10 junho, 2013

O nosso orgulho é a raça Super Dragão (parte II)

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/


No meu primeiro texto aqui no blog, abordei a questão relativa à importância da mística, importância de incorporar os valores do Futebol Clube do Porto para a obtenção do sucesso. Pois, tão importante como essa mística ser incorporada pelos jogadores, é a forma como esta lhes é transmitida. Se dirigentes, team managers e adeptos têm um papel muito importante nesta tarefa, não há dúvida que os treinadores são também uma parte fundamental na transmissão destes valores.

O treinador FC Porto Dei por mim a pensar que é muito mais difícil encontrar o perfil ideal de um treinador FC Porto, comparativamente ao que acontece com os jogadores. Para se perceber o porquê deste meu raciocínio, vamos a exemplos práticos.

A minha amostra vai ser relativamente curta, embora seja possível perceber que, em meu entender, treinadores com estilos bastante diferentes possam ser um exemplo para o que considero ser um treinador FC Porto.

De 2006 a 2010, o Futebol Clube do Porto foi treinado por Jesualdo Ferreira. O professor vinha conotado com as papoilas saltitantes, agremiação desportiva onde passou um longo período da sua carreira. Saiu do Futebol Clube do Porto como o único treinador português a conquistar três títulos consecutivos. Venceu ainda uma Supertaça e duas Taças de Portugal. Durante quatro anos, foi a única voz a defender o clube na praça pública, a dar o peito às balas. É importante lembrar que este foi dos períodos mais complicados da história do Futebol Clube do Porto, com o apito dourado e a consequente suspensão do Presidente (que mais tarde viria a ser anulada, como todos sabemos). O professor sai de cena após o famoso campeonato do túnel. Durante quatro anos, a sua postura nunca convenceu todos os Portistas. Nunca foi um treinador consensual. A sua postura calculista, muitas vezes fria, é a recordação que muitos adeptos guardam de si. Confesso que me tornei um grande admirador do professor Jesualdo Ferreira. Não me esqueço da forma como valorizou os activos do Futebol Clube do Porto, não me esqueço da forma como soube reconstruir as equipas à medida que jogadores fundamentais iam saindo do plantel. Fez-me sonhar com a final de Roma em 2009, não fosse o golo do ano (prémio FIFA), não fosse a lesão de Lucho Gonzalez nesse jogo e um falhanço incrível de Lisandro aos 87min (que daria a passagem às meias-finais) e a história poderia ter sido diferente. Não esqueço que foi com ele que o Futebol Clube do Porto deu início à série actual de 100 jogos em que o clube apenas tem uma derrota (vs. Bruno Paixão, em Janeiro de 2012).

Começada a época 2010/2011, o Futebol Clube do Porto escolheu para seu treinador André Vi££as Boas. O jovem treinador é um comunicador nato. Apresentou-se como Portista, como um de nós. Conhecedor profundo da cultura Portista, aproveitou da melhor forma a frieza que Jesualdo Ferreira transpareceu durante os quatro anos anteriores. Frases como: “estou na minha cadeira de sonho”, “É verdade que os jogadores têm ambições individuais, mas não podem sobrepô-las ao objectivo colectivo. Eu já vivi experiências fora, mas o meu sentimento por este clube é fortíssimo. Não quer dizer que outros o partilhem. Eu não abdico desta cadeira por nada”, deixaram os Portistas apaixonados pelo seu treinador. O Grito de Revolta da equipa dentro das quatro linhas não podia ter corrido melhor. Sai do Futebol Clube do Porto como campeão invicto, com uma Taça de Portugal e uma UEFA Europa League no currículo. Os 5-0, a festa às escuras e o 1-3 da Taça de Portugal ficarão para sempre na nossa memória. À primeira abordagem, não resistiu aos cifrões e saiu do Futebol Clube do Porto pela porta pequena.

Segue-se Vítor Pereira. O então adjunto da época anterior rejeita o convite do Chelsea e assume o cargo de treinador principal do Futebol Clube do Porto. Os primeiros tempos ficam marcados, como o próprio reconhece, por uma tentativa de se colar à imagem deixada pelo seu antecessor. Não sendo um comunicador nato, Vítor Pereira foi conquistando os adeptos pela sua simplicidade e pela sua competência. “Se calhar, para ser treinador do FC Porto precisava de ter nascido em berço de ouro, ter daqueles discursos à político, mas não tenho.” Bicampeão, sai do FC Porto com apenas uma derrota, contra Bruno Paixão e com duas Supertaças. Além dos adversários externos, teve como inimigos muitos adeptos do FC Porto e também vários jogadores, que na sua primeira época, se achavam os melhores do mundo. Tive oportunidade de, há um ano, lhe dizer o quanto o admirava. Desejo a maior sorte do mundo a este Portista.

As modalidades

Vou começar pelo hóquei em patins. Tó Neves dispensa qualquer tipo de apresentação. São 30 anos com o Dragão ao peito. Apesar de também não ser um comunicador nato, tem um discurso consistente e que orgulha qualquer Portista que o ouça. Depois de, no primeiro ano, o título ter fugido para as papoilas saltitantes, bem como os 42 segundos que ainda faltam jogar desse campeonato, Tó Neves liderou a equipa para a reconquista, numa época que só não foi perfeita por um maldito golo de ouro (ainda falta jogar a Taça de Portugal). Tive a felicidade de ouvir a palestra que antecedeu o prolongamento na final da Liga Europeia e ainda hoje me arrepio só de pensar. Curiosamente, sucede a um treinador que, também não sendo um comunicador nato, teve um sucesso tremendo com os números que todos conhecemos. Será muito difícil igualar esses números nos próximos anos, seja qual for a modalidade. (Sim professor Obradovic, é um desafio!)

