30 janeiro, 2017

LAGOSTA OU BITOQUE?


Sejamos completamente honestos: após um início de janeiro catastrófico em que ficamos fora da taça da Liga e em que um empate frente ao Paços de Ferreira alargou imenso a desvantagem em relação à liderança (6 pontos, é muito ponto num campeonato destes), o cenário ameaçava tornar-se terrível e podíamos voltar a um ponto tão habitual nos últimos anos, ou seja, casa demolida, toca a mudar tudo outra vez a meio da época, treinador para a rua, toca a preparar a próxima época imediatamente.

Por muito que nos custe, seria exatamente isso que aconteceria caso não conseguíssemos 9 pontos nos últimos 3 jogos. O campeonato passaria a mera hipótese estatística – aliás, tenho a perfeita convicção que a partir de agora, mais de 4 pontos de diferença para o 1º classificado significa dizer automaticamente adeus ao título de campeão – caso empatássemos um desses últimos jogos, provavelmente entrar-se-ia numa espiral negativa com consequências possivelmente terríveis para o resto da época.

Sejamos novamente sérios, o FC Porto nos últimos 3 jogos arrecadou 9 pontos, marcou 9 golos, alguns deles de bola parada, mas não realizou exibições de encher o olho, muito longe disso. Utilizando uma metáfora gastronómica, nos últimos jogos comemos um bitoque acompanhado de uma dose de batatas fritas e uma coca-cola... foi apenas um bitoque, deu para encher o estômago, mas não foi lagosta acompanhada de caviar e champanhe caro!

É verdade que NES teima em não querer perceber algo muito simples. Independentemente de jogar em 4x1x3x2 ou em 4x3x3, não faz o menor sentido jogar sem jogadores com características de extremos. André André, Oliver e Herrera nunca poderão render encostados às alas, seja num esquema com 2 alas e um ponta-de-lança, seja num esquema com 2 alas no apoio a dois avançados. Corona é um jogador inconstante, Brahimi tem um enorme problema de mentalidade, Otávio tem apenas 21 anos e Kelvin regressou à poucas semanas mas não há volta a dar, temos de jogar sempre com 2 desses 4 jogadores seja em que esquema for. Entregar aos laterais a profundidade da equipa, utilizando um meio-campo com 3 jogadores idênticos em termos de características não funciona, nunca funcionou e provavelmente nunca funcionará. Porque, ao contrário doutras alturas, em que havia Deco, Maniche ou Alenichev (os tais tempos em que comíamos lagosta regada com champanhe semanalmente!), hoje em dia a matéria-prima é o que é. É o que temos!

Por muito que nos custe, e a mim custa-me IMENSO, o FC Porto vem de 3 épocas más. Aliás, 3 épocas muito más, em duas delas (13/14 e 15/16) praticamente nem contamos para o totobola, em meados de fevereiro já estávamos arredados de praticamente tudo, na outra (14/15) com um bom plantel lutamos até ao fim pelo campeonato, mas uma série de fatores, entre eles erros de arbitragem e erros de comunicação próprios (como deixar o treinador só a defender o clube perante o pântano lamacento que é a comunicação social portuguesa) ditou o destino de mais uma época a zeros.

A pergunta que me coloco a mim próprio é: será razoável pedir lagosta com champanhe até ao final do campeonato em vez de um bom bitoque com batata frita e coca-cola? A focalização até ao final da época deve centrar-se sobretudo em ter um nível de eficácia e competência que nos permita arrecadar o máximo de pontos possível, com maior ou menor fulgor exibicional. Sou Portista, mas tenho olhos na cara, o FC Porto não tem um plantel vasto em termos de qualidade, não tem sequer um onze comparável ao que tinha há apenas 4 ou 5 anos, sinceramente, acho que temos até o pior plantel (em termos teóricos) dos últimos 10 ou 15 anos. Se queremos ganhar alguma coisa, o nível de eficácia tem de ser maximizado, ou seja, há que marcar golos no menor número de oportunidades possível e a verdade é que nos últimos 3 jogos, criaram-se poucas oportunidades mas a % de eficácia aumentou muito face ao que se tinha visto até então. Depois, a juntar a isto, há outro fator que inegavelmente o FC Porto de NES tem, capacidade de sacrifício e união do grupo!

Muitas loas se entoaram em relação ao campeão do ano passado. Mas o campeão do ano passado teve no seu principal fator de sucesso algo muito simples: eficácia atacante, marcar 1 golo em meia oportunidade. Quantos e quantos jogos, o campeão do ano passado fez exibições miseráveis e ao minuto 90 lá apareceu jonas ou mitroglu para selar uma vitoria arrancada a ferros? Em alvalade, no jogo que praticamente decidiu o título, que atitude teve o campeão? Marcou um golo cedo, depois baixou o bloco, entregou o meio-campo ao adversário, defendeu, defendeu, defendeu e esperou pelo apito final acantonado à sua área.

