14 novembro, 2007

Os trabalhos de Jesualdo Ferreira

‘Nortada' do Miguel Sousa Tavares

FC Porto só tem seis jogadores de indiscutível valor.

Tudo bem esmiuçado, o FC Porto tem apenas seis jogadores de indiscutível valor, num plantel de 27 elementos. São eles os laterais Bosingwa e Fucile, o central Bruno Alves, o trinco Paulo Assunção e os avançados Lisandro e Ricardo Quaresma.

1 - Com toda a sinceridade, digo que tenho a melhor impressão sobre o trabalho de Jesualdo Ferreira à frente do FC Porto. Sei que há muitos, portistas e não portistas, que não partilham desta opinião e que vêem no treinador do FC Porto alguém incapaz do «golpe de asa» que é susceptível de levar equipas medianas a mais altos voos. Talvez o seja, talvez não. Mas a verdade é que, com as condições que tem tido à disposição, acho difícil alguém ter feito melhor do que ele, tanto na época passada, como este ano.

Este ano, Jesualdo Ferreira perdeu, sem sorte, a final da Supertaça para o Sporting; perdeu, sem glória e por culpa exclusiva dos jogadores, a Taça da Liga; mas marcha à frente do campeonato, com uma diferença confortável para o Sporting e uma diferença para o Benfica que não reflecte o abismo de categoria existente entre ambas as equipes; e tem o FC Porto praticamente qualificado para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, com boas hipóteses de terminar o grupo em primeiro lugar. Acho que era difícil fazer melhor com um plantel completamente desequilibrado, como já o era no ano passado e este ano ainda mais, com as saídas de Pepe e Anderson e a contratação de uma legião de jogadores de segunda categoria.

Tudo bem esmiuçado, o FC Porto tem apenas seis jogadores de indiscutível valor, num plantel de 27 elementos. São eles os laterais Bosingwa e Fucile, o central Bruno Alves (incrível recuperação de Jesualdo Ferreira), o trinco Paulo Assunção e os avançados Lisandro e Ricardo Quaresma. Depois, há Lucho Gonzalez, um jogador de indiscutível categoria, mas que só produz um jogo em cada quatro e com destaque para os jogos europeus, onde é elemento preponderante. E tem mais uns fogachos do também incrivelmente recuperado Tarik Sektioui e as suspeitas de génio ocasionalmente deixadas em campo por Leandro Lima — em quem Jesualdo, todavia, parece fazer pouca fé. O resto, tudo o resto, são jogadores banais ou menos do que isso.

Jesualdo tem vários problemas urgentes a resolver e, na minha modesta opinião de treinador de bancada, as soluções passam por:

— obter da SAD a contratação, já no mercado de Inverno, de três jogadores, que sejam verdadeiros reforços e não mais umas quantas oportunidades de negócios escusos: um central de categoria para jogar ao lado de Bruno Alves e livrar-nos desse susto do Stepanov, responsável directo por quatro golos sofridos nos últimos quatro jogos — contra o Marselha, duas vezes, contra o Belenenses e contra o Estrela da Amadora. Talvez um dia o Stepanov venha a ser um jogador aceitável, mas para já é apenas um central à deriva em todos os lances importantes, sistematicamente batido no jogo aéreo, sem noção do tempo de entrada às jogadas e com uma tendência suicida para atrasos ao guarda-redes demasiado curtos; um médio de ataque (ou dois, no caso de continuar a não apostar no Leandrinho); e um ponta-de-lança de raiz e de cultura, que, não desfazendo no Lisandro, não é o caso dele;

— forçar o Helton a horas extraordinárias (se possível sobre orientação do Vítor Baía), até ele perceber que um guarda-redes com 1,90 de altura não pode ser um cata-vento no jogo aéreo, ficando preso aos postes quando devia sair e saindo, e em falso, quando não deve. Viu-se uma vez mais, contra o Estrela da Amadora, que ele não faz a mais pequena noção do que seja dominar o espaço aéreo da sua área. E um guarda-redes que não domina o jogo aéreo e que se enerva a jogar com os pés, pode fazer defesas extraordinárias, mas nunca será um grande guarda-redes.

