12 janeiro, 2014

Os custos de financiamento do Grupo FC Porto

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Quando se fala em custos e na necessidade da sua redução, pensa-se imediatamente nos custos com o pessoal, nos salários excessivos (há quem defenda um tecto salarial e/ou diminuição de jogadores sob contrato), o que faz todo o sentido na medida em que este tipo de gastos representa geralmente cerca de 50% dos gastos globais (em números redondos, 50 M€ de despesas com o pessoal, em 100 M€ de custos totais).

No entanto, há uma parcela da conta de resultados por naturezas que vai tendo cada vez mais um peso muito significativo, isto porque não pára de subir o seu percentual, aproximadamente 15%, no conjunto das componentes negativas do resultado do exercício. Refiro-me concretamente aos gastos com juros e outras despesas financeiras suportadas.

Com a apresentação pela primeira vez no último ano das contas consolidadas do FCP (note-se do Clube, porque a SAD já consolida desde o seu início), é agora possível ter uma visão completa do panorama dos custos de financiamento do Clube no seu total (anteriormente, os juros suportados com o “project finance” do Estádio do Dragão não eram conhecidos porque estavam contabilizados na EUROANTAS, uma sociedade detida pelo Clube e cujas contas individuais não eram discriminadas). Note-se que me estou a referir aos custos de financiamento “normais”, isto é, aos suportados no tradicional mercado bancário (empréstimos bancários e obrigacionistas). Saliento este, aspecto porque existem outros custos de financiamento associados à aquisição de passes de jogadores, e que são de muito difícil quantificação, que se traduzem na celebração de contratos de associação de interesses económicos, com os vulgarmente chamados fundos de investimento de jogadores, sob o argumento de partilha de riscos, mas que na realidade, não passam de financiamento encapotado aos clubes sem liquidez. Com uma agravante: enquanto nos empréstimos bancários se prima pela transparência (são conhecidas as taxas de juro praticadas e os prazos), nos negócios com os fundos, pelo contrário, é tudo muito opaco (não são conhecidas as pessoas, nem as cláusulas contratuais), o que origina as mais variadas especulações, suspeições e, no limite, a difamação de pessoas ligadas ao clube (sobre fundos de investimento já escrevi o seguinte artigo: VER AQUI)

Posto isto, quais são, então, esses gastos e perdas de financiamento reconhecidos no decurso dos exercícios findos em 30 de Junho de 2013 e 2012 (para efeitos comparativos)?

Pois bem, são decompostos conforme se segue:

    (a) Respeita aos juros da diferença temporal entre a data da transacção de venda/compra dos direitos de inscrição desportiva de diversos jogadores e as datas de recebimento/pagamento acordadas contratualmente.
O que mais sobressai nesta apresentação, é o aumento de quase 2 M€ de 2012 para 2013 (subida de 15,4%), que se deve sobretudo ao encarecimento do crédito, porque o passivo financeiro remunerado se tem mantido estável (123.424.211 M€ em 2013, contra 120.844.373 M€ em 2012, ou seja, um pequeno aumento de 2,1%).

Por curiosidade, fui consultar ao relatório e contas consolidadas da SAD do clube do regime os dados equivalentes de gastos e perdas financeiras, sendo os seguintes os elementos aí constantes (há que ressalvar que estes números não são totalmente comparáveis, porque enquanto eles não consolidam com o clube e a SGPS, no caso do FC Porto, a consolidação abrange todo o seu universo, o que significa que no caso deles, os números totais serão ainda um pouco superiores):

Comparando com o FC Porto, constata-se que o cada vez mais clube do regime tem um encargo anual de 8 M€ superior, o que é deveras penalizante para eles. Por outro lado, a sua dívida financeira remunerada continua a subir: 278.424.678 M€ em 2013, contra 268.628.999 M € em 2012, e a tendência é continuar a subir.

Contraditoriamente, não obstante esta subida da dívida, os seus encargos financeiros mantiveram-se constantes, o que quer dizer que a sua taxa média de financiamento deve ter baixado ligeiramente. E este é um ponto a seu favor, que devia merecer a atenção redobrada do administrador financeiro do FC Porto, e de que é um bom exemplo o último empréstimo obrigacionista público que ambos contraíram: enquanto o FC Porto fez a sua colocação a uma taxa de juro de 8,25%, eles obtiveram uma taxa de juro muito mais favorável, no caso 7,25%. Para os mais desatentos ou menos informados, este facto pode parecer despiciendo. Mas não é. Primeiro, porque uma diferença de 1% na taxa de juro num empréstimo de 30 M€ (caso do FC Porto), significa 300.000 € anuais a mais que se está a pagar. É dinheiro. Segundo, porque sendo um empréstimo público, a taxa de juro reflecte a percepção que o mercado tem do risco do devedor (maior o risco, maior a taxa de juro). Ora, concretamente neste caso, o que o mercado está a dizer é que é mais arriscado investir no FC Porto do que no regime. O que, olhando para a situação financeira de ambos (e também para a sua situação desportiva, porque é interdependente da situação financeira e vice-versa), parece-me um erro.

Resumindo e concluindo, e não querendo ser injusto, acho que o administrador financeiro do FC Porto, Angelino Ferreira, tem muito trabalho de casa para fazer nesta área.


nota: o blog BPc agradece ao JCHS a elaboração deste artigo.

1 comentário:

  1. Caros amigos
    Texto muito oportuno da parte de alguém que, já em Julho do ano passado, colocou outras interessantes questões.
    Parece-me que os clubes estão a caminhar para um fim sem regresso e, pior, ninguém (leia-se: os nossos colegas e/ou adeptos) se preocupa com isso.
    Num blogue onde colaboro tenho abordado diversas vezes o tema mas a falta de respostas é desanimadora.
    Para alguns só querem saber de vitórias, a viabilidade da Sad (melhor dizendo: do clube) não lhes interessa minimamente.
    Abraço para os dois

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