É importante que NES corrija alguns erros que tem cometido, como jogar sem extremos, mas sinceramente já estou preparado para assistir a concertos de bombo (e não ópera) e a comer bitoque com batata frita até ao final do campeonato. Não se trata de falta de ambição ou exigência, trata-se de realismo. Tenho a perfeita convicção que se o FC Porto for uma equipa minimamente organizada e sobretudo eficaz ofensivamente poderá pelo menos lutar pelo titulo até ao fim. Não quero ver jogos com 20 ou 30 oportunidades e zero golos, mas se vir eficácia ofensiva e consistência a defender já não é mau. Infelizmente, já não sou o Portista que exige lagosta e ópera, apenas espero que a banda não desafine muito e que o estômago não fique vazio.

PS - Mais um jogo em que a generalidade da critica (até quem nos odeia!) admite que ficou mais um penaltie por marcar a favor do FC Porto... e o que foi marcado apenas se deveu à evidencia do lance, tão evidente, que seria descarado demais não ser assinalado. Continuam os erros, quase sempre no mesmo sentido.

4 comentários:

  1. Em 3 semanas, o FC Porto recuperou 5 pontos face ao líder, e agora apenas depende de si para ser campeão…

    Os próximos 2 jogos são de grau elevado de dificuldade, receber o Sporting e ir a Guimarães… Se sairmos deste ciclo incólumes, as coisas podem ficar engraçadas para nós!

    Mas atenção, o pior que pode haver agora é euforia de algum tipo, continuamos em 2º lugar e temos 2 jogos complicadíssimos. Mas dependemos de nós próprios e isso é bom, em teoria claro!

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  2. Começando pelo PS RCBC, ainda temos que aturar gajos manhosos como o treinador do Estoril, que apesar de estar cá há pouco mais de um par de meses, já sabe do que a casa (media desportivos nacionais) gasta. Foi simplesmente nojento ver esse senhor a atirar o barro da arbitragem à parede, a ver se colava, quando estava farto de saber que a arbitragem até tinha sido muito light para o Estoril, tal a pancada que distribuíram no jogo todo, além de mais um penalty roubado.

    O RCBC diz que o plantel é dos mais fracos dos últimos 10/15 anos. Eu digo que é um dos piores dos últimos 40 anos. Tirando Casillas, Maxi e talvez Brahimi, os restantes jogadores são ilustres desconhecidos para a maioria dos europeus. NES tem tido o mérito de o espremer muito bem, pois a base é praticamente a mesma da época anterior, com um único verdadeiro reforço (Felipe), algum acrescento de qualidade que Óliver dá ao miolo e muitas jovens promessas (Otávio, Jota, Rui Pedro) que felizmente para nós, têm aproveitado as oportunidades.

    Se é verdade que o treinador inventou contra o Estoril, também é verdade que soube ganhar o jogo. Esses três pontos foram fulcrais. Como comparação, contra o slb NES não inventou nada, colocou o melhor 11, a jogar muito bem, e no fim o resultado é o que nos coloca hoje no 2º lugar. Será que ainda não aprenderam que à jornada 34, o campeão é a equipa com mais pontos?

    Jogar bonito é, e será sempre, um extra para complementar os pontos.

    A malta daqui deve ser muito nova, mas aconselho a verem o Brasil de 82. Provavelmente a melhor equipa que alguma vez interpretou o espetáculo que é o futebol... e perdeu com uma Itália que jogava muito menos do que nós.

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    1. Marcano, Alex Teles, Danilo, André Silva, Corona. 5 «ilustres desconhecidos» (mas só para o Hugo Mota)

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  3. Caro Miguel, por momentos fez-me lembrar os adeptos do "maismaior" clube da freguesia de carnide.

    Que eu saiba, a fama internacional de um jogador vem cumulativamente:
    - Jogar nas 4 principais ligas europeias (Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha) de preferência a titular num dos principais clubes. A partir daí, quanto maior os feitos, maior a fama.
    - da experiência europeia/internacional nos clubes, e/ou eventuais feitos.
    - do acumular de internacionalizações ao serviço das selecções, e/ou eventuais feitos (tipo Éder).

    De Portugal, o comum adepto europeu sabe os nomes dos principais clubes e aqui aqui ou acolá talvez veja imagens dos golos de um clássico. Quanto ao resto, o que diz respeito ao nosso campeonato passa-lhes ao lado salvo o vencedor final.

    Se utilizarmos como exemplo um adepto vulgar da Juventus, o Alex Telles será uma cara familiar pela época que fez no Inter. Mas se perguntar a um adepto comum do Manchester United, ele não fará a mínima ideia de quem seja.

    Desses 5, e também foi uma dúvida minha quando enumerei os 3 exemplos, poderia incluir eventualmente Corona pelos golos de belo efeito que tem marcado pelo México e também nesta época europeia portista. Quanto aos restantes (obviamente Danilo e A. Silva), acredito que vão ser nomes famosos na Europa, mas para já ainda não o são.

    Para convencidos e megalómanos já existem "6 milhões" em Portugal.

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