01 março, 2018

PLANTEL - ANÁLISE INTERCALAR.


10 jogos no campeonato. 1 jogo na Champions League. 1 ou 2 jogos na Taça de Portugal. No total são 12 ou 13 jogos até ao final da época. Descontando o jogo em Anfield Road, são estes vários 90 minutos que vão decidir como iremos recordar a época 2017/2018.

Tempo, pois, para o BiBó PoRtO Carago!! fazer um balanço do que tem sido a prestação do nosso plantel até aqui e perspetivando o que poderá suceder até Maio. A época já vai longa, o cansaço já se faz sentir nas pernas, as lesões têm-se feito sentir e há uma enorme expectativa no ar. Sabemos e temos noção que, a partir de agora, as pernas vão tremer mais, os minutos vão demorar mais a passar e a pressão aumentará. É assim quando não se ganha nada há 4 anos. Mas também é por isso que estes rapazes foram os escolhidos para envergar a camisola do FC Porto: para saber aguentar a pressão, para saber lidar com as ânsias e os desejos de milhares de portistas que querem chegar a Maio e festejar nos Aliados.

Assim sendo, tomemos, pois, liberdade para analisar um a um os nossos atletas:
  1. Iker Casillas: é ele o número 1 e o resto é conversa de café. Apesar da idade, o trajeto de Iker no FC Porto tem sido em crescendo. Não começou bem, fruto da falta de confiança que trazia do Barnabéu, mas aos poucos foi-se aculturando à cidade e ao clube e é hoje um atleta totalmente identificado com a chamada Mística. Iker só não terá um peso maior na história do FC Porto porque neste clube um dia houve Baía. E Baía só há um.
    O Mister Conceição lá teve as suas razões para o relegar para o banco. A decisão agradou a uns e desagradou a outros, como sempre nestas coisas. Mas numa coisa a nação portista esteve sempre de acordo: Iker é o melhor guarda-redes do FC Porto. Em todo o caso, a (longa) passagem pelo banco fez-lhe bem e voltou seguríssimo e ultra-confiante. A sua presença gera confiança na defesa e atemoriza os adversários. A sua voz será fulcral agora que a pressão vai fazer-se sentir a sério.

  2. José Sá: assumir a baliza do FC Porto não é para qualquer um. É mesmo para muito poucos. Que o digam Rui Correia, Hilário, Kralj, Eriksson, Wozniack, Silvino, Nuno Espírito Santo, Fabiano, entre outros. Os últimos 25 anos de baliza do FC Porto fazem-se com 2 nomes: Vítor Baía e Helton. O primeiro era único; o segundo era um enormíssimo guarda-redes.
    Nenhum de nós quereria estar no papel de José Sá: assumir a baliza do FC Porto e olhar para o banco e ver o melhor guarda-redes mundial da última década. Se o primeiro desafio já é difícil, juntar-lhe a segunda contrariedade é tarefa hercúlea. Mas José Sá cumpriu e excedeu-se, inclusive com um punhado de grandes defesas em momentos decisivos. Não resistiu a 2 falhas: um lance mal batido na 1ª parte do Estoril x Porto; a intranquilidade demonstrada frente ao Liverpool.
    Tenho para mim que Sá é tão culpado do desaire liverpooliano como Fabiano foi culpado da tragédia de Munique, isto é, a sua culpa é zero ou próxima disso. No entanto, a baliza é como a política: o que parece é. E pareceu que Sá estava intranquilo e que essa intranquilidade afetou o resto da defesa.
    O maior desafio da carreira de José Sá será a forma como vai encarar este regresso ao banco. Se voltar mais forte e mais sereno, poderemos ter guarda-redes para os próximos anos.

  3. Ricardo Pereira: uma época em crescendo que se iniciou com algumas debilidades defensivas, nomeadamente na forma como protegia o segundo poste e o espaço nas suas costas. Corrigiu essas falhas durante a temporada e pôde finalmente projetar-se como o lateral ofensivo e a todo-o-vapor que demonstrou ser no Nice. O empréstimo de 2 anos deu-lhe mundo, como se costuma dizer, e conferiu-lhe rodagem e à vontade nos dois corredores. É hoje um jogador feito e consumado, mas que nunca pôde dormir na sombra por causa do profissionalismo e da garra de Maxi Pereira. O lugar é dele por direito próprio e tem tudo para atacar este final de época em grande estilo, deambulando pelo corredor e aterrorizando os laterais contrários. A imagem da sua temporada, até esta fase, é aquele momento em que torce os rins e faz estatelar Coentrão.

