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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto
Capítulo 6: 1951 a 1960 – Contestação a Lisboa; a “dobradinha” (Parte XXIII)
Época 1955-1956 (continuação)
8 Jan. – 13.ª jornada: à beira do Mondego o FC Porto venceu com dois golos e à beira de apontar o terceiro esteve José Maria; não o conseguiu porque na marcação de um penalty, aos 52 minutos, chutou por cima da barra. Na resposta, aos 55 minutos, Faia não perdoou no penalty assinalado a favor da Académica. 1-2, resultado justo.
Académica 1 – FC Porto 2
Estádio Municipal (Coimbra)
Árbitro: Joaquim Campos (Lisboa)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e José Maria.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 0-1 Jaburu (4’); 0-2 José Maria (35’); 1-2 Faia (55’, gp).
15 Jan. – 14.ª jornada: nas Antas, início da 2.ª volta. Pinho, logo aos 14 minutos, defendeu um penalty e respectiva recarga de Couceiro. Pouco depois os serranos marcaram mas o FC Porto foi, paulatinamente, construindo um resultado volumoso com todos os golos marcados por jogadores diferentes. O público encheu as bancadas neste primeiro jogo da 2.ª volta. E os adeptos acreditavam cada vez mais na conquista do Campeonato. O Benfica seguia a 2 pontos e o Sporting a 6.
FC Porto 5 – Sp Covilhã 1
Estádio das Antas (Porto)
Árbitro: Raul Martins (Lisboa)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Eleutério; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Carlos Duarte.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 0-1 Suarez (22’); 1-1 Monteiro da Costa (30’); 2-1 António Teixeira (46’); 3-1 Carlos Duarte (47’); 4-1 Jaburu (70’); 5-1 Hernâni (84’, gp).
22 Jan. – 15.ª jornada: vitória sofrida em Oeiras, ante uma equipa bem organizada Por Fernando Riera e muito lutadora. Os “pastéis de Belém” foram difíceis de tragar… Até Pinho teve de defender um penalty (mais um!) marcado pelo belenense Figueiredo aos 28 minutos, tendo a recarga de Pellejero saído ao lado da baliza do excelente guardião portista.
O autor do tento portista foi Hernâni que magistralmente cobrou um livre a castigar carga (a soco!) de José Pereira sobre Jaburu.
Belenenses 0 – FC Porto 1
Estádio Nacional (Oeiras)
Árbitro: Eduardo Neves (Viseu)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Perdigão.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 0-1 Hernâni (?)
29 Jan. – 16.ª jornada: triunfo difícil com todos os golos marcados na 2.ª parte. E só nos últimos 6 minutos o FC Porto “desbloqueou” o resultado.
FC Porto 3 – CUF 1
Estádio das Antas (Porto)
Árbitro: Raul Martins (Lisboa)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Carlos Duarte.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 1-0 Hernâni (52’ gp); 1-1 Jesus Correia (58’); 2-1 Jaburu (84’); 3-1 Hernâni (89’ gp).
5 Fev. – 17.ª jornada: com o nulo em Torres Vedras, o FC Porto permitiu que o Benfica reduzisse a desvantagem para um ponto. Yustrich sem peias: “Não quero conversas com jornalistas! Não digo nada e não me queiram fazer mais bruto do que já sou...”
Torreense 0 – FC Porto 0
Campo das Covas (Torres Vedras)
Árbitro: Eduardo Neves (Viseu)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Perdigão.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
12 Fev. – 18.ª jornada: após a décima oitava jornada o FC Porto, que venceu o Vitória de Setúbal, mantinha o ponto de vantagem sobre o Benfica. Mas tão só porque em Évora o árbitro Jacques Matias permitiu que Ângelo (do “clube do regime”) apontasse o golo da vitória dois minutos depois da hora, sem que nada o justificasse, ignorando por completo os sinais do fiscal de linha a indicar o final do jogo… Os vermelhos marcaram e, então sim, deu o encontro por findo…
FC Porto 4 – Vitória de Setúbal 1
Estádio das Antas (Porto)
Árbitro: Evaristo Silva (Leiria)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Carlos Duarte.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 1-0 António Teixeira (50’); 2-0 Jaburu (52’); 2-1 Corona (57’); 3-1 Jaburu (80’); 4-1 Carlos Duarte (90’).
19 Fev. – 19.ª jornada: a equipa portista desperdiçou um ponto (*) na visita à Tapadinha. O Benfica, que derrotou o Sporting (3-0), igualou o FC Porto no comando da classificação. A luta estava ao rubro!
Atlético 2 – FC Porto 2
Estádio da Tapadinha (Lisboa)
Árbitro: Mário Garcia (Aveiro)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Carlos Duarte, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Hernâni.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 1-0 Legas (35’); 1-1 António Teixeira (44’); 1-2 Gastão (75’); 2-2 Martinho (85’).
(*) Lembre-se que a vitória valia 2 pontos e o empate 1 ponto.
