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A semana que passou acabou com a paz podre do futebol português. E não é para menos. Vários acontecimenos se sucederam e, entre a loucura e desinformação típicas, vamos tentar neste espaço clarificar e arrumar as ideias de forma a que nunca percamos o Norte. O Norte que nos deve guiar.
Ponto prévio: fomos escandalosamente roubados no Estoril. Basta dizer que marcamos dois golos limpos e que os dois golos do adversários provêm de uma grande penalidade grotesca e surreal e de um tento em fora-de-jogo. É verdade que a equipa não esteve ao nível que nos habituou já este ano? Sim, aceito. Mas isso não iliba a equipa de arbitragem dos erros acima mencionados. O suposto penalty de Otamendi dava, por si só, para ilustrar um livro de comédia. É que não só a mão é inequivocamente fora da área, como o passe interceptado iria para um jogador canarinho em completo fora-de-jogo. Mas nem o árbitro nem o fiscal de linha conseguiram decidir a favor do FC Porto. Que surpresa...
Foram arbitragens destas que nos deram a única derrota no campeonato nos últimos dois anos and counting. Barcelos, cortesia de Bruno Paixão. Este ano, vá lá, conseguimos o empate. Nada mau.
Na Cidade-Berço, fomos brindados com outra brilhante comédia, só ao alcance dos mais distintos actores. Só que essa não dá para rir, bem pelo contrário. Um dos mais importantes intervenientes do jogo tentou impedir vários polícias de efectuarem o trabalho pela qual são pagos com o dinheiro de todos os contribuintes. E não se coibiu de utilizar a violência para impedi-los de cumprir com as suas funções e obrigações definidas por lei.
Nós sabemos o que aconteceu a Hulk e a Sapunaru por supostas agressões (não televisionadas como estas) a meros stewards, isto é, seguranças privados. O processo, dessa vez, desenrolou-se rápido e célere e, sem ninguém saber bem como, na famosa justiça desportiva, o FC Porto foi impedido de utilizar esses dois importantes jogadores durante largos jogos da época. Consequência: perdemos o campeonato nacional. Claro que quando em recurso a decisão foi julgada nula, o mal já estava feito e não havia forma de reparação possível. É o tal caso em que a justiça tarda, tarda e quando chega já não se faz justiça nenhuma. Resta a consolação moral.
Claro que neste caso, está tudo gravado e visível a olho nu. Nada, no entanto, que mereça censura por parte dos adeptos e simpatizantes rivais. Para eles e para a sua comunicação social, tudo isto é saudável e normal, sendo coisas que “fazem parte do futebol”. Todos sabemos que uma invasão de campo é ilegal e criminosa, pela insegurança que representa para os intervenientes desportivos, quer jogadores, quer árbitros, quer treinadores, quer dirigentes.
Claro que, conforme nos lembramos, isso não causa estranheza a um clube que, no seu estádio, já viu um tal de “Barbas” saltar o muro que divide a bancada do relvado, passar impunemente pelos tais stewards, dar um cachaço no fiscal de linha e voltar tranquilamente para a sua bancada. Curiosamente, também nessa altura vimos vários adeptos encarnados indignados pelo facto da Polícia querer deter esse adepto, como se fosse a coisa mais normal do mundo alguém entrar dentro de um recinto de jogo para agredir um árbitro.
Claro que isto não causa estranheza ao clube que, depois de um adepto seu ter sido declarado culpado pelo atirar de um verylight que vitimou um adepto sportinguista, continua ano após ano a ser o mais acérrimo defensor da continuidade do Jamor como palco da Final da Taça de Portugal, invocando os argumentos da tradição e da antiguidade.
Claro que isto não causa estranheza a um clube que, após perder uma Final da Taça de Portugal, decide abandonar o relvado sem assistir à entrega da Taça ao seu adversário, por entre ameaças e insultos de jogadores ao seu próprio treinador.
