11 agosto, 2011

Setenta

http://bibo-porto-carago.blogspot.com/


No rescaldo do sonho real que vivemos na época passada, alguém a certa altura me chamou a atenção para o facto de que aquela temporada, além de magnífica por si só, foi uma bonita vendetta aos três estarolas que nos tentaram puxar o tapete na novela do acesso à Liga dos Campeões em 2008: os enc@rnados, triplamente humilhados, os afonsinhos, vergados a meia-dúzia no Jamor, e o Platini, forçado a entregar-nos o troféu da Liga Europa, envergando o seu melhor sorriso amarelo. Eu, que não acredito em karmas nem em deuses nem em "cá se fazem cá se pagam", fiquei maravilhada com a ironia do "destino". Lindo! E a Supertaça do passado Domingo tinha que ser o corolário dessa saborosa vingança. Tínhamos que ganhar ao Guimarães, ponto. Era obrigatório.

Além disso, já aqui mencionei o meu carinho especial pela Supertaça. Gosto tanto de a ganhar! É o primeiro título da época, é entrar com o pé direito, entrar a matar - e dar aos novos jogadores a primeira oportunidade de sentir uma parte importantíssima do que é ser Porto: vencer, vencer, vencer! Para além de que é um testemunho vivo do nosso domínio no futebol português desde a sua criação no final dos anos 70. O nosso impressionante currículo de 18 títulos e 27 presenças em 33 edições da Supertaça é ainda engrandecido pelo facto de se tratar de uma competição a que só chegam os melhores: para estar ali, é porque já se ganhou alguma coisa, ou, no mínimo, chegou-se à final da Taça. Das 27 Supertaças em que estivemos presentes, apenas por duas vezes (1981 e 1