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A minha primeira incursão azul e branca pela web foi o site Os Portistas, que iniciei há quase 10 anos e deixei de actualizar alguns anos depois. Nesse site incluí uma breve descrição do símbolo do FC Porto, que veio a tornar-se sem dúvida o trecho mais divulgado, e talvez o mais relevante, do meu modesto projecto. Ainda hoje deparo com ele de vez em quando, com ou sem ligeiras adaptações, e esboço sempre um sorriso largo. A fonte raramente consta, mas que importa? Fico sempre imensamente orgulhosa ao lê-lo, e sinto que pelo menos aquele bocadinho de texto cumpriu o seu propósito de divulgar e engrandecer o nome do nosso clube. Transcrevo-o:
O emblema original do Futebol Clube do Porto era o representado na imagem à esquerda: uma bola de futebol antiga azul com as letras FCP a branco. Assim continuou até 1922, quando Augusto Baptista Ferreira, jogador do FC Porto, num rasgo de criatividade daqueles só concedidos aos génios, resolveu unir o símbolo do FC Porto ao brasão da cidade do Porto na altura (que em 1940 foi alterado, passando a ser aquele que conhecemos actualmente). Simplício, como era conhecido, criou assim um emblema magnífico e bem representativo da simbiose entre o clube e a cidade. E fê-lo espontaneamente. O seu amor e a sua dedicação ao clube, bem como a sua genialidade, ficaram eternizados naquele que será, provavelmente, um dos poucos símbolos de clubes desenhados por um atleta.
O emblema do Futebol Clube do Porto passou então a ser o da imagem à direita: sobre a bola de futebol antiga azul estão as armas que D. Maria II atribuiu ao Porto por Carta Régia em Janeiro de 1837. Estão são compostas por um escudo esquartejado que possui as armas reais (sete castelos e cinco quinas, tendo cada uma cinco besantes no interior) no primeiro e quarto quartéis e as antigas armas da cidade do Porto (a Virgem segurando o Menino, ladeados por duas torres) no segundo e terceiro quartéis, tendo no centro, sobre o ponto onde se unem os quatro quartéis, um coração, que representa o precioso legado que D. Pedro IV (pai de D. Maria II) deixou à cidade - segundo a sua vontade, o seu coração encontra-se guardado numa urna de prata na Igreja da Lapa. A orlar o escudo encontra-se o Colar e Grã-Cruz da Antiga e Muito Nobre Ordem da Torre e Espada de Valor Lealdade e Mérito, do qual pende a respectiva medalha (na qual estão escritas essas mesmas palavras: valor, lealdade e mérito). Sobre o escudo está a Coroa Ducal e o Dragão negro do poder, pertencente às antigas armas dos Senhores Reis destes Reinos, em cujo pescoço está uma fita com a palavra Invicta, título que D. Maria II atribuiu ao Porto, acrescentando-o aos que a cidade já possuía - Antiga, Mui Nobre e Sempre Leal.
No outro dia voltei a dar com ele, desta vez aqui. E com um comentário pertinente de alguém que pede "informação mais detalhada sobre a coroa ducal e em particular sobre o símbolo do Dragão", e pergunta: "Quais os senhores? Quais os reinos ? Existe algo nos registos do clube?"
São boas perguntas. O trecho original é demasiado sumário para um tema de tão grande importância. Nada percebo de heráldica e pouco percebo de história, o que aqui fica como ressalva, mas vou aproveitar a deixa para falar mais um bocadinho sobre o lindo emblema que nos adorna o peito.
Se existe alguma coisa nos registos do clube, desconheço de todo. Nas publicações relacionadas com o clube a que já tive acesso nunca lá vi nada de muito detalhado sobre o nosso símbolo, mas não digo que não exista. Lamento não ter tomado nota da fonte da informação que usei em 2002, mas julgo tê-la encontrado, salvo erro, num texto de jornal sobre as armas da cidade, actualmente "perdido" por entre tantos outros recortes de jornais e revistas alusivos ao nosso clube que tenho lá por casa. Mas se, como sabemos, as armas que Simplício uniu de forma sublime ao nosso símbolo original eram as armas da cidade do Porto na altura, em 1922, torna-se evidente que, se quisermos compreender o nosso belíssimo símbolo, devemos entender a história das armas da cidade.