26 Fev. – 20.ª jornada: num excelente jogo disputado nas Antas, o FC Porto goleou os “arsenalistas” de Braga. Bom auspício para dali a oito dias, na Luz. Outro tanto não podiam dizer os donos daquele estádio em Lisboa; com efeito o Benfica, na sua visita a Coimbra, foi derrotado pela Académica de Cândido de Oliveira (1-0, golo de Faia) para júbilo dos estudantes em posição difícil na classificação. E também para regozijo dos portistas que viam, de novo, a sua equipa ficar isolada, com 2 pontos de avanço, no primeiro lugar do Campeonato.
FC Porto 4 – SC Braga 0
Estádio das Antas (Porto)
Árbitro: Eduardo Neves (Aveiro)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Eleutério; Miguel Arcanjo e Sá Pereira; Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Perdigão.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 1-0 Jaburu (25’); 2-0 Jaburu (39’); 3-0 Gastão (48’); 4-0 Perdigão (60’).
O título a um passo e a loucura pela ida a Lisboa…
Com o FC Porto isolado na liderança do Campeonato e a uma semana do jogo em Lisboa com o Benfica, uma onda de entusiasmo inundou portuenses e portistas do Norte.
• Era tal a euforia que até um dirigente foi movido a organizar uma "excursão marítima" a Lisboa, um autêntico cruzeiro para 800 pessoas a bordo do paquete "Uíge". Por um camarote de luxo pagou-se 1000 escudos, por um bilhete de primeira classe 850, por um de terceira 400. Mas o aluguer do barco para aquela “viagem de sonho” não se fez para ganhar dinheiro: foi para “ajudar o FC Porto a vencer em Lisboa”…
• Um avião “Dakota” foi igualmente fretado pata transportar adeptos a Lisboa!
• Milhares de portistas fizeram a viagem por caminho-de-ferro em comboios especiais com catorze carruagens cada! Um recorde ferroviário! Tudo pelo sonho de ganhar em Lisboa e conquistar o Campeonato Nacional!
O FC Porto esteve a vencer em grande parte do encontro, graças a um golo de António Teixeira aos 31 minutos. Pelo que fez, a equipa merecia a vitória. Virgílio foi o porta-voz do desconsolo portista: “Poderíamos ter chegado ao final do primeiro tempo a vencer por 3-0, mas o Benfica foi feliz".
Por proposta de Yustrich, aceite pelo Presidente Cesário Bonito, cada jogador azul-e-branco recebeu 1500 escudos de prémio pelo valioso resultado obtido.
11 Mar. – 22.ª jornada: de regresso às Antas (estádio cheio!) após o brilhante comportamento ante os vermelhos da capital, a equipa azul-e-branca, mesmo privada do concurso de Hernâni mas arrebatada pelo momento que vivia, sufocou o Barreirense com um resultado que já não se usava: 10-1!
No fim do jogo o público rejubilava pela esmagadora vitória e pelo facto de o Benfica ter empatado com o Belenenses (2-2). Meio resignado, Otto Glória, treinador dos encarnados, afirmou: “A minha equipa jogou muito mal; o Campeonato está praticamente perdido”.
Assim o FC Porto (38) aumentava para três pontos a vantagem sobre o rival da capital (35).
Caldas 3 – FC Porto 3
Campo da Mata (Caldas)
Árbitro: Mário Garcia (Aveiro)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Carlos Duarte, Gastão, Jaburu, António Teixeira e José Maria.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 1-0 Bispo (15’); 1-1 Gastão (30’); 2-1 Orlando (?); 2-2 Jaburu (58’); 2-3 Carlos Duarte (65’); 3-3 Romeu (81’).
Nota: aos 57 minutos de jogo foram expulsos Fragateiro (Caldas) e Monteiro da Costa (FC Porto).
24 Mar. – Dorival Yustrich renegociou o contrato com o FC Porto ficando a ganhar a “astronómica” verba de 480 contos por ano (40 contos/mês). Para se aquilatar da valia deste ordenado, refira-se que o primeiro prémio da lotaria da Páscoa era de 2000 contos e o terceiro de 50 contos…
15 Abr. – 24.ª jornada: Jaburu marcou mais três golos nos quatro (ou melhor… cinco) com que o FC Porto brindou o visitante eborense. Por quê cinco “brindes”? Porque Osvaldo Cambalacho também apontou um tento… na própria baliza!
FC Porto 4 – Lusitano de Évora 1
Estádio das Antas (Porto)
Árbitro: Eduardo Gouveia (Lisboa)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Gastão, Jaburu, António Teixeira, Perdigão e José Maria.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 1-0 Jaburu (3’); 2-0 Jaburu (28’); 3-0 José Maria (62’); 3-1 Osvaldo Cambalacho (79’ auto-golo); 4-1 Jaburu (81’).
Apenas a uma jornada do final do Campeonato, FC Porto e Benfica tinham 41 pontos com vantagem da equipa portista no “goal-average” (12 golos). O Sporting, a 5 pontos, estava arredado do título.
