24 janeiro, 2015

DADOS VICIADOS.

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    “Chegou a altura de estarmos de sobreaviso e verificar que a infelicidade dos árbitros já ultrapassou os limites e que, eventualmente, tenhamos de adoptar medidas de autodefesa, mas que possam definitivamente acabar com o gozo a que vamos estando sujeitos por aqueles que, não sendo do FC Porto, gozam, semana a semana, com as grandes penalidades que nos são sonegadas e os golos irregulares que nos são marcados. Trata-se, realmente, de um gozo, até humilhante, e que em defesa da nossa dignidade não poderemos deixar que continue”
A frase podia ser actual mas não é, longe disso. É de 1976 e é uma espécie de cartão-de-visita do Mestre Pedroto no seu regresso às Antas, depois do primeiro exilio forçado. Tinham-se passado 17 anos desde o último campeonato nacional conquistado pelo FC Porto e era tempo de “mudar de vida”. Se era verdade que nesse período nem sempre tivemos grandes equipas, não era menos verdade que o sistema vigente era uma das razões para que nos momentos decisivos nunca tivéssemos a capacidade para conquistar algo mais do que uma “simples” Taça de Portugal em 1968.

Pedroto chegou e em conjunto com Pinto da Costa encetou uma revolução que transformou o futebol português e o FC Porto, cujos resultados bem sabemos. Como reverso da medalha o FC Porto passou a ser detestado e invejado, mas ao mesmo tempo temido. Logo começaram outras perseguições, agora na forma de suspeições sobre todas as nossas conquistas e o constante denegrir de todos aqueles que dirigiam o clube.

Na verdade, e fazendo uma análise fria, verificamos que um dos nossos grandes méritos foi que a partir dos anos 80 até ao inicio dos processos apito dourado/final o FC Porto passou a ter um estatuto “normal” de grande, passando a usufruir do mesmo respeito que os outros dois de Lisboa, sobretudo no nosso terreno. Ao contrário do que querem sempre fazer crer, o FC Porto não foi brutalmente beneficiado em comparação com Benfica e Sporting, sendo inclusivamente por diversas vezes prejudicado nos terrenos destes adversários. Passou no entanto a usufruir das mesmas benesses de qualquer grande, seja de que pais for: passou a não ser fácil marcar penalties ou expulsar jogadores nas Antas, como nunca o foi na Luz, Alvalade, Santiago Bernabéu, Camp Nou, San Siro ou outros que tais e foi esse o nosso grande pecado – ser tão grande e tão temido como os outros.

Obviamente num país centralista e maioritariamente vermelho esta situação era uma provocação. Com o beneplácito da comunicação social lisboeta e com o contributo ingénuo de muitos dirigentes do Sporting, o ruido foi crescendo de tom, criando-se um estigma nos Portistas: o de que as suas vitórias pouco contavam porque eram fruto de esquemas de bastidores e de um poder gigantesco que, por artes mágicas, tinha sido construído nas costas de milhões de adeptos vermelhos e verdes e à revelia da Lisboa de todos os poderes, baluartes da decência e do “jogo limpo”.

No entanto os tempos mudaram, o FC Porto foi mudando também e a verdadeira razão para o estado a que chegamos terá começado no início deste século. Reorganizaram-se as tropas, vários interesses convergiram e a guerra estava lançada, valendo tudo para derrubar o FC Porto. Com a confluência de vários poderes, processos judiciais e ataques sem piedade em órgãos de comunicação escolhidos a dedo foram a estratégia central para enfraquecer e desmembrar a hegemonia do FC Porto, a pedra no sapato deste país cada vez mais feito de paisagem em torno da grande capital.

Graças à tenacidade natural das gentes da Invicta e ao invejável know-how desportivo que construiu em 3 décadas, o FC Porto foi resistido a tudo e todos, conseguindo inclusive aumentar o seu domínio no período 2003-2012, mesmo com uma postura geralmente menos agressiva. Contudo os tempos começaram a mudar rapidamente…

Com um investimento brutal no principal rival, aliado a um domínio cada vez maior de tudo o que são corredores do poder e órgãos de difusão de mensagens, o FC Porto sofre neste momento um ataque brutal para o qual talvez não se tenha preparado convenientemente. Na verdade, os sucessos repetidos aliados aos fracassos recorrentes dos rivais, somados a uma vitória em toda a linha nos tribunais foram paulatinamente enfraquecendo a habitual garra tripeira, sendo que o momento Kelvin se transformou numa estranha anestesia que cristalizou por uns tempos o FC Porto. O preço a pagar tem sido duro, como todos sabemos.

Neste momento o jogo está completamente viciado. Semana após semana somos confrontados com casos que demonstram como estamos muito próximos do pré 1976. Em certa medida até poderemos considerar que o enquadramento é pior, uma vez que hoje existem meios de comunicação que nos colocam perante um cenário absolutamente incrível: tudo é visto e comentado globalmente mas mesmo assim todo este ataque é feito às claras e sem pudores!

A nosso favor temos no entanto uma feliz realidade. O FC Porto hoje é muito maior do que em 1959, vivemos em liberdade de expressão e não iremos ser derrubados de forma tão simples como o fomos nessa altura. No entanto há que redobrar esforços e a atenção porque o momento é crítico.

Situações como a de Braga, dentro do campo e nas análises pós jogo, apenas servem para sublinhar uma conclusão já mais do que apreendida pelo universo Portista: o ataque é sério, a vergonha não existe e desenganem-se os que pensam que isto foi demasiado grave para ousarem repetir. Semana após semana pensa-se isso e o resultado é que a espiral de ataque ao FC Porto parece imparável.

Hoje todos sabemos o que está em causa e mesmo um treinador estrangeiro ou jogadores recém-chegados já tem a lição apreendida: nunca foi fácil ganhar no FC Porto mas nos tempos que correm é mesmo como trepar o Evereste. Tal como em 1976 heróis precisam-se dentro e fora do campo? Estaremos preparados?

Bom fim-de-semana!

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