  4. Maxi Pereira: cedo se viu que não teria vida fácil com Ricardo Pereira. Os prognósticos confirmaram isso mesmo. Naquela que será a sua última temporada no FC Porto (Maxi tem uma situação contratual no Dragão muito satisfatória e, atendendo à sua idade, a renovação não faz qualquer sentido), tem servido para gerir o esforço de Ricardo Pereira e, por vezes, para atuar atrás do português, quando este é chamado a assumir a ala. Nunca regateou esforços e continua a ser o jogador que sempre vimos em Portugal: aguerrido, combativo, a subir pelo seu corredor e a causar problemas aos adversários. A velocidade já não é a de outros tempos, mas a experiência e a ratice estão lá todas. Um suplente de luxo, portanto.

  5. Felipe: vai em 2 anos de FC Porto e está cada vez mais um jogador maduro. Central à moda antiga, que sabe “bater” e que não tem problemas em jogar feio, na senda da boa e velha tradição de centrais portistas. É pena estes tempos serem outros, caso contrário podíamos vê-lo a fazer uma carreira ao estilo da de Aloísio. Mas é impossível que os velhos tubarões europeus não reparem neste centralão que aqui temos. Duro, impetuoso, intransponível no jogo aéreo, está a um passo de se tornar num central de topo europeu. Grande época está a realizar Felipe!.

  6. Marcano: é para mim o melhor central em Portugal. Com calma e serenidade, limpa tudo o que lhe aparece à frente. Mais estável psicologicamente que o seu parceiro de zaga, é o verdadeiro líder da defesa. Na retina fica aquele olhar a Fábio Veríssimo antes do célebre Feirense x FC Porto. Um jogador que, sem ser exuberante, foi conquistando a massa adepta portista. Já nos trintas, procura obviamente o contrato da sua vida e não é certamente no FC Porto que o vai conseguir, o que se lamenta. Grande temporada e merece, tal como Maxi, sair como Campeão do FC Porto.

  7. Reyes: patinho feio durante muitos anos, começa finalmente a justificar a sua contratação. Pena que o faça tão tarde, já em cima do final do contrato. Apesar da sua exígua figura, o seu jogo aéreo tem feito mossa e tem-se assumido como um terceiro central de mão cheia. Uma espécie de José Carlos ou de Lula dos tempos modernos. A sua presença neste plantel tem sido importantíssima. Podemos também catalogá-lo hoje em dia como um suplente de luxo

  8. Ozório: uma incógnita.

  9. Alex Telles: um dos melhores da época, se não o melhor. Lateral eminentemente moderno, ofensivo, com capacidades relevantes no cruzamento, técnica elaborada, aceleração, velocidade, pulmão invejável, disponibilidade para as constantes piscinas que a posição de lateral obriga. Um dos preferidos dos adeptos. A lesão no Estoril fez tremer as hostes azuis-e-brancas, mas felizmente tudo não passou de um susto. O seu pé esquerdo é já lendário: canto de Telles é penalty para o FC Porto! Leva 11 assistências e lidera essa tabela em Portugal, seguido de Brahimi e Esgaio com 8. Estes números dizem bem da importância deste brasileiro na manobra da equipa. A cereja no topo do bolo: não se sabe quem é o seu empresário, porque nunca se lhe ouviu dizer nada. Um craque de todo o tamanho!

  10. Diogo Dalot: lançado às feras na já mítica 2ª parte no Estoril não comprometeu e mostrou que era um menino-homem com quem se podia contar. Dias depois, Conceição percebeu a mensagem e deu-lhe a titularidade. Respondeu com 2 assistências, não denotando problemas de maior no momento defensivo, que ainda é a sua pecha. Depois disto, dizer o quê? Apenas que estamos na presença de um predestinado. Apenas é necessário que se saiba gerir as expectativas em torno de um jovem de 19 anos, que necessariamente ainda vai cometer bastantes erros. Mas este é como o algodão.

  11. Danilo: começou a época pesado e sem fulgor, emperrando o meio-campo portista. Causou muitos calafrios nos primeiros jogos, mas foi subindo de produção a tempo de se assumir como o verdadeiro patrão do meio-campo, um panzer que joga sempre em alta rotação e que vira tudo e todos, um dos melhores do 11 azul-e-branco.
    Paradoxalmente, a melhor fase do FC Porto dá-se aquando da sua lesão no gémeo para a Taça da Liga. Conceição inventa então um meio-campo de 2 homens (Sérgio Oliveira e Herrera) e de repente Danilo parece não tão importante.
    Não obstante, na fase a doer, este homem será absolutamente crucial e terá que reentrar na equipa dê por onde der. Com Brahimis e Coronas marcam-se golos, mas é com Danilos que se ganham campeonatos.

