A Silly Season chegou. Como sempre, com data e hora marcada. Logo após o apito final do último jogo da Superliga, convidando ao descanso, a mente fervilhante de alguns começou a actuar. Compreende-se. Jornais diários exigem parangonas sensacionalistas, de quando em vez, como forma de captar a atenção do potencial comprador. É a lógica comercial a actuar. E, nesse aspecto, Portugal conta com jornalistas imaginativos.
A “cebolada” que o Porto deu à corja, resgatando do opróbrio o Cristian Rodriguez, não mereceu, por estranho que pareça, grandes títulos. Supunha-se que a contratação de um peso-pesado, a um dos pretensos rivais, colocasse a acção nas primeiras páginas, com os habituais artigos de opinião inflamados. Mas não. Os jornalistas de serviço provavelmente fizeram como o presidente portista. Só viram dois jogos da corja, na época que terminou, reparando provavelmente em Quim. Assim, compreende-se que a contratação tenha sido, de alguma forma desvalorizada.
Mas estas coisas de se escrever para um jornal diário, de cor vermelha, tem que se lhe diga. Não fosse a turba, habitual consumidora do que lá vem escrito, ficar depressiva, antes da época começar, a estratégia passou por criar uns paliativos. De um momento para o outro, já com o direito a letras garrafais, na capa, e fotografias de corpo inteiro, ficamos todos a saber que “Simão recusou o Porto”. Rejubilaram os adeptos encarnados. Nem tudo estava perdido. Rui Costa não serve apenas para passear os fatos da Boss, engenhosamente engomados. O ex-jogador, agora travestido e empossado de novas funções, ministrou novo rude golpe no clube do Dragão. Balboa “assinou pelo maior clube de Portugal” e, pasme-se, recusou inclusive um “convite do Porto” para vestir de azul e branco. Em 2 míseros dias, a honra do clube da capital foi reposta, sem apelo nem agravo. Já com cheirinho a goleada, a sempre atenta e profissional Direcção da corja conseguiu, in-extremis, evitar a saída de um júnior, cobiçado pelo maléfico clube da Invicta. Era o zénite.
Os adeptos da instituição, ainda não refeitos das alegrias anteriores, suspiraram de alívio. A corja, aparentemente, está em boas mãos. Nos próximos dias ficaremos todos a saber, em 1ª mão, que Aimar, Miccoli e afins recusaram, também eles, convites honrosos do Porto. Compreende-se. Qual é o gozo de jogar no tricampeão nacional? Ou de ouvir o hino da Champions, ao vivo e a cores? Viva a silly season, a única parte do ano onde o Benfica é o vencedor incontestado!
Platini continua a falar. E a dizer asneiras. É algo inato, em alguns. Nos franceses, faz parte dos genes, deixados pela cobiça imperialista de Napoleão. Moldou-os. Transformou-os em seres arrogantes. Dados a ares de superioridade. Platini corresponde na perfeição ao estereótipo. Do francês e do ex-futebolista. Sempre se achou, criando um dogma do facto, que a inteligência e a arte do pontapé na bola eram impossíveis de associar. Quase como um divórcio natural. Salvo raras e esparsas excepções, sempre foi assim. Raramente, aparece um espécime que, para além dos malabarismos naturais que consegue fazer com uma bola de couro, foi dotado, por obra e graça do Espírito Santo, com uns pozinhos de inteligência. Platini não é, infelizmente para ele, um desses. E a mim custa-me a entender como é que o mais alto responsável da UEFA consegue, de forma ligeira, roçando a incontinência, declamar sempre que tem um microfone por perto, as suas vincadas ideias quanto a corrupção, envolvendo o nome do Porto. Não sei se por mero desconhecimento ou por notória má-fé, o ex-internacional gaulês continua a proclamar, alto e bom som, que os azuis e brancos deveriam ser afastados da mais elitista prova de clubes da Europa. A presunção de inocência, pelos vistos, é uma expressão fátua, despida de conteúdo, nos gabinetes da UEFA. E isso chateia-me. Arrelia-me. Porque, nestas coisas, sou como os elefantes. Não esqueço. Lembro-me bem do gosto salgado das lágrimas que me decoraram a cara, numa longínqua noite de 1984, tinha eu 13 anos. O Porto, congeminado anos a fio pelo Mestre Pedroto, tinha atingido a sua maioridade europeia. A final de Basileia era, para todos nós que comungávamos aqueles ideias, apenas o ponto mais alto de uma bela epopeia. O esforço denodado, contra o Dínamo de Zagreb, com o golo que carimbou a passagem obtido aos 90 minutos. Ou a luta titânica, numa noite de intenso nevoeiro, em Aberdeen, onde emergiu um herói improvável, com um chapéu do meio-campo. E essas lembranças, bonitas, representavam apenas o corolário lógico da ascensão de um clube ambicioso. Capaz de vencer todos os obstáculos. Ou quase todos. Na final de Basileia, o orgulho que cada portista sentiu, ao ver o azul e branco pintalgar o relvado de um palco de eleição, foi diametralmente oposto à raiva, ao choque e à indignação. Por causa de um homem. Adolf Prokop, árbitro da extinta RDA, foi o paladino dos italianos. E a glória, essa, ferida de morte, caiu direitinha nos braços dos jogadores da “vechia signora”. Platini estava lá. Platini comemorou efusivamente. Paltini venceu, de forma maculada.