Se existe alguma coisa nos registos do clube, desconheço de todo. Nas publicações relacionadas com o clube a que já tive acesso nunca lá vi nada de muito detalhado sobre o nosso símbolo, mas não digo que não exista. Lamento não ter tomado nota da fonte da informação que usei em 2002, mas julgo tê-la encontrado, salvo erro, num texto de jornal sobre as armas da cidade, actualmente "perdido" por entre tantos outros recortes de jornais e revistas alusivos ao nosso clube que tenho lá por casa. Mas se, como sabemos, as armas que Simplício uniu de forma sublime ao nosso símbolo original eram as armas da cidade do Porto na altura, em 1922, torna-se evidente que, se quisermos compreender o nosso belíssimo símbolo, devemos entender a história das armas da cidade.
Muita da papinha está feita, e muito bem feita, no blog Do Porto e não só, que cita o historiador Armando de Mattos para informar-nos de que "o primeiro selo de que se conhece uma imagem da cidade do Porto aparece num documento do século XIV" e é este que vemos ao lado: uma representação de Nossa Senhora da Vandoma, padroeira da cidade (engana-se quem pensa que o nosso padroeiro é o São João ;)), com o menino ao colo, ladeados por duas torres. Alguns locais referem como suposto brasão original "uma cidade de prata, em campo azul sobre o mar de ondas verdes e douradas", mas todas essas referências parecem ter origem aqui, pelo que não sei até que ponto será verdade. Por certo temos o selo mencionado, que ao longo dos séculos foi registando pequenas variações, mas com a essência a permanecer: sempre a virgem, o menino e as torres, que a certa altura aparecem com braços que empunham uma espada e uma bandeira.
Entre 1832 e 1833, como aprendemos na escola, o Porto foi o palco principal da guerra civil portuguesa, num episódio que ficou conhecido como Cerco do Porto. As tropas de D. Miguel, à época Rei de Portugal e defensor do absolutismo, montaram cerco à cidade; no seu interior, o povo colocou-se ao lado das tropas liberais de D. Pedro IV, seu irmão mais velho, e resistiu durante 13 meses aos ataques ferozes dos miguelistas, à cólera, ao tifo e à fome, saindo vitorioso no final. A postura heróica dos nossos conterrâneos valeu-lhes a gratidão eterna de D. Pedro, que declarou deixar o seu coração à cidade, onde ainda permanece, numa urna de prata na Igreja da Lapa. Ainda como expressão desse agradecimento, foi a sua filha D. Maria II quem, em 1837, por Carta Régia redigida por Almeida Garrett e assinada pela Rainha e pelo Primeiro-Ministro Passos Manuel, atribuiu à cidade - "a mais illustre das cidades portuguezas" - um novo brasão e o título que ainda hoje a define: Invicta.
"1º Para memoria de que a cidade do Porto bem mereceu da patria e do principe, serão as suas armas um escudo aquartellado, tendo no primeiro quartel as armas reaes de Portugal; no segundo as antigas armas da mesma cidade, e assim os contrarios; e sobretudo, por honra, e em recordação do legado precioso que de meu augusto pae recebeu, um escudete vermelho com um coração de oiro: coroa ducal; e por timbre um dragão negro das antigas armas dos senhores reis d'estes reinos; com a tenção em letras de oiro sobre fita azul - Invicta: - e em roda do escudo a insignia e collar da gran-cruz da antiga e muito nobre ordem da Torre e Espada, do valor, lealdade e merito.
2º - Aos títulos de antiga, muito nobre e leal se acrescentará o de Invicta: - e assim será designada: - A antiga, muito nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto."