  12. Herrera: o mexicano é o Semedo do século XXI, o eterno mal-amado. De um profissionalismo exemplar, foi recolhendo as pedras que o caminho lhe reservava até que conseguiu finalmente erguer um castelo. O castelo é o atual meio-campo do FC Porto, essa fortaleza erguida pelo mexicano, que já teve como colegas de sector Danilo e Sérgio Oliveira. Um verdadeiro cavalo de corrida, que ora está a pressionar na saída de bola adversária, ora está na área portista a limpar os lances de perigo. Um atleta que, sem ser genial, é de uma importância tremenda no futebol de Sérgio Conceição. Para que uns brilhem, é necessário que haja quem faça o trabalho sujo e, esse, ninguém o faz tão bem como o nosso Hector.

  13. Sérgio Oliveira: a sua vida no FC Porto é uma montanha russa de emoções. Passou de uma cláusula 30 Milhões e de grande esperança da formação portista, para um exílio forçado e uma passagem por Paços de Ferreira. Nunca virou a cara à luta e tentou sempre mostrar que tinha lugar no seu clube de coração. As suas recentes exibições devem ter surpreendido tudo e todos, tamanho é o perfume e a categoria do seu futebol. Apareceu primeiro no Mónaco, repetiu depois a dose em Alvalade, mas é quando a lesão de Danilo chega que Sérgio Oliveira se faz homem e se assume na sua plenitude: um box-to-box que joga e faz jogar, que coloca a bola onde quer e que tem uma senhora meia distância. Neste momento, tem as portas do futebol abertas de par em par: pode ser um novo Moutinho, um novo Pedro Mendes, um novo Meireles, um novo Maniche. Ou pode facilmente ser o grande Sérgio Oliveira. Tem a palavra até ao final da época.

  14. Oliver: a desilusão da época até agora. Todos os jogadores subiram os níveis exibicionais com Sérgio Conceição, exceto o pequeno espanhol. A qualidade está lá, mas é tudo um problema de galáxias: o FC Porto joga no planeta Terra, mas a Oliver joga em Plutão. Este Porto é voraz, de bola para a frente, de atacar o espaço, de ganhar metros nas costas dos adversários. Oliver é a antítese disso, o seu prazer está em pensar o jogo, pedir a bola no pé e não no espaço. Oliver prefere jogar parado e pôr os outros a correr, mas com Sérgio todos têm de receber no espaço vazio e em corrida. São dois mundos distintos, difíceis de compatibilizar. Não obstante um ou outro bom momento, Oliver parece estar a meio caminho de coisa nenhuma.

  15. Paulinho: a sua entrada na equipa pareceu precipitada. Conceição deu-lhe a titularidade em Moreira de Cónegos e esse foi um dos poucos erros do treinador esta temporada. A entrada de um elemento novo no meio-campo baralhou a equipa e o médio perdeu-se em campo, parecendo que a camisola ainda lhe pesava um pouco. A sua qualidade enão está em causa, mas este ano não há grande margem para experimentalismos. Na próxima época terá mais espaço e estes meses podem ter sido essenciais para quebrar barreiras no seu processo de adaptação a um clube desta dimensão.

  16. Corona: outro jogador que ainda não confirmou todo o seu potencial, tardando em explodir de vez. Detentor de uma técnica e de uma aceleração poderosas, é capaz do 8 e do 80. Ora faz um jogo a todo-o-vapor, ora pura e simplesmente desaparece da partida. O problema parece ser mais do foro psicológico. Registe-se, ainda assim, o seu enorme crescimento no processo defensivo. É hoje um jogador mais maduro e com condições para explodir para uma grande carreira, o que esperemos que aconteça nesta reta final da temporada.

  17. Hernâni: tal como Oliver, tarda em demonstrar o seu potencial. Aceleração estonteante, pé esquerdo com qualidade, precisa de definir melhor no momento da verdade. Quando deve passar, chuta; quando deve rematar, passa. Precisa de minutos, tal como Sérgio Oliveira precisou. O problema é que a temporada está quase no fim e agora é a doer.

  18. Brahimi: um génio. Só que os génios, tal como os grandes compositores, não constroem obras-primas todos os dias. Yacine sofre da síndrome de quaresmite aguda: só joga para a genialidade, a vida mudana não lhe interessa. Mas precisa de trabalhar essa parte do jogo, para perceber aquilo que Picasso ensinava: “A inspiração quando vem, encontra-me sempre a trabalhar”.
    Dizendo isto, que fique claro que o argelino é um dos jogadores-chave da época até agora, causando o pânico nas defesas adversárias. A bola colada ao seu pé vai ficar para sempre gravada na memória dos portistas.

  19. Otávio: o génio do brasileiro está finalmente a vir ao de cima. Começou a época de gatas fisicamente, mas assim que se livrou das lesões começou a demonstrar o porquê de ter sido resgatado ao Guimarães. O pequeno criativo é ainda uma incógnita, mas tem tudo para se tornar num jogador marcante no clube, mesmo sabendo que jogadores de perfil 10 são cada vez mais raros no futebol mundial.

