NO LIMIAR DA RAIVA.

Há textos extremamente complicados de escrever…

Não é uma questão de falta de assunto. Muito menos de ter receio de abordar determinados assuntos delicados.

Quando nos sentamos ao computador e começamos a olhar para as teclas e sabemos que temos de escrever sobre algo que nos causa NOJO, IRRITAÇÃO e RAIVA a sensação é logo à partida desconfortável… Sabemos de antemão que no final, em vez de um momento de catarse, vamos apenas aumentar o nosso mal-estar.

Mas como um Dragão não se esconde cá vai, aqui fica um desabafo sem regras:

• Estou farto de ver o meu Clube gozado semana após semana com arbitragens que tem tudo menos inocência na maneira como são cozinhadas.


• Fico doente ao constatar que depois de 2 arbitragens que assinalaram justamente a nosso favor 2 penalties e expulsões lá voltamos ao mesmo, com a agravante que mesmo depois de Presidente, Director do Futebol, Treinador e Jogadores terem posto o dedo na ferida nas últimas semanas mesmo assim têm a lata de nos gozar desta maneira!


• Estou irritado porque nós vimos isto a chegar e fomos anjinhos! Tudo começou em 2003 com os “lugares na Liga em vez do Jankauskas”, depois a movimentação que levou ao apito dourado, depois o apito final, a seguir os treinadores como Jesualdo ou Vítor Pereira (ou até mesmo o mal-amado Lopetegui) que falaram praticamente sozinhos anos a fio… E da parte de quem manda uma inacção quase total, muita complacência, muito receio de ir à luta, foram anos e anos de comer e calar. E agora lá começa finalmente a reacção com maior veemência, mas carago, porquê é que estivemos tanto tempo sem ir a jogo?


• Estou farto de mentiras mil vezes repetidas até serem quase transformadas em verdades… O segredo do sucesso do FC Porto foi ter anos a fio melhores equipas e melhores jogadores, somados à capacidade que o Clube soube criar para DIVIDIR o poder. Sim, leram bem, dividir o poder e não dominar o poder! Ou acham mesmo que o FC Porto dominava tudo e todos no país vermelho e centralista? Acho piada a Portistas que são capazes de serem enrolados no lirismo dos “negros anos 90”… Negros para eles porque não ganhavam, agora algum dia não fomos bem roubados, principalmente a Sul, durante essa década? Querem comparar com as autoestradas que o Benfica apanha em todo o lado na actualidade? Só mesmo para quem não via futebol nessa altura ou tenha muito má memória! Sim, nas Antas éramos normalmente respeitados, mas e em Alvalade onde raramente acabávamos com 11? Na Luz onde raramente ganhávamos? Ou no São Luís em Faro onde valia tudo fora e dentro do campo, isto só para dar breves exemplos? É preciso muita lata para pegar em lances descontextualizados como uma mão do Baía fora da área numa Supertaça, uma peitada do Kostadinov a um fiscal de linha ou ainda uma perseguição ao fugitivo José Pratas (que tinha validado um lance muito controverso) para justificar algo que eles não conseguem compreender: como é que o clube nacional e planetário que tem 80% dos Presidentes da República e Primeiros Ministros, que tem 2/3 dos ministros e parlamentares, que controla redacções de TVs e jornais pôde passar tanto tempo na sombra do pigmeu do Norte!


• Estou exausto de ver a nobreza de carácter e o branqueamento dos factores exógenos patrocinados por alguns dos nossos! Querem sentimentos nobres perante a palhaçada a que temos assistido? Vão passear mais o espirito conciliador e o “temos de olhar para dentro, temos errado muito e mais do que falar de árbitros temos é de jogar mais que os outros” que o que é demais é exagero! Além disso parece que muitos decidiram acordar para a vida há 3 anos! Quantos de nós ainda bebiam champanhe na Alameda e já diziam que o nosso trabalho era cada vez mais imperfeito e que a continuarmos assim íamos ser comidos dentro e fora do campo? Nessa altura aposto que muitos destes “D. Quixotes” ainda andavam enfeitiçados a dar olés incondicionais à gestão da SAD enquanto gozavam o lampião do escritório! Não meus senhores, isto já não se trata apenas de futebol jogado, isto trata-se de uma impossibilidade de lutar com armas equiparáveis (já nem digo iguais!) quando uma equipa não se pode dar ao luxo de ter um dia assim-assim e sair com a vitória e enfrenta outra equipa que aconteça o que acontecer segue em 90% das vezes com os 3 pontos, de uma forma ou de outra. Acham que isso não se sente no campo? Acham que os nossos são de ferro para manterem a cabeça fria e o plano de jogo aconteça o que acontecer? Acham que os adversários do nosso rival não entram em campo sabendo de antemão que não se podem esticar muito que estão logo tramados, estando assim logo condicionados à partida?

Isto é um desastre à espera de acontecer. É um exagero pensar que à custa do futebol possam existir actos menos próprios e cenas a lamentar? Claro que sim, ninguém com dois dedos de testa advoga a violência para resolver conflitos futebolísticos que estão longe, muito longe do que representam verdadeiras tragédias humanas como as que acontecem na Síria, Birmânia e infelizmente um pouco por todo o Mundo…

Mas o que estes artistas que cozinharam este caldo não percebem é que tudo isto é paixão e sentimento no seu estado mais puro e que espezinhar, achincalhar e gozar com uma instituição centenária amada por muitas centenas de milhares (ou talvez milhões, se as contas não forem aldrabadas pelos do costume) é brincar com o fogo…

Como dizia o Mestre em 1976 o que os safa é que para lá de uma maneira de ser aparentemente mais bruta nós, Nortenhos e Tripeiros, até somos ordeiros e compassivos, não só no futebol como em muitas outras áreas da sociedade… Mas é como tudo, é sempre até um dia…