03 agosto, 2011

Capítulo 5: 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte II)

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FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto

Capítulo 5: 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte II)

Época 1942-1943

Chegava ao fim a meritória carreira de treinador de Siska no FC Porto, onde foi bicampeão. No início da época 1942-43, sucedeu-lhe o austro-húngaro Lippo Hertzka que teve sucesso no futebol português… mas não no FC Porto.



Misterioso desaparecimento…
Nos primórdios de 1943 deu-se o súbito e misterioso desaparecimento do guarda-redes Bela Andrasik. Mais tarde, viria a desvendar-se o intrigante mistério: o húngaro estava ligado a organizações anti-fascistas e, perante as pressões da PIDE, instada pela Gestapo alemã, o FC Porto foi obrigado a "convidar" Andrasik a sair para o estrangeiro.
A maquinação pidesca retirava ao FC Porto, onde fez 51 jogos, o seu baluarte na baliza. Para o lugar de Andrasik chegou, na época seguinte, Barrigana.

Uma época desastrosa!
Nesta temporada, o FC Porto recuperou o Campeonato do Porto, mas no Campeonato Nacional da I Divisão, sem Andrasik, o desempenho foi desastroso: nove derrotas e quatro empates, em 18 jornadas, sétimo lugar, com 14 pontos, a 16 do campeão!
Humilhante a derrota com o Benfica, em 7 Fev.1943, no Campo Grande, por 2-12, tendo o FC Porto alinhado com:
Valongo; Luís Alfredo e Guilhar; Pocas, Nunes e António Baptista; Póvoas, Gomes da Costa, Correia Dias, Pinga e Araújo.
Perante a felicidade do treinador János Biri (que, anos antes, havia estado no FC Porto) o Benfica marcou quatro golos na primeira parte, fez o quinto a abrir a segunda parte, deixou que o FC Porto fizesse um tento, mas aumentou para 9-1. Até final os azuis-e-brancos marcaram mais um golo, enquanto os encarnados fizeram três.

Apenas um consolo, nesta época negra, para o FC Porto: o facto de, na primeira volta do Campeonato, na partida com o Benfica, na Constituição, o Clube ter obtido uma receita bruta de bilheteira de 117.165$00, por pouco não batendo o recorde de receitas que datava de 1939 (117.727$00).

Os portistas entraram na 5.ª edição da Taça de Portugal batendo a AD Sanjoanense por 15-1. E nos quartos-de-final eliminaram o Grupo Desportivo da CUF por 2-0.
Depois, mais um escândalo na época dos desastres: nas meias-finais, o FC Porto perdeu em Setúbal por... 0-7!

Andebol de 11 de vento em popa, triunfante
Compensando os desaires no futebol, o andebol seguia de vento em popa. Nesta época 1942-43, a equipa de Andebol de Onze bateu o Sporting, em Lisboa, por 4-2, e o FC Porto sagrava-se pela sexta vez consecutiva Campeão Nacional!
Os andebolistas eram o orgulho do FC Porto.

Época 1943-1944

Set.1943 – Luís Ferreira Alves sucedeu a José Barcellos na presidência do FC Porto. Com o futebol a não obter os resultados desejados, esperava-o uma árdua tarefa para tentar inverter o rumo. Sem sucesso, renovou a equipa de futebol; com sucesso, promoveu a angariação de Sócios. Com ele chegou Barrigana e com ele o Voleibol e o Hóquei em Patins iniciaram a actividade no Clube.
Cumpriu segundo mandato em 1959/1961. Após este primeiro mandato, procedeu-o, a partir de Janeiro de 1945, o Dr. Cesário Bonito que haveria de fazer história no FC Porto.

Estádio do Lima
O exíguo Campo da Constituição já não servia as necessidades do FC Porto. Motivo pelo qual a partir de 1943 o clube começa a utilizar regularmente (antes, só esporadicamente) o Estádio do Lima, propriedade do Académico FC.
Recinto multidisciplinar que tinha o melhor relvado do país, o Estádio do Lima contava nas suas valências com bancada central coberta, bancada de cimento no topo Norte, zonas de “peão”, pista de atletismo, pista de ciclismo e campo de basquetebol, para além de um pavilhão.
Face às condições precárias do Campo da Constituição, o Lima foi utilizado pelo FC Porto em grande parte dos jogos para as competições nacionais e em diversas ocasiões especiais, sobretudo na década de 1940. De entre os encontros aqui disputados, destaca-se o jogo entre FC Porto e Arsenal de Londres, em 1948, que terminou com um triunfo portista por 3-2.