Não foi caso único. Bastou apenas mais um ano. Uma volta ao calendário do tempo. Outro palco, outros protagonistas, outra história. O mesmo desfecho. Estádio do Heysel. Liverpool e Juventus. Na TV, o imenso absurdo, mostrado de forma crua, com os mortos e feridos a amontoarem-se, numa espécie de circo romano dos tempos modernos. Fazendo jus ao “the show must go on”, a bola rolou, pese o cheiro fétido a mortandade. E a Juventus ganhou. Platini ergueu novo troféu. Com um penalty. Marcado por si. A falta, efectuada fora da área, serviu de pretexto para uma espécie de justiça divina, penalizando o hooliganismo inglês. E assim paulatinamente, com erros atrás de erros, o mito nasceu. A aura de jogador emblemático, de mágico merecedor do Olimpo, foi criada. Jogando no clube mais corrupto d Europa. Com títulos obtidos mercê dos favores dos juízes de campo. E é este “avec” que nos tenta dar lições de moral?
ps - Tenta dar lições de moral, com o Porto a ver passar o navio. Primeiro estranha-se. Depois... volta a estranhar-se. Não me conformo. O combate é feito, também ele, com as armas do inimigo. Platini, há muito, que mereceria uma resposta contundente nas mesmas páginas por onde tem debitado a sua estupidez congénita. Mas não. Amordaçados à estratégia inicial, a SAD portista mantêm um mutismo ensurdecedor. Cada vez mais, difícil de entender…
ps2 - A credibilidade de Carolina Salgado, a alternadeira mais famosa deste País, foi arrasada pelo Juiz que presidiu ao processo de arquivamento do célebre "caso da fruta". As minudências jurídicas serão debatidas pelos experts mas, apesar de tudo, gostava de ver agora a cara de Ricardo Costa. Ele, auto-empossado guardião da moral e dos bons costumes do território luso, sustentou toda a sua argumentação, debatida em horário nobre nas TV's, na palavra de Carolina e no uso [indevido] das escutas telefónicas. E agora, espertalhão?
A “cebolada” que o Porto deu à corja, resgatando do opróbrio o Cristian Rodriguez, não mereceu, por estranho que pareça, grandes títulos. Supunha-se que a contratação de um peso-pesado, a um dos pretensos rivais, colocasse a acção nas primeiras páginas, com os habituais artigos de opinião inflamados. Mas não. Os jornalistas de serviço provavelmente fizeram como o presidente portista. Só viram dois jogos da corja, na época que terminou, reparando provavelmente em Quim. Assim, compreende-se que a contratação tenha sido, de alguma forma desvalorizada.
Mas estas coisas de se escrever para um jornal diário, de cor vermelha, tem que se lhe diga. Não fosse a turba, habitual consumidora do que lá vem escrito, ficar depressiva, antes da época começar, a estratégia passou por criar uns paliativos. De um momento para o outro, já com o direito a letras garrafais, na capa, e fotografias de corpo inteiro, ficamos todos a saber que “Simão recusou o Porto”. Rejubilaram os adeptos encarnados. Nem tudo estava perdido. Rui Costa não serve apenas para passear os fatos da Boss, engenhosamente engomados. O ex-jogador, agora travestido e empossado de novas funções, ministrou novo rude golpe no clube do Dragão. Balboa “assinou pelo maior clube de Portugal” e, pasme-se, recusou inclusive um “convite do Porto” para vestir de azul e branco. Em 2 míseros dias, a honra do clube da capital foi reposta, sem apelo nem agravo. Já com cheirinho a goleada, a sempre atenta e profissional Direcção da corja conseguiu, in-extremis, evitar a saída de um júnior, cobiçado pelo maléfico clube da Invicta. Era o zénite.
