23 janeiro, 2017

O “PORTISMO DO EXAGERO”.


O “Portismo do exagero” é aquele que extrapola tudo e mais alguma coisa, é aquele que hiperboliza, que empola, que dramatiza, que reduz a cinzas com a mesma velocidade com que põe nos píncaros, é o Portismo que desvaloriza tudo e mais alguma coisa, aquele para o qual nunca nenhum treinador serve, aquele em que raros são os jogadores bons. É o Portismo em que até o tratador da relva, o speaker ou o roupeiro não valem nada quando o resultado é menos bom. Mas é também o Portismo que no inicio da época, enche o peito de ar e pensa que tudo vai ser favas contadas. É o Portismo que vai do 8 ao 80 num ápice, é um Portismo desequilibrado e pouco racional, que anda quase sempre de cabeça perdida. Finalizando, é um Portismo que eu abomino, que detesto e contra o qual irei sempre e lutar.

As responsabilidades do FC Porto estar há 3 anos em seca de títulos não são apenas dos jogadores, treinadores e dirigentes. Há em certa medida (muito inferior que à dos jogadores, treinador e dirigentes, mas ainda assim existente) responsabilidade dos adeptos, sejam eles sócios ou meros simpatizantes. Porque os adeptos são a força motriz e catalisadora de qualquer clube. São os adeptos que elegem os corpos dirigentes, que por sua vez depois gerem o clube em todas as suas vertentes. E são os adeptos que por vezes têm um papel fundamental e importantíssimo no desenrolar de alguns jogos que por vezes decidem campeonatos. Poder-me-ão dizer que o papel dos adeptos é pouco relevante? Sim, é verdade que os adeptos não contratam jogadores, não compõem plantéis, não escolhem treinadores, nem falham penalties ou levam “frangos” mas, reflitam comigo sobre o seguinte: seria possível o FC Porto estar a perder 0-3 no Dragão com o Boavista aos 25 minutos e os adeptos não desatarem aos gritos, insultos, tornando o ambiente irrespirável e beneficiando apenas e só o adversário? Pois, pensem nisso…

Já aqui escrevi várias vezes sobre os erros na constituição do plantel, sobre as minhas enormes reticencias sobre um treinador que não seria seguramente a minha escolha, mas, procuro sempre ser honesto, racional e isento nas minhas análises e, sinceramente, também fico por vezes espantado com a existência de um permanente “Portismo do exagero”.

Foi o “Portismo do exagero” que durante 4 anos diminuiu e desvalorizou os méritos de Jesualdo Ferreira, período durante o qual o FC Porto venceu 3 campeonatos, 2 taças, algumas supertaças e passou sempre a fase de grupos da Champions League, chegando por uma vez aos quartos-final (derrotados por um golo perante o grande Manchester United)... era um futebol que não encantava!

Foi o “Portismo do exagero” que durante 2 anos diminuiu, desvalorizou, insultou e menosprezou Vítor Pereira. Sobre o trabalho de Vítor Pereira e a forma como foi tratado, basta ler as recentes entrevistas de Vítor Pereira, infelizmente, e por muito que nos custe, quase tudo o que lá vem é a mais pura das verdades.

Foi o “Portismo do exagero” que durante grande parte da época 2014/2015 não criticou construtivamente, nem entendeu que, erros e defeitos próprios à parte, Julen Lopetegui foi o único que tentou remar contra a maré do colinho vermelho, numa época com vários erros de arbitragem, todos no mesmo sentido. Uma época em que o FC Porto perdeu um campeonato por 3 pontos!

Infelizmente, 3 anos a ver navios não foram suficientes para o “Portismo do exagero” diminuir de modo consistente.

Não podemos andar semanas a gritar contra a falta de eficácia da equipa e num jogo com 5 ou 6 oportunidades de golo, ter marcado 4 golos e feito mais uma reviravolta, barafustarmos que a equipa criou pouco jogo e não jogou nada.

Não podemos andar durante o ano e meio em que Lopetegui esteve ao serviço do clube, gritar que a equipa é inoperante ao nível dos lances de bola parada (e efetivamente na era Lopetegui raramente marcávamos de bola parada) e depois num jogo em que se aproveita (e muito bem!) 3 lances de bola parada para dar a volta a um resultado adverso, perante o melhor adversário que este ano pisou a relva do Dragão, virmos dizer que apenas foram os golos de bola parada que nos safaram.