4000 Sócios!
Luís Ferreira Alves, presidente eleito do FC Porto, tentou reacender a chama. Renovando a equipa de futebol e abrindo campanha de captação de sócios. Com sucesso, neste particular. Assim, apenas durante o mês de Janeiro de 1944, o clube conseguiu passar o seu quadro de associados para mais de 4.000! O FC Porto revalidou o Campeonato do Porto e… veríamos como seria no Campeonato da I Divisão…

A chegada de mais um brilhante guarda-redes…

O FC Porto que, decorria a época anterior, se viu privado do seu baluarte na baliza (o guarda-redes húngaro Bela Andrasik), foi obrigado a contratar um jogador que militava no Sporting. Onde não teve hipótese de se afirmar durante três temporadas seguidas, porque “tapado” por Azevedo, titular da Selecção Nacional. Chegou com 21 anos e rapidamente ganhou a titularidade na baliza dos azuis-e-brancos. Frederico Barrigana, de seu nome, afinal um brilhante guarda-redes, seria um ídolo no FC Porto.
Barrigana estreou-se num jogo particular com a Sanjoanense, na Constituição. Não seria campeão, mas afirmou-se como um dos maiores guarda-redes portugueses de sempre.

Outro Campeonato sem fulgor
No Campeonato da I Divisão, já não a humilhação do ano anterior, apenas alguns lampejos e, ainda assim, uma campanha medíocre longe dos anseios do FC Porto: quarto lugar, com 22 pontos, 10 vitórias, 3 empates e 5 derrotas.

Na 1.ª eliminatória (oitavos-de-final) da Taça de Portugal, um sinal animador para as hostes portistas: a eliminação do Sporting com 2-0 no Lima (Porto) e 3-3 no Lumiar (Lisboa).

Porém, logo a seguir, para os quartos-de-final, frustrante derrota por 2-3 no Estádio do Lima com o Estoril Praia, campeão da II Divisão e onde pontificava Petrak, antiga estrela do FC Porto. Na Amoreira, nova derrota (1-2) e muitas queixas do árbitro (era normal… para não variar). O Estoril haveria de ser finalista nesta edição da Taça.

A crise financeira e os avultados custos
Por este tempo, as despesas de superintendência e com equipamento desportivo já eram muito avultadas e tomavam maior relevância com a crise financeira que o FC Porto tinha em braços. Vejamos algumas dos gastos do clube:
• 1.000 quilos de sabão por ano e mais de cinco milhões de litros de água;
• Assistência médica aos atletas (médico, massagista, medicamentos, radiografias, etc.): 60 contos anuais;
• O guarda-roupa desportivo estava, por essa altura, avaliado em cerca de 100 contos.
- Pinga, por exemplo, quando entrava em campo levava equipamento de valor aproximado a 500 escudos: camisola de 80 escudos, calção de 35, traje menor de 55, caneleiras de 40, meias de 30, peúgas de 10, ligaduras de 32 e botas de 200 escudos!
- Outro exemplo: Barrigana, para além disso, levava mais joelheiras de 220 escudos, cotoveleiras de 40 e boné de igual valor.
O certo é que a crise financeira continuava a deixar os jogadores e os adeptos do FC Porto carregados de angústia, sentindo que o fulgor dos anos anteriores se esvaíra. E esvaíra-se, mas, como sabemos, não só por esse facto…

Lippo Hertzka (n. Hungria – m. Montemor-o-Novo, Portugal, 14 Mar.1951), futebolista e treinador húngaro, jogou na Real Sociedad (Espanha). Depois de retirado treinou, entre 1923 e 1935, Real Sociedad, Athletic Bilbao, Sevilha FC, Real Madrid, Hércules e Recreativo Granada. No Real Madrid ganhou a Liga de 1931-32, a primeira do clube. Depois veio para Portugal onde orientou o Benfica (1935-39 e 1947-48) e o Belenenses (1939-40).
• No início da época 1942-43 sucedeu a Miguel Siska no FC Porto. Este, velha glória portista, teve sucesso a orientar o Clube da Invicta, mas outro tanto não sucedeu com Hertzka.
• Lippo Hertzka tinha ganho no clube da “águia” 1 Campeonato de Portugal e 3 Campeonatos Nacionais. No Porto não mostrou as credenciais evidenciadas em Lisboa mas… é certo que na capital não tinha os “anjos negros” a estragar-lhe o trabalho… Em Portugal treinou também a Académica, Vila Real, Estoril e União de Montemor.
• Diziam dele possuir a “rara intuição de saber adaptar as qualidades do futebolista português, de instinto e combatividade, ao estilo solto do futebol húngaro, onde a desmarcação e o toque suave de bola têm cunho de arte”. E que “quando estava maldisposto, era impossível. Desatava a chamar nomes aos jogadores. Assim, sem mais nem menos, no meio dos treinos”.
• No FC Porto sucedeu-lhe o regressado José Szabo, em Março de 1945.
• Morreu e foi sepultado em Montemor-o-Novo, onde em 10 Nov.1951 se inaugurou o seu mausoléu. Sobre uma das pedras figuram, simbolicamente, uma bola de futebol e os emblemas dos clubes por onde o técnico húngaro passou.

