Entrevista exclusiva com Miguel Guedes

É com enorme prazer que hoje publico uma entrevista com um ilustre adepto do FC Porto conhecido por essa faceta, de Dragão, mas também pelo facto de ser o (excelente) vocalista dos «Blind Zero» (banda de rock Portuguesa formada em 1994 no Porto). Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e desempenha actualmente as funções de Director da GDA (Gestão dos Direitos dos Artistas Intérpretes e Executantes) no Porto. É desde 2004 o «defensor» do FC Porto no programa da Antena 1, «novos artistas da bola». Estou a falar de Miguel Guedes, a quem aproveito para agradecer toda a simpatia e disponibilidade.

ENTREVISTA EXCLUSIVA

1. Desde quando surgiu essa sua paixão pelo FC Porto?

É sempre difícil definir o primeiro momento na vida de quem quer que seja. Lembro-me mais ou menos nubladamente do primeiro jogo a que assisti nas Antas pela mão do meu avô Júlio, avô materno, julgo que contra a Académica. Tenho muito viva a memória do ângulo de visão, pelo que sei que assisti ao jogo na superior norte. Recordo tantas e tantas subidas e descidas da Fernão Magalhães, ao sol ou à chuva, com bandeira aos ombros, cos mais diversos humores, peripécias e comentários ao jogo. Mas é evidente que no futebol a paixão surge antes mesmo de sabermos que a paixão existe. Sou de uma família de portistas de Trás-os-montes e de um tio-avô boavisteiro do Bonfim (que chegou a ser sócio número 1 do Boavista, António Monteiro).

Afectivamente estou muito ligado à cidade do Porto, onde nasci, vivo, trabalho e sou feliz. O Porto clube está para mim intimamente ligado ao Porto cidade, às suas gentes, às suas diferenças, ao querer e poder ser agente de transformação, tantas vezes contra-poder. É uma cultura riquíssima de liberdade e nobreza, ímpar neste País.

2. O que sente a defender o FC Porto na Comunicação Social, nomeadamente, na Antena 1?

Quando me dão o privilégio de expressar a minha opinião de uma forma mais abrangente, tanto na Antena 1 como em outros espaços da imprensa escrita ou televisiva, não posso deixar de sentir que há uma responsabilidade de representação do clube que está inerente. No entanto, no dia em que deixar de representar as minhas opiniões em primeira instância, declararei a morte da minha análise crítica. Não acredito em pensamentos impolutos e absolutamente imparciais. Não nego que a minha visão será sempre parcial, porque assumidamente portista e na defesa da razão que tantas vezes nos assiste e não poucas vezes nos é negada. Mas não posso deixar de pensar que me represento sobretudo a mim próprio enquanto portista e cidadão.

Não tenho aspirações a fazer o pleno das opiniões, de representar a voz única do “portismo” (até porque acho que essa voz única não existe, felizmente). A voz do Porto é plural, aberta à discordância e ao pluralismo. Terá que ser sempre assim, sem delitos de opinião. É evidente, porém, que num debate com representantes de clubes rivais, não podemos deixar de defender ao limite o que julgamos sensato, muitas vezes de forma intransigente face à intransigência de outros. Mas não gosto de ultrapassar essa barreira da sensatez, sob a pena de perder a razão. Se o fizesse, representaria o Porto e a mim próprio numa atitude folclórica e panfletária que, a meu ver, o Porto não merece nem precisa.

Fundamentalmente, sinto um enorme prazer em falar sobre futebol, sobre a nossa competência, as nossas conquistas, a nossa forma de fazer diferente e melhor, com um enorme orgulho e felicidade em ser portista.

3. O Miguel Guedes vê-se de alguma forma a desempenhar no futuro um cargo no FC Porto?

Não tenho qualquer aspiração a desempenhar um cargo no meu clube. A minha única e exclusiva preocupação é ser cada vez mais portista, cada vez mais sabedor da sua história e cada vez mais feliz com o seu futuro.

4. Qual a sua opinião sobre a frieza e indiferença com que Rui Rio trata o FC Porto? Sendo o FC Porto um dos maiores vectores de afirmação da Cidade Invicta não há aqui uma ingratidão absoluta?

Não consigo compreender a enorme preocupação (porque é uma evidente preocupação) que o Presidente da Câmara eleito pelos cidadãos do Porto tem mostrado em afastar-se sistematicamente do Porto clube, um dos principais - senão o principal - símbolos da cidade. Não lhe vou perdoar nunca o facto de me ter retirado a Avenida dos Aliados como pano de fundo das conquistas do meu clube. Julgo, por melhor que sejam as comemorações junto ao Dragão, que nenhum portista lhe perdoará isso. Como nenhum portista lhe pode perdoar não nos ter recebido nos momentos em que a cidade e a nossa gente exultava com vitórias cá e além-fronteiras.

Concordo em absoluto que o poder político tem que estar separado e independente do mundo do futebol e do desporto em geral. Mas independência não é sinónimo de ostracismo, de virar costas, de apunhalar o ânimo das gentes. Esta é uma cidade de portistas! Sendo certo que o Presidente da Câmara foi eleito e provavelmente será reeleito com o voto de muitos deles.