É verdade, e qualquer Portista minimamente racional, que as coisas não andam às mil maravilhas, mas é tempo de uma vez por todas e todos metermos na cabeça que:
  • Por muito que nos custe, ter Jackson, Hulk, James e Moutinho não é propriamente o mesmo que ter André Silva, Diogo Jota ou André André;

  • Andar a colocar a cabeça do treinador na guilhotina a cada mau resultado não é forma de resolver coisa nenhuma. Andamos há anos a procurar bodes expiatórios, mas o treinador é sempre a “besta” que paga sozinho as favas todas, e nós todos temos culpa disso. Por exemplo, Paulo Fonseca era péssimo, mas prepara-se para ser campeão na Ucrânia, depois de ter ganho uma taça no Braga. Será afinal um treinador tão mau? Tal como Lopetegui que agora parece reunir consenso na comunicação social espanhola pelo bom trabalho na seleção. É tempo de uma vez por todas de colocarmos de lado as nossas preferências pessoais e apoiar o treinador numa missão hercúlea até final da época;

  • Existem problemas no plantel e não vai ser em 8 ou 9 dias que os mesmos irão ser resolvidos. Aliás, os próximos irão ser sintomáticos dos erros cometidos. Apenas alguns exemplos, a dispensa de Martins Indi, que agora é titularíssimo na Premier League, e posterior gasto de 6M€ num jogador claramente inferior ao internacional holandês, Boly. Ir buscar agora Soares por 3, 4 ou 5M€ só comprova uma coisa: não há falta de dinheiro, ele está a ser é mal aplicado. Basta fazer contas muito simples, 6 milhões por Depoitre mais 4 ou 5 por Soares dá 10 ou 11 milhões de €. Pergunto: 11 milhões de € não deu para ir buscar Falcao, Jackson, Benny McCarthy ou Lisandro?

  • No jogo de sábado, o banco de suplentes tinha como opções para o ataque: Depoitre, Kelvin e Rui Pedro. Recuso-me a colocar nas costas de um treinador do qual não sou fã, as maiores responsabilidades por se querer atacar um título com o atual plantel do FC Porto.
PS - À 18ª jornada, temos 41 pontos, comparativamente com os 40 pontos das época 2014/2015 e 2015/2016 e com os 39 pontos de 2013/2014. Com um plantel com tantos défices, o trabalho feito não é assim tão mau...

4 comentários:

  1. Estou totalmente de acordo com o texto. Nunca vou compreender como no 1 ano de Lopetegui se deixou o treinador sozinho a queixar-se, e com toda a razao, contra as arbritagens e ainda por cima, os Adeptos o assobiarem em todas as possibilidades. Nunca sai tao envergonhado do nosso Estadio como na Noite em que, na segunda epoca de Lopetegui quando passamos para primeiro, o pobre treinador foi assobiado como so os fdp e os arbitros merecem. Descupem o desabafo. Cumprimentos

    ResponderEliminar
  2. Não mudava uma linha a este excelente texto RCBC.

    Há 1 ano lutava com unhas, garras e dentes neste mesmo espaço, sobre a imensa asneira que os adeptos estavam a cometer, ao colocar aquela pressão hedionda sobre Lopetegui e a equipa, e sobre os negros tempos que se seguiriam. Infelizmente os acontecimentos deram-me razão.

    O RCBC fala em portismo do exagero. Eu classifico como um problema de razão e emoção. A esmagadora maioria dos portistas não pensa. Age! Com muito que de positivo isso possa ter em algumas situações, qualquer planeamento ou estratégia de longo prazo não é compatível com actos instintivos.

    Um caso paradigmático é o que se passa agora com o sentimento anti-SAD. Se dessem o poder de decisão ao portista comum, não haveria dúvidas que ele expulsaria quase a pontapé todos os inquilinos da SAD. No dia seguinte, qual criança inocente, iria-se surpreender que lá não estava ninguém, e que o clube fora deixado à deriva, no triste caminho do precipício.

    Não sei se o período de seca que passamos é justiça ou ira divina. O que sei, é que o portista pós-Dublin ficou cego pela sua arrogância, onde o título era "quase" um dado adquirido, e só brilharetes europeus poderiam aplacar a ambição desmedida. Vítor Pereira que o diga. 1 derrota em 60 jogos de campeonato, algo nunca atingido em Portugal, e mesmo assim de tudo fizeram para o correr para as Arábias.

    Não são os adeptos que contratam, treinam ou marcam golos. Mas são os adeptos que apoiam e motivam os jogadores a superarem-se. Nisso, há muitas, muitas, muitas culpas de sócios e apoiantes. Disso não haja dúvidas.

    ResponderEliminar
  3. “O que sei, é que o portista pós-Dublin ficou cego pela sua arrogância, onde o título era "quase" um dado adquirido, e só brilharetes europeus poderiam aplacar a ambição desmedida. Vítor Pereira que o diga. 1 derrota em 60 jogos de campeonato, algo nunca atingido em Portugal, e mesmo assim de tudo fizeram para o correr para as Arábias.”

    Não diria melhor… Acrescento apenas que para além da cegueira arrogância que se apoderou de muitos Portistas acrescento-lhe outra coisa: emprenhar pelos ouvidos!
    Há muito bom Portista que emprenha pelos ouvidos de uma comunicação social facciosa e nojenta… A história (mentirosa e demagógica) do futebol chato de Vitor Pereira foi algo absorvido por muita gente. Agora, muita gente tem saudades de um futebol chato em que se ganhava a equipas do meio da tabela com tanta naturalidade que até parecia chato.

    ResponderEliminar
  4. Curiosamente após ter saído do FC Porto, Vitor Pereira é visto pela porca da comunicaçao social como um belíssimo treinador, até apontado aos outros rivais. Tem piada, endeusamento pós-FC Porto de qualquer um que saia do Dragão!

    ResponderEliminar