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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto
Capítulo 6: 1951 a 1960 – Contestação a Lisboa; a “dobradinha” (Parte XXII)
Época 1955-1956
4 Jul.1955 – A chegada de um Campeão!
O desempenho competitivo medíocre (5.º lugar no Campeonato e a eliminação nos oitavos-de-final da Taça de Portugal, nas Antas) ditou o afastamento do técnico Fernando Vaz no fim da época 54-55 e a chegada de um treinador que haveria de ser… Campeão!
O brasileiro Dorival Knipel, mais conhecido por Yustrich, arribou ao Porto a 4 de Julho de 1955 com um contrato fabuloso: 150 contos de luvas, 15 contos de ordenado mensal e a garantia de um prémio especial de 100 contos, se se sagrasse campeão!
Vindo de Minas Gerais, chegou com a missão de revolucionar o futebol portista e com a intenção de devolver ao FC Porto a glória perdida. Antes de treinador, havia sido um dos mais credenciados guarda-redes do Brasil e vendedor de automóveis. Como era seu timbre, Yustrich impôs no Porto disciplina férrea e estágios antes dos jogos. Já com a época a decorrer decidiu afastar três jogadores considerados dos mais importantes no FC Porto: Barrigana, Ângelo Carvalho e o argentino Porcel. Por ousarem questionar os seus métodos!
O trabalho de Yustrich vingou, os resultados apareceriam. “Homão” chegou, viu e venceu!
Felizes inovações de Yustrich
• Ago.1955 – Nas camisolas do FC Porto nem sempre era colocado o símbolo (emblema). Pois bem, Yustrich exigiu que passasse a sê-lo. Assim, por mérito do treinador brasileiro, o sagrado emblema do FC Porto jamais deixou de ser ostentado na camisola azul-e-branca, no lado esquerdo, bem junto ao coração dos atletas.
• Lar do jogador – Foi criado por Yustrich, quando chegou ao Porto, com o apoio do Presidente Cesário Bonito e inauguração em 21 de Setembro de 1955, no Bonfim. Ali passaram a viver, a tempo inteiro, todos os solteiros do plantel e, quando em estágio, os casados também. Era uma residência sem luxo, mas com uma útil e bem equipada sala de massagens. Nas traseiras, um grande quintal e uma horta para quem quisesse praticar a agricultura.
Fotografias do Lar do Jogador do FC Porto com José Pedroto nas duas
Na primeira vê-se Pedroto (de pé) entre colegas jogadores. Do seu lado direito, José Maria. Reconhecem-se Gastão (o primeiro da esquerda) e Hernâni (o último).
Na segunda foto, Pedroto em fato de treino bem bonito, por sinal.
10 Set.1955 – Surpresa e angústia nas hostes portistas: Yustrich afastou do plantel Porcel e Ângelo Carvalho. Eram figuras gratas dos adeptos, por isso a medida foi recebida com desgosto e alguma apreensão. As dispensas não ficariam por aqui…
Mas, entretanto, chegou Jaburu que vinha rotulado de grande craque. O “flecha negra” era um desejo de Yustrich; ele próprio o tinha lançado na alta-roda do futebol brasileiro. Por quê alcunha Jaburu? O pujante jogador explicou: “Jaburu é um pássaro sorumbático, todo branco e com cabeça e bico negros. Um bico compridíssimo. É uma ave que se move com atitudes descontraídas e um tanto melancolicamente – como eu...”
Jaburu, o ““flecha negra”, não alinhou no primeiro jogo do Campeonato, com o Sporting da Covilhã. Contudo esteve presente, viu o encontro e logo se mostrou impressionado com a dureza do campo. Atrasos na documentação obrigaram a que se estreasse na jornada seguinte, nas Antas. E uma multidão esteve lá para o ver…
Plantel da época 1955/1956
Em cima, a partir da esquerda – Pinho, Virgílio, Monteiro da Costa, Miguel Arcanjo, José Valle, Sá Pereira, José Maria, Jaburu, António Gonçalves, Acúrcio e o treinador Yustrich; em baixo, também da esquerda para a direita – Romeu, Pedroto, Hernâni, Fernando Perdigão, Eleutério, Gastão, António Teixeira, Carlos Duarte e Osvaldo Cambalacho.
