14 novembro, 2016

A DESFERNANDIZAÇÃO DE NÓS.


Sempre foi um homem arrebatado, apaixonado e de emoções e lágrimas e poesias à flor da pele. Desde logo, desde sempre, pelas causas, pelo seu clube e pela cidade onde um dia de Dezembro (ditoso que foi!) nasceu, com uma intensidade digna das mais incríveis lendas, fantasias e odisseias, com um fogo próprio das mais belas histórias de amor, chegando a empalidecer os mitos de Tristão e Isolda, Romeu e Julieta ou mesmo de Cristiano e Irina, num ardor e numa abundância e veemência tal que nos pôs -- contra a vontade e inveja de muitos -- em todos os mapas e planisférios do futebol, esse desporto que tão mal tratado e nojificado, acolinizado e voucherizado é neste país. Não espantaria pois que, a jusante, viesse também a arrastar, a arrastar forte e frequente e profusamente a sua imensa e azul asa de Dragão por muitas e seguramente maravilhosas e lendárias criaturas que foram surgindo no seu caminho de forma mais ou menos ortodoxa, mais ou menos… calorosa, de dia, de tarde ou de noite.

Elas foram as incógnitas, as disfarçadas, as platónicas, as assolapadas, as declaradas, as tórridas. E também as Manuelas, Filomenas, Marias, Carolinas, Lizas. Até que… a Fernanda. A Nandinha, como era carinhosa e desveladamente apodada pela Nação Portista. Apenas 48 anos mais jovem que o seu príncipe garboso, tive esperanças que com ela fosse a valer e para sempre. Que o amor puro e desinteressado e de mil suspiros vencesse. Mas não. Acabou o idílico romance que tantos fez sonhar e editar manchetes. Com isso, as soirées, as vernissages, os eventos vários, os fatos Chanel ou Valentino e as jóias de griffe. E a conta no Instagram! Quem vai agora defender o Presidente quando alguém e a sua namorada ousar pensar em beliscar o trono repimpado? Promover as pazes e as beijocas com o filho pária e desavindo sempre que este amua, parte coisas ou perde uma comissão? Uma perda irreparável. Uma terrível sensação de orfandade nos assola e trespassa durante três, quatro segundos quase inteiros.

Lamento pela Nandinha. Foi uma mulher sem sorte e quis dedicar-lhe este texto, numa iniciativa acho que única a nível mundial. Não sendo já suficiente a dor de ter sido trocada, foi trocada por uma mulher mais velha, o que passa a dor para níveis julgo que estratosféricos! Porta dos fundos aberta, sai sem honra e sem glória e com pouco ou nada ter angariado desde 2012, ano em que começa o seu casamento e termina o nosso reinado e estado de graça ou quase-de-graça. Frequentemente, vox populi, o seu nome é apontado como a razão da Maldição em que nos encontramos, a causa de todas as nossas maleitas e mal de todos os nossos pecados. Com ela ao lado do Presidente não tivemos os títulos e as honrarias a que estávamos habituados. Com ela acabaram-se os mimos todos. Todos.


Ao contrário da Reverendíssima Senhora Dona Carolina Salgado. Oh, essa sim! Recordámo-la invariavelmente com gratidão, olhos lacrimejantezinhos e plenos de nostalgia. Com ela como rainha-con(sorte) ganhámos tudo o que havia para ganhar. Uma sucessão de troféus aquém- e além-fronteiras. Sempre exibiu orgulho por essa façanha (isso nos intervalos dos livros, dos realities, das reuniões inúmeras que a dada altura pós-período áureo manteve com exemplares de gado bovino que lhe surgiam nas pastagens por si frequentadas). Foram anos dourados e ela era como que um talismã santificado que até ao Vaticano foi, levada para beijar o Papa. Em toda a sua imperial majestade.

Sim, eu sei que tudo são recordações e dá-me quase vontade de cantar, não fosse estar triste e apoquentada pela Nandinha que de olhos vermelhos e inchados agora sai à rua e apenas para passear o cão. Ruíram os seus sonhos praticamente todos e até os de amor. Mas não há como negar: a par da tristeza incontornável do processo de desfernandização que por estes dias vivemos, surge inesperado, levezinho, aconchegante, crepitante, um outro sentimento… a Esperança. A fé de fim de ciclo. O fim da Maldição. Do jejum prolongado. Ventos e brisas novas, renovações… o começar do zero. Uma nova paixão do Presidente é anunciada. A Primavera que vai estar no ar. Virão rosas na nossa direcção?

