13 junho, 2013

Reflexões com um sorriso II

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Conforme tinha aqui prometido há duas semanas, volto a pegar na análise da época 2012/13, no que diz respeito ao nosso futebol.



3. De visto com desconfiança a besta que se torna bestial, voltando a besta e terminando bestial ou 2 anos desgastantes na vida do Vítor Pereira

Sempre o elo mais fraco, muitas vezes a única face visível durante a temporada, até por ter sido o único que falou e deu sempre a cara. Na verdade, até à “Capelada” primamos sempre por um estranho “silêncio institucional”, que já se vem tornando um infeliz hábito nas últimas épocas.

Ao longo de 2 anos deu mostras de conhecimento técnico e táctico para ser o timoneiro deste nosso porta-aviões, além de ter demonstrado por diversas vezes o seu Portismo. No entanto nenhum destes factores evitou que fosse por vezes duramente criticado pelos “seus”, sabendo sempre encontrar formas de seguir em frente e há que lhe tirar o chapéu por isso, uma vez que a maior parte já estaria "morta" e ele soube sobreviver e fechar ambas as épocas com um sorriso.

Acusado de ser obstinado com um modelo de jogo, a pergunta que se impõe é sobretudo sobre as alternativas reais que teve que não fosse a aposta num estilo de futebol equilibrado, com critério e que visou sobretudo esconder a bola e tentar que se marcasse golos nas poucas oportunidades criadas, tentando não dar margem ao adversário. Um dia Vítor Pereira falará sobre isto, sinceramente acho que ele tentou fazer (e bem!) o que pôde com aquilo que lhe deram, uma vez que transições rápidas, jogo directo e afins pareceu-me sempre difícil com as armas que tinha ao seu dispor.

Apesar de mal-amado por alguns Portistas, tem diversos pontos a seu favor. Ganhou o Bi num ano pós glória europeia (os mais complicados para nós, por diversos factores), agora o Tri, tem números espectaculares no campeonato, levou o FC Porto a uma das melhores fases de grupos da nossa história nesta edição da Champions, sendo travado de forma amarga em Málaga, numa noite daquelas em que tudo esteve contra nós, no meio de trevas e azares.

Por outro lado naturalmente que nem tudo foi cor-de-rosa... Mais do que alguns deslizes, nomeadamente nas taças, como grande erro aponto-lhe o triunfalismo após a vitória em Guimarães, onde passou a mensagem de ter uma equipa à sua imagem, uma máquina quase perfeita, sendo que afinal as coisas não estavam ainda tão consolidadas, como se veio a comprovar. Acrescente-se que após as derrotas continuou a ter a tendência para tentar reescrever os jogos da maneira que lhe interessava, em Málaga caiu novamente nesse erro fazendo recordar Nicósia ou a taça em Coimbra. Essa fragilidade em gerir mediaticamente o sucesso/insucesso é o seu grande defeito, sendo que durante estes 2 anos por vezes pareceu que ninguém o soube proteger e aconselhar devidamente.

Em conclusão, acho sinceramente que fazia sentido a sua continuidade atendendo ao que foi o seu percurso. Cumpriu com os objectivos primordiais, demonstrou valor e atitude, soube evoluir e, a meu ver, merecia continuar, não me parecia que estivesse "gasto" e penso que ainda poderia evoluir mais.

No entanto a decisão foi noutro sentido, Paulo Fonseca será o timoneiro em 2013/14. Apesar de já ter mostrado capacidades, parece-me uma escolha bastante arriscada, com um nível de risco de um Quinito ou Fernando Santos pela falta de background de grandes clubes ou grandes treinadores enquanto jogador ou treinador. No entanto, como não tenho nem de perto nem de longe todos os dados para o avaliar só tenho de confiar em quem o escolheu, uma vez que tem uma percentagem de sucesso bem interessante (embora não seja infalível...). Esperemos que tudo lhe corra bem e seja mais uma história de sucesso a juntar a tantas outras no FC Porto.

