13 dezembro, 2016

O QUE UM GOLO PODE OU NÃO MUDAR.


O ditado “não há fome que não dê em fartura” aplica-se quase na perfeição ao atual momento do FC Porto. Depois de uma longa, penosa e complicada (e que pode ter consequências lá mais para frente) fase de seca, em que a nossa eficácia ofensiva foi nula, onde os árbitros fecharam os olhos a vários penalties que poderiam influenciar decisivamente certos jogos e decisões (setúbal e chaves!) e onde que os maus resultados se acumularam com consequências complicadas, nomeadamente alargamento da desvantagem para o líder e saída da taça de Portugal, eis senão quando um golo aos 95 minutos desanuviou o ambiente e parece que virou por completo a nossa sorte.

O futebol tem de facto muita piada e uma componente de imprevisibilidade superior a qualquer outro desporto, também por isso, é o desporto mais amado e visto no mundo inteiro. Senão vejamos, aos 93 minutos do jogo frente ao Braga, o cenário estava próximo da catástrofe, à beira de mais um jogo sem marcar golos, com a agravante do 1º classificado ter caído no "caldeirão dos barreiros" no dia anterior e perante um Braga cuja única estratégia se centrava no mais nojento e miserável anti-jogo "marafoniano" (já vi muita coisa, mas um GR tão ordinário, creio que nunca tinha visto nada assim). Apenas 120 segundos depois, um golo justíssimo de um rapaz que não custou 6 milhões de € e que tem idade de júnior parece ter mudado a maldita "sorte", ao mesmo tempo que tombou de forma tão cruel, quanto justa e saborosa um clube que me começa a meter tanto ou mais nojo que os nossos "amigos lá de baixo".

É curioso também que, após finalmente o clube na pessoa do Presidente e dos seus vários canais de comunicação (Dragões Diário e não só...) ter gritado e berrado contra as arbitragens (12 penalties depois) e após o golo de Rui Pedro, em apenas dois jogos marcaram-se 9 golos, carimbou-se a passagem aos oitavos-final da Champions perante o campeão inglês (sim, o campeão!), recuperou-se o 2º lugar e reduziu-se para 4 pontos (o que ainda assim, é muito!) a desvantagem para o 1º classificado. Mais incrível ainda, os árbitros até já marcam penalties claros a nosso favor, expulsam jogadores adversários e tomam decisões corretas de arbitragem. Ajudou ter-se berrado um pouco, mas também ajuda muito o facto de já termos uma desvantagem considerável para o líder, ou seja, depois das "cacetadas" em vários jogos, nomeadamente, setúbal e chaves, as coisas ficam mais favoráveis para finalmente se começarem a tomar decisões de arbitragem corretas. Faz-me lembrar o ano passado, quando já estávamos a dezenas de pontos do 1º lugar e num longínquo 3º lugar, os senhores de preto lá começaram a marcar penalties a nosso favor... Pois.

Apesar de tudo isso, não posso deixar de direcionar a minha análise para uma componente mais racional e realista. O golo de Rui Pedro obviamente mudou a atual conjuntura, mas não apaga, nem corrige os muitos erros que foram cometidos na preparação da época, na constituição do plantel e noutras coisas mais, que todos nós bem sabemos. O golo de Rui Pedro foi ótimo, mas ter os pés no chão, manter a calma, concentração e atenção máximas não fará mal a ninguém. Foi saboroso marcar 10 golos em apenas 8 dias e manter os objetivos da época a salvo, pelo menos por agora. Mas há 2 jogos antes do Natal que imperiosamente se têm de vencer "sem espinhas", 2 jogos em que vai novamente abundar o anti-jogo e todas as estratégias ordinárias das equipas pequeninas do nosso futebolzinho português. Por isso, é necessário ritmo elevado desde o primeiro minuto e tentar resolver o jogo o mais cedo possível.

O golo de Rui Pedro pode ter mudado o contexto mas pode não ser suficiente para resolver problemas estruturais. Sei que dizer isto neste momento em que estamos todos muito contentes com os últimos resultados obtidos pode soar a contra-corrente e desmancha-prazeres, mas é bom que não nos esqueçamos que:
  1. Apesar dos desenvolvimentos recentes, a desvantagem de 4 pontos continua a ser enorme num campeonato como o português. Já se perderam pontos demasiado estúpidos, nomeadamente os perdidos em tondela e setúbal, duas equipas miseráveis, em que apenas se admitia a vitória. Enquanto esta desvantagem se mantiver, a nossa margem de erro é nula, não podemos errar, não podemos perder mais pontos para o líder. É óbvio que andar sempre a correr atrás do prejuízo desgasta muito mais psicologicamente do que estar na frente, e aí o papel do treinador é fundamental para estabilizar mentalmente a equipa;

  2. Para mim é fundamental que haja alterações no mercado de janeiro. Deixemo-nos de falinhas mansas, Depoitre tem sido miserável sempre que põe os pés em campo, Herrera está a tentar ser recuperado e até Brahimi já marca golos. Mas não consigo encontrar forma mais suave de dizer isto: é preciso despachar alguns jogadores, se possível fazer encaixe financeiro e ir buscar um avançado com números e historial que aconselhe a sua contratação. Todas as contratações têm a melhor das intenções e são como os melões (só depois de abertos...) mas é diferente ir buscar um jogador que marcava meia dúzia de golos na Bélgica ou ir buscar outro que já marcou dezenas deles em várias épocas em boas equipas e bons campeonatos. Não tenho dúvidas que uma boa aquisição para o ataque, que acrescente mais experiencia e qualidade que André Silva e Diogo J pode fazer toda a diferença lá mais para a frente da época.