O “comboio” para o sucesso…
Da esquerda para a direita: Yustrich, Pinho, Acúrcio, Jaburu, António Gonçalves, José Maria, Sá Pereira, José Valle, Monteiro da Costa, Miguel Arcanjo, Virgílio, Osvaldo Cambalacho, António Teixeira, Eleutério, Gastão, Carlos Duarte, Fernando Perdigão, Hernâni, Pedroto e Romeu.
18 Set.1955 – 1.ª jornada: no arranque do Campeonato o FC Porto empatou com o Sp. Covilhã, na Guarda, por estar interdito a campo dos “leões da serra”. Entre os adversários que se perfilavam como mais poderosos o Sporting empatou com a Cuf (0-0), o Benfica venceu em Braga (3-2) e o Belenenses bateu a Académica (3-1).
Sp Covilhã 2 – FC Porto 2
Estádio Municipal (Guarda)
Árbitro: Evaristo Silva (Leiria)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; José Valle e Monteiro da Costa; Romeu, Gastão, António Teixeira, Perdigão e José Maria.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 0-1 António Teixeira (32’); 1-1 Pires (34’); 2-1 Suarez (46’); 2-2 Gastão (89’).
25 Set. – 2.ª jornada: manteve-se a tradição de o Belenenses não perder nas Antas. Mas o FC Porto ganhou uma certeza: Jaburu era mesmo craque! A multidão, que encheu o estádio para assistir à sua estreia, saiu muito satisfeita. Jaburu passava a ser a estrela do momento!
FC Porto 1 – Belenenses 1
Estádio das Antas (Porto)
Árbitro: Álvaro Rodrigues (Coimbra)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Perdigão.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 1-0 António Teixeira (37’); 1-1 Matateu (46’).
Era assim, à descarada… Hoje ainda é, com o disfarce dos túneis…
2 Out. – 3.ª jornada: o FC Porto “fabricou” no Barreiro uma goleada! Jaburu foi o grande obreiro da retumbante vitória marcando dois golos. Mas o árbitro, numa decisão que deixou todos estupefactos, expulsou o jogador brasileiro logo após o segundo tento aos 74 minutos. A FPF suspendeu Jaburu por dois jogos. A punição, de tão injusta que foi, suscitou o protesto legítimo de grande parte do país desportivo e de jornalistas de nomeada. A injustiça era assim, à descarada… Hoje ainda é, com o disfarce dos túneis…
CUF 0 – FC Porto 4
Campo de Santa Bárbara (Barreiro)
Árbitro: Hermínio Soares (Lisboa)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Perdigão.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 0-1 Jaburu (6’); 0-2 Hernâni (20’); 0-3 Pedroto (46’, gp); 0-4 Jaburu (74’).
Disciplina: Jaburu foi expulso aos 75 minutos.
9 Out. – 4.ª jornada: sem o concurso de Jaburu, o FC Porto conquistou a primeira vitória em “casa”, perante os seus adeptos.
FC Porto 2 – Torreense 0
Estádio das Antas (Porto)
Árbitro: Eduardo Gouveia (Lisboa)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, José Maria, António Teixeira e Perdigão.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 1-0 Perdigão (48’); 2-0 António Teixeira (79’).
16 Out. – 5.ª jornada: Jaburu cumpria o segundo e último jogo de suspensão e fazia falta à equipa. O Porto não foi além de um empate em Setúbal. Na jornada, a grande surpresa foi protagonizada pelo Lusitano de Évora que também arrancou um empate na Luz (1-1). Benfica com 8 pontos, FC Porto 7, Torreense 7, Sp Covilhã 7, Belenenses e Sporting com 6, ocupavam os primeiros lugares na classificação do Campeonato Nacional.
Vitória de Setúbal 1 – FC Porto 1
Campo dos Arcos (Setúbal)
Árbitro: Paulo de Oliveira (Santarém)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, António Teixeira, Perdigão e José Maria.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 1-0 Rosário (5’); 1-1 Perdigão (32’).
A partida de um ídolo!
20 Out. – Não sendo utilizado por Yustrich, Barrigana comunicou à Direcção do FC Porto a sua intenção de sair do clube. Acto contínuo foi impedido de treinar pelo “Homão” e colocado na lista de transferências. Uma semana depois Barrigana ingressava no Salgueiros.
Partiu um ídolo dos adeptos portistas, um guarda-redes que fez escola. Pena não ter ficado mais um ano na equipa do FC Porto – seria Campeão! Bem o merecia.