5. Como são as horas seguintes do Miguel Guedes depois de uma derrota num jogo importante? E durante os seus concertos musicais como procura seguir as novidades dos jogos do FC Porto?

Como as de todos os portistas, vividas com uma enorme tristeza. Mas também normalmente com a certeza que saberemos tomar as ilações devidas, projectando um vitória no jogo que se segue. Não sou derrotista. O que mais me custa é perder injustamente. Quando se perde porque o adversário foi claramente melhor (o que acontece, felizmente, muitas poucas vezes) há um sentimento de conformação que, precisamente, conforta. Agora, quando perdemos por erros calculados por outros, premeditados ou não, aí é muito difícil aceitar a derrota. Mas mais difícil ainda é quando perdemos por infelicidade ou manifesto azar. O jogo com o Shalke 04 na Liga dos Campeões, por exemplo, ficará na minha memória como uma das derrotas mais difíceis de ultrapassar (quase tão difícil como aquela triste eliminação contra o modesto Wrexham na época 84/85, numa noite de intenso temporal na cidade, com o "pobre" Borota na baliza, onde apesar de ganharmos 3-2, perdemos pela vantagem dos galeses nos golos fora).

Quando o FC Porto joga durante um concerto que eu esteja a fazer, garanto-vos que há sempre um transístor sintonizado na boca do palco que nos vais dando informações à nossa equipa, que as transmite para dentro do palco. Lembro-me perfeitamente de comemorar um golo em Alvalade no palco do Centro Cultural de Belém.

6. Concorda comigo quando digo que a Comunicação Social tem encetado nos últimos tempos uma perseguição ao FC Porto e ao seu Presidente como nunca havíamos assistido? Quais os verdadeiros interesses desta gente?

O cerco às vitórias do FC Porto tem crescido na proporção dessas mesmas vitórias. Evidentemente que o principal responsável por essas vitórias, Jorge Nuno Pinto da Costa, está sempre na mira desses pobres abutres que por vezes pensam que sobrevoam um corpo já cadáver. Enganam-se e deviam envergonhar-se. Sobretudo destas últimas tentativas de jogar competições para as quais não foram apurados (e para as quais, estou certo, não vão ser apurados nos tempos mais próximos).

7. Qual a vitória do FC Porto que mais o entusiasmou?

É muito difícil responder a esta questão. Talvez, por nessa altura as vitórias europeias serem mais escassas, a vitória sobre o Dínamo de Kiev, nas Antas, no ano em que fomos Campeões Europeus pela primeira vez. Fez-nos sonhar que era possível e foi mesmo. Soubemos nesse momento que tínhamos pisado a lua mantendo os pés na terra. Mas há muitas outras, como por exemplo o inevitável jogo contra o Celtic de Glasgow na final da Taça UEFA ou tantos e tantos derbys.

8. Escreva-nos o seu onze ideal da história do FC Porto.

Essa pergunta é terrível. Avanço então com um onze apenas com jogadores que eu vi jogar. Esquecendo, inevitavelmente, muitos e muitos e sabendo que seria impossível juntar tantos artistas numa equipa-base. Ainda assim não resisto: Vítor Baía, João Pinto, Eurico, Jorge Costa, Murça, Madjer, Lucho, Deco, Kostadinov, Futre e Gomes.

9. Dê-nos a sua opinião sobre estes 5 nomes da nossa história:

Pinto Costa: o maior vencedor;
Vítor Baía: o mais vencedor;
Jorge Costa: um enorme portista e jogador;
Jesualdo Ferreira: o mais sério candidato a "competentíssimo treinador agora portista";
Mourinho: um fora de série.

10. Um comentário a este TRIcampeonato ganho esta época.

Foi um campeonato que não deixou margem para dúvidas até aos nossos mais cegos detractores. Os pontos falam por si. De ressalvar a enorme competência, seriedade e espírito competitivo demonstrado em toda a época. Fica a mágoa da final da Taça de Portugal (onde acho que perdemos bem e deveríamos ter feito mais para ganhar), da Taça da Liga (a nossa escorregadela da época) e da eliminação prematura da Liga dos Campeões (absolutamente injusta e difícil de digerir, numa enorme tristeza porque tínhamos equipa e condições subjectivas para ir bem mais longe).

11. Acha que toda esta envolvência do apito dourado tem condicionado as arbitragens dos jogos do FC Porto?

Obviamente. Têm sido épocas duríssimas onde só a enorme competência e fiabilidade da equipa no campo e fora dele tem permitido continuar na senda das vitórias. Tenho a absoluta certeza que, nestas condições, nenhum outro clube que não o FC Porto poderia continuar a ser vencedor. Apesar de tudo, pobres dos que continuam a pensar que o ataque nos fragiliza.

12. Costuma visitar blogs desportivos? Já conhecia o nosso? Uma palavra para os nossos leitores.

Confesso que não sou frequentador assíduo de blogs, até porque o meu trabalho já me obriga a estar tanto tempo em frente ao computador que, sempre que posso, evito ler no monitor. É evidente que já conhecia o vosso blog, um dos belos casos de boa análise, boa escrita e indefectível portismo. Porque a paixão é para levar a sério, também muito trabalho histórico. Muitos parabéns, proporcionais às alegrias.

Viva o nosso clube, um abraço forte a todos os leitores.
Miguel Guedes.