Já por aqui foi abordada a vida do Mestre, o precursor dos treinadores modernos. José Maria Pedroto era uma personalidade marcante, uma daquelas que faz a expressão de “ama-se ou odeia-se” ganhar vida própria.
Confesso que na altura, petiz, frequentador da escola primária numa aldeia insignificante, tinha outras preocupações mais mundanas, do que ligar ao futebol indígena: jogar à bola no pátio da escola, levantar a saia a miúdas desprevenidas, surripiar berlindes aos tísicos miúdos de idades inferiores. O futebol era algo a que eu ligava pontualmente, de tempos a tempos, quando via o meu pai mais inquieto ou num daqueles estados de alma habitualmente associados a um qualquer portista na década de 70: frustração, apatia ou mera resignação…
Pedroto foi por isso, não só para a geração de sofredores portistas, mas para todos os outros, uma pedrada no charco. Longe do estereótipo do treinador de então, clamava alto e bom som, na imprensa habitualmente subserviente a outros interesses, por justiça. Não cedia a ameaças, pressões ou coacções de qualquer género. Com a emoção, bastas vezes, a sobrepor-se à razão, Pedroto batia-se por um futebol mais limpo [tinha dado jeito na altura uma Morgadinha], em que o nome do vencedor ficasse suspenso, conhecido apenas pelos resultados encontrados dentro do rectângulo mágico, e não por antecipação, quase por decreto, com os do costume a dividirem irmamente os títulos.
Uma expressão houve que me ficou, para sempre, gravada de forma indelével na memória. “Roubos de igreja”. Era assim, sem papas na língua, que Pedroto colocava os nomes aos “bois”. Sem falinhas mansas, sem se preocupar com o politicamente correcto, expunha na praça pública os atentados à verdade desportiva, em que a vítima era o clube do Norte, achincalhado como se de um parente pobre se tratasse.
Atente-se no pormenor: “roubos de igreja”. Poderá lá haver coisa pior? Mais execrável do que assaltar uma velhinha indefesa à porta de casa, ou delapidar o erário público num qualquer assalto a uma repartição estatal, o cúmulo da maldade, aquilo que me impressionou, na analogia encontrada pelo Zé do Boné, era existir alguém que chegasse tão longe, na sua ânsia de perpetuação do sistema, capaz de roubar uma igreja. E Pedroto sabia do que falava, ele que como jogador e mais tarde treinador, sentiu na pele o escamotear da verdade desportiva…
Um bom exemplo desses “roubos de igreja” aconteceu no fatídico ano de 1980. O Porto, depois de um longo jejum de 19 anos, vencera vorazmente os campeonatos de 1977/78 e 1978/79. Os adeptos portistas, habituados a tempos mais frugais, viam-se assim enlevados no Olimpo dos deuses. Vitórias atrás de vitórias, sofridas é certo, mas feitas de determinação, do “antes quebrar que torcer”. Aqueles gritos, ano após ano presos nas gargantas, soltaram-se numa torrente de emoções. Comemorava-se o que se vencia e sonhava-se com conquistas futuras. Como por exemplo aquele sonho que acalentava os fiéis da causa portista: o TRI!
Um bom exemplo desses “roubos de igreja” aconteceu no fatídico ano de 1980. O Porto, depois de um longo jejum de 19 anos, vencera vorazmente os campeonatos de 1977/78 e 1978/79. Os adeptos portistas, habituados a tempos mais frugais, viam-se assim enlevados no Olimpo dos deuses. Vitórias atrás de vitórias, sofridas é certo, mas feitas de determinação, do “antes quebrar que torcer”. Aqueles gritos, ano após ano presos nas gargantas, soltaram-se numa torrente de emoções. Comemorava-se o que se vencia e sonhava-se com conquistas futuras. Como por exemplo aquele sonho que acalentava os fiéis da causa portista: o TRI!
O primeiro tri da história do clube esteve tão perto. Não como uma miragem, que se afasta à medida que nos aproximamos, como se brincasse com os sentimentos. Não. Esteve ali à mão, palpável, quase a coroar uma geração de jogadores excepcionais. Eles bem mereciam. Depois de um campeonato intenso, duro, sofrido, com Pedroto a insurgir-se amiúde contra crassos erros de arbitragem, chegou-se à penúltima jornada. O Porto, um mísero ponto atrás do Sporting, depositava fundadas esperanças na deslocação destes ao reduto vimaranense. 6º classificado, o Vitória já então era temível, a jogar perante os seus apaniguados. E o jogo parecia correr de feição aos azuis e brancos, espectadores atentos das peripécias que decorriam no relvado. O empate teimava em manter-se no marcador, resultado suficiente para o Porto se alcandorar ao posto cimeiro da classificação. Até que, rezam as crónicas, num estilo intempestivo, fazendo lembrar um qualquer avançado com codícia pelo golo, Manaca marcou, perto do fim, o golo que valeu o título aos leões. O estranho é que Manaca era jogador…do Guimarães. E ex-jogador leonino.