23 Out. – 6.ª jornada: Jaburu regressou e a mostrar porque fazia falta na equipa: jogou que se fartou, “facturou” dois golos e construiu o resultado ante o Atlético, nas Antas. Yustrich, que sabia a pérola que tinha entre mãos, caracterizou-o, depois do jogo, de uma forma que ficaria célebre: “Jaburu tem o futebol dentro dele como Stradivarius tinha a música quando construiu os seus famosos violinos. E nada mais é preciso acrescentar...”.
FC Porto 2 – Atlético 0
Estádio das Antas (Porto)
Árbitro: Curinha de Sousa (Portalegre)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, Perdigão e José Maria.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 1-0 Jaburu (20’); 2-0 Jaburu (30’).
30 Out. – 7.ª jornada: jogando em Famalicão, o FC Porto já aos 34 minutos vencia por 4 golos sem resposta do Braga. Jaburu apontou o primeiro, logo aos 22 segundos (!), sendo seguramente um dos mais madrugadores golos de sempre no Campeonato Nacional.
SC Braga 1 – FC Porto 5
Estádio Municipal (Famalicão)
Árbitro: Jaime Pires (Lisboa)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Perdigão.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 0-1 Jaburu (22 segundos); 0-2 Gastão (15’); 0-3 Perdigão (19’ gp); 0-4 António Teixeira (34’); 0-5 Hernâni (62’); 1-5 Passos (79’).
Nota: as equipas terminaram o jogo com 10 elementos cada, visto que Garófalo (SC Braga) e António Teixeira (FC Porto) se lesionaram.
A liderança no Campeonato!
6 Nov. – 8.ª jornada: no primeiro grande derby, nas Antas, o FC Porto venceu o Benfica por 3-0. Os da Luz perderam com dois "frangos" monumentais de Costa Pereira. Boa exibição da equipa da casa que prometia lutar pelo título. O FC Porto assumiu a liderança do Campeonato, com 13 pontos, mais um do que o Benfica, mais três do que Belenenses e Sporting.
13 Nov. – 9.ª jornada: irresistível, o FC Porto passou incólume no Barreiro.
Barreirense 1 – FC Porto 4
Campo D. Manuel de Mello (Barreiro)
Árbitro: Alfredo Louro (Lisboa)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Perdigão.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 0-1 Jaburu (24’); 0-2 Hernâni (27’); 0-3 Perdigão (?); 1-3 Correia (51’); 1-4 Hernâni (85’).
27 Nov. – 10.ª jornada: goleada nas Antas com Jaburu a fazer bis.
FC Porto 5 – Caldas 0
Estádio das Antas (Porto)
Árbitro: Eduardo das Neves (Viseu)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; José Maria, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Perdigão.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 1-0 Perdigão (20’); 2-0 Jaburu (22’); 3-0 José Maria (62’); 4-0 Jaburu (89’); 5-0 Pedroto (90’).
4 Dez. – 11.ª jornada: mais uma vitória fora de portas e mais um bis, desta feita de José Maria. O FC Porto ia de vento em popa e aumentava a sua vantagem sobre o Benfica que consentiu um empate ao Torreense. Mas o resultado do jogo na Luz deveria ter sido diferente: Álvaro Rodrigues, árbitro de Coimbra, assinalou uma grande penalidade inexistente contra a equipa de Torres Vedras, que José Águas transformou colocando o resultado em 2-2…
O FC Porto ficou com dois pontos de vantagem sobre a equipa da capital.
Lusitano de Évora 0 – FC Porto 3
Campo da Estela (Évora)
Árbitro: António Calheiros (Lisboa)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, Perdigão e José Maria.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 0-1 José Maria (46’); 0-2 Perdigão (65’); 0-3 José Maria (79’).
FPF adia, arbitrariamente, um jogo com o Sporting…
7 Dez. – Em Madrid foi organizado um encontro de futebol, a favor das vítimas da guerra civil, entre as selecções madrilena e lisboeta. A selecção da capital espanhola venceu por 5-2. 800 mil pesetas rendeu a iniciativa.
Entretanto, foco de nevoeiro no aeroporto de Barajas (Madrid) reteve os portugueses durante 48 horas. O Sporting tinha entre os elementos da selecção de Lisboa o seu melhor jogador, José Travassos. O FC Porto ia defrontar os “leões” no domingo imediato, em jogo a contar para o Campeonato Nacional. A FPF (Federação Portuguesa de Futebol) resolveu, arbitrariamente, adiar o encontro. A Direcção portista contestou a decisão sugerindo que os sportinguistas deveriam jogar com a equipa disponível, porque o FC Porto nada tinha a ver com o que acontecera à selecção de Lisboa. E, por isso, em sinal de protesto todo o elenco directivo do FC Porto se demitiu.