Os adeptos da instituição, ainda não refeitos das alegrias anteriores, suspiraram de alívio. A corja, aparentemente, está em boas mãos. Nos próximos dias ficaremos todos a saber, em 1ª mão, que Aimar, Miccoli e afins recusaram, também eles, convites honrosos do Porto. Compreende-se. Qual é o gozo de jogar no tricampeão nacional? Ou de ouvir o hino da Champions, ao vivo e a cores? Viva a silly season, a única parte do ano onde o Benfica é o vencedor incontestado!
Platini continua a falar. E a dizer asneiras. É algo inato, em alguns. Nos franceses, faz parte dos genes, deixados pela cobiça imperialista de Napoleão. Moldou-os. Transformou-os em seres arrogantes. Dados a ares de superioridade. Platini corresponde na perfeição ao estereótipo. Do francês e do ex-futebolista. Sempre se achou, criando um dogma do facto, que a inteligência e a arte do pontapé na bola eram impossíveis de associar. Quase como um divórcio natural. Salvo raras e esparsas excepções, sempre foi assim. Raramente, aparece um espécime que, para além dos malabarismos naturais que consegue fazer com uma bola de couro, foi dotado, por obra e graça do Espírito Santo, com uns pozinhos de inteligência. Platini não é, infelizmente para ele, um desses. E a mim custa-me a entender como é que o mais alto responsável da UEFA consegue, de forma ligeira, roçando a incontinência, declamar sempre que tem um microfone por perto, as suas vincadas ideias quanto a corrupção, envolvendo o nome do Porto. Não sei se por mero desconhecimento ou por notória má-fé, o ex-internacional gaulês continua a proclamar, alto e bom som, que os azuis e brancos deveriam ser afastados da mais elitista prova de clubes da Europa. A presunção de inocência, pelos vistos, é uma expressão fátua, despida de conteúdo, nos gabinetes da UEFA. E isso chateia-me. Arrelia-me. Porque, nestas coisas, sou como os elefantes. Não esqueço. Lembro-me bem do gosto salgado das lágrimas que me decoraram a cara, numa longínqua noite de 1984, tinha eu 13 anos. O Porto, congeminado anos a fio pelo Mestre Pedroto, tinha atingido a sua maioridade europeia. A final de Basileia era, para todos nós que comungávamos aqueles ideias, apenas o ponto mais alto de uma bela epopeia. O esforço denodado, contra o Dínamo de Zagreb, com o golo que carimbou a passagem obtido aos 90 minutos. Ou a luta titânica, numa noite de intenso nevoeiro, em Aberdeen, onde emergiu um herói improvável, com um chapéu do meio-campo. E essas lembranças, bonitas, representavam apenas o corolário lógico da ascensão de um clube ambicioso. Capaz de vencer todos os obstáculos. Ou quase todos. Na final de Basileia, o orgulho que cada portista sentiu, ao ver o azul e branco pintalgar o relvado de um palco de eleição, foi diametralmente oposto à raiva, ao choque e à indignação. Por causa de um homem. Adolf Prokop, árbitro da extinta RDA, foi o paladino dos italianos. E a glória, essa, ferida de morte, caiu direitinha nos braços dos jogadores da “vechia signora”. Platini estava lá. Platini comemorou efusivamente. Paltini venceu, de forma maculada.
Não foi caso único. Bastou apenas mais um ano. Uma volta ao calendário do tempo. Outro palco, outros protagonistas, outra história. O mesmo desfecho. Estádio do Heysel. Liverpool e Juventus. Na TV, o imenso absurdo, mostrado de forma crua, com os mortos e feridos a amontoarem-se, numa espécie de circo romano dos tempos modernos. Fazendo jus ao “the show must go on”, a bola rolou, pese o cheiro fétido a mortandade. E a Juventus ganhou. Platini ergueu novo troféu. Com um penalty. Marcado por si. A falta, efectuada fora da área, serviu de pretexto para uma espécie de justiça divina, penalizando o hooliganismo inglês. E assim paulatinamente, com erros atrás de erros, o mito nasceu. A aura de jogador emblemático, de mágico merecedor do Olimpo, foi criada. Jogando no clube mais corrupto d Europa. Com títulos obtidos mercê dos favores dos juízes de campo. E é este “avec” que nos tenta dar lições de moral?
