‘Nortada' do Miguel Sousa Tavares
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1. A novela Cristiano Ronaldo/Real Madrid já está resolvida; a novela João Moutinho/Everton também; a novela Miguel Veloso/Qualquer coisa idem aspas: só resta a novela Ricardo Quaresma/Inter. E esta novela já dura há demasiado tempo e começa a ter contornos muito pouco dignos para o FC Porto.
Afinal de contas e até ver, é o FC Porto que continua a pagar o ordenado de Ricardo Quaresma e presumo que não seja pouco. Mas, nos sete jogos de preparação até agora realizados, Quaresma só entrou em campo uma vez e para jogar 29 minutos. Segundo consta, os adeptos que tiveram ocasião de assistir ao treino aberto que Jesualdo Ferreira fez quinta-feira passada foram os raros que voltaram a ter ocasião de se deliciar com os pormenores só ao alcance do 7 portista: cruzamentos de letra e de trivela, fintas estonteantes, toques de calcanhar ao gosto da plateia, etc. Foi uma espécie de tratamento masoquista que o clube lhes deu: «É bom, não é? Mas não pode jogar!».
Ricardo Quaresma está na montra há mês e meio, à espera que alguém o compre. Todo o planeamento financeiro da próxima época está baseado nisso: é o que consta do orçamento em vigor e é o que se infere das dez aquisições feitas por conta do dinheiro que há-de entrar com a venda de Quaresma. Infelizmente, porém, Moratti, o presidente do Inter, não anda a dormir na fila: ele sabe que o FC Porto precisa desesperadamente de vender o Quaresma e está tranquilamente à espera até 31 de Agosto que essa necessidade faça baixar o preço até ao valor de saldo que o Inter pretende pagar. O tempo joga a favor do Inter e contra o FC Porto. Ao Corriere dello Sport, Pinto da Costa foi explicito, quase suplicante: «Apresentem lá uma proposta pelo homem!». Mas Moratti continua tranquilamente à espera. Vai apresentar uma proposta, sim, mas só nos últimos dias antes de acabar o prazo e sabe que, nessa altura, fará engolir ao presidente portista a sua promessa de que só venderia Quaresma pelo valor da cláusula de rescisão - quarenta milhões -, menos um euro. A única coisa que poderá baralhar os planos do milanês é a eventual entrada em cena do Real Madrid. Mas está por provar que isso não seja uma notícia colocada pelo empresário ou pelos serviços de contra-espionagem do FC Porto, para ver se assustam o Inter.
E, enquanto este jogo de bluff continua, o FC Porto mantém Quaresma ausente dos jogos, embora lhe continue a pagar o ordenado. Não é a primeira vez que Jesualdo Ferreira é obrigado pela Direcção a engolir um sapo destes: sucedeu o mesmo na final da Taça, quando Bosingwa, já apalavrado ao Chelsea, foi impedido de jogar, não se fosse lesionar antes do contrato estar assinado. O mesmo Bosingwa que depois jogou o Euro pela Selecção, foi impedido de jogar a decisão de um troféu pelo próprio clube que lhe pagou o ordenado até 31 de Julho. Uma demonstração de vassalagem e submissão ao Chelsea que eu, pelo menos, achei indigna de um grande clube.
A mesma história se repete agora com Ricardo Quaresma, impedido por ordens superiores de jogar, não vá lesionar-se e estragar o negócio pressentido. Quaresma transformou-se assim num fantasma: é do FC Porto, mas não é; pode ser visto em treinos, mas não em jogos; está às ordens de Jesualdo, mas só em alguns casos. Será que se chegará ao desplante de também não o utilizar no jogo da Supertaça porque o Inter ainda não se decidiu até lá e é preciso continuar a mantê-lo numa redoma de vidro, numa montra ao alcance dos passantes que andem à procura de um génio da bola? Será que a indignidade da situação chegará ainda ao ponto de limitar voluntariamente as forças próprias, correndo o risco de perder mais um troféu para não melindrar o sr. Moratti?
