11 setembro, 2009

2 comentários:

  1. Após a geração de ouro

    NA última década e meia, a Federação Portuguesa de Futebol esqueceu-se de investir na formação, que lhe dera os seus dois únicos títulos a nível de selecções e, também, uma ínclita geração de jogadores. O que distinguiu esses atletas, ao longo das suas carreiras, foi a sua determinação e uma atitude que contrastava com o velho fado português. Foi isso, e não a qualidade individual, que fez o contraste entre Baía, Rui Costa, Figo, Fernando Couto e João Pinto por um lado, e Humberto, Fernando Gomes, Oliveira, Jaime Pacheco, e Futre por outro. A verdade é que, conseguido esse escol, a FPF satisfez-se com a vindima, e deixou de tratar da vinha. Madaíl concentrou-se em garantir a organização do Campeonato da Europa e na Selecção A, escolhendo Scolari para um projecto que nunca se interessou pelos escalões jovens. O resultado está á vista. A geração de ouro reformou-se, o futebol português envelheceu e esterilizou-se…
    Não deixa de ser cruel e irónico que o principal réu pelo apagamento da Selecção seja Carlos Queiroz, que foi quem, nesse tempo já distante, concebeu um projecto que, por culpa de outrem, não sobreviveu à sua saída. É, também, injusto, porque a crise da Selecção já era evidente quando aceitou substituir Scolari. E, para quem tenha dúvidas, deixo esta pergunta: será que a Selecção que esteve no Europeu da Áustria e Suíça, graças a um difícil apuramento num grupo muito acessível em que mesmo assim Portugal não ganhou qualquer jogo aos seus concorrentes directos, teria conseguido esse apuramento num grupo tão complicado como o que nos calhou no apuramento para Mundial?

    Queiroz não teve tempo nem por onde escolher. Claro que Portugal tem Ronaldo e mais um punhado de jogadores que competem ao mais alto nível. Mas, quando se olha para o campeonato doméstico, quantos são os portugueses que são titulares? E quantos destes serão seleccionáveis? São muito poucos os candidatos e essa a razão pela qual até os nacionalistas se vão convertendo à inevitabilidade de chamar jogadores naturalizados.

    A razão tem que ver com o trabalho de base, de que a Federação se alheou e que os clubes, à excepção do Sporting não consideram como um investimento prioritário. Mas, o problema é mais profundo, e tem que ver com as alterações sociais, com a escola pública e com os hábitos dos mais jovens. Hoje, o futebol de rua deu lugar ao futebol de consola, em que os campeonatos são virtuais e os jogos se ganham sem suor ou esforço enquanto o futebol das camadas jovens dos clubes é, na maior parte dos casos, orientado para o resultado imediato, o que não ajuda a formar grandes atletas.

    Naturalmente, Queiroz teve as suas culpas e cometeu equívocos. Mas, seja qual for o epílogo desta qualificação, é ele o técnico de que precisamos para reeditar o trabalho de base que, se for bem feito, poderá voltar a dar-nos, daqui a alguns anos, as maiores glórias e alegrias.

    Os velhos do Restelo

    OS naturalizados incomodam muita gente? Pois, mas são eles que resolvem os jogos e nos permitem, ainda, uma réstia de esperança em participar no Mundial. Sem Pepe, Deco e Liedson, Portugal já estaria afastado da fase final. Eu sei que isso nunca convencerá quem muito se incomoda por se recorrer a jogadores que não nasceram em Portugal e não conhecem o nosso hino de cor e salteado. Curiosamente, estes argumentos nacionalistas são muitas vezes invocados por quem gosta de exaltar a história e os feitos dos portugueses. Faço parte daqueles para quem todos os cidadãos portugueses são seleccionáveis: para o futebol, e para tudo o mais.

    Rui Moreira n' A Bola (cont...)

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  2. RUI MOREIRA (CONT...)


    Capitão do choradinho

    NUNCA percebi porque razão Cristiano Ronaldo foi escolhida para capitão da Selecção Nacional. É claro que é o mais conhecido dos jogadores portugueses, e é um justo motivo de orgulho para todos os seus compatriotas, mas é indiscutível que lhe falta a autoridade, dentro e fora do campo, para desempenhar tão ingrato papel. Aliás, Cristiano insiste em adoptar, com a camisola das quinas, um comportamento de menino estragado, simulando faltas, excedendo-se nos gestos e nas reclamações. Obviamente, a Selecção precisa muito de Cristiano Ronaldo, e não se lhe pode exigir que esteja sempre ao seu melhor nível. Mas pode-se reclamar dele a atitude que tem nos clubes onde tem jogado.

    O lugar marcado

    NÃO consigo compreender porque razão Simão Sabrosa tem sempre de jogar. A sua escolha para titular em Copenhaga, num lugar que era à medida de Liedson e em que desperdiçou dois golos de forma infantil, é imperdoável e pode ter sido decisiva no desfecho do jogo e, quem sabe, no apuramento. Depois, em Budapeste, foi o primeiro suplente a ser chamado, para substituir o lesionado Deco e voltou a ser incapaz de desempenhar a tarefa. Simão só pode jogar no tridente atacante, quando a equipa opta pelo 4-3-3 e desde que esteja em boa forma, porque Nani é um sério concorrente ao lugar. Na Selecção, não há lugares marcados e todos os jogadores devem ter o mesmo estatuto.

    Sem peso nem influência

    EM Copenhaga, Portugal voltou a ser prejudicado pela arbitragem, ainda por cima por um árbitro que goza de grande reputação junto dos dirigentes do futebol europeu e mundial. Nada disto acontece por mero acaso. Sucede porque Portugal não tem influência nas instâncias internacionais, ao contrário do que acontecia nos tempos de Silva Resende. Hoje, a nossa federação não é respeitada nem se dá ao respeito, o que faz com que ano após ano os nossos clubes sejam penalizados pelas arbitragens. Agora, percebe-se que há quem não queira que Portugal esteja na África do Sul. E por muito que nos digam o contrário, isso conta muito no desenrolar dos jogos e no desempenho dos árbitros que nos calham.

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