternados, para os seus companheiros de equipa (que ganharam o jogo por 2-0) tinha sido a vitória mais chorada e triste das suas vidas. E foi o dia mais triste da longa existência das Antas. A cidade do Porto e o clube vestiram-se de luto. Em memória do malogrado futebolista o FC Porto erigiu um monumento, no Estádio das Antas, que depois transitou para o Estádio do Dragão.
• Pavão deixou órfã uma filha de tenra idade. O presidente Américo de Sá prometeu ajudar a família. Pelos vistos, ajudou pouco. A filha, Cristina, só teria os estudos pagos quando Pinto da Costa assumiu a presidência do FC Porto.
• Fernando Pascoal das Neves, “Pavão”, um jogador genial, um ídolo inesquecível de todos os portistas.
Carreira no FC Porto (equipa sénior)
1965-66 a 16 Dez.1973
Palmarés
1 Taça de Portugal (1967-68)
Fernando Moreira (Dragão Azul Forte)
Muito bom, completo e emocionante artigo, numa crónica deveras sentida. Cujo conteúdo torna desnecessárias muitas palavras mais, bastando dizer que é disto assim que gostava de ver um livro completo escrito e publicado sobre o F C Porto!Ãbraço.
ResponderEliminarExcelente artigo.
ResponderEliminarMuito bom, Fernando.
Abraço.
Já falaste muitas vezes deste acontecimento triste que te marcou. Sabes que podias ter estado lá, com o meu saudoso avô, e só não estiveste porque estavas de regresso à guerra. O dia 16 de Dezembro, nunca esqueces.
ResponderEliminarBeijo meu Pai, meu Portista.
É uma memória que jamais se desvanecerá. Tudo está bem presente! O dia enevoado e triste, a equipa a jogar bem e na frente do campeonato. O passe para Oliveira e o gesto de "vai" feito com os braços sempre arqueados de "pavão"... A queda, desamparada, o corpo inerte...! O transporte de maca e a substituição pelo Vieira Nunes. O jogo a prosseguir, o F.C.Porto ganhar, a esperança sempre renovada de aquele "era o ano"! De repente o silêncio cobre o estádio. Há pessoas que se atiram para as bancadas frias e choram. O que se passa? O PAVÃO MORREU! A noticia foi guardada até ao fim do jogo! Impressionante o ambiente nunca vivido de um estádio em absoluto silêncio e recolhimento! Como habitualmente o caminho após os jogos de futebol levava-me ao pavilhão Américo de Sá. Nesse dia para um jogo de basket com o Barreirense. Um minuto de silêncio decretado das bancadas e aceite por todos os intervenientes. Ainda sem perceber muito bem o sucedido, o choro convulsivo de adeptos na bancada foi contagiante. Do jogo em si já nada recordo. À saída, junto ao balneário da equipa senior, o meu pai conversa com o sr. Plácido, porteiro e grande PORTISTA, que em choro convulso diz que o Pavão já saiu do estádio sem vida! Lá dentro o Presidente Américo de Sá tentava confortar a viuva do Pavão. E o regresso a casa foi penoso, como penosos foram os dias seguintes, com o velório no pavilhão de treinos e o funeral. Foi o meu primeiro contacto com o desaparecimento de alguém que muito me dizia. E não há dia 16 de Dezembro em que estas imagens não passem pela minha cabeça. Pavão era grande e digno do emblema que tão bem representava. E a sua categoria era tanta, que raramente era poupado pelos árbitros nos jogos contra os "grandes" de Lisboa. Foi expulso várias vezes, apenas porque era o melhor jogador do F.C.Porto. Esta é uma sentida homenagem num dia que começou triste, porque nem uma linha de evocação vi na imprensa. Ainda bem que há PORTISTAS que não deixam a história morrer! PAVÃO FICARÁ ETERNAMENTE NA HISTÓRIA DO F.C.PORTO!
ResponderEliminarSckit
Meus Caros,
ResponderEliminarTenho 49 anos e lembro esse dia porque estava na antiga superior norte com o meu pai a ver o nosso clube. Lembro a comoção e a noticia no fim do jogo - morreu o Pavão.
Não sabia que tinha sido o PC a ajudar a família, mas não admira a grandeza moral e clubística do nosso Presidente.
Bem haja.
bonita e sentida homenagem a um jogador que os anos não fazem esquecer.
