26 outubro, 2017

¿QUÉ PASA, OLI?


Oliver tornou-se um assunto tabu entre os adeptos do FC Porto. Entre os que veneram o pequeno espanhol e os que o acham demasiada parra e pouquíssima uva, a comunicação está quase impossível de tão extremada. De um lado, aqueles que entendem que saiu injustamente do 11 e que dá muito mais à equipa que Herrera ou Sérgio Oliveira; de outro aqueles que estão cansados de esperar que o prodígio espanhol finalmente expluda e confirme todo o seu potencial.

Confesso que me encontro do lado da barricada mais apreensiva. Gosto de Oliver, reconheço nele qualidades para ser, sem exagero, o melhor jogador do plantel, a figura de proa, o comandante do jogo da equipa, o farol de um novo FC Porto.

Acontece que continuo a achar Oliver um jogador de arraia-miúda, de demasiados toques para o lado e para trás, entre sucessivos passes entre ele, o trinco, os centrais e os laterais. Falta-lhe por exemplo o dinamismo e a manha de um Moutinho; falta-lhe a loucura de um Maniche; falta-lhe a amplitude, a chegada à frente e o golo de Lucho Gonzalez.

No passado jogo frente ao Chaves, Oliver não esteve mal, mas também não se pode dizer que tenha estado bem. E isso é das piores coisas que se pode dizer de um jogador. Esteve mediano, ao nível da equipa. Sempre ouvi dizer que um grande jogador é aquele que faz com que os atletas que tem ao seu lado cresçam com ele. Moutinho e Lucho eram assim: com eles ao lado ninguém jogava mal. Oliver parece que se deixa afundar numa certa redoma de conformismo e tem dificuldade em romper, em dar a sapatada no jogo que por vezes tanto é necessária e para o qual ele foi contratado.

Oliver parece ser um jogador com demasiadaaaa formação, demasiaaaada escola. Demasiado futebol de relva e pouco futebol de rua. Tudo muito certinho, passes precisos, bola redondinha, recepção sem reparos, elegância no porte, cabeça sempre levantada. Mas falta-lhe um certo sal, uma certa magia, uma certa irreverência. Para um jovem parece excessivamente maduro, demasiado sério, tudo muito certinho e arrumado, quase previsível.

Dos pés dele não sai um remate do meio da rua, não sai uma finta em zona proibida para descompensar a organização contrária, não sai uma corrida desenfreada em direcção à baliza. Por isso lhe chamo o futebol dos pequeninos, sem sal, sem alma, sem salero. Não surpreende que Oliver raras vezes consiga fazer um golo, ele simplesmente parece ser incapaz de chegar ao último terço do terreno, quanto mais rematar à baliza!

É justo dizer que a Oliver não se exige o mesmo que a Sérgio Oliveira, Herrera ou AA, atendendo ao seu enorme talento. De Oliver, por várias razões, exige-se mais. Primeiro, pelo que já o vimos jogar, nomeadamente com Lopetegui e durante esta pré-época; segundo, pelo preço. O jogador não tem culpa dos 20M que a SAD portista decidiu investir nele, mas também é verdade que num clube com as finanças algo depauperadas, um investimento deste calibre exige o tão necessário retorno, seja no relvado, seja na tesouraria.

Oliver nunca foi um dos preferidos de Simeone no Atlético de Madrid. Achava porventura o treinador argentino que Oliver não tinha a intensidade e a voltagem necessárias ao jogo dos colchoneros. Até aqui tudo bem, há certos jogadores que não se adaptam a um sistema, mas que caem como uma luva noutro. O problema é que o sistema de Sérgio Conceição começa a parecer-se muito com o de Simeone, com ataques rápidos e fulminantes, sempre com uma intensidade máxima e sempre em alta voltagem, com todos a atacar e todos a defender. Neste âmbito, parece-me que o treinador entende que Herrera é capaz de dar muito mais ao jogo do que Oliver. E os resultados indicam que não está errado.

Contudo, Oliver tem tido oportunidades de provar a Sérgio Conceição que estava errado quando o tirou do 11. Mas depois de Chaves é forçoso concluir que não tem aproveitado essas chances e que o treinador, até ver, esteve bem ao retirá-lo da equipa. Ainda assim, continuo com a certeza absoluta de que Oliver é o melhor médio-centro do plantel. É caso para perguntar:

¿Qué pasa, Oli?


Rodrigo de Almada Martins

4 comentários:

  1. Não poderia estar mais de acordo. Os indícios estão lá todos, mas nunca se confirmaram.

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  2. Absolutamente de acordo. Na mouche. Penso exactamente o mesmo. Foi o próprio SC que no início da temporada disse que Oliver tinha que se assumir.

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  3. Concordo plenamente. Espero que o Oliver não seja mais uma promessa, porque ao contrário de por exemplo o Octávio, já o vimos a jogar bem e em continuidade, contudo falta-lhe músculo e por vezes ser mais prático. Mais um adorno ou maior visão são boas ao jogo e agradam aos adeptos, mas ser prático é fundamental (veja-se o caso do Brahimi com e sem um treinador de qualidade).
    Espero mais do Oliver, mas espero que ele também cresça, que de hashtags já estamos fartos e de promessas, já o FCP tem demasiadas ao seu encargo, logo mais uma não é bom.
    E é fundamentalmente pelo preço que por vezes um jogador mais mediano como o andré2 fica no plantel e um oliver acaba por ser emprestado na esperança de recuperar valor e ser vendido, como aconteceu com o iturbe...

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  4. O RAM referiu ao de leve, mas nesta discussão penso que é necessário sublinhar a letras garrafais:
    - Os jogadores são aquilo que os sistemas tácticos permitem que eles sejam. -

    Se colocassem o Jardel a correr atrás da bola e a fintar, duvido que alguma vez ultrapassasse a mão cheia de golos numa época. Da mesma forma que colocar o Marega a avançado centro de área é desgraça garantida. Obviamente existem jogadores predestinados, capazes de se adaptarem a diversos sistemas tácticos. Mas convenha-se, essa é uma minoria. Lucho e Moutinho são predestinados. Contudo, quando o RAM refere Maniche, vai reparar que apenas Mourinho conseguiu tirar o máximo dele. Noutros clubes, apesar de bom jogador, nunca o foi igual aos tempos do Special One.

    Com isto, quero dizer que é, no mínimo, intelectualmente desonesto colocar todo o ónus da culpa em Óliver e isentar o treinador desta equação. Óliver é um jogador de tricot. Numa táctica tricotada como a de Lopetegi, conseguia brilhar, marcar e fazer a diferença. A táctica de Sérgio Conceição é "espancar" as defesas adversárias em rápidas movimentações ofensivas. Uma táctica para jogadores rápidos, verticais e com capacidade física. Características que talvez não sejam as melhores de Óliver.

    Não está aqui em causa discutir sobre tácticas de posse ou transições. O que está em causa, é que compete ao treinador encontrar as formas de tirar o melhor rendimento dos seus jogadores. Se Sérgio Conceição tem enorme mérito em recuperar animicamente Aboubakar, Brahimi e transformar Marega, não tem estado tão bem no enquadramento de Óliver na equipa, onde ainda não conseguiu encontrar a fórmula para tirar dele o melhor rendimento.

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