ps - Tenta dar lições de moral, com o Porto a ver passar o navio. Primeiro estranha-se. Depois... volta a estranhar-se. Não me conformo. O combate é feito, também ele, com as armas do inimigo. Platini, há muito, que mereceria uma resposta contundente nas mesmas páginas por onde tem debitado a sua estupidez congénita. Mas não. Amordaçados à estratégia inicial, a SAD portista mantêm um mutismo ensurdecedor. Cada vez mais, difícil de entender…
ps2 - A credibilidade de Carolina Salgado, a alternadeira mais famosa deste País, foi arrasada pelo Juiz que presidiu ao processo de arquivamento do célebre "caso da fruta". As minudências jurídicas serão debatidas pelos experts mas, apesar de tudo, gostava de ver agora a cara de Ricardo Costa. Ele, auto-empossado guardião da moral e dos bons costumes do território luso, sustentou toda a sua argumentação, debatida em horário nobre nas TV's, na palavra de Carolina e no uso [indevido] das escutas telefónicas. E agora, espertalhão?
Eu como estava de férias e tentei até ao limite não ir à Net, não apanhei essa do Simão, mas é de rir.
ResponderEliminarSobre o Platini eu continuo a pensar que vai haver resposta no momente e hora certa, não nos podemos esquecer que isto ainda não acabou.
Amanhã pode ser um dia importante -reune o C.J. -, espero, embora os indícios não sejam animadores, que se faça justiça e o F.C.Porto e o seu Presidente sejam, definitivamente,absolvidos de toda esta história.Depois sim chegará a hora de o Platini ter a resposta.
Quanto à Carolina...aposto que ainda vai "escrever" um livro a contar o filme ao contrário.
Um abraço
Paulo,
ResponderEliminarMais uma vez uma lição de bem escrita e que nos enche a alma. Concordo contigo quanto ao mutismo da SAD, mas acredito que vai ser feito alguma coisa, espero é que não seja tarde demais. Porque estas coisas (para os outros) passa ao esquecimento mto rápido e deixa de ser notícia.
Saudações azuis.
Quanto à reunião de amanhã, no CJ, hoje na Bola lá vem, na última página, um artigo do Vitor Serpa, alertando para eventuais pressões que os ditos juízes possam sofrer, num paleio mais refinado, mas que bebe das mesmas fontes do freiteiro Delgado.
ResponderEliminarDiz o palhaço de serviço que a recente decisão do TCI não deve influenciar o CJ. Não deve? Porquê, pergunto eu?
Bela crónica.Parabéns!
ResponderEliminarAmigos,eu andava um pouco intrigado com estas patacoadas que este "abec" disse sobre o F.C.Porto.Acontece que,tanto andei,tanto li,tanto pesquisei,que acho que já sei o porquê do "Franciu" estar assim tão raivoso contra o F.C.Porto...
O F.C.Porto não votou nele,segundo descobri o F.C.Porto votou Lennart Johansson.
Alguém me corrija se for caso disso.Obrigado.
tripeiro bingador:
ResponderEliminarQuem votou foi a FPF e, segundo sei, votou no Lennart Jonhasson...
Só espero que o F.C.Porto quando se vir limpo desta trampa toda,montada pela retornada,e sus muchachos,que o F.C.Porto caia em cime destes Mafiosos todos,e não dê tréguas a ninguém.O F.C.Porto não pode,nem deve temer nada nem ninguém,pois a sua massa associativa é o garante de que mesmo sós,somos suficientes para aguentar com essa canalhada cobarde e rasteira lá de baixo da Mouraria.
ResponderEliminarMesmo assim,e já aqui o referi,acho estranho tanta passividade das forças vivas da cidade,pois estas deveriam insurgir-se contra quem maltrate um filho seu.Mas,quando o próprio presidente da Câmara Municipal hostiliza o clube que tanto tem dado á sua cidade...estamos conversados.
Pois eu estive lá, em Basileia, no mesmo estádio (embora remodelado) onde à 2 semanas a Selecção de Socolari foi eliminada do Euro2008. Também eu não me esqueço da forma vergonhosa como fomos roubados. Na viagem de regresso ao Porto colocamos um cartaz contra o Sr. Prokop, um árbitro da antiga RDA escolhido a dedo para a 1ª final onde o Porto esteve com António Morais no banco e Pedroto já doente em casa. Nesse mesmo jogo os adeptos italianos fartaram-se de fazer asneiras que a polícia suíça não sabia como resolver. No ano seguinte dá-se a tragédia de Heysel Park que não foi só culpa dos ingleses. E Platini esteve em duas das mais negras páginas do futebol europeu.
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