25 agosto, 2016

O CORAÇÃO RECOMEÇA A BATER.


Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Em dois dias, as gentes portistas passaram do estado depressivo ao estado eufórico. Depois do empate caseiro frente à AS Roma e gorada a transferência de Rafa em favor do maior rival, o universo portista caía em desânimo e a estrutura voltava a estar debaixo de fogo cerrado.

A expressiva vitória na Cidade Eterna, o empate dos lampiões, complicações na mudança de Rafa para Lisboa e a aterragem de Oliver no Porto, tiveram pois o condão de ressuscitar o portismo das trevas, culminando com uma recepção no aeroporto de grande nível aos heróis de Roma.

Mas calma. Muita calma. Nem antes éramos tão maus, nem agora somos tão bons. E, para nossa tristeza, grande parte dos problemas permanecem... e dentro de casa.

Por norma, as más notícias primeiro. Esta é a mesma estrutura que contratou Depóitre, o engenheiro civil que só se profissionalizou aos 24 anos e que não pôde contar com ele para uma eliminatória de acesso à Champions League. Nem com ele, nem com Aboubakar, nem com Gonçalo Paciência. O primeiro porque aguarda transferência; o segundo porque, pelos vistos, não conta para NES.

Esta é a mesma estrutura que dá instruções a NES para salvaguardar Brahimi de qualquer perigo ou lesão. E é a mesma estrutura (ou será NES?) que aposta cegamente em Alex Telles, deixando no banco um dos melhores jogadores portistas: Miguel Layun. É a mesma administração que mantém Ricardo Pereira em França, sendo ele já nos dias que correm provavelmente um dos laterais-direito de topo portugueses. E, por fim (tínhamos que chegar aqui), são os mesmos dirigentes que continuam a não conseguir um único negócio de jeito – nem que seja para amostra – com o Braga de António Salvador.

Não nos iludamos. O FC Porto teve mérito em chegar onde chegou, mas ninguém poderá esconder que teve sorte no conjunto da eliminatória, nomeadamente a partir daquele que foi para mim o momento decisivo: a expulsão de Vermaelen. Foi ela que roubou o enorme fulgor das tropas romanas que se apresentaram na Invicta. Em Roma, a história já foi diferente: o FC Porto já ganhava, parecia deter o controlo das operações e, mesmo 11 contra 11, dava sempre a sensação de uma Roma desinspirada diante de um FC Porto de indelével pedigree europeu. Mas, claro está, a cavalo dado não se olha o dente e que jeito deram as expulsões de De Rossi e Emerson!

Mas despejando para o papel as más notícias, é tempo de nos permitirmos alguma alegria e esperança. Ainda é muito cedo para tecer juízos de valor de qualquer espécie – e o BiBó PoRtO lembra-se certamente muito bem da euforia em redor de Paulo Fonseca até à 10ª Jornada – mas NES merece o nosso aval e o nosso aplauso até esta data. Com um plantel claramente limitado e a ter que trabalhar com atletas em claro fim de linha azul e branca e sem fácil colocação no mercado como Indi, Varela, Adrián ou Evandro, é possível apreciar uma dinâmica e uma máquina em construção. Faltam ainda muitas coisas (a quebra psicológica após as expulsões dos jogadores da Roma é disso exemplo), mas há notas muito positivas a registar.


Salta à vista que a dupla de centrais está estável e tranquila. Marcano, a meu ver, continua a não ter estaleca para titular de uma equipa com os pergaminhos do FC Porto, mas é em Felipe que começo a depositar esperanças numa liderança defensiva. O facto de ter recuperado de dois auto-golos a abrir a sua estreia europeia sinalizam que está ali um homem com quem se pode contar para o futuro. E, claro, um central a marcar golo e a festejar de cambalhota traz-nos boas memórias (saudades tuas, Couto!). Imperial como César no jogo aéreo, duro no desarme, atento durante os 90 minutos e a chutar para fora quando tem de ser: se for sempre assim, que fique muitos e bons anos!