A modos que estamos todos expectantes. O frisson é indisfarçável. O que nos espera com a nossa nova rainha, a mulher que vai dormir e comer e dançar e passear e declamar poesia com o Presidente e, como tal, que tudo vai saber sobre ele e, cumulativamente, grande influência e importância terá para o seu bem-estar, qualidade de vida, paz de alma? Tudo isso se repercutirá e reflectirá no dia-a-dia do nosso clube e nas decisões que venham a ser tomadas. Disso não tenho a menor dúvida. Dela dependerão o nosso presente e o nosso futuro. Os jogadores, os treinadores, os directores de SAD, os escolhidos nas Galas dos Dragões de Ouro, os próprios aliados.

Pelo sim e pelo não, jogava pelo seguro e sugeria desde já que a levássemos ao Vaticano. Não para a ainda precoce beatificação, mas para receber a benção papal. Deus sabe como carentes e necessitados andamos de vitórias, pelo que toda a ajuda conta!

E por falar em ajudas… em dias recentes o Spor Lisbôa e Voucherzitos veio ao Dragão e, mesmo coadjuvado e amparadinho, voltou a desiludir. Por um lado quando empatou fortuitamente e por (h)erro nosso o jogo; por outro, por não ter mostrado aos adeptos azuis e brancos, todo o seu potentado, a máquina de jogar futebol que tem sido, em especial nos últimos três anos das nossas vidas, varrendo tudo e categoricamente a ponto de já grunhirem e clamarem pelo tretacampeonato em nome do seu santo apanteonado. Um estádio cheio para os receber saiu defraudado. Olhos murchos.

Cá em nossa casa, com o aprozacado treinador a facilitar nos empates, nas substituições e no discurso, continuamos a ser os bobos da corte e os bombos da festa, existindo e respirando apenas via heterónimo já gasto e recauchutado do “Dragões Diário”. Até quando a permissividade e passividade na nossa SAD envelhecida e exausta? Toda esta imbecilidade? Os adeptos não gostam. Não acham o mínimo de piadinha e, convenhamos, estão a ficar algo… importunaditos e enfadaditos. Just saying. Alguns mostram-no amuando e opinando e disparando em casa, nos cafés, festas, escritórios ou redes sociais. Muitos sofrem para dentro, suspirando e limpando as lágrimas que caem. Já outros assobiam e invectivam treinador e equipa no relvado, como um pai que sabe que faz mal mas que mesmo assim castiga o filho que ama acima de tudo.

13 comentários:

  1. Coitada da Nandinha... ou melhor dizendo, a Fernandinha, pois não queremos confusões com a nossa grande Fernanda Ribeiro.

    Mas de quem eu gostava mesmo, era da Filomena. Com ela, PdC sempre teve stocks ilimitados de testosterona para gastar no FCP, com o exito (re)conhecido. A partir do momento em que a idade das consortes começou a descer, também a energia do presidente começou a esmorecer. Vá-se lá saber para onde...

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  2. Ciúmes? A fila é grande e ele ainda está aí para as curvas.

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  3. "A fé de fim de ciclo" - bastava isto. Mas o resto está muito bom.

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  4. Miss BlueBay
    A amiga tem a estranha qualidade de, sempre que aparece, atirar comigo de cangalhas. Os seus artigos são lufadas de ar fresco que enriquecem o blogue com tantas ironias escondidas. Ainda não percebi, e peço que acredite, se o seu nick esconde uma jornalista, uma prosadora, uma romancista, ou uma simples amante da escrita. Seja lá o que for, é um prazer lê-la (não confundir com Leya) e descobrir a facilidade com que muda de estilo.
    Tirando esta minha curiosidade queira receber os parabéns por mais esta (ia chamá-la sapiente oração) deliciosa escrita bem-humorada.
    Saudações portistas

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    1. Cangalhas, José? O José é que me atira de cangalhas (ah, expressão mai' linda!) com o que escreve. O nick que aqui escreve nada esconde, apenas revela uma simples mas entusiasta e apaixonadíssima amante do FC Porto desde o berço e, como tal, talvez revele ainda (só falo na presença dos meus advogados!) uma predilecção por um mítico e ainda recente guarda-redes do nosso clube. De resto, muitíssimo obrigada pela sua já proverbial simpatia.

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  5. Sem mais palavras eu, Fernando, sinto-me "desfernandizado" com este belo escrito! Parabéns.
    Fernando Moreira (Dragão Azul Forte)

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