24 novembro, 2016

O ESTRANHO CASO BRAHIMI.


Um treinador é livre de fazer as suas escolhas e ter as suas preferências.
A história está recheada de jogadores idolatrados pelas massas e cujos treinadores não se iludiam com as suas capacidades, bem como jogadores criticados até à exaustão por aqueles que vêm 90m ao fim de semana, mas de quem os treinadores nunca abdicam.
No entanto, com a constituição das SAD's e respetivos imperativos da mais diferente ordem, em particular o do cumprimento de exigentes regulamentações financeiras, o paradigma da gestão desportiva alterou substancialmente, pois os jogadores não são só elementos que constituem uma equipa mas também ativos de uma Sociedade Anónima Desportiva devidamente cotada em bolsa.

Yacine Brahimi chegou ao Porto há duas épocas e meia como um desconhecido para a maioria dos portistas, e desde logo apresentou as suas credenciais: perfume de futebol nos pés, muita técnica, mas uma grande dificuldade em soltar a bola no tempo devido, seja para o passe ou para o remate. Com características absolutamente distintas, os seus defeitos e virtude faziam lembrar Hulk quando por cá também aterrou. Só que o incrível teve o prof. Jesualdo Ferreira para o fazer crescer e melhorar, e Brahimi não tem tido a mesma sorte.

Nuno Espírito Santo desde cedo mostrou que não morria de amores por Brahimi, não o tendo feito sair do banco para sequer aquecer no jogo de apresentação, nem o tendo convocado para o play-off da Champions e primeiras jornadas da Liga. Entretanto, fecha o mercado, e Brahimi não sai! A sua não saída parece-me óbvia pois as propostas que terão chegado não terão satisfeito as nossas exigências, o que é natural... o FC Porto queria vendê-lo pelo seu real valor (convém não esquecer que em 31-08-2015 recusámos uma proposta de 50 milhões da Juventus), mas os compradores não estavam disponíveis para pagar por um dispensável o mesmo que pagavam por um indiscutível.

O fecho de mercado coincide igualmente com a entrada de Luís Gonçalves, e já se ouviu pelas tv's, que terá existido uma conversa do novo homem forte do futebol com o jogador, que terá agradado bastante ao mesmo, mostrando-se este absolutamente envolvido e disponível para o grupo.
Começou a ser convocado aqui e acolá, e a jogar sem grande seguimento que lhe permitisse de facto recuperar a confiança. Pasme-se, na Champions League, a melhor de todas as montras para quem quer vender um jogador e indiscutivelmente uma competição onde a experiência pode fazer a diferença, nos 5 jogos realizados até ao momento, Brahimi acumulada 50 minutos jogados (20m em casa frente ao Copenhaga e 30m em Brugge).

O expoente máximo do absurdo atingiu-se em Chaves.
Varela havia “desaparecido” das convocatórias desde a 2ª jornada do campeonato frente ao Estoril.
De repente, qual D. Sebastião aparecido no meio do nevoeiro, passa a titular num jogo a eliminar em casa do 6.º classificado... e Brahimi no banco. Com todo o respeito que o “Drogba da Caparica” me merece, pensar naquilo que um e outro podem dar à equipa, é como comparar água e vinho. Entretanto, o argelino aquece durante 40 minutos, enquanto Layun via o jogo sentado. Terminam os 90 minutos e Nuno Espírito Santo esgota as substituições com a entrada de Layun e Evandro (outro reaparecido das cinzas!) voltando a esquecer Brahimi.
O mais extraordinário, é que depois do magnífico golo apontado pelo jogador em casa frente ao Arouca, e que poderia ser o tónico que o mesmo precisava para arrancar para uma época ao seu nível, só voltou a jogar 16 minutos em Setúbal na semana seguinte e não mais apareceu... hilariante!

Não estão aqui em causa os defeitos e virtudes de Yacine Brahimi. Eu não estou no treino, não sei como se comporta, qual o seu nível de comprometimento com o grupo, etc. Mas, uma coisa sei: se ele falhasse em tudo isto, então, nem sequer convocado poderia ser, logo, há aqui muita, muita, muita incoerência de NES e inabilidade na gestão do jogador e do homem.

A questão é que temos aqui um grande problema para resolver, similar ao ocorrido no final do mercado de Verão. Brahimi é neste momento um jogador desvalorizado, com muito menos mercado do que seria expectável, e com poucas ofertas para sair. A Administração da SAD não quererá abrir mão a preço de saldo de um ativo do qual conhece o seu real valor e do qual ainda por cima só detém 50% do seu passe. O treinador insiste em não lhe dar os minutos de jogo suficientes para que o jogador possa readquirir os níveis de confiança capazes de o catapultar para as performances que todos conhecemos, mesmo com os erros que lhe reconhecemos à mistura. Mais, o treinador está a fazer uma gestão emocional do jogador que só o pode estar a afetar ainda mais. E neste entretanto, quem perde? Perde o Futebol Clube do Porto em toda as suas dimensões: perde na financeira e perde na desportiva, porque como infelizmente temos tido oportunidade de comprovar, um Brahimi a nível médio, poderia trazer muita coisa boa à nossa equipa.