E, sem poder dispor de Quaresma, Jesualdo lá vai tentando matar caça com o seu tão estimado quanto mal-agradecido Mariano González. Ah, o que não faria este FC Porto com um trio de ataque formado por Quaresma, Lisandro, Rodriguéz! Ou então, melhor ainda, Rodriguéz recuado no meio-campo, ao lado de Meireles e Lucho, e na frente o trio Quaresma, Hulk, Lisandro? Sim, porque nem Guárin, nem Tomás Costa, nem Bolatti, nem Fernando, dão garantias de fechar um trio de respeito no meio-campo e basta que Lucho fique episodicamente fora de combate e tudo aquilo emperra - viu-se bem na segunda parte contra a Lazio.
2. A notícia da penhora do estádio do Bessa não pode surpreender aqueles que têm obrigação de andar bem informados. O Boavista fez dois acordos de pagamento de dívidas ao Fisco e não cumpriu nenhum. Numa situação destas, qualquer contribuinte estaria penhorado há muito. O facto de o Boavista ter conseguido terceiro acordo junto do Ministério da Economia só pode, de facto, resultar de tráfico de influências político. E isso é uma forma de concorrência desleal. Digo-o com o mesmo descomprometimento com que a semana passada aqui disse que a despromoção disciplinar do Boavista à segunda Liga não era capaz de convencer ninguém da sua justiça. Uma coisa é isso, outra é a manutenção artificial na primeira Liga de um clube que deve dinheiro a tudo e a todos e que salta à vista que jamais conseguirá pagar as suas dívidas por meios normais. E digo-o da mesma forma que digo que outro clube histórico e que pessoalmente sempre apreciei, que é o Vitória de Setúbal, só tem viabilidade económica conjuntural através de uma manobra politica que consiste na aprovação do Plano Urbanístico do Vale da Rosa, que é uma vergonha pública em termos de politica ambiental e de ordenamento territorial.
Infelizmente, também no futebol como no resto, crescemos mal e desordenadamente e, por isso, a triste verdade é que não há mais de uma dúzia de clubes autosustentáveis e a lutarem no primeiro escalão, no País todo. Clubes que fazem parte da história do futebol em Portugal - como o Boavista, o Vitória de Setúbal, o Belenenses, a Académica, o Beira-Mar ou o União de Leiria, por exemplo - não têm a mais pequena viabilidade económica a curto, médio ou longo prazo. Não têm adeptos, não têm receitas, não têm mecenas: todos eles dependem de favores políticos e operações imobiliárias de favor com as respectivas Câmaras Municipais. O resto é ficção e nem sequer piedosa.
Se houvesse juízo, teríamos uma primeira Liga com doze clubes e uma segunda Liga com clubes semi-amadores. Mas quem ocuparia depois os dirigentes de todas as associações distritais e os empreiteiros locais que querem ser famosos?
n'A BOLA de 12Ago2008
fonte: "All Dragons fórum"
Esta novela do Quaresma tb me está a provocar alergia... Vamos aguardar o seu final.
ResponderEliminarMST foi duro com a SAD, uma vez mais, e talvez injusto, embora muitas verdades lá estejam.
Eu já cansei..., MST parece-me que vais ter de ficar sozinho a defender o nº7 :(
ResponderEliminarJá não tenho pachorra para «novelas mexicanas»... não contribuo mais para essa paróquia.
ResponderEliminarResta apenas dizer que pelos vistos, como sempre digo, só faz falta quem cá estar (ou quer estar!)... o «mustang» não tem jogado... e o FC Porto não tem deixado de ganhar, vero?
Se quer ficar, seja muito bem vindo e todos o apoiaremos... se não tem vontade em ficar, boa viagem e que vá pela beirinha... por mim, tanto faz, como fez!
ps - Heliantia, atão? que mudança de discurso é esse? hummmm :D :D
E que tal deixarmos tudo nas mãos do nosso presidente?Afinal,são 26 anos a gerir este clube com resultados que eu do alto dos meus 54 anos jamais imaginaria.Deixem lá o Quaresma,não se preocupem,Pinto da Costa não anda a dormir.Pode ser que o Sr.Moratti,venha cá na reabertura do mercado a choramingar para o F.C.Porto lhes vender o Quaresma.
ResponderEliminarEu tenho muita confiança no Sr.Pinto da Costa.