24 janeiro, 2017

BOÇALIDADE.


Aquando do recente FC Porto - Moreirense, foi relativamente unânime no universo portista a opinião de que aquele foi um jogo banal sem grande história, culminado numa simples e fácil vitória por 3-0. Em contra-mão com este estado de espírito, digo que este jogo com o Moreirense deve ser recordado, e bem recordado, de como deveriam ser os jogos caseiros do FCP: fáceis e simples.

Assim o foram durante temporadas a fio, salvo uma ou outra surpresa pontual. Para aqueles que se entediaram contra os de Moreira de Cónegos, nada como um regresso à emoção vertiginosa, como foi o último FC Porto - Rio Ave. Um grande jogo para quem o visse de uma perspetiva externa. Um final feliz para os portistas. Outra vitória em esforço para a equipa do FC Porto. Mais uma entre as muitas desta época. Demasiadas.

O adepto de bancada pode dirigir uma miríade de críticas a NES, a este ou aquele jogador, às decisões tomadas no relvado. Pode ter que se esforçar em refrear a vontade de entrar em campo para distribuir um valente par de sopapos a este ou aquele por mais um punhado de golos cantados falhados. Sim, o adepto de bancada pode ter muitos argumentos a debitar.

Todos, menos um: Fibra!

O FC Porto 2016/17 luta como as grandes equipas do passado. Numa altura que tanto se fala em mística, isto é a sua génese.

Não me parece que o ponto forte de Nuno Espírito Santo seja o de agregador do sentimento Portista. A sua forma de comunicar polida, tão polida que dir-se-ia mesmo esterilizada, não se coaduna com o nosso espírito bairrista e guerreiro. Também não me parece que a leitura de um jogo de futebol seja uma das mais valias deste treinador, onde a insistência em subtrair do decorrer dos jogos o nosso cérebro do meio campo (Óliver), é um mistério que ultrapassa a lógica, e cujo resultado tem sido invariavelmente uma quebra na qualidade exibicional da equipa. Para não referir as debilidades nos movimentos ofensivos da equipa, onde tudo parece mais entregue à inspiração momentânea dos intervenientes, do que à planificação e mecanização de movimentos pré-estabelecidos.

Contudo, entre todas estas lacunas, há um ponto em que o mérito vai em exclusivo para o nosso treinador:
O mérito de ter criado uma Equipa.

Onde quero eu chegar com esta retórica?

Sabe-se que os adeptos vivem dos resultados. Do FC Porto desta época, salvo alguma anomalia - ou surpresa positiva neste mercado de inverno - poderemos fazer já uma antevisão com algum grau de certeza do que será o resto da temporada: raros serão os jogos em que a vitória surja folgada e pachorrenta. Não pela capacidade ofensiva dos nossos adversários, mas sim pela dificuldade quase burocrática que os nossos jogadores apresentam no momento de meter a bola nas redes.

Os próximos 3 jogos para a liga - Estoril, Sporting e Guimarães - requererão todos o melhor Porto. É fulcral obtermos os 9 pontos. Quer pela motivação interna na ultrapassagem dos difíceis obstáculos, um deles absolutamente decisivo na luta pela Champions, quer pela pressão a manter sobre o slb. As vitórias ajudarão sobremaneira a manterem os ânimos despertos. No entanto, se algo correr mal em algum(s) destes jogos, é imperativo que continuemos a apoiar esta equipa. A sua juventude e potencial faz dela o nosso futuro. Não nos esqueçamos disso.

E esperar que mais jogos boçais e pachorrentos ocorram no nosso horizonte. Será sinal que à génese da mística, tenhamos conseguido juntar a experiência dos campeões.


PS. Soares é oficialmente o eleito para acompanhar André Silva e Depoitre no ataque. É um avançado possante, lutador, tem técnica e bom jogo de cabeça. Se é o avançado que o FCP necessita, só o tempo e os golos o dirão. Numa primeira impressão, para um jogador de 26 anos, interessante, mas com um currículo bastante humilde, quase 6 milhões de euros parece-me ser um valor elevado. Faço votos que o justifique.

3 comentários:

  1. "O mérito de ter criado uma Equipa."

    Caro Hugo, não será isto os serviços mínimos que se devem exigir a qualquer treinador, pôr um grupo de jogadores a funcionar em conjunto?

    O mérito chega quando o treinador consegue fazer uma BOA equipa. E Nuno ainda não conseguiu, not just yet.

    Abraço Portista
    LAeB

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  2. Caro Lapis Azul e Branco,

    Tudo isto é muito bonito mas para fazer uma boa equipa, coesa, consistente e com grau de qualidade satisfatório ajuda muito ganhar jogos, ter pontos e estar o mais acima possível na tabela. Trabalhar sobre vitórias é muito melhor.

    E a verdade, quase unanime mesmo em meios de comunicação hostis, é que o FC Porto foi literalmente furtado de vários pontos em vários jogos. Sendo simpático, direi que foram pelo menos 3 ou 4 pontos claramente surripiados em alturas fundamentais do campeonato. E tudo isso emperra o desenvolvimento de qualquer equipa, ainda para mais uma equipa jovem, com jogadores novos, novo treinador, novos processos, um “new beginning”.

    E é COMPLETAMENTE diferente estar constantemente a correr atrás de um prejuízo de 4 pontos atrás, do que estar empatado com o líder ou mesmo à frente do campeonato.

    É contra isto que NES também tem de lutar para além de todos os problemas internos que temos. O seu trabalho é provavelmente o mais difícil e complexo dos últimos largos anos, independentemente dos nossos gostos pessoais em relação a NES.

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  3. Caro Lápis,

    O FC Porto TEM uma boa equipa. Para os recursos disponíveis, NES está a fazer uma época acima da expectativa inicial.

    Para não ser demasiado ambicioso, diria que caso metade das incidências de arbitragem, desta primeira metade da época, fossem assinaladas, poderíamos estar ainda em todas as competições, e muito provavelmente na liderança da liga, e todos andariam nas nuvens com esta equipa. Mesmo sendo na base a equipa que bateu no fundo na 2ª metade da temporada passada, com o acréscimo qualitativo de Óliver e Felipe.

    Se o Lápis bem se recorda, entramos na fase de grupos da Champions porque tivemos a sorte de ter arbitragens competentes. Assim como estamos nos oitavos, porque a estrelinha da competência dos juízes europeus se manteve (nomeadamente no jogo de Brugges). Se fosse em Portugal, o Lápis não tenha a mínima dúvida que teríamos seguido para a Liga Europa, da mesma forma como viemos de Chaves eliminados, ou vimos um forrobó de asneiras inaudito nos jogos com Feirense e Moreirense para a Taça da Liga.

    A confusão que parece existir entre portistas, é a tendência de confundir uma BOA equipa, com uma equipa Fora de Série. Qualquer comparação entre o actual plantel e o plantel que em 2010/11 esmagou quase todos os adversários que se lhe depararam, só pode ser pura brincadeira.

    A comparação honesta a fazer-se, seria com os planteis ao dispor de Jesualdo ou Co Adrieensen. E mesmo esses tinham um plantel mais experiente do que o actual. A diferença para os resultados desse tempo é que os adversários melhoraram bastante, nomeadamente o slb.

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