O despotismo de Lisboa
"O quero, posso e mando" vigente na capital manifestava-se omnipresente. Tendo-se insurgido contra o adiamento do jogo com o Sporting, o presidente do FC Porto, Cesário Bonito, foi irradiado pela FPF que suspendeu outros seis membros da direcção portista por três anos. Foi um escândalo que ultrapassou fronteiras. A Federação acabaria por revogar a irradiação alguns meses depois… Sem mais comentários!
1 Jan.1956 – 12.ª jornada: o FC Porto não jogou com o Sporting na data que o calendário mandava… por decisão prepotente da FPF. No início do ano de 1956 o jogo fez-se e a equipa portista derrotou os sportinguistas dando mais um importante passo no caminho para o ambicionado título de Campeão. Na baliza dos azuis-e-brancos, no lugar de Pinho, estreou-se Acúrsio. Uma estreia auspiciosa para o moçambicano que também jogava hóquei em patins com o mesmo brilho e o mesmo apego que no futebol.
Momento do FC Porto – Sporting, no Estádio das Antas
Pode ver-se Hernâni, ao centro da imagem. Os outros jogadores do FC Porto parecem ser José Maria e Monteiro da Costa.
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto
Capítulo 6: 1951 a 1960 – Contestação a Lisboa; a “dobradinha” (Parte XXII)
Época 1955-1956
4 Jul.1955 – A chegada de um Campeão!
O desempenho competitivo medíocre (5.º lugar no Campeonato e a eliminação nos oitavos-de-final da Taça de Portugal, nas Antas) ditou o afastamento do técnico Fernando Vaz no fim da época 54-55 e a chegada de um treinador que haveria de ser… Campeão!
O brasileiro Dorival Knipel, mais conhecido por Yustrich, arribou ao Porto a 4 de Julho de 1955 com um contrato fabuloso: 150 contos de luvas, 15 contos de ordenado mensal e a garantia de um prémio especial de 100 contos, se se sagrasse campeão!
Vindo de Minas Gerais, chegou com a missão de revolucionar o futebol portista e com a intenção de devolver ao FC Porto a glória perdida. Antes de treinador, havia sido um dos mais credenciados guarda-redes do Brasil e vendedor de automóveis. Como era seu timbre, Yustrich impôs no Porto disciplina férrea e estágios antes dos jogos. Já com a época a decorrer decidiu afastar três jogadores considerados dos mais importantes no FC Porto: Barrigana, Ângelo Carvalho e o argentino Porcel. Por ousarem questionar os seus métodos!
O trabalho de Yustrich vingou, os resultados apareceriam. “Homão” chegou, viu e venceu!
Felizes inovações de Yustrich
• Ago.1955 – Nas camisolas do FC Porto nem sempre era colocado o símbolo (emblema). Pois bem, Yustrich exigiu que passasse a sê-lo. Assim, por mérito do treinador brasileiro, o sagrado emblema do FC Porto jamais deixou de ser ostentado na camisola azul-e-branca, no lado esquerdo, bem junto ao coração dos atletas.
• Lar do jogador – Foi criado por Yustrich, quando chegou ao Porto, com o apoio do Presidente Cesário Bonito e inauguração em 21 de Setembro de 1955, no Bonfim. Ali passaram a viver, a tempo inteiro, todos os solteiros do plantel e, quando em estágio, os casados também. Era uma residência sem luxo, mas com uma útil e bem equipada sala de massagens. Nas traseiras, um grande quintal e uma horta para quem quisesse praticar a agricultura.
Fotografias do Lar do Jogador do FC Porto com José Pedroto nas duas
Na primeira vê-se Pedroto (de pé) entre colegas jogadores. Do seu lado direito, José Maria. Reconhecem-se Gastão (o primeiro da esquerda) e Hernâni (o último).
Na segunda foto, Pedroto em fato de treino bem bonito, por sinal.
