19 janeiro, 2017

PARA REFLETIR...


Estamos a dias de entrar na 2ª volta do Campeonato, que irá marcar de forma determinante o balanço de mais uma temporada desportiva, no que ao Futebol diz respeito.

Sendo certo que a Liga dos Campeões continua a ser um objetivo possível, é pouco crível que seja este ano que repetiremos Viena ou Gelsenkirchen, daí que o Campeonato seja o nosso grande foco. Mesmo mais considerando as mais ou menos dolorosas eliminações precoces das Taças, todas as nossas épocas e a avaliação do sucesso ou insucesso são ancoradas na prova que define o Campeão Nacional, daí que nada seja propriamente novo nesta fase.

São “apenas” 4 pontos que temos de recuperar, 3 dos quais dependem diretamente de nós. Na certeza de que podíamos estar melhor colocados, também é verdade que poderíamos estar mais longe, daí que seja importante nesta fase ver o “copo meio cheio” e desejar que o último fim-de-semana seja um sinal de esperança de que ainda podemos chegar lá e reconquistar o campeonato que nos tem fugido há demasiado tempo, para os padrões habituais do FC Porto pós 1985.

Entretanto, na comunicação social surgiram algumas entrevistas de figuras importantes do passado recente do nosso Clube. Sobre a entrevista do anterior administrador financeiro da SAD, Angelino Ferreira, já muito foi escrito pelo Norte ontem aqui no blog. Destaco apenas o curioso timing para estas declarações bastante taxativas do antigo dirigente. Se é certo que muitos erros foram cometidos na gestão desportiva e financeira do FC Porto em tempos recentes, Angelino foi parte do Clube e da SAD durante largos anos, assumindo diferentes cargos no Universo do Clube, e a sua saída, legítima como qualquer outra, foi feita em silêncio e aparentemente sem nenhum tipo de “agenda paralela” até há uns meses, dai que todas estas movimentações de anteriores membros de uma estrutura que víamos como blindada e quase impenetrável seja sempre passível de uma análise cuidada.

Não a chamo no entanto à liça esta entrevista para analisar o seu conteúdo, sobretudo porque a encaixo numa espécie de jogo de luzes e sombras que vai decorrendo no nosso seio e que a seu tempo deverá surgir de forma mais clara para os sócios anónimos onde me encaixo. Não sejamos inocentes: a discussão sobre a futura liderança do FC Porto já movimenta muitos sectores do Clube e todas estas declarações, somadas a determinadas notícias “plantadas” em diferentes meios de comunicação são exemplo disso mesmo. Deixo apenas um voto muito concreto: que todos os Portistas que amam desinteressadamente o Clube possam estar atentos e capazes de não permitir que seja quem for tome o FC Porto como uma espécie de refém de interesses pessoais ou que o use como meio de ajuste de contas pessoais.

Passado este ponto, faço também aqui referência a outra entrevista, neste caso de Vítor Pereira a João Ricardo Pateiro na TSF. Ultrapassando as questões sobre Antero ou de um possível regresso a Portugal via rivais, que não considero relevantes para o presente e futuro próximo do FC Porto, foco-me sobretudo em duas passagens:

“Porque é que o FC Porto deixou de ganhar? Não sei. (…) Muitas vezes a soberba, quando nós falamos de barriga cheia não damos valor à comida.”
“(sobre a saída, apesar das vitórias) Santos da casa não fazem milagres…”
Nestas duas breves frases, temos aqui exposta uma certa crise de identidade, que nos foi atingindo gradualmente e atingiu o seu apogeu nesta sequência pouco vulgar de um tricampeonato terminado abruptamente com 3 anos sem ganhar.

As vitórias trouxeram-nos um claro “baixar da guarda” e até uma certa desvalorização do próprio sucesso, que acabou por ser surpreendente porque no passado nunca tinha acontecido. Mesmo comparando com outras fases da Era Pinto da Costa, nem mesmo no Penta aconteceu este fenómeno de termos um FC Porto cada vez mais relaxado e sobranceiro de ano para ano como na sequência do super ano 2010/11.

Por outro lado, é um facto que no nosso clube nem sempre é fácil para os chamados homens da casa. Fomos tendo ao longo dos anos alguns exemplos de mal-amados nascidos e criados no Clube, sendo que no caso do Vítor Pereira estes níveis de exigência / falta de tolerância atingiram níveis insustentáveis, cuja marca ainda é bem visível num Homem que devia ser um dos nossos mas que ainda carrega uma certa tristeza refletida nestas declarações.

Como já aqui disse noutros textos, o passado está lá atrás e não pode ser modificado, mas é vital que possamos reencontrar a nossa identidade ganhadora cuidando de recriar os comportamentos saudáveis que nos garantiram a hegemonia. Só com uma valorização efetiva dos nossos sucessos aliada à fome constante de os repetir, poderemos voltar a reconstruir um domínio do FC Porto, sendo certo que estas duas realidades não serão possíveis se voltarmos a considerar que os campeonatos ganhos não são mais que uma mera obrigação e se cairmos novamente no erro de desvalorizar o mérito dos mentores desses sucessos.

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