Carreira no FC Porto
1942-43 a Mar.1945
Palmarés
3 Campeonatos do Porto.

  • No próximo post.: Capítulo 5, 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte III) – Historial do Voleibol do FC Porto; tricampeonato; palmarés; José Moreira, Nelson Puga; história do voleibol.

10 comentários:

  1. Isto está de mais, como sempre.
    Nem sabendo já mais que dizer, para acrescentar à apreciação que continuamos a aplaudir, sempre.

    Mas, já que estamos nisto, para arranjar alguma conversa mais e não dizer amém a tudo, como não pode ser, permita-se um simples acrescento, para complementar a informação sobre o estádio do Lima. Este recinto, depois de ter desaparecido praticamente, como referido, ainda teve um último fôlego no início da década de 70, quando o Boavista fez obras que transformaram o campo do Bessa em Estádio e, então, usou o velhinho estádio durante uns meses - tendo na re-inauguração da relva, em 1971/72, havido um Boavista-Porto como prato-forte do programa festivo, que o F. C. Porto venceu por 2-0, alinhando inicialmente com Armando, Gualter, Valdemar, Rolando, Ludgero, Vieira Nunes, Ricardo, Oliveira, Joaquinzinho, Lemos e Nóbrega (cuja memória me foi avivada por um post, que naturalmente também comentei, no facebook do Memória Azul).

    Mas, fora esta brincadeira, é óbvio que isto está mais que bom, continuando cinco estrelas.
    E está quase a chegar à década de 50, embora o que me recordo pessoalmente melhor é a partir de inícios dos anos 60's...

    Abraço.

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  2. Mais um fantástico post, desta feita, abordando duas épocas de 42/43 e 43/44 em que os seguidores das cores azuis e brancas não tinham lá grandes motivos para sorrir...

    abraço

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  3. O FC Porto ocupa o terceiro lugar do ranking da Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS).

    A equipa portista apenas é superada pelo Barcelona, que surge na liderança e o Real Madrid, segundo colocado. As duas equipas que fecham o “top-5” são os rivais de Manchester: United (4.º) e City (5.º).

    A segunda melhor equipa no ranking da IFFHS é o Benfica (37.º), enquanto o Sp. Braga está colocado dois lugares a abaixo (39.º). O Sporting ocupa a 63ª posição.

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  4. Pois, meu caro Fernando, isto já vem de trás, que eles não são burros... Mas há uma diferença, antes era a Pide, agora são as novas Pides...

    Abraço e parabéns por mais este excelente trabalho

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  5. As “novas Pides” – como muito bem refere Dragão Vila Pouca – também “convidaram” Pinto da Costa a sair… E não foi precisa a ajuda da Gestapo; tiveram-na do clubezeco do berço…

    O “jejum” é doloroso, mas vai passar.

    Bjo.
    BIBó PORTO!

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  6. Anos dificéis estes, Fernando Moreira, mas como nós sabemos e vivemos, agora é só glorias atrás de glórias, como eu gostaria que os Portistas dessa época soubessem as alegrias que o nosso Porto nos dá!;)


    BIBÓ PORTO

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  7. Esta não gostei de ler. :(

    Não foi pelo conteúdo que esse esta salvaguardado mas sim pelos resultados que vi ali.

    Mesmo assim vitórias e derrotas fazem parte da história e servem para nos lembrarmos de que um dia nem tudo foi rosas.

    Isto da história só nos ensina uma coisa e a conclusão é bastante clara, por mais mal que nos façam, por mais que nos ataquem, nós nunca fecharemos, nem nunca desistiremos.

    Como não espero grande inteligência daqueles lados, é bom referir que aquele que não aprende com a história tem tendência a repeti-la, ora tal como na altura o falhanço nos dias de hoje é igual.

    Um abraço Azul Forte.

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  8. Não é "nas Amoreiras", mas sim "na Amoreira".

    Estoril não fica nas Amoreiras porque as Amoreiras fica no centro de Lisboa e AMOREIRA fica no Estoril, a 40km de Lisboa.

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  9. Rectificado para "Na Amoreira...".

    Muito obrigado. Abraço.

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  10. Só um aparte no jogo com o Benfica em que. perdemos por 12-2 o guarda redes foi Luis Mota e nao Valongo um abraço e saudações Portistas Hernani Rocha Açores

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