Não tirem o Orelhas daí

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Sempre tive um carinho especial por ele. É sócio do nosso clube com as quotas pagas, em tempos idos foi espectador assíduo dos jogos no saudoso Estádio das Antas e até nos ofereceu jogadores que nos deram títulos e nos renderam milhões. Um dia, o Orelhas lembrou-se de se candidatar à presidência dos porcos, para fazer uma espécie de estágio e poder um dia suceder àquele que sempre olhou como um mestre. Sem querer, até ganhou dois campeonatos – um sem saber como, outro com a ajuda de um famoso túnel. Mas se há uma palavra que resume na perfeição a sua passagem por Carnide, ela só pode ser uma: humilhação. A dos 5-0, no Dragão, e, no galinheiro, as festas imensas do campeão são só os exemplos mais flagrantes.

Parafraseando-o, “ambos os dois” - eu e ele, entenda-se, - não só partilhamos o mesmo clube de coração, como nutrimos uma aversão inexplicável por eles. Só que com uma colossal diferença: eu não sou capaz de vestir outra pele que não esta, ele disfarça-se de mouro para os levar à miséria desportiva e à falência financeira. É verdade, há poucos portistas assim, capazes de tamanha prova de amor. Ele, mais do que ninguém, merece ser distinguido com um Dragão de Ouro.

Senão vejamos: para além de nos ter ajudado a tirar-lhes o Deco, foi ele que nos ofereceu o Falcao, o Álvaro Pereira e o James, para ajudar-nos a humilhá-los no campeonato e a conquistar mais um título europeu. Não satisfeito, ainda nos indicou o Danilo e o Alex Sandro, que é melhor do que todos os defesas-esquerdos juntos que ele contratou desde que lá está – e um deles, em final de carreira, que até teve direito a uma cláusula de rescisão de 30 milhões no contrato. Ele goza com aquilo à descarada, mas eles são tão burros que não percebem.

O Orelhas tem um passado pouco recomendável, é verdade. Tem no cadastro uma passagem pelo Tribunal da Boa-Hora em Lisboa, onde foi julgado e condenado por roubo. Dizem as más linguas que se movia como ninguém no mundo obscuro do crime e que até esteve ligado ao tráfico de droga. E nessa mesma altura, pelos vistos, apareceu misteriosa e até hoje inexplicavelmente um homem morto nas instalações numa das muitas empresas que ele ajudou a levar à falência, mesmo fugindo ao fisco, como o diabo foge da cruz.

Por falar em diabos e outros débeis mentais que pululam lá pelas claques de Carnide, há três anos, o Ministério Público considerou, já com ele na presidência, existirem indícios que o Orelhas lhes terá dado uma ajudinha para, no fundo, cometerem um crime. Segundo a testemunha, terá dito ao intendente Diamantino Carvalho que “não levasse em consideração os artefactos pirotécnicos lançados para o estádio, pois assim as pessoas viam o que era o Inferno da Luz".

Dizem que o Orelhas também foi apanhado nas escutas, a pedir um tal de João “pode ser” Ferreira. Calúnias, senhores, calúnias. São tudo difamações e infames construções jornalísticas sobre um homem impoluto e um honesto pai de família, que sempre pautou a sua vida pela verdade, pela seriedade e que, por ter nascido com pouca massa encefálica, nunca teve grande jeito para o negócio. Sempre ouvi dizer que a perfeição não existe…

E é por isso que as lágrimas vieram-me aos olhos no dia em que vi as imagens daquela conturbada assembleia-geral. Ele não merece aquilo. Só espero que nas eleições do próximo dia 26, os carneiros votem com a consciência que não têm. Insultem-no, cuspam-lhe, atirem-lhe petardos e cocktails molotov, mas, por favor, não tirem o Orelhas daí.