Dementes, displicentes e resistentes

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1 Não me canso de denunciar o esterco em que estamos envoltos, num país com uma comunicação social asquerosa, com um povo que se deixa dominar por paineleiros intelectualmente desonestos.
Parecem padecer de uma demência selectiva, a qual se manifesta apenas quando dá jeito, quando os olhos parecem apenas ver o que lhes apetece, quando a suposta inteligência que possuem se encontra ao serviço do próprio fígado e não da mente.
O fim de semana voltou a ser fértil em incidências, todas elas com tratamento em função da cor dos equipamentos e do nome dos intervenientes.
Na sexta-feira, ainda me encontrava retido em Bratislava, segundo rezam as crónicas, tivemos uma exibição tremenda dos menstruados. Um verdadeiro recital da dupla Cardozo-Saviola, com sequência idêntica frente ao Shalke. Pelo menos foi assim que a imprensa analisou o jogo, não tendo estes baluartes do bom senso vislumbrado quaisquer razões para abordar lances polémicos ou de eventual dúvida.
Confesso que só vi os momentos do jogo na segunda-feira, e até saltei do sofá com alguns deles. O que se diria se um penalti do tamanho da Torre dos Clérigos cometido por David Luiz, não fosse marcado contra o Porto? E melhor ainda, o que se diria se Ventura algum dia desse um frango do tamanho da Torre Eiffel contra o Porto, como fez Moretto? Estaria a verdade desportiva posta em causa, seria a vergonha do século, o sistema de volta, a fruta novamente a funcionar. Assim, como o beneficiado foi colosso europeu que ia vencer a Liga dos Campeões, não se passou nada, apenas lances normais do futebol. Bravo!!! BIS!!! BIS!!!
No Dragão, vemos um penalti duvidoso (mas falta) marcado a nosso favor frente ao Setúbal, e ao mesmo tempo um penalti no último minuto marcado contra nós, quando a falta é feita fora da área e o jogador se deixa cair dentro dela, e o que temos? Agora sim um escândalo! A verdade desportiva passa a estar em causa, o campeonato está falseado. Bravo!!! BIS!!! BIS!!!
Mas o que mais me surpreende, não são as primeiras páginas dos jornais centralistas. Não são os comentários dos supostos jornalistas da nossa praça. Não são os discursos doentios do paineleiros dos clubes alfacinhas. Desses já só espero um grande vómito intelectual sempre que está em causa o Futebol Clube do Porto.
O que me surpreende, é que os nossos paineleiros parecem estar reféns das verbas que ganham, dos alinhamentos previamente definidos por jornaleiros sectários, e mantêm posições politicamente correctas, pouco agressivos perante o ódio que os outros destilam.
O que será necessário para que denunciem estas verdadeiras atrocidades, para que utilizem os mesmos discursos inflamados, para que não mais permitam que se use o nome do nosso clube em vão, tentando denegrir a nossa imagem, e repetidamente retirar mérito às nossas vitórias?
A nosso passado é de guerrilha constante. É marcada por termos que lutar o triplo daquilo que os outros lutam para ganhar a mesma coisa. E de repente passámos a estar representados por passarinhos?

2 Como qualquer portista, a exibição frente ao Setúbal não me agradou. Existem muitas atenuantes, sendo a mais indicada o desgaste provocado pela épica vitória em Viena, em condições absolutamente desumanas. Não podia estar mais em desacordo!
Não sou um letrado em futebol, apenas um amante da modalidade, e especificamente do nosso clube. Ainda assim, sei perfeitamente que quando uma equipa sabe que corre o risco de se ressentir fisicamente do esforço despendido, só tem que fazer uma coisa: entrar forte no jogo, tentar resolver a partida nos primeiros 25 minutos, pois é natural que depois o tal esforço físico se venha a manifestar. Ora, se houve coisa que não aconteceu foi uma entrada forte na partida. Criamos algumas oportunidades, mas não houve um jogo contínuo, com sequência, com intensidade, ao nível do já visto.
Aliás, não houve uma entrada forte com o Setúbal, com o Portimonense deixou-se correr o marfim, e na lagartada demos uma parte de avanço. Sendo certo que é difícil manter o nível exibicional que já apresentámos, sendo certo que temos tido algumas lesões importantes (Álvaro, Fernando, Varela), sendo certo que há jogadores que não conseguem manter o mesmo rendimento durante todo o ano, não é menos verdade que tem havido uma inequívoca descompressão mental de toda a equipa após os 5-0 aos menstruados. A abordagem aos jogos não tem sido a mais correcta, não tem manifestado a mesma atitude ganhadora e ambiciosa, já vista esta época.
Não me quero tornar repetitivo, mas porra, isto ainda nem a meio chegou. Ainda faltam muitos pontos em disputa. Ainda faltam muitos desafios difíceis e onde podemos naturalmente perder alguns pontos. Que soem definitivamente todas as campainhas, todos os alarmes, porque podemos estar na eminência de, por culpa própria, dificultarmos aquilo que nós próprios tornamos aparentemente fácil.
Confio em André Villas-Boas, mas não brinquem com coisas sérias, pois posturas como a de Helton, queimando tempo com 60 minutos de jogo, é de uma falta de respeito para com o clube e adeptos, uma falta de bom senso, uma falta de ambição, uma falta de saber o que é o Futebol Clube do Porto, que me deixa sem perceber o que passa pela cabeça de um jogador ao fazer aquilo 3 ou 4 vezes, sendo ele o capitão. Reflexo da equipa?? Não quero acreditar...