Claro que isto não causa estranheza ao clube cujo Director Desportivo tinha, à época e ao mesmo tempo, participação na SAD do Estoril. Claro que também não lhes causaria estranheza que um jogo com o Estoril nessa época tenha sido jogado não na Linha, mas no Algarve. Tudo para aumetar a receita de bilheteira dos estorilistas.
Alguns pasquins fizeram logo questão de desculpabilizar Jesus. Ora porque existe um vídeo amador onde se vislumbra o próprio treinador a pedir calma aos seus adeptos, ora porque Jesus vinha de um jogo quente e emocionante, pelo que teria atenuantes. Logo depois, diz-se que Jesus só assinou a notificação quando lhe garantiram que não havia agressões. E que, a existirem agressões, foram acrescentadas ou mesmo falsificadas no respectivo auto. Há mesmo um desportivo que se permite explicar a diferença entre bater e agredir. Ou seja, nunca Jesus teve tantos advogados de defesa. Que vergonha teriam os verdadeiros apóstolos quando comparados com estes heróicos defensores de Jesus!
Contudo, nada melhor que nos socorrermos da Lei. O Direito nasce para regular a vida das pessoas e para fomentar a estabilidade e a segurança nas relações pessoais e profissionais. Diz-nos o Código Penal no seu artigo 143º que quem ofender o corpo ou a saúde outra pessoa é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de multa. Só que, infelizmente para alguns, diz o mesmo diploma no seu artigo 145º, nº 1, alínea a) que se as ofensas à integridade física forem produzidas em circunstâncias que revelem especial censurabilidade ou perversidade do agente este é punido com pena de prisão até quatro anos.
Mas que circunstâncias são essas? Por remissão do artigo 145º, nº 2, somos convocados a ler com atenção o artigo 132º, nº 2. E o que diz ele? Diz-nos, na sua alínea L, que que quem praticar o facto de que é acusado contra “ (...) agente das forças ou serviços de segurança (...)” é susceptível de revelar especial censurabilidade ou perversidade. Não será preciso dispôr de uma grande formação jurídica para perceber o óbvio: Jesus está em maus lençóis.
Claro que nos meses que aí vêm irão aparecer teorias fantásticas sobre o assunto. Uns dirão que o relógio do polícia tem propriedades voadoras e que foi parar ao relvado porque decidiu ir analisar o estado da relva. Outros dirão que o adepto que invadiu o relvado era primo de Jesus. Outros dirão que foi o polícia que quis impedir Jesus de invadir a bancada. Outros dirão que Jesus não podia agredir ninguém porque já estava algemado e por aí fora. Dirão até que Jesus impediu uma catástrofe no D. Afonso Henriques. Vão chover atenuantes, por assim dizer.
Estes jornais e televisões nós já os conhecemos de outras lides. São os mesmos que agora vão passar a transmitir os primeiros cinco minutos dos jogos da Carneirada em casa. Quase que adivinho porque é que não quiseram negociar a transmissão dos últimos minutos dos descontos!
Mas tudo isto não seria suficiente para completar o fim-de-semana. Além dos observadores da Liga nada terem visto e para além do relatório do árbitro nada referir acerca do que se passou em Guimarães (!), um tal de Presidente da Associação de Futebol de Lisboa vem afirmar que foi agredido por Adelino Caldeira no Estoril. Nada melhor que tentar desviar as atenções para outro campo que não o D. Afonso Henriques. Só que, o tal agredido, fez com que as atenções se voltassem para ele. E, por azar, descobriram-lhe insultos racistas contra o atleta Hulk. O homem bem tentou apagar os respectivos insultos, mas não foi a tempo. A história segue dentro de momentos.
Ou seja, a Sul nada de novo. Continua a mesma cruzada contra o inimigo imaginário, a mesma ilusão de que o caminho das vitórias está no controlo das televisões e dos demais órgãos de comunicação social, o mesmo gosto pela facilidade para atingir objectivos, a mesma mania da grandeza e da superioridade, a mesma arrogância de quem se acha acima da Lei, a mesma ideia de inimputabilidade, a tendência para o exagero, a tendência para a desculpabilização, a incapacidade de olhar para dentro e descobrir os problemas, a tentativa de se bater em lugares extra-relvado, etc.