4. Acabar por ganhar à Porto, apesar da mística estar cada vez mais descaracterizada

Hoje em dia, nestes tempos do futebol negócio, entretenimento e espectáculo, tudo é mais excessivo, para o bem e para o mal, sendo que esta época que agora finda foi um grande exemplo desta realidade, com grandes idolatrias a coexistir com pesadas criticas. Na verdade, do mesmo modo que qualquer “banana” aterra em Pedras Rubras e já tem cântico, bandeira e mais não sei quê, também temos o fenómeno inverso e a contestação é mais violenta e agressiva.

Tudo isto pode ser explicado por cada vez vermos mais gente de fora nas nossas equipas e por se ter perdido a espinha dorsal da casa, da mística que ia passando de geração em geração, o que contribui para o distanciamento jogadores-adeptos. Aliado a isso, no dia-a-dia da época vêem-se cada vez mais jogadores a abusarem das redes sociais para dizerem o que não devem, a não se deslocarem às bancadas para fazer algo muito simples como saudar os adeptos e coisas do género, levando a que quando as coisas correm pior o sentimento de que os jogadores sejam considerados apenas como uns mimados, incapazes de lutar com todas as forças pelo Clube, seja cada vez mais habitual. Na verdade, e passe o exagero, hoje os jogadores transformaram-se em estrelas pop, quase inacessíveis, daí que a margem de manobra seja cada vez mais curta, encurtando ainda mais por causa do "excesso" de vitórias e pela exigência quase cega dai decorrente.

Por outro lado é também fundamental para o médio/longo prazo que o Clube seja mais criterioso a passar as suas mensagens, que modere os “A Vencer…” e “É este o nosso Destino” (só se fala de vitórias…) e que seja capaz de passar outro tipo de mensagens, porque “Ser Porto” não pode ser apenas visto como uma certeza de vitória ou pelo gozo que temos em achincalhar quase ininterruptamente os arrogantes perdedores lampiões. “Ser Porto” tem de significar mais do que isso, significa abnegação, raça, o espírito “antes quebrar que torcer”, significa conhecer as nossas raízes, de onde vimos e o que representamos.

Trata-se no fundo da necessidade de assegurar que possamos ter mais gente que envergue as nossas cores com espírito de missão e orgulho genuíno, seja no campo, gabinetes ou bancadas. Porque o FC Porto não pode ser visto simplesmente um meio para ganhar troféus ou dinheiro, tem de continuar a ser muito mais do que isso!

Tratar da mística e dos valores genuínos do FC Porto é essencial, ainda mais porque, afinal de contas, se analisarmos bem este Tricampeonato foi sobretudo ganho com uma atitude da “velha escola”, da raça, da crença, do “antes quebrar que torcer”, valores esses que fazem parte do verdadeiro ADN desta centenária instituição. Só assim, com respeito e responsabilidade, poderemos assegurar que a mística perdurará e o Futebol Clube do Porto continuará especial!



Fecho assim este meu longo balanço com algumas ideias acerca da nossa temporada futebolística.

O tempo agora é de recarregar baterias para a nova temporada e atacar o 3º Tetracampeonato da nossa história, liquidando provavelmente o ciclo JJ no nosso rival, que, a concretizar-se, pode significar uma forte crise de identidade a sul (não nos podemos esquecer que apesar de pouco vitorioso em troféus representa o melhor período deles em 30 anos). Esta realidade poderá resultar na abertura de portas para a rápida aproximação ao objectivo de ultrapassagem no número de campeonatos nacionais, algo que tem de ser assumido como um dos grandes objectivos do FC Porto para a próxima década.

Um abraço e continuação de boa semana!

3 comentários:

  1. EXCELENTE texto e uma abordagem extremamente pertinente sobre o nosso clube!

    5 estrelas!

    A única coisa que me parece cada vez mais difícil de conseguir, apesar de a considerar fulcral para o futuro do clube é fazer do "SER PORTO" a "oração" dos novos jogadores...Somos um clube cada vez mais visto como um entreposto para a riqueza. Mas essa fama é ironicamente da nossa responsabilidade! E, sinceramente, não sei como isso poderá mudar sem perdermos competitividade neste desporto contemporâneo, cada vez mais de contrastes!

    ABRAÇO
    Pedro Pinto

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  2. Tiro o chapéu a este texto! Mais que EXCELENTE - SOBERBO!
    Muito obrigado.
    Abraço AZUL FORTE.

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  3. MM em grande como sempre! Abraço! Somos Porto!

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