No andebol, o professor Obradovic já entrou na história do Futebol Clube do Porto. Ljubomir Obradovic chega ao clube no Verão de 2009 para substituir Carlos Resende. Além de ser uma glória do andebol Portista, Carlos Resende tinha acabado de conquistar o primeiro campeonato do penta. Não me esqueço que, ao fim de três ou quatro jogos, eram muitas as vozes a pedir a cabeça do novo treinador. Contudo, os meses e anos que se seguiram vieram mostrar que a aposta dos responsáveis do andebol foi mais do que acertada. O professor foi capaz de pôr a equipa a jogar um andebol nunca antes visto em Portugal. Se, dentro de campo, a sua postura é típica de um sérvio da sua geração (com todo o rigor e a frieza que os caracterizam), fora de campo, são muitos os que falam das suas qualidades humanas em tom elogioso. O seu português não sai perfeito, mas o seu discurso parece de alguém nascido na Invicta. O programa transmitido no Porto Canal após o fim-de-semana de sonho de meados de Maio é exemplo disso mesmo. Ouvir o professor é motivo para me pôr a sorrir e a pensar: É ISTO O FUTEBOL CLUBE DO PORTO!

Quanto ao basquetebol, o João Tiago que me perdoe mas é sobre o senhor basquetebol que vou escrever nas próximas linhas. Ramon López Suárez é um galego que chega ao Futebol Clube do Porto também em 2009. Curiosamente, também para substituir um homem da casa, Júlio Matos, que tinha assumido o comando da equipa um ano antes, para suceder a Alberto Babo. O ex-seleccionador nacional tinha como cartão-de-visita um currículo ao nível dos melhores do mundo. Se ninguém duvidada das suas capacidades, eu diria que também ninguém imaginaria como este SENHOR iria ficar ligado ao Futebol Clube do Porto. O exemplo vivo que a ligação, que a proximidade entre o Norte e a Galiza é muito mais que apenas geográfica. Não sou pessoa de idolatrar treinador ou jogadores. Já tenho alguns anos disto e não foram muitos os meus “ídolos”. Se Vítor Baía é clara referência da minha infância e Lucho Gonzalez marca o período do meu final de “teenager”, estava longe de imaginar que Moncho López seria a minha verdadeira referência do início da nova década. Sendo um comunicador de excelência, sinto que as suas palavras são sentidas, sinto que Moncho López é um de nós. Este SENHOR é o grande responsável pelo novo aproximar do basquetebol azul e branco com os adeptos. Os ambientes das finais de 2011 e 2012 foram os melhores em tantos jogos no Dragão Caixa. Como 89 anos de história não se apagam da nossa memória, acredito que não faltará muito tempo para voltarmos a ser campeões nacionais, de preferência com Moncho López ao comando da equipa.


O perfil ideal

Depois de muito pensar e muito escrever sobre o tema, continuo sem conseguir encontrar um padrão para definir o treinador Porto. Em todos os mais recentes, encontro uma forte ligação sentimental ao clube. Encontro um forte compromisso com o clube e com a cidade, com a região. Contudo, já demonstrei que esta não é indispensável para a obtenção do sucesso, das vitórias (exemplos de Jesualdo Ferreira). Penso que Tó Neves, Obradovic e Moncho López continuarão ao serviço do Futebol Clube do Porto. Já Vítor Pereira deixará de comandar a equipa de futebol. Não posso terminar sem lhe agradecer publicamente todas as alegrias que me deu nestes dois anos como treinador principal. Não posso, também, terminar sem lhe pedir desculpa por tantas críticas que ouviu, por tantos cobardes que até a sua família procuraram afectar. Houve alturas em que valeu tudo para atacar o treinador do clube, em que este parecia um verdadeiro saco de boxe. Sem nunca se esconder, deu o peito às balas e respondeu com títulos, com apenas uma derrota (nas condições que todos sabemos, que até o próprio treinador adversário o reconhece: “Naquele jogo confesso que houve pelo menos duas decisões do árbitro que foram a favor do Gil e tivemos algum proveito.”) em sessenta jogos disputados. OBRIGADO VÍTOR PEREIRA!


A Paulo Fonseca desejo muito sucesso. Todos me falam bem sobre as suas capacidades. Espero que o seu discurso me conquiste e que consiga unir a família Portista para conquistarmos muitos triunfos. Espero, também, que haja muito mais compreensão por parte dos adeptos comparada com a dos dois últimos anos porque... todos juntos somos mais fortes! TUDO POR TODOS!

Luís Marques

4 comentários:

  1. Subscrevo este excelente opost, apenas acrescento: o treinador que não vestir a camisola e isso não tem nada com prestar vassalagem, nem ser a voz do dono, mas compreender a nossa cultura, não tem hipóteses.

    Abraço

    ResponderEliminar
  2. que grande corrida para completar um grande post!!!

    OBRIGADO Vitor Pereira!

    ResponderEliminar
  3. que me perdoem todos os outros MAGNIFICOS treinadores das restantes modalidades, mas as minhas palavras, vão para Vítor Pereira...

    Sei que não demorará muito a termos um novo treinador campeão... não sei é se voltaremos a ter outro que chore pelo FC Porto.

    Obrigado Vítor Pereira!

    ResponderEliminar
  4. Grande post. Revejo-me em tudo o que foi dito. Temos tido grandes treinadores, com aquilo que é necessário nestas coisas: paixão e comprometimento. Todos os que referiste tiveram-nas. Houve uns que se deixaram seduzir pelos $, mas isso é coisa que só quem lá está é que pode falar e dizer como se treme perante uma proposta do outro mundo.

    Grandíssimo texto.

    ResponderEliminar