10 Set.1955 – Surpresa e angústia nas hostes portistas: Yustrich afastou do plantel Porcel e Ângelo Carvalho. Eram figuras gratas dos adeptos, por isso a medida foi recebida com desgosto e alguma apreensão. As dispensas não ficariam por aqui…
Mas, entretanto, chegou Jaburu que vinha rotulado de grande craque. O “flecha negra” era um desejo de Yustrich; ele próprio o tinha lançado na alta-roda do futebol brasileiro. Por quê alcunha Jaburu? O pujante jogador explicou: “Jaburu é um pássaro sorumbático, todo branco e com cabeça e bico negros. Um bico compridíssimo. É uma ave que se move com atitudes descontraídas e um tanto melancolicamente – como eu...”
Jaburu, o ““flecha negra”, não alinhou no primeiro jogo do Campeonato, com o Sporting da Covilhã. Contudo esteve presente, viu o encontro e logo se mostrou impressionado com a dureza do campo. Atrasos na documentação obrigaram a que se estreasse na jornada seguinte, nas Antas. E uma multidão esteve lá para o ver…
Plantel da época 1955/1956
Em cima, a partir da esquerda – Pinho, Virgílio, Monteiro da Costa, Miguel Arcanjo, José Valle, Sá Pereira, José Maria, Jaburu, António Gonçalves, Acúrcio e o treinador Yustrich; em baixo, também da esquerda para a direita – Romeu, Pedroto, Hernâni, Fernando Perdigão, Eleutério, Gastão, António Teixeira, Carlos Duarte e Osvaldo Cambalacho.
O “comboio” para o sucesso…
Da esquerda para a direita: Yustrich, Pinho, Acúrcio, Jaburu, António Gonçalves, José Maria, Sá Pereira, José Valle, Monteiro da Costa, Miguel Arcanjo, Virgílio, Osvaldo Cambalacho, António Teixeira, Eleutério, Gastão, Carlos Duarte, Fernando Perdigão, Hernâni, Pedroto e Romeu.
18 Set.1955 – 1.ª jornada: no arranque do Campeonato o FC Porto empatou com o Sp. Covilhã, na Guarda, por estar interdito a campo dos “leões da serra”. Entre os adversários que se perfilavam como mais poderosos o Sporting empatou com a Cuf (0-0), o Benfica venceu em Braga (3-2) e o Belenenses bateu a Académica (3-1).
Sp Covilhã 2 – FC Porto 2
Estádio Municipal (Guarda)
Árbitro: Evaristo Silva (Leiria)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; José Valle e Monteiro da Costa; Romeu, Gastão, António Teixeira, Perdigão e José Maria.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 0-1 António Teixeira (32’); 1-1 Pires (34’); 2-1 Suarez (46’); 2-2 Gastão (89’).
25 Set. – 2.ª jornada: manteve-se a tradição de o Belenenses não perder nas Antas. Mas o FC Porto ganhou uma certeza: Jaburu era mesmo craque! A multidão, que encheu o estádio para assistir à sua estreia, saiu muito satisfeita. Jaburu passava a ser a estrela do momento!
FC Porto 1 – Belenenses 1
Estádio das Antas (Porto)
Árbitro: Álvaro Rodrigues (Coimbra)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Perdigão.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 1-0 António Teixeira (37’); 1-1 Matateu (46’).
Era assim, à descarada… Hoje ainda é, com o disfarce dos túneis…
2 Out. – 3.ª jornada: o FC Porto “fabricou” no Barreiro uma goleada! Jaburu foi o grande obreiro da retumbante vitória marcando dois golos. Mas o árbitro, numa decisão que deixou todos estupefactos, expulsou o jogador brasileiro logo após o segundo tento aos 74 minutos. A FPF suspendeu Jaburu por dois jogos. A punição, de tão injusta que foi, suscitou o protesto legítimo de grande parte do país desportivo e de jornalistas de nomeada. A injustiça era assim, à descarada… Hoje ainda é, com o disfarce dos túneis…
CUF 0 – FC Porto 4
Campo de Santa Bárbara (Barreiro)
Árbitro: Hermínio Soares (Lisboa)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Perdigão.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 0-1 Jaburu (6’); 0-2 Hernâni (20’); 0-3 Pedroto (46’, gp); 0-4 Jaburu (74’).
Disciplina: Jaburu foi expulso aos 75 minutos.
9 Out. – 4.ª jornada: sem o concurso de Jaburu, o FC Porto conquistou a primeira vitória em “casa”, perante os seus adeptos.