3 Não resisto a escrever umas linhas sobre a viagem a Viena.
Começar por manifestar o orgulho por ter estado nessa magnífica cidade, naquele palco sagrado.
Fizeram parte do meu imaginário durante longos anos e finalmente passaram a fazer parte do meu mundo real.
A vitória foi o corolário de uma bela exibição, de uma exibição “à Porto”, marcada pelo fato de macaco e não pelo smoking, marcada pelo bombo e não pelo violino. Mais uma página de ouro da nossa história.
Recordar 27-05-1987 foi uma emoção que cada um viveu á sua maneira. O que senti guardo para mim! São sentimentos demasiado pessoais e intensos para que possam ser traduzidos em palavras.
Mas para quem esteve presente, a viagem torna-se absolutamente inesquecível também pelas imensas dificuldades que todos tiveram no retorno a casa, e em alguns casos, inclusivamente na viagem de ida.
Viveram-se momentos de dúvida, incerteza, desespero, tudo isto perante um número infindável de peripécias e contratempos que se sucediam à velocidade da luz, uma viagem que parecia não ter fim, um descanso que teimava em não chegar. Arrisco-me a dizer que todos nunca desejaram tanto chegar a casa como nesses dias. Perante condições climatéricas tremendamente difíceis, um frio quase insuportável, uma neve constante, tanto o grupo retido em Londres como o grupo retido em Bratislava, viveram momentos que de facto apenas se justificam pelo incondicional amor que sentem pelo seu clube.
Pontualmente, tenho lido algumas críticas direccionadas aos Super Dragões. Todos têm direito á sua opinião, pese embora muitas das vezes a baseemos naquilo que julgamos ser verdade e não propriamente naquilo que efectivamente é real. Não quero fazer o papel de advogado de defesa de ninguém, até porque a claque certamente saberá defender-se melhor do que ninguém.
Mas o que é facto é que é nestas alturas que aqueles que tanto criticam, deveriam ter sentido de perto todo o drama vivido. Enquanto estavam no quente das suas camas, no aconchego das suas famílias, havia dezenas de outros que dormiam no chão dos aeroportos, viam o seu dinheiro acabar, sempre com a incerteza de não saber quando voltavam a casa.
Podem dizer os mais críticos, que outros que não fazem parte da claque, viveram o mesmo. Sem dúvida, mas com uma diferença: é que aqueles que vão esporadicamente, não têm as mesmas despesas pela frequência com que marcam presença, o mesmo número de kms nas pernas, o mesmo número de horas longe dos seus empregos e familiares.
É por tudo isto que, mesmo não concordando com muitas coisas que rodeiam os Super Dragões, não sou capaz de lhes apontar o dedo, pois o que fazem em prol do nosso clube, aquilo que lutam por ele em qualquer lado do Mundo, aquilo que o apoiam em qualquer local, o dinheiro que gastam, o tempo que passam em viagem, camionetas, aeroportos, aviões, são imensamente mais importantes e relevantes, do que eventuais comportamentos, que mesmo devendo ser recriminados, não são comparáveis ao quanto engrandecem o Futebol Clube do Porto.

VAMOS PORTO!!!

Até á próxima

PS - Terá o Sr. Elmano Santos algum fétiche pelo Futebol Clube do Porto e pelo estádio do Dragão? Não será curioso que o mesmo Sr., tenha em duas épocas consecutivas, assinalado duas grandes penalidades muitíssimo duvidosas no último minuto, ambas no nosso estádio, e em ambos os casos com o nosso clube a vencer pela margem mínima (Leiria no ano passado, Setúbal este ano)?