Alex Telles mostra desenvoltura e alma a subir no terreno, embora seja claro que é pior a defender que Layun. A lesão de Maxi vai garantir minutos de adaptação preciosos a Alex, mas num cenário normal parece ser o terceiro lateral do plantel, pese embora os sinais dados por NES neste início de ano. E verdade seja dita, Layun é titular do FC Porto no lugar que quiser, seja a lateral esquerdo, direito, seja a extremo, seja no meio-campo. Não desaproveitemos um jogador assim!

O meio-campo tem mostrado capacidade de choque e de saída rápida para o ataque. Danilo começa a subir uns furos nas suas prestações, mas é Herrera quem mais me tem agradado, ao diminuir drasticamente o número de passes que costumava falhar e a assumir-se de vez como o box-to-box que é, um fundista que defende e ataca com a mesma intensidade e força, uma espécie de cavalo de guerra para toda e qualquer batalha. Quem sai beneficiado com isso é o menino Otávio que, claro, tem ainda tudo a provar. Quem não se lembra dos primeiros jogos de Quintero? Chegar ao FC Porto e brilhar nos primeiros jogos é relativamente fácil. Pena, por exemplo, aguentou esse estado de graça durante quase uma época inteira. Otávio tem qualidades infinitas, parece não ser apenas mais um médio criativo de grande talento, aparenta ter genica, garra e ambição, mas tem que o provar numa equipa da dimensão do FC Porto, passado que está o seu período de trainee em Guimarães. André Silva e Otávio têm criado uma dupla interessante de se ver e oxalá assim continuem. Também Corona está apostado em fazer desta época o seu ano de afirmação. E que influente se torna o mexicano quando joga o que pode e sabe, com a bola colada ao pé, diagonais com e sem bola, repentismo, alegria e agitação ao jogo.

Há por isso muitas e boas notícias para alegrar o universo azul e branco. Mas não é tempo de embandeirar em arco e estranhei, por isso, o Presidente falar tantos minutos no final do jogo, nomeadamente referindo-se a MST. Nós precisamos do Presidente de antigamente, aquele que aparecia nos maus momentos e que se resguardava humildemente nos instantes de glória. E precisamos, mais que nunca, do Presidente que levanta a voz contra o verdadeiro inimigo, não contra os dizeres de um jornalista que, no passado, foi das poucas vozes que defendeu publicamente o FC Porto no processo Apito Dourado. Acredite, Presidente, vá por mim: todos os nossos problemas fossem o MST!

Tentemos, pois, ver todos estes acontecimentos recentes com algum distanciamento. Oliver vem trazer maior qualidade? Claro que sim, mas não esqueçamos que é um jovem que não conseguiu vingar no Atlético Madrid de Simeone. Um central de créditos firmados cairia como ouro sobre azul no plantel actual, assim como um extremo veloz e talentoso (Diogo Jota?). No entanto, esperemos que a SAD portista não se deslumbre com o brilho dos milhões uefeiros e comece a gastar o que tem e o que não tem. Lembrem-se que há talento dentro de portas que está desperdiçado e que, em último caso, pode dar muito jeito. Falo de Brahimi, Hernâni, G. Paciência, Ricardo Pereira, Aboubakar, assim como muita rapaziada da Equipa B.

Para terminar, duas notas finais:
  1. 1. Espero que não haja orgulhos feridos que nos façam voltar a Rafa. Pelo meu lado, nem dado. E, atendendo à peixeirada que se lê por aí, é caso para dizer que está bem nos dois lados: quer onde está, quer para onde vai.

  2. 2. Não se trata propriamente de uma crónica de regresso, pois de verdade nunca estive fora nem longe do BiBÓ PoRtO. Como sempre, o que podem esperar de mim em particular e do BiBó PoRtO em geral? Um portista que apoia o FC Porto seja onde for, atento e activo no que ao seu clube diz respeito, com total liberdade pessoal para escrever seja em que sentido for, para o bem e para o mal. Um princípio acima de todos a servir de Norte: a defesa intransigente dos interesses do FC Porto.
Imensamente feliz por estar de volta.

O coração recomeça a bater.

PORTO!

Rodrigo de Almada Martins

0 comentários:

Enviar um comentário