25 novembro, 2007

Pinto da Costa, O Homem do Porto

No dia 23 de Outubro de 2007, antes do desafio FC Porto - Marselha, a edição em papel do jornal “L’Equipe” realizou uma entrevista ao Presidente do FC Porto. As palavras de Pinto da Costa ocupam um lugar de destaque na página doze e são apresentadas por Régis Dupont.

Este diário é um dinossaúrio da imprensa Francesa. O seu formato actual aparece em 1948. E tem um lugar inamovível na edição Francesa. É um dos jornais mais lidos em França. Segundo a associação OJD, em 2006, só a edição papel teve 2.365 000 leitores, em média, por dia.
(existe também uma edição on line que é sensivelmente diferente, já que é mais resumida)

Melhor se compreenderá, assim, que a entrevista de Régis Dupont é uma autêntica homenagem ao Presidente do FC Porto.

Tinha pensado, também, traduzir este artigo antes do dia 16 de Novembro. Mas, por aqui, é dito que nunca se deve parabenizar antes do dia de anos. Parabéns, pois, ao Estádio do Dragão e a quem por ele batalhou!

Vejamos :

Pinto da Costa, O Homem do Porto.
Debaixo do reinado do seu inamovível presidente, começado em 1982, o FC Porto mudou de dimensão.

No seio da confraria dos presidentes dos grandes clubes, Jorge Nuno Pinto da Costa é um dinossauro. Ele dirige o FC Porto desde Abril de 1982 e a sua longevidade excepcional neste cargo vai de par com um incomparável palmarés pessoal: 15 campeonatos de Portugal, 9 taças de Portugal, 15 supertaças de Portugal, 2 ligas dos campeões (1987 e 2004), 1 taça UEFA (2003), 2 taças intercontinentais e 1 super taça europeia.
Ele até resistiu à operação “apito dourado” (1) (siflé doré). Uma vasta investigação que visava provar delitos, indo do tráfico de influências à corrupção de árbitros. Com quase 70 anos, continua a alinhar os sucessos.
Dentro de quatro dias, vai casar de novo com, Philomène (2), sua ex-segunda esposa. Ele evoca, para nós, os momentos mais marcantes da sua presidência.

A Sagração de Viena (1987)

Em 27 de Maio de 1987, em Viena, o FC Porto derrota o Bayern Munich (2-1) na final da Taça dos Campeões. Lembro-me de tudo: Da viagem, do que fizemos no dia do jogo, do que falámos com o Artur Jorge. Estávamos muito confiantes mas, tacticamente, convinha-nos, perfeitamente, chegar na condição do “pequenino”. As pessoas não nos davam 10% de chances contra o Kiev (na meia final) e, depois, contra o Bayern. Lembro-me do presidente Bávaro me pedir um prognóstico, aquando do jantar oficial. Respondi-lhe: "Sabe, se perdermos por 2-0 já não é mau". Mas, na minha mente, eu pensava: Falaremos amanhã. A ideia já era ganhar, ganhar sempre. Em seguida, ganhamos a Taça intercontinental e anunciei, aquando do jantar de celebração desta vitória, que deixava a presidência. Aí, todos me disseram: “Ninguém terá a coragem de te suceder”. Então, fiquei. Não queria que acreditassem que eu tinha medo de não tornar a ganhar. E o meu maior orgulho, hoje, é ter dado estruturas ao clube, é ter incutido junto de cada assalariado esta cultura da vitória. Há sempre recordes a bater. Já em 1987, todos diziam que seria impossível ganhar uma segunda Liga dos Campeões.