  20. Waris: viu-se pouco do ganês, mas o pouco que se viu foi positivo. Vontade de ir a jogo, comprometimento, solidez, capacidade de aparecer na área. O golo ainda não apareceu, mas podia ter surgido perfeitamente. Dos 4 reforços de Inverno, foi o que mostrou mais até agora.

  21. Aboubakar: provou, para quem tinha dúvidas, que a sua dispensa para a Turquia foi um erro colossal, uma decisão de gestão absolutamente danosa para o clube. Vicent é um diamante e tem tudo para se tornar num ponta-de-lança de referência do clube. Ainda não é um matador nato, joga demasiado fora da área e por vezes parece cansado no momento em que deve aplicar o killer instinct. Mas esse é também o registo que um PL de Sérgio Conceição deve apresentar. Começou a temporada em grande estilo, aterrorizando as defesas adversárias, mas foi perdendo a explosão. E o africano, perdendo a dimensão física, apaga-se um pouco. A concorrência não lhe tem dado descanso e Vincent sabe que não pode dormir à sombra da bananeira.

  22. Soares: uma trajetória oposta à de Aboubakar. Começou mal, mas aparece agora em grande nesta reta final. O episódio no banco com o Mister ia-lhe custando caro, mas o brasileiro acabou por ficar no Dragão e em boa hora o fez, pois, os seus golos têm sido preciosos. Soares necessita de realizar uma temporada inteira sem lesões para percebermos se temos aqui um Mielckarski/Jankauskas ou um Derlei/Lisandro. Inclino-me mais para a segunda hipótese.

  23. Gonçalo Paciência: os portistas aguardam com expectativa este regresso. Sendo um filho da casa, as bancadas babam só de ouvir o seu nome. A sua saída de Setúbal pode ter-lhe roubado um lugar no Mundial, pois Aboubakar, Soares e Marega são concorrência duríssima de bater para um jovem que pela primeira vez estava a ter uma sequência de jogos digna desse nome. Couceiro diz que, para ele, há 3 grandes jogadores portugueses: CR, Quaresma e Gonçalo Paciência. Ninguém pode dizer isto da boca para fora. O Gonçalo é um talento, um talento que, tal como Sérgio Oliveira, pode demorar a explodir, mas que está lá à espera de quem o desvende. Poderá ser esta época ou na próxima. Veremos o que o futuro nos reserva.

  24. Marega: o jogador mais decisivo da época, em minha opinião, e por isso fica para o fim. Simboliza, no fundo, o FC Porto de Sérgio Conceição, completamente desacreditado no início da época. Quando se comentava o facto de não se ter feito qualquer contratação, o comum adepto lá referia: “até tivemos que deixar o Marega no plantel!”.
    Ora bem: 20 golos no campeonato e um punhado de arrancadas e de amassos nas defesas são o melhor cartão de visita para aquele a quem chamavam de tosco e de pior-jogador-de-sempre-do-clube. Ora colado à direita, ora em cunha na frente de ataque (com Bouba ou com Soares tanto faz, ele não se importa), o maliano quer fazer sangue desde o primeiro ao último minuto. É de bico, de cabeça, de direita ou de esquerda, Marega tem o condão de ninguém conseguir adivinhar bem o que vai fazer, fruto da sua pouca escola futebolística. É um jogador pouco trabalhado que, na sua simplicidade e até alguma inabilidade, se transforma num grandíssimo jogador, capaz de pôr uma defesa em sobressalto. O Tribunal do Dragão dirá que o Marega não serve para a Champions, mas quem não ganha um título há 4 anos quer mais é que a Champions se #%&$...
    Lembro-me de estar na fila 3 do Dragão esta temporada e ver uma bola metida nas costas de Grimaldo. Ver os dois a correr era como observar um sénior e um juvenil. Marega veio dar esse punch e essa agressividade que faltava há muitos anos ao ataque do FC Porto, desde Hulk. Nem só de Quaresmas e Brahimis vive um clube de topo.
    “Mete o Marega” diziam os viscondes há pouco mais de 1 não. Pode ser que o tiro lhes saia pela culatra mais cedo do que imaginam.
Para terminar e para vos deixar a pensar:
Marega em PT: 111j/48g – marcou em 43% dos jogos
Marega no Porto: 46j/19g – marcou em 41% dos jogos
Marega no Porto este ano: 33j/18g – marcou em 56% dos jogos
Marega Vitória + Marítimo: 65j/29g – marcou em 44% dos jogos
Derlei Porto: 92j/39g = marcou em 42%
Derlei Portugal: 244j/104g = marcou em 42% dos jogos

Venha de lá o resto da época!

Rodrigo de Almada Martins

1 comentário:

  1. Rodrigo
    Concordo com a tua análise, o Porto tem uma equipa muito equilibrada e orientada por um surpreendente treinador. Os problemas musculares causam me apreensão

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