Que assim continuem.
Rodrigo de Almada Martins
Ponto prévio: fomos escandalosamente roubados no Estoril. Basta dizer que marcamos dois golos limpos e que os dois golos do adversários provêm de uma grande penalidade grotesca e surreal e de um tento em fora-de-jogo. É verdade que a equipa não esteve ao nível que nos habituou já este ano? Sim, aceito. Mas isso não iliba a equipa de arbitragem dos erros acima mencionados. O suposto penalty de Otamendi dava, por si só, para ilustrar um livro de comédia. É que não só a mão é inequivocamente fora da área, como o passe interceptado iria para um jogador canarinho em completo fora-de-jogo. Mas nem o árbitro nem o fiscal de linha conseguiram decidir a favor do FC Porto. Que surpresa...
Foram arbitragens destas que nos deram a única derrota no campeonato nos últimos dois anos and counting. Barcelos, cortesia de Bruno Paixão. Este ano, vá lá, conseguimos o empate. Nada mau.
Na Cidade-Berço, fomos brindados com outra brilhante comédia, só ao alcance dos mais distintos actores. Só que essa não dá para rir, bem pelo contrário. Um dos mais importantes intervenientes do jogo tentou impedir vários polícias de efectuarem o trabalho pela qual são pagos com o dinheiro de todos os contribuintes. E não se coibiu de utilizar a violência para impedi-los de cumprir com as suas funções e obrigações definidas por lei.
Nós sabemos o que aconteceu a Hulk e a Sapunaru por supostas agressões (não televisionadas como estas) a meros stewards, isto é, seguranças privados. O processo, dessa vez, desenrolou-se rápido e célere e, sem ninguém saber bem como, na famosa justiça desportiva, o FC Porto foi impedido de utilizar esses dois importantes jogadores durante largos jogos da época. Consequência: perdemos o campeonato nacional. Claro que quando em recurso a decisão foi julgada nula, o mal já estava feito e não havia forma de reparação possível. É o tal caso em que a justiça tarda, tarda e quando chega já não se faz justiça nenhuma. Resta a consolação moral.
Claro que neste caso, está tudo gravado e visível a olho nu. Nada, no entanto, que mereça censura por parte dos adeptos e simpatizantes rivais. Para eles e para a sua comunicação social, tudo isto é saudável e normal, sendo coisas que “fazem parte do futebol”. Todos sabemos que uma invasão de campo é ilegal e criminosa, pela insegurança que representa para os intervenientes desportivos, quer jogadores, quer árbitros, quer treinadores, quer dirigentes.
Claro que, conforme nos lembramos, isso não causa estranheza a um clube que, no seu estádio, já viu um tal de “Barbas” saltar o muro que divide a bancada do relvado, passar impunemente pelos tais stewards, dar um cachaço no fiscal de linha e voltar tranquilamente para a sua bancada. Curiosamente, também nessa altura vimos vários adeptos encarnados indignados pelo facto da Polícia querer deter esse adepto, como se fosse a coisa mais normal do mundo alguém entrar dentro de um recinto de jogo para agredir um árbitro.
Claro que isto não causa estranheza ao clube que, depois de um adepto seu ter sido declarado culpado pelo atirar de um verylight que vitimou um adepto sportinguista, continua ano após ano a ser o mais acérrimo defensor da continuidade do Jamor como palco da Final da Taça de Portugal, invocando os argumentos da tradição e da antiguidade.
Claro que isto não causa estranheza a um clube que, após perder uma Final da Taça de Portugal, decide abandonar o relvado sem assistir à entrega da Taça ao seu adversário, por entre ameaças e insultos de jogadores ao seu próprio treinador.
Claro que isto não causa estranheza ao clube cujo Director Desportivo tinha, à época e ao mesmo tempo, participação na SAD do Estoril. Claro que também não lhes causaria estranheza que um jogo com o Estoril nessa época tenha sido jogado não na Linha, mas no Algarve. Tudo para aumetar a receita de bilheteira dos estorilistas.