FC Porto 2 – Torreense 0
Estádio das Antas (Porto)
Árbitro: Eduardo Gouveia (Lisboa)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, José Maria, António Teixeira e Perdigão.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 1-0 Perdigão (48’); 2-0 António Teixeira (79’).
16 Out. – 5.ª jornada: Jaburu cumpria o segundo e último jogo de suspensão e fazia falta à equipa. O Porto não foi além de um empate em Setúbal. Na jornada, a grande surpresa foi protagonizada pelo Lusitano de Évora que também arrancou um empate na Luz (1-1). Benfica com 8 pontos, FC Porto 7, Torreense 7, Sp Covilhã 7, Belenenses e Sporting com 6, ocupavam os primeiros lugares na classificação do Campeonato Nacional.
Vitória de Setúbal 1 – FC Porto 1
Campo dos Arcos (Setúbal)
Árbitro: Paulo de Oliveira (Santarém)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, António Teixeira, Perdigão e José Maria.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 1-0 Rosário (5’); 1-1 Perdigão (32’).
A partida de um ídolo!
20 Out. – Não sendo utilizado por Yustrich, Barrigana comunicou à Direcção do FC Porto a sua intenção de sair do clube. Acto contínuo foi impedido de treinar pelo “Homão” e colocado na lista de transferências. Uma semana depois Barrigana ingressava no Salgueiros.
Partiu um ídolo dos adeptos portistas, um guarda-redes que fez escola. Pena não ter ficado mais um ano na equipa do FC Porto – seria Campeão! Bem o merecia.
23 Out. – 6.ª jornada: Jaburu regressou e a mostrar porque fazia falta na equipa: jogou que se fartou, “facturou” dois golos e construiu o resultado ante o Atlético, nas Antas. Yustrich, que sabia a pérola que tinha entre mãos, caracterizou-o, depois do jogo, de uma forma que ficaria célebre: “Jaburu tem o futebol dentro dele como Stradivarius tinha a música quando construiu os seus famosos violinos. E nada mais é preciso acrescentar...”.
FC Porto 2 – Atlético 0
Estádio das Antas (Porto)
Árbitro: Curinha de Sousa (Portalegre)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, Perdigão e José Maria.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 1-0 Jaburu (20’); 2-0 Jaburu (30’).
30 Out. – 7.ª jornada: jogando em Famalicão, o FC Porto já aos 34 minutos vencia por 4 golos sem resposta do Braga. Jaburu apontou o primeiro, logo aos 22 segundos (!), sendo seguramente um dos mais madrugadores golos de sempre no Campeonato Nacional.
SC Braga 1 – FC Porto 5
Estádio Municipal (Famalicão)
Árbitro: Jaime Pires (Lisboa)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Perdigão.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 0-1 Jaburu (22 segundos); 0-2 Gastão (15’); 0-3 Perdigão (19’ gp); 0-4 António Teixeira (34’); 0-5 Hernâni (62’); 1-5 Passos (79’).
Nota: as equipas terminaram o jogo com 10 elementos cada, visto que Garófalo (SC Braga) e António Teixeira (FC Porto) se lesionaram.
A liderança no Campeonato!
6 Nov. – 8.ª jornada: no primeiro grande derby, nas Antas, o FC Porto venceu o Benfica por 3-0. Os da Luz perderam com dois "frangos" monumentais de Costa Pereira. Boa exibição da equipa da casa que prometia lutar pelo título. O FC Porto assumiu a liderança do Campeonato, com 13 pontos, mais um do que o Benfica, mais três do que Belenenses e Sporting.
13 Nov. – 9.ª jornada: irresistível, o FC Porto passou incólume no Barreiro.
Barreirense 1 – FC Porto 4
Campo D. Manuel de Mello (Barreiro)
Árbitro: Alfredo Louro (Lisboa)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Perdigão.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 0-1 Jaburu (24’); 0-2 Hernâni (27’); 0-3 Perdigão (?); 1-3 Correia (51’); 1-4 Hernâni (85’).
27 Nov. – 10.ª jornada: goleada nas Antas com Jaburu a fazer bis.
FC Porto 5 – Caldas 0
Estádio das Antas (Porto)
Árbitro: Eduardo das Neves (Viseu)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; José Maria, Gastão, Jaburu, António Teixeira e Perdigão.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 1-0 Perdigão (20’); 2-0 Jaburu (22’); 3-0 José Maria (62’); 4-0 Jaburu (89’); 5-0 Pedroto (90’).
4 Dez. – 11.ª jornada: mais uma vitória fora de portas e mais um bis, desta feita de José Maria. O FC Porto ia de vento em popa e aumentava a sua vantagem sobre o Benfica que consentiu um empate ao Torreense. Mas o resultado do jogo na Luz deveria ter sido diferente: Álvaro Rodrigues, árbitro de Coimbra, assinalou uma grande penalidade inexistente contra a equipa de Torres Vedras, que José Águas transformou colocando o resultado em 2-2…
O FC Porto ficou com dois pontos de vantagem sobre a equipa da capital.
Lusitano de Évora 0 – FC Porto 3
Campo da Estela (Évora)
Árbitro: António Calheiros (Lisboa)
FCP – Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho e Pedroto; Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Gastão, Jaburu, Perdigão e José Maria.
Treinador: Yustrich (brasileiro)
Marcadores: 0-1 José Maria (46’); 0-2 Perdigão (65’); 0-3 José Maria (79’).
FPF adia, arbitrariamente, um jogo com o Sporting…
7 Dez. – Em Madrid foi organizado um encontro de futebol, a favor das vítimas da guerra civil, entre as selecções madrilena e lisboeta. A selecção da capital espanhola venceu por 5-2. 800 mil pesetas rendeu a iniciativa.
Entretanto, foco de nevoeiro no aeroporto de Barajas (Madrid) reteve os portugueses durante 48 horas. O Sporting tinha entre os elementos da selecção de Lisboa o seu melhor jogador, José Travassos. O FC Porto ia defrontar os “leões” no domingo imediato, em jogo a contar para o Campeonato Nacional. A FPF (Federação Portuguesa de Futebol) resolveu, arbitrariamente, adiar o encontro. A Direcção portista contestou a decisão sugerindo que os sportinguistas deveriam jogar com a equipa disponível, porque o FC Porto nada tinha a ver com o que acontecera à selecção de Lisboa. E, por isso, em sinal de protesto todo o elenco directivo do FC Porto se demitiu.
O despotismo de Lisboa
"O quero, posso e mando" vigente na capital manifestava-se omnipresente. Tendo-se insurgido contra o adiamento do jogo com o Sporting, o presidente do FC Porto, Cesário Bonito, foi irradiado pela FPF que suspendeu outros seis membros da direcção portista por três anos. Foi um escândalo que ultrapassou fronteiras. A Federação acabaria por revogar a irradiação alguns meses depois… Sem mais comentários!
1 Jan.1956 – 12.ª jornada: o FC Porto não jogou com o Sporting na data que o calendário mandava… por decisão prepotente da FPF. No início do ano de 1956 o jogo fez-se e a equipa portista derrotou os sportinguistas dando mais um importante passo no caminho para o ambicionado título de Campeão. Na baliza dos azuis-e-brancos, no lugar de Pinho, estreou-se Acúrsio. Uma estreia auspiciosa para o moçambicano que também jogava hóquei em patins com o mesmo brilho e o mesmo apego que no futebol.
Momento do FC Porto – Sporting, no Estádio das Antas
Pode ver-se Hernâni, ao centro da imagem. Os outros jogadores do FC Porto parecem ser José Maria e Monteiro da Costa.
- No próximo post.: Capítulo 6, 1951 a 1960 – Contestação a Lisboa; a “dobradinha” (Parte XXIII) – Época 1955-56 (continuação); Campeonato Nacional (continuação); o título após 16 anos e a festa do FC Porto nas Antas!
Isto agora começa a aquecer mais... Está-se a chegar a um período que nosa toca, pois, apesar de não termos memória pessoal verdadeira, era do que ouvíamos falar em pequenos, quando eramos catraios... e depois fomos aprofundando em leituras e interesse. Vamos a mais!
ResponderEliminarYustrich: O 1º treinador a fazer a dobradinha no nosso clube!
ResponderEliminarAbraço!
Atenção, caros leitores:
ResponderEliminarAlejandro Scopelli, treinador do Sporting à 12.ª jornada, que já havia treinado o FC Porto, obviamente que não era italiano mas sim ARGENTINO.
O quadro do jogo será corrigido. As minhas desculpas.
Fernando Moreira (Dragão Azul Forte)
Muito bom, sempre fui FC Porto, mas nos últimos 4 meses tenho me aprofundado em conhecer a história do Dragão assim como conheço a história do Vasco da Gama. #SomosPorto
ResponderEliminar(João Pessoa/Paraíba)