Foi difícil desbloquear o jogo; o FC Porto precisava de ganhar, mas a Académica também precisava de não perder dada a situação complicada na classificação. Os minutos passavam e o público desesperava; a defesa da Académica chegava para as encomendas e Ramin defendia o indefensável. A pouco mais de meia hora do final, o empate persistia. Até que o génio de Hernâni resolveu encaminhar o FC Porto rumo à vitória. Aos 64 minutos as bancadas do estádio quase que abatiam tal a euforia dos espectadores. Depois António Teixeira, por duas vezes (68 e 80 minutos), carimbou a vitória do FC Porto e o regresso aos títulos.
A alegria incontida trespassou todos os portistas e portuenses. O FC Porto era Campeão è frente do Benfica. Ambos somaram 43 pontos mas o novo Campeão levou vantagem no “goal-average” (12 golos à melhor). O Belenenses, batendo o Sporting por 2-1, conquistou, in-extremis, o terceiro lugar, com 37 pontos, mais um do que os sportinguistas.
As provocações de Wilson ao seu amigo Hernâni
Hernâni (FC Porto) e Mário Wilson (Académica) eram amigos. Mas no calor da luta há sentimentos que se apagam. Foi o que aconteceu naquela tarde em que os deuses pareciam querer evitar que Hernâni ganhasse o seu primeiro título de Campeão Nacional da I Divisão, durante o dramático jogo com a Académica. Hernâni contou:
“Ramin defendia tudo e quando o árbitro assinalou a grande penalidade a nosso favor, os meus companheiros, já perturbados pelo teimoso nulo, viraram as costas, não quiseram, sequer, ver-me apontar a falta. Mas esse foi o penalty mais fácil de marcar da minha vida. Há mais de uma hora que estávamos sem marcar. A Académica não podia perder, era uma dificuldade tremenda para nós, Mário Wilson e Torres mandavam na defesa, Ramin defendia tudo. Quando o penalty surgiu apoderou-se imediatamente de mim a ideia de que tinha chegado a hora de fazer o que não conseguíramos durante uma hora, quando já muita gente descria. Tive concentração, bati a bola, foi uma enorme explosão no estádio, uma alegria extraordinária. Sempre tive o melhor relacionamento com Mário Wilson, amizade que tinha ficado consolidada nessa famosa digressão que o Sporting fez ao Brasil e para a qual os dois fomos convidados. Quando o árbitro assinalou a grande penalidade, gerou-se a habitual confusão, eu fugi do barulho, com o intuito de não me enervar e não perder a concentração. O Mário Wilson, com aquela habitual calma, veio junto de mim e, em tom de chalaça, tratou-me por... Ferreira da Silva. Disse-me que eu iria chutar a bola para fora! Repetiu a frase e quando se preparava para a lançar pela terceira vez, respondi-lhe com meia dúzia de asneiras, agastado com ele. Retirou-se. No final do jogo, naquele momento emocionante da festa indescritível do título, abeirou-se de mim, abraçou-me e ainda comovido disse-me que não sabia que eu era tão… malcriado”.
[As provocações… - In “História de 50 anos do desporto português” - Adaptação]
A festa do FC Porto nas Antas!
BIBÓ PORTO, CARAGO!
No primeiro plano – Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Perdigão;
De pé – Virgílio, Miguel Arcanjo, Monteiro da Costa, Osvaldo Cambalacho, Pedroto e Pinho.
O FC Porto vinha de um prolongado “jejum” de 16 anos. Equipas formadas com jogadores de grande nível, perseguiam, época após época, os títulos e a glória. Parecia sina: o infortúnio, algum conformismo e o poder de Lisboa a enredar, tolhiam o êxito e a conquista. Dorival Yustrich chegou do Brasil com a missão de inverter a sorte. Mas não foi por sorte que o FC Porto alcançou os resultados desportivos há tanto esperados. O “Homão” era disciplinador nato e impôs rígidas regras de conduta à equipa. A voz de comando e o talento em campo foram os ingredientes fundamentais para se cozinhar a primeira “dobradinha” da história do Clube. Em luta renhida com o Benfica até à última jornada, os portistas foram Campeões brilhantes: apenas uma derrota (em Lisboa, com o Sporting por 0-1), mais golos marcados (70), menos golos sofridos (20), 3-0 e 1-1 nos jogos com o 2.º classificado!
A conquista da Taça de Portugal, no Jamor, foi outro feito inédito. Virgílio (participou em todos os jogos das duas competições!), José Pedroto, Hernâni e Jaburu (melhor marcador da equipa com 29 golos nas duas competições) destacaram-se entre os obreiros da memorável “dobradinha”. Os adeptos portistas, finalmente, festejaram. E logo a “dobrar”!
- No próximo post.: Capítulo 6, 1951 a 1960 – Contestação a Lisboa; a “dobradinha” (Parte XXIV) – Época 1955-56 (continuação); primeira vitória na Taça de Portugal; a dobradinha! Troféu Martini; digressão ao Brasil e Venezuela; incidentes protagonizados por Yustrich; a saída do treinador brasileiro.
Mais um... e em grande! Agora vamos lá a mais!
ResponderEliminarGrande época de um resgate de um título que já não sucedia há 17 anos...
ResponderEliminarabraço