  3. Por último, mas não menos importante. A sacramental questão das arbitragens. Para além de todos os problemas internos com que nos temos de debater, continuam os erros sempre mas sempre no mesmo sentido, ou seja, no sentido de favorecer o 1º classificado. Torna-se muito complicado lutar sempre contra tantos e tantos obstáculos e a verdade é que as coisas atingiram uma dimensão inimaginável. E também já começa a fartar o sentido dos erros, sempre mas sempre a favor do mesmo e contra os mesmos. Já farta e enoja, sinceramente...
PS: No sorteio da Champions, pior só mesmo o Barcelona... Mas é de momentos históricos em que ninguém dava um chavo pelo FC Porto que se fez a história europeia deste grande clube. Julgo até que teremos mais hipóteses agora que na mítica final de Viena ou que naquela eliminatória frente ao todo-poderoso Manchester de Ferguson em que embalamos rumo ao 2º título de campeão europeu. O objetivo principal da passagem da fase de grupos já foi conseguido, agora tudo o que vier será por acréscimo, há que desfrutar de uma eliminatória frente a uma das grandes equipas europeias da atualidade e tentar vencer. Porque é preferível cair a tentar vencer do que apenas tentar não perder. Foi de audácia, coragem e tenacidade que o grande FC Porto europeu foi construído. De uma coisa tenho a certeza, é uma ótima oportunidade desta equipa para entrar numa página de glória do clube, porque eliminar Roma e Juventus na mesma época, não é para qualquer equipa. FORÇA FC PORTO!!!

3 comentários:

  1. É importante neste momento estar sorridente com os recentes resultados, mas sempre com os pés no chão.
    Não nos podemos levar ao extremo de pensar que as coisas estão de feição.
    O trabalho deve ser continuado e aproveitado.

    Abraços.

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  2. Apesar do chavão gasto de que "a sorte procura-se", a verdade é que (também) ela é um factor decisivo no futebol. Para além das benesses arbitrais, os vermelhos andam a usufruir de juros astronómicos, como que uma compensação diabólica do momento Kelvin.

    - Foi em 2014/15 onde conseguiram um dos resultados mais mentirosos da história do futebol, ao vencerem-nos por 2-0 no Dragão, depois de um banho de futebol e 3 bolas aos ferros nossas. Idem em Alvalade a conseguirem um empate na última jogada.

    - Foi na época passada, onde lhes caíram do céu vitórias em Alvalade e Bessa, que fizeram a diferença do campeão no final da época.

    - Está a ser assim esta época, onde conseguiram um empate no Dragão sem saberem como, e uma vitória contra o Sporting quando pouco fizeram para isso.

    Nestes pontos fulcrais e decisivos para a atribuição do campeão, o slb jogou melhor? Reformulo a questão: jogou sequer igual aos adversários? Não!!! Em quase todos eles (excepto o Bessa) o slb foi uma equipa pequenina, somente focada em não perder. Denominador comum a todos estes jogos: Sorte!

    Em sentido contrário, no pós-Kelvin, todas as desgraças do mundo têm caído em cima de nós. Algumas (demasiadas) por incompetência dos nossos treinadores ou jogadores, mas muitas por claro infortúnio nosso.

    O "momento" Rui Pedro foi de justiça poética face à postura do adversário, mas também de sorte. Não só pelo minuto de jogo em que aconteceu, mas também pela assistência assombrosa do Jota, bem mais inacreditável do que a própria finalização. Pode ter sido esse momento o exorcismo que tanto necessitávamos? Talvez. A comprovar, a "normalidade" com que vencemos os últimos 2 jogos, beneficiando de arbitragens isentas... e até uma pontinha de sorte (3 bolas aos nossos ferros).

    Podem desvalorizar o Leicester, porque alinhou com alguns suplentes, ou o Feirense que está no fundo da tabela. Contudo lembro que na temporada anterior perdemos em casa com o último (Tondela), ou nesta época tivemos que sofrer muito para vencer os 2 jogos ao Brugges. Não são as 2as linhas do Leicester superiores ao Brugges? Quando as bolas entram, tudo é mais simples. Até os tufos de relva já estão a nosso favor :-)

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  3. Caro Hugo Mota

    Infelizmente, e pelo que se tem visto, os fatores que referiste irão permanecer durante esta época, por isso será preciso um FC Porto a roçar a perfeição para vencer este campeonato.

    É verdade que eles jogam muito pouco nos jogos de maior grau de dificuldade, não tendo problemas em adotar uma estratégia ultra-defensiva quando necessário, mas não deixa de ser verdade que nos jogos contra os pequenos têm um aproveitamento muito bom, e é isto que depois define os campeões.

    Para já, estes próximos 2 jogos no Dragão têm que ser limpos sem apelo, nem agravo. Depois vem o período que, confesso, ser o que temo mais: os meses de janeiro e fevereiro. É aí que tem começado o desastre nas ultimas 3 épocas. Geralmente chegamos vivos a meados de janeiro (o ano passado no inicio de janeiro estávamos em 1º lugar…) e depois o descalabro dá-se.

    Era muito importante chegar a março ainda vivos, porque a partir daí é quando supostamente as equipas estão na sua máxima força, entrosamento e mesmo até a nível físico.

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