Finalizo, dizendo que quem lidera o nosso clube não se pode arredar do tema nem refugiar-se por trás de uma mera opção técnica do treinador. Com Imbula, era um Ferrari que estava na garagem... mas, só depois do treinador sair! E agora, com Brahimi, é o quê?
Uma SAD cotada em bolsa não pode ter um ativo a desvalorizar-se de dia para dia e a sua Administração nada fazer.

Até sábado, no sítio do costume...

7 comentários:

  1. O Manchester City, que é o Manchester City, teve Yayá Touré encostado. Entrou, fez 2 golos. Guardiola admitiu que errou.

    Nós não. Cheios de dinheiro do monopólio como estamos, podemos transformar uma venda de 50M - que Brahimi vale - numa oferta de pechincha, só porque um menino acha que não o quer.

    E fora a vertente financeira, não há nada como uma equipa que se farta de marcar golos para dispensar categoricamente um jogador que marcou 13 golos no primeiro ano e 12 no segundo e que é um playmaker da equipa (foi dele a assistência para o primeiro golo de André Silva).

    Enfim, inadmissível.

    Abraço

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  2. Guardiola com todo o prestígio granjeado, teve humildade para pedir desculpa.
    Um treinador inacabado, que entra em pânico a meio dum jogo que não ata nem desata, socorrendo-se do adjunto, tem um ego que nem Mourinho é incapaz duma atitude como Guardiola.
    Quem sai prejudicado é sempre o clube, porque esses egos inchados, continuam a receber mesmo depois de arruinarem épocas aos clubes.

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  3. O Brahimi rendeu zero nas oito - sim, oito - oportunidades que lhe foram dadas por Nuno Espírito Santo. Marcou um golo tão solitário como o estilo de futebol que joga e mesmo nessa ocasião o melhor que conseguiu fazer foi insultar os adeptos. A ideia de que é um jogador assim, profundamente individualista, a poder acrescentar alguma coisa a uma equipa jovem que tem feito da solidariedade o seu maior argumento é pouco menos do que disparatada. Isso sem considerar sequer a inevitabilidade de perder o jogador daqui por um mês para a CAN e o problema que advém de construir um onze em cima de um atleta que está na equipa a prazo. enfim...

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    1. Ora aí está o disparatado síndrome da play station, para quem entrar muitas vezes para jogar 15m e 20m são consideradas oportunidades.
      O problema é que neste disparatado Mundo Real, é preciso dar sequência aos jogadores, permitir-lhes cometer erros e dar-lhes o espaço de manobra para possam readquiri confiança.
      Neste disparatado Mundo Real onde só alguns iluminados sabem que há CAN em Janeiro, o treinador do FC Porto também o sabia em Agosto e foi por isso que não o convocou...esqueceu-se disso a partir de Setembro. Claro que manteve a amnésia, e quando o tinha sentado no banco frente ao 5lb para que ele pudesse fazer o tal "jogo individualista" que por ventura nos fariam ganhar faltas e tempo, o treinador achou que não o deveria fazer porque ele vai para a CAN e a equipa não se pode construir baseada nisso.

      Pep Guardiola pensou o mesmo...Yaya Toure pode ir para a CAN, mas se calhar enquanto cá está, mais vale aproveitar qualquer coisinha!

      Acha paciência para tanto disparate...

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    2. Portanto, um jogador que está há dois anos no FC Porto, que apenas conseguiu meia dúzia de exibições realmente interessantes, que curiosamente sofreu uma quebra de confiança e de forma precisamente depois de ter participado na CAN em 2015, que joga completamente alheado do modelo de jogo, indiferente às movimentações dos companheiros e às necessidades da equipa, exclusivamente para ele próprio, este jogador precisa de oportunidades a sério. Jogos inteiros que lhe possam dar sequência, com margem para cometer erros. Se ao menos um treinador que acabou de chegar com o encargo de apagar dois anos de disparates cometidos por Julen Lopetegui com uma fracção dos recursos desbaratados pelo espanhol merecesse a mesma tolerância de alguns adeptos tudo seria mais fácil. Mas, caro Norte, a "casa" é sua e já percebi que opiniões diferentes não são cá bem vindas. Ficam votos para que, independentemente de quem tenha razão, seja a equipa a ganhar.

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  4. Norte, Guardiola chegou ao City e disse:
    Não quero o Joe Hart, guarda-redes titular da selecção inglesa. O City deve ter estrebuchado, mas como era o Guardiola, um dos melhores, senão o melhor treinador do mundo, fez-lhe a vontade. No F.C.Porto, ao contrário do que acontecia no passado, qualquer treinador sem currículo chega aqui e fazem-lhe as vontades todas, deixam-no fazer tudo. Os resultados estão à vista.

    Abraço

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