O Penta (1995-1999)

Entre 1995 e 1999, o FC Porto sagra-se campeão de Portugal cinco vezes consecutivas. Mais um recorde, talvez o recorde mais querido para Pinto da Costa: “É um momento muito especial porque mesmo o Benfica, no tempo do Eusébio, nunca tinha ganho mais de três títulos consecutivos. O Clube inteiro tinha bem em mente que era um objectivo único na nossa história, uma oportunidade que não podíamos deixar passar. Pessoalmente, tinha tomado um grande risco: Para suceder a Bobby Robson e depois a António Oliveira que tinham, cada um, ganho dois títulos, tinha escolhido Fernando Santos que nunca tinha treinado uma grande equipa. Fui enormemente ctiticado, dizia-se que ele não seria capaz de aguentar uma tal pressão, mas tinha confiança nele. E, depois, tínhamos elementos muito bons como Jardel, Vítor Baía ou Drulovic, uma equipa muito unida. De antemão, tínhamos menos meios que os grandes clubes europeus. Mas a nossa política foi sempre de vender os jogadores que nós podíamos substituir. Este Verão, por exemplo, cedemos Pepe ao Real Madrid (30 milhões de euros) porque sabia-se que Stepanov seria um substituto fantástico ao fim de alguns meses. Em contrapartida, recusámos uma oferta de 16 millhões de euros pelo nosso capitão, Lucho, porque é um jogador diferente, muito importante para a equipa, e não tínhamos alternativas.

O Estádio do Dragão

É a sua obra de referência. Um magistral golpe de génio.
Com a prespectiva do Euro 2004, Pinto da Costa pressente que tem uma oportunidade única para modernizar o seu clube. Imagina o projecto dum novo estádio, construído em contrabaixo do antigo (Das Antas) (3).
Na altura, era o único a acreditar. Os bloqueios administrativos e financeiros pareciam insuperáveis. Mas o presidente do FC Porto adora impôr as suas ideias ao resto do mundo: O FC Porto integra o cofre das jóias em pleno Inverno 2003-2004, alguns meses antes de arrebatar a sua segunda Liga dos Campeões contra o Mónaco, em Gelsenkirchen (3-0): Quando comecei a pensar no assunto, todo a gente me dizia que era impossível. Tive muitos problemas, nomeadamente, com o Presidente da Câmara da cidade. Foi uma grande luta com todas as barafundas possíveis. Mas a inauguração foi um dia fantástico, uma emoção indescritível no plano pessoal.
Aliás, 90% da direcção do clube queria que o estádio tivesse o meu nome. Convenci os seus membros com um argumento simples : “Sou contra o facto que a pessoa que detem o poder dê o seu nome a qualquer coisa. Se dão o meu nome ao estádio, para ser coerente com o que digo, páro aqui o meu mandato”. No que diz respeito à minha saída, de qualquer maneira, já fixei uma data. Mas só lha desvendarei na véspera.

Obs :

(1) Em Francês no texto.
(2) e (3) Assim transcrito no texto

E Viva o Porto !

3 comentários:

  1. Caro PortoMaravilha,

    Obrigado por partilhar connosco esta entrevista.

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  2. Grande exclusivo, Porto Maravilha!
    Como diz o Estilhaço, perto em termos geográficos, mas nem assim essa entrevista teve repercussão. Os media nacionais preferiram falar do "Corrupção", da nova tatoo do Di Maria, do recem-inaugurado restaurante do Rui Costa ou da lentidão de processos de raciocínio do Paulo Bento, em vez de destacarem (mais) uma homenagem (sim, porque é disso que se trata)ao melhor presidente de sempre do futebol português. Um homem que ficará, não só, na história do Porto, mas também do futebol luso.

    Esta é daquelas para guardar numa pasta de honrarias. Encheu-me de satisfação e orgulho.

    Abraço,

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  3. Viva !

    Para não "esmagar" ou "abafar" a entrevista, não referi que o estilo de R. Dupont é muito bonito. O que ainda dá muito mais valor à homenagem. Por exemplo, o jornalista não emprega a expressão casar "en secondes noces" , mas, simplesmente, "voltar a casar". O que é muito mais poético. Sente-se no estilo (impossível de dar conta numa tradução) do jornalista um grande respeito pelo entrevistado.

    E Viva o Porto !

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