— forçar também o Raul Meireles a horas extraordinárias, de modo a conseguir acertar na baliza mais do que uma vez em cada dez remates, e já que gosta de gozar da fama, a meu ver absolutamente injustificada, de «rematador de meia distância»;

— estar muito atento aos jogadores que o FC Porto tem emprestados pelos quatro cantos, a quem paga ordenados para os ver brilhar pelos adversários e de que, seguramente, alguns deles valem bem mais do que as pretensas vedetas contratadas no último «defeso».

Jesualdo pode dizer, e não deixa de ter razão, que a forma incrível como o FC Porto deixou fugir uma vitória tranquila sobre o Estrela, nos cinco minutos finais, se deveu ao facto de a equipa ter adormecido sobre a vantagem de dois golos, a meio da segunda parte. Mas a verdade, verdadinha, é que a impossível recuperação do Estrela não encontra justificação no agigantar do adversário nem no adormecimento dos portistas, mas apenas se tornou possível por dois erros crassos individuais da autoria de «suspeitos habituais». E, contra isso, de nada vale o génio do Quaresma ou o esforço do Lisandro e a jogada sumptuosa que ambos contruíram e que se concluiu com um remate ao poste que podia e merecia ter dado o 3-0 e pôr a equipa definitivamente ao abrigo das traições da retaguarda.

2 - Muito se escreveu sobre o lance do Binya contra o Celtic e que lhe mereceu o vermelho directo. A entrada do camaronês foi uma autêntica bestialidade e, a meu ver, não colhem as desculpas de que se trata de um jogador ainda imaturo — aliás, já tem 24 anos de idade e alguns seis ou sete de profissional. Acontece que quem vê jogar o Binya na Liga portuguesa, sabe que esse lance de Glasgow não aconteceu por acaso, mas antes reflecte a sua forma de interpretar o futebol. Aqui, ele vem usando e abusando do mesmo estilo, só que com a impunidade que faz com que os jogadores da nossa Liga imaginem que, lá fora, os árbitros são igualmente condescendentes. Não são: nem sequer os árbitros portugueses, que por cá consentem o que na Europa não se atrevem a consentir.

Anteontem na Luz, o Benfica viu sair lesionado o Cardozo, depois de uma entrada violenta de Ricardo Silva — outro jogador useiro e vezeiro nesse tipo de jogo. E, na Amadora, o árbitro deixou em campo, sem sequer lhe mostrar um amarelo, o Anselmo, depois de ele ter entrado a pontapé ao corpo do Helton, quando já não tinha hipótese alguma de disputar a bola. Parece que o exemplo do katsouranis, no ano passado, arrumando o Anderson por quatro meses, perante a complacência de Lucílio Baptista, não serviu de motivo de reflexão para ninguém.

É claro que esta cultura da cacetada impune tem solução: basta querê-la. Basta que a Comissão Disciplinar passe a punir seriamente os caceteiros, que a Comissão de Arbitragem passe a punir os árbitros condescendentes e que os treinadores passem a ensinar aos seus comandados que futebol é uma coisa, cacetada é outra. Foi isso que se esqueceram de explicar ao Binya.

3 - O golo de Tarik Sektioui contra o Marselha, a bem da promoção do futebol, deveria passar a integrar todos os genéricos dos programas sobre futebol, a ser passado nas escolas todas do país e em todos os centros de formação onde há miúdos que sonham vir um dia a ser grandes jogadores deste maravilhoso jogo.

# jornal “A BOLA” de 2007.11.13
# origem: "Futebolar"

7 comentários:

  1. É injusto o que disse de Lucho e Meireles.. que são, sem dúvida alguma (a par de Paulo Assunção) a força do meio campo do Porto..