E aqui temos a descrição daquele que é hoje o nosso símbolo - embora com pequenas variações, como as cores do Dragão e da faixa que tem ao pescoço, cuja razão não consegui perceber. Quanto aos "Senhores Reis destes reinos", trata-se simplesmente de uma forma de designar os reis de Portugal, que na altura eram reis de Portugal e dos Algarves – daí o plural ("reinos"). Assim, temos que o dragão do nosso símbolo é o dragão das antigas armas dos reis de Portugal, ou seja, as armas da Casa Real Portuguesa, desde D. João I. Algumas razões para a adopção do dragão pelo monarca são aventadas aqui, enquanto aqui podemos ver diversas utilizações do dragão nas suas armas e nas dos seus filhos. Também no Brasil, de onde D. Pedro IV foi o primeiro Imperador (após proclamar a independência de Portugal com o grito do Ipiranga em 1822), o dragão assumiu posição de destaque na heráldica nacional, sendo mesmo dois dragões os guardiões do túmulo do Libertador cujo coração descansa na cidade que tanto amou.
As armas da nossa cidade, todavia, já não coincidem com as que constam do nosso símbolo. Em 1940, num acto de teimosia anti-liberal muito característico do Estado Novo, foi o próprio presidente da Câmara Municipal do Porto, António Mendes Correia de seu nome, quem solicitou ao governo o regresso às armas antigas, eliminando os registos da histórica gratidão de D. Pedro IV e D. Maria II à cidade do Porto e descartando as honras que por ela nos atribuíram, excepto, valha-nos isso, o título de Invicta. A esse propósito, recomendo a leitura desta página. Quem sabe, se se for passando a palavra, o povo tripeiro venha um dia a resgatar o que é seu por direito e restitua ao município o nobre brasão que hoje apenas sobrevive graças ao nosso Futebol Clube do Porto, clube maior da cidade "que havendo dado o nome a Portugal, tantas vezes o tem rehabilitado à face do mundo, e restituido á primitiva gloria e explendor da sua origem". Não é de desconfiar que Garrett já previsse o Futebol Clube do Porto quando, na Carta Régia de 1837, redigiu estas insignes palavras?
Bonito contributo para este espaço.
ResponderEliminarUm post ao nível da autora.
E daqui a 2 dias o nosso Porto já faz 118 anos...
Excelente Enid, muito bom mesmo.
ResponderEliminarBoa Tarde:
ResponderEliminarTodos os dias visito este nosso espaço de paixao pelo FCPORTO. Hoje não foi excepção e deparei-me com este maravilhoso texto que a todos nos enche de orgulho. Nós Portistas que nutrimos pelo PORTO uma paixao que vai muito para alem do proprio significado da palavra temos tambem o dever de junto de outros Portistas e tambem junto até dos mouros difundir o significado de ser amar e estar como PORTO. Porque é com o passado e seus simbolos que se fazem os alicerces para a construção do futuro.
Obrigado pelo post
276mqj
Magnífico post! Eu sou um dos que usou o também excelente texto sobre a criação dos emblemas do FC Porto e, com muita honra, mencionou a sua proveniência e autoria.
ResponderEliminarBrilhante intervenção, Enid, na linha daquilo a que nos habituaste.
Abraço.
BIBÓ PORTO!
Não só aprendi bastante, como é sempre bom ler textos assim bem escritos.. gostei também da forma bonita como aludiu aos "roubos"...
ResponderEliminarConfesso que fui eu quem colocou a questão nos Dragões Azuis, sempre tive esta dúvida sobre alguns aspectos do emblema do FC Porto e nunca encontrei ou tive a capacidade para encontar respostas que satisfizessem a minha curiosidade.
ResponderEliminarAgradeço-lhe o trabalho de pesquisa e o maravilhoso texto, para mim passa a ser o mais completo até hoje publicado na internet sobre o nosso emblema e revela sem dúvida muitos pormenores dos quais nos devemos sentir orgulhosos.
Obrigada a todos :) Invicta, ainda bem que vieste cá parar - estava a pensar colocar um comentário no Dragões Azuis a dizer que publiquei aqui as respostas às tuas questões :)
ResponderEliminarPessoalmente até gostava de aprofundar mais o meu conhecimento sobre o nosso símbolo. Quem sabe um dia tenha tempo para me dedicar a isso como deve ser. Abraços azuis e brancos!
boas!!!eu tenho uma camisola em casa com este simbolo!!! sera que nao sabes a data dessa camisola?ou talvez queiras uma foto?
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