ResponderEliminarobrigado Fernando Moreira por mais este bonito momento.
Alguém acima escreveu:
ResponderEliminar"Esta é uma sentida homenagem num dia que começou triste, porque nem uma linha de evocação vi na imprensa. Ainda bem que há PORTISTAS que não deixam a história morrer! PAVÃO FICARÁ ETERNAMENTE NA HISTÓRIA DO F.C.PORTO!"
Um desses grandes Portistas é o nosso Dragão azul forte...
abraço e parabéns pelo artigo
Pavão é primo directo do meu pai, meu primo em segundo grau. Uma correção, não nasceu em chavez...foi para lá bebe, mas nasceu em angola. Um dos grandes jogadores do fc porto.
ResponderEliminarAinda o recordo com emoção tantos anos volvidos. Conhecemo-nos no 1º treino que fiz no campo da Constituição, chegado de Aveiro (do Beira Mar) naquele final de Agosto de 1964. Ele chegara de Chaves era alto e franzino muito calmo e reservado. Criamos desde logo uma grande empatia que se transformou numa grande amizade ao longo daquela época (1964/65) até à sua morte. Com a inauguração do Lar do Jogador Júnior na rua do Lindo Vale, feita a distribuição pelos quartos do grupo de atletas residentes ficaram a partilhar o nosso quarto além de mim (Vítor) ele, o Fernando como eu o tratava, o Sousa (de S. João da Madeira)e mais tarde o Luís Pereira, miúdo humilde e talentoso vindo de Ponte de Lima e recém chegado aos juvenis. Fui eu e o Fernando que o ensinamos a lavar os dentes. O Fernando (Pavão) era de poucas falas, um transmontano que se foi abrindo em longas e confidentes conversas durante toda aquela época. Ele era o médio do meu lado (ala direita) e nos inúmeros recortes de jornais da época que possuo se referia sermos ambos mais o Lázaro os mais tecnicistas da equipa. Tinhamos muito prazer em jogar juntos, foi um ano marcante na minha vida. Choramos ambos no Hotel do Luso a perda para o Sporting do título nacional naquele Junho de 1965. Iniciámos a pré-época nos seniores em Agosto e voltámos a ser colegas de quarto no lar do jogador sénior na Praça das Flores. No dia da folga íamos até à praia em Matosinhos e foi ali que ele, com uma autoconfiança enorme (a sua forte atitude mental era já o prenúncio de um vencedor) e perfeita consciência do seu valor, me afirmou esperar ser titular da equipa principal até à décima jornada do campeonato, o que viria a acontecer algumas jornadas antes, na vitória sobre o Benfica que marcou a sua estreia. Nunca mais, até à sua morte deixou a titularidade da equipa, vindo a tornar-se com Pedroto o capitão. Naquelas tardes na praia ía-me incentivando a ficar no plantel e a lutar por um lugar como titular, aguardando uma oportunidade (os titulares indiscutíveis de então nas alas eram o Jaime e o Nóbrega). Não eram esses no entanto os meus projectos de vida. Como o departamento de futebol, agora com um contrato profissional (4 contos/mês) (o Fernando (Pavão) rubricara um com 7 contos/mês) não me permitia continuar os meus estudos de engenharia (na época nem havia ensino superior nocturno) pedi para ser dispensado (fui sucessivamente emprestado a clubes como o G.D.Riopele, RD Águeda, Naval 1º Maio, ASA de Luanda e Sporting de Luanda) e acabaria aí, para mim a possibilidade de uma carreira na alta competição para a qual não estava mentalmente talhado. Só retomaria os meus encontros com o "Pavão" regressado ao Porto em 1972 depois de como Alferes ter servido militarmente em Angola. O meu novo Clube então o S. C. e Salgueiros na 2ª Divisão, treinava amiúde nas Antas motivo para eu defrontar no estádio o meu grande amigo Pavão e conversar um pouco pós treino. Algumas semanas antes da sua morte tinha-me convidado a estar presente na inauguração do seu Pub no Porto e confidenciou-me estar quase tudo acertado com o Manchester United para a época seguinte, por força da intervenção do seu antigo treinador no FCP (Tomy Doc), agora manager do Manchester. Do meu grande amigo ficaram muitas memórias, alguns recortes de jornais, e várias fotos...e saudade.Sempre.
ResponderEliminarVítor Cruz