    Lucho pela inteligência, por marcar o ritmo de jogo e por fazer jogar..

    Meireles pela atitude de autêntico guerreiro.. que rouba quase tantas bolas como o Paulo Assunção e faz quase tantos passes para os extremos como o Lucho (no fundo.. um complemento a ambos, com uma garra e empenho que deviam ser alvo de atenção por mais de metade da equipa)..

    Não é por (esta época) acertar ou não na baliza que se é um grande jogador.. se fosse esse o critério, também não poderia incluir o Quaresma nessa lista (que se tem arrastado os jogos todos e nada acrescenta à equipa)
    Não há dúvida que é um grande jogador, mas esta época, Lucho e Meireles têm jogado muito melhor!

    Assim, tirando a contratação de um médio.. (por confiar plenamente no Meireles)concordo com a maior parte da crónica...

    http://orgulhotripeiro.blogspot.com/

    ResponderEliminar
  2. O MST é assim. Diz o que pensa. Mas na minha opinião às vezes tb pensa assim para marcar a diferença e assumir protagonismo. E ultimamente as suas crónicas não têm ajudado muito o nosso FCPorto.

    ResponderEliminar
  3. Admiro muito o MST, nunca o escondi... nem tenho sequer necessidade disso sequer, agora, nos últimos tempos, pá, que me desculpe, mas ou ele anda a ficar apanhado do clima, ou concerteza é tudo fruto da convivência diária de há muitos anos na mourolândia... só pode!!

    Dizer que Lucho é banal, lembra a alguém? Mesmo o Raúl Meireles que tem sido um poço de energia no meio-campo?

    No Hélton, vá lá que assino por baixo muitas das avaliações que faz, agora no resto, pelo amor da santa, mas os ares conspurcados da lampiolândia andam a fazer-lhe muito mal ao cerébro... só pode!

    ResponderEliminar
  4. Nada que eu não andasse a dizer crónicas a fio...
    O MST passou-se!
    Considerar Lucho um banal jogador é motivo de sobra para convocar já uma junta médica e internar o cronista. Está a precisar de descanso e isso é evidente...

    Valha-nos ao menos o facto de esta semana não ter louvado nenhum jogador adversário. Ao menos isso...

    ResponderEliminar
  5. Olhem que o comentário do lucho não andará muito longe da verdade !

    Dizer o que todos dizem mais ou menos da mesma maneira , não cria polémica .

    É como os jogadores previsíveis (não dão gozo).

    E o Miguel Sousa Tavares (na qualidade de jornalista )
    faz sempre questão de abrilhantar a jogada.

    ResponderEliminar
  6. Viva !

    Estou de acordo quanto ao essencial da crónica, exceptuando quatro aspectos.

    Primeiramente : Para mim, Lucho é um grande jogador !

    Em segundo, estive a ver, com colegas, aqui em casa, o golo do Lisandro contra o Amadora. Todos acham que o golo é de um ponta de lança de raíz. Acho que o Porto fabricou ( mas só o Porto sabe fazer isso), um ponta de lança de raíz. Velocidade e perfeição ( rotação mesmo ) em todos os níveis.
    Esperemos que o Porto o possa segurar !

    O Helson continua a ser,para mim, um grande guarda redes. Resta saber porque tem medo de sair. Continuo a pensar, com o meu sétimo sentido de Portista, que não é,devidamente,protegido. De qualquer modo, continua a estar, para a miúdagem, nestas bandas, o guardião mais querido logo após o do lyon e da equipa de França.

    Penso que o Meirelles é um bom meia distância. No jogo contra o Marselha não remata ao poste. Se analisarem, é o Mandalala que inspiradíssimo ( pra azar do meu Porto) desvia os remates.

    E Viva o Porto

    ResponderEliminar
  7. Viva !

    Esqueci de acrescentar. Sim : O golo do Tarik deve é um espectáculo só por si !

    Viva o Porto !

    ResponderEliminar