Alguns pasquins fizeram logo questão de desculpabilizar Jesus. Ora porque existe um vídeo amador onde se vislumbra o próprio treinador a pedir calma aos seus adeptos, ora porque Jesus vinha de um jogo quente e emocionante, pelo que teria atenuantes. Logo depois, diz-se que Jesus só assinou a notificação quando lhe garantiram que não havia agressões. E que, a existirem agressões, foram acrescentadas ou mesmo falsificadas no respectivo auto. Há mesmo um desportivo que se permite explicar a diferença entre bater e agredir. Ou seja, nunca Jesus teve tantos advogados de defesa. Que vergonha teriam os verdadeiros apóstolos quando comparados com estes heróicos defensores de Jesus!
Contudo, nada melhor que nos socorrermos da Lei. O Direito nasce para regular a vida das pessoas e para fomentar a estabilidade e a segurança nas relações pessoais e profissionais. Diz-nos o Código Penal no seu artigo 143º que quem ofender o corpo ou a saúde outra pessoa é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de multa. Só que, infelizmente para alguns, diz o mesmo diploma no seu artigo 145º, nº 1, alínea a) que se as ofensas à integridade física forem produzidas em circunstâncias que revelem especial censurabilidade ou perversidade do agente este é punido com pena de prisão até quatro anos.
Mas que circunstâncias são essas? Por remissão do artigo 145º, nº 2, somos convocados a ler com atenção o artigo 132º, nº 2. E o que diz ele? Diz-nos, na sua alínea L, que que quem praticar o facto de que é acusado contra “ (...) agente das forças ou serviços de segurança (...)” é susceptível de revelar especial censurabilidade ou perversidade. Não será preciso dispôr de uma grande formação jurídica para perceber o óbvio: Jesus está em maus lençóis.
Claro que nos meses que aí vêm irão aparecer teorias fantásticas sobre o assunto. Uns dirão que o relógio do polícia tem propriedades voadoras e que foi parar ao relvado porque decidiu ir analisar o estado da relva. Outros dirão que o adepto que invadiu o relvado era primo de Jesus. Outros dirão que foi o polícia que quis impedir Jesus de invadir a bancada. Outros dirão que Jesus não podia agredir ninguém porque já estava algemado e por aí fora. Dirão até que Jesus impediu uma catástrofe no D. Afonso Henriques. Vão chover atenuantes, por assim dizer.
Estes jornais e televisões nós já os conhecemos de outras lides. São os mesmos que agora vão passar a transmitir os primeiros cinco minutos dos jogos da Carneirada em casa. Quase que adivinho porque é que não quiseram negociar a transmissão dos últimos minutos dos descontos!
Mas tudo isto não seria suficiente para completar o fim-de-semana. Além dos observadores da Liga nada terem visto e para além do relatório do árbitro nada referir acerca do que se passou em Guimarães (!), um tal de Presidente da Associação de Futebol de Lisboa vem afirmar que foi agredido por Adelino Caldeira no Estoril. Nada melhor que tentar desviar as atenções para outro campo que não o D. Afonso Henriques. Só que, o tal agredido, fez com que as atenções se voltassem para ele. E, por azar, descobriram-lhe insultos racistas contra o atleta Hulk. O homem bem tentou apagar os respectivos insultos, mas não foi a tempo. A história segue dentro de momentos.
Ou seja, a Sul nada de novo. Continua a mesma cruzada contra o inimigo imaginário, a mesma ilusão de que o caminho das vitórias está no controlo das televisões e dos demais órgãos de comunicação social, o mesmo gosto pela facilidade para atingir objectivos, a mesma mania da grandeza e da superioridade, a mesma arrogância de quem se acha acima da Lei, a mesma ideia de inimputabilidade, a tendência para o exagero, a tendência para a desculpabilização, a incapacidade de olhar para dentro e descobrir os problemas, a tentativa de se bater em lugares extra-relvado, etc.
Que assim continuem.
Rodrigo de Almada Martins
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