O que avolumou as suspeitas de favorecimento ilícito, acentuadas ainda mais depois de uma cena de pugilato, já nos balneários vimaranenses, entre o autor do auto-golo e um seu colega de equipa, Tozé, com este a acusá-lo de se ter “vendido”. Ficam as palavras finais de Pedroto, apostrofando o novo campeão: “Falhámos o tri pelo auto-golo do Manaca e pelo penalty sonegado em Alvalade, na nossa derrota”. A leitura dos jornais da época dá total razão ao Zé do Boné. Nessa derrota em Alvalade, o penalty não marcado favorável aos Dragões custou bem mais do que a imediata derrota. Como se viu no final…
Não poderia finalizar sem mencionar um daqueles casos que comprovam claramente o que o Porto sempre teve que combater, para poder vencer um troféu. Logo após o jejum de 19 anos, com o Porto ainda a saborear a conquista do campeonato, jogou-se a final da Taça de Portugal. Os contendores: Porto x Sporting.
A final ficou marcada pelo penalty polémico, favorável aos leões, convertido por Menezes e que empatou o jogo. Como o resultado teimou, até final, nos mesmos números, foi necessário disputar a finalíssima. Oito dias depois, o troféu cobiçado caiu nas garras dos leões, mas por caminhos espúrios. O 2-1 final, ferido de legalidade, pelo golo irregular leonino, motivou este comentário lacónico de Seninho, o autor do golo portista, no final: “O árbitro entregou a Taça ao Sporting”. E não é que foi mesmo verdade?
24 horas depois, um dos episódios mais rocambolescos do futebol luso. O árbitro dessa finalíssima, Mário Luís de seu nome, foi convidado por João Rocha, presidente leonino, a embarcar junto da comitiva sportinguista na digressão destes à China.
A pouca vergonha, como se constata, era feita de forma despudorada, às claras. Mário Luís, como prémio pela exibição na final, não foi esquecido pelos vencedores. Também, é justo dizê-lo, não se livrou do epíteto que lhe colocaram, apropriadamente. Ficou conhecido, desde aí, pelo “Chinês”. E não é que a expressão “roubo de igreja” ganha toda a legitimidade?
Paulo numa altura em q a maior parte de nós só bate no Benfica fizeste bem em mencionar estes 2 escândalos do desporto Luso envolvendo o clube das elites, dos viscondes, do futebol limpo, das virgens, do fair play...E digo-vos q o slb é ajudado mas a jogar em casa n há equipa mais protegida q o scp. Grande Pedroto, grande mestre, ele era assim e eu tenho pena de n ter nascido mais cedo.
ResponderEliminarOutra expressão dele é " um penatly do tamanho da torre dos clérigos".
ResponderEliminarTenho pena de não ter nascido a tempo de o acompanhar melhor a sua carreira, mas reconheço que foi o treinador mais importante que passou no FCP
Eu tive a sorte de ter estado já presente no tempo do Mestre e lembro-me bem desses jogos aqui mencionados. Foi uma escandaleira mas como sempre passou ao lado.
ResponderEliminarPedroto marcou uma época e a viragem do estado de coisas anunciando alto e bom som os roubos a que eramos sujeitos e já praticava os " mind Games " com frases lapidares que fizeram história e galvanizavam os nossos jogadores.
Pois é Paulo Pereira, a história do futebol em Portugal, tb é bastante rica no que toca a 'apitos côr de musgo'... basta atentar nos tempos da outra senhora, em que o tal futebol era rico em seriedade e tal e coisa, com o status-quo de 2 campeonatos pró clube do regime e 1 campeonato pró clube dos viscondes... mas nessa altura, era tudo gente séria, honesta, nada dada a jogadas de bastidores.
ResponderEliminarAté que surgiu em cena um outsider que se veio a tornar, e hoje cada vez mais, um colosso a nível interno e fora-de-portas... seu nome? FC Porto!!... que lhes quebrou a hegemonia interna e destruiu o status-quo implementado... e é isso que eles não nos perdoam, mas por mim, quero é que eles se f**** todos!
Pouco me importa se perdoam ou não, além do mais, tb ninguém lhes perguntou nada, certo?
Como dizia o MST na semana passada, "Quando chega a hora da verdade, nos grandes palcos europeus, sem «Apitos Dourados» nem bocas por fora, o FC Porto dá cartas e o resto é paisagem."... e não é preciso acrescentar mais nada!!
aKeLe aBrAçO,
http://bibo-porto-carago.blogspot.com/
Não era só naquele tempo que lisboa roubava de forma descarada,sem se preocupar em ao menos tentar disfarçar,hoje é igual!Se não tenho razão expliquem-me o que foi aquilo com o maritimo!Vão-me dizer que aqueles dois maritimistas que roubaram a vitória ao clube que lhes paga,não estavam subornados?Então a Mizé Tung foi totalmente imparcial e eu sou a Madre Teresa!
ResponderEliminarViva !
ResponderEliminarOutra vez um artigo muito interessante que reenvia para a memória que é importante não perder.
E,também não esquecer, se o meu disco rígido ainda funciona, que Pedroto não hesitava em pôr no banco as vedetas ( veja-se o caso com o Américo, o Pinto etc.).
Talvez, por isso, tenha dado o espírito ganhador ao clube.
E Viva o Porto !
Sempre a lembra-nos de estórias do arco da velha. Excelente artigo Paulo.
ResponderEliminarUm abraço.