Carta Aberta ao Mister Paulo Fonseca

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Caro Mister Paulo Fonseca,

Presumo que não seja fácil deixar para trás o Paços de Ferreira e assumir as rédeas do FC Porto. Do FC Porto que é, “apenas e só”, tri-campeão nacional. Compreendo a inexperiência óbvia nestas andanças de ter que jogar sempre para ganhar, em ataque continuado, contra autocarros, seja em Portugal, seja por essa Europa fora. Mas essa é a história do FC Porto e é com ela que jogamos. Com esse peso, com essa mística, com esse – como no cântico – orgulho de tripeiro e raça de Dragão.

Estamos no início de Novembro e, não estando pelas ruas da amargura, também não se pode dizer que estamos felizes da vida. Isto é o FC Porto e aqui somos exigentes, queremos sempre mais, não nos contentamos com o que os outros normalmente se glorificam. Não achamos normal perder em casa contra o Atlético, não gostamos de ir ao Sul jogar mal e porcamente (Estoril e Belém) e não achamos um bom resultado ir empatar a São Petersburgo. Pode achar, Mister, que estamos mal habituados. É verdade e não o nego. Mas isto é o FC Porto e o Presidente colocou o nosso clube no topo à custa de uma exigência máxima.

Por isso, Mister, nada de queixinhas e vamos ao trabalho duro! Os portistas confiam em si, sabem o que vale, sabem que o que conseguiu em Paços de Ferreira só está ao alcance dos predestinados, sabem que é capaz de mais e de melhor. Mas há coisas que não nos entram na cabeça e que começam a moer-nos o juízo, Mister. O que leio aqui e ali vai mais ou menos aqui resumido.

1 – O que raio se passa com o Alex Sandro? É bolas perdidas, fintas em zonas proibidas, desatenções... Um lateral tem que defender, primeiro que tudo, e só depois, em segurança, sair para o ataque. Não devem ter ensinado estas prioridades ao Alex, que está sempre a ter bolas metidas nas suas costas. O rapaz que acorde, Mister, caso contrário: banco durante uns tempos, que o Quino dará conta do recado;

2 – Quanto ao Otamendi e Mangala, Mister, proponho uma ideia: chamar o Jorge Costa e o Aloísio para lhes berrarem aos ouvidos que um central não está lá para fintar nem para sair a jogar com estilo e com classe. Um central está em campo para VARRER e para CORTAR bolas. Tudo o resto são mariquices ao estilo catalão. Se os dois centrais andam desatentos por estarem preocupados com uma transferência para Manchester, então há ainda outra solução: Maicon e Reyes;

3 – Nós até percebemos a tal mudança para o 2-1, Mister. Está na moda, na Europa agora joga-se assim, o Borussia joga assim, dá mais profundidade, etc etc etc. Mas por favor acabe com isso. Quando se tem um jogador como o “Polvo”, um homem basta naquela zona do terreno. O Prof. Jesualdo percebeu isso. O Villas Boas idem. O Vítor Pereira idem idem. O Mourinho, com o Costinha, fez a mesma coisa. Não mexa no que está bem, Mister, vá lá! Quando o Fernando sair, depois vê-se o que se faz. Até lá, o Polvo no seu aquário!;

4 – Temos os nossos extremos permanentemente a afunilar, Mister. Esse facto, somado à táctica de 2-1, faz com que a equipa sinta enormes dificuldades a sair a jogar com bola no chão. A opção é óbvia: pontapé para a frente e fé no Jackson. O colombiano torna-se presa fácil para os centrais adversários que, de frente, ganham invariavelmente os duelos aéreos. Só que depois a equipa está partida, muito distante entre os sectores, com o bloco muito esticado. Raras vezes ganhamos estas segundas bolas. Ou é o Lucho que está demasiado lá à frente junto do Jackson, ou é o Fernando e o Défour que estão demasiado atrás. Entre os dois sectores, um deserto, uma green-zone sem ninguém. Porque não adiantar um pouco o Défour ou o Herrera ou seja lá quem for? Experimente, Mister! O bloco ficava mais coeso e a equipa pressionaria com maior eficiência e qualidade.

5 – É notório que a saída de Moutinho originou um futebol mais preso e emperrado. O Défour está longe de conseguir dar à equipa a nota de classe e de criatividade que o português conferia. O Fernando também não é homem para essas aventuras, como sabemos. Porque não baixar o Lucho, desterrado para perto do Jackson, para a zona de construção? Porque não dar ao argentino a batuta da equipa? Em vez de vermos Lucho a desgastar-se a pressionar centrais adversários, víamos o nosso Capitão a correr com bola, a encontrar espaços para criar e organizar o nosso futebol atacante, além de conferir uma maior segurança defensiva cá atrás... Porque não tentar?

6 – O que se passa com o Jackson, Mister? Estará preocupado com a novela da renovação? É que realmente o rapaz sempre que abre a boca aos jornais é para falar nessa história, para dizer que por agora não sai, mas que depois logo se vê, que tem propostas disto e daquilo. Futebol, nem vê-lo. Se só serve para marcar ao Estoril e à Académica, tínhamos ficado com o Janko, que era grande e bom rapaz. É tempo do colombiano acordar e voltar a jogar como nos habituou. Ninguém desaprende assim de um ano para o outro, Mister! Insista com ele, chame-o à razão. Não faz é sentido termos um apático-adormecido durante 90 minutos em campo. Porque não fazer entrar Ghillas mais cedo para o lugar do Jackson? Uma simples troca por troca! O Jackson ficava picado e dávamos minutos ao Ghillas, que bem precisa. Já agora, Mister, meter o rapaz sempre aos 85 minutos já parece mal...

7 – Estamos em Novembro e ainda não temos um onze ideal ou estável. A rotatividade é uma boa ideia quando já se tem processos e uma táctica bem oleada, estruturada e fiável. No nosso caso, que não temos nada disso e às vezes parece que joga cada um para seu lado, é suicídio e só serve para queimar jogadores. Umas vezes é o Defóur, outras vezes o Herrera. O Josué ora entra, ora sai da equipa. O Licá começou a titular e agora está no banco. Umas vezes o Varela, outras o Ricardo. É tempo de assumir opções e dar-lhes continuidade, Mister. A época é longa, vão haver lesões, castigos, todos vão ser chamados a jogo. Tentar dar minutos a todos, gregos e troianos, é que não.

8 – É notório que precisamos de velocidade nas alas, Mister. Os nossos laterais não apenas têm de ser defesas como têm que ser os ÚNICOS a ir à linha cruzar. Outra das razões, aliás, para termos a casa a arder tantas vezes lá atrás. Porque não retirar Josué da ala, onde não é explosivo, e pô-lo a render no miolo do terreno onde realmente faz a diferença fruto da sua capacidade de passe? Não se trata de substituir o Moutinho, nem de encontrar alguém semelhante. Trata-se de pôr o atleta a jogar onde ele mais rende! E depois, na linha, colocar-se-ia alguém mais vertical e com mais “golo”. Licá? Ricardo? E porque não Kelvin, que põe a bola no chão, parte para cima e acrescentaria magia e criatividade ao nosso futebol cinzentão? Um caso a pensar!

9 – O Herrera teve três oportunidades para se mostrar: Zenit, Sporting e Belenenses. Pode-se dizer, sem temor, que não correspondeu. Nada de grave, trata-se de um mexicano que só agora chegou ao futebol europeu. Tem muito tempo para crescer e para treinar (importante!) o passe, o seu maior defeito. Aposte em Josué no meio, Mister!

10 – A equipa parece obcecada com o golo, Mister! Diga-lhes que os jogos tanto se ganham ao minuto 1 como ao minuto 92, pois parece que eles já se esqueceram. A ânsia de ir para a frente a todo o gás é tanta que se verticaliza em demasia o jogo e se deixa a casa exposta cá atrás. Como se já entrássemos em campo a perder por 1x0. Está-se a diluir a boa herança de posse de bola de Vítor Pereira, Mister. E isso não é bom, visto que é melhor ter a bola do nosso lado que do outro. Atacar à maluco, sempre em carrossel e em apoios é típico de outros locais mais a Sul e não tem dado bons resultados. Vamos construir o nosso edifício desde a defesa, como mandam as boas regras, Mister!

11 – Se falta magia e criatividade, Mister, repito: chame o Kelvin! Há quem tenha pesadelos com ele à noite. E além disso o miúdo tem pés que se farta!

12 – Não demore tanto tempo a fazer substituições, Mister! É enervante! Na Rússia era notório que se estava a perder o meio-campo e ninguém entrava para dar raça e vigor nas disputas! Fomos perdendo o controlo do jogo aos poucos e poucos, à medida que o cansaço se acumulava. Temos direito a três substituições e quem está no banco está lá para entrar. Substitua, Mister!

13 – Nada de tremer. Somos PORTO, continuamos invictos no Campeonato, somos a melhor equipa, temos os melhores jogadores e, acredito, o melhor treinador, Mister. Na Champions, apesar de difícil, está tudo em aberto. Não nos desiluda, Mister! Cada jogo é uma batalha. Cada 90 minutos, é para deixar a pele em campo. Diga isso aos rapazes, que eles às vezes parece que se esquecem do que é feita essa camisola!

14 – Vamos lá ganhar a Guimarães, Mister! Confiamos em si! Temos FÉ no FC Porto e no TETRA!

Um forte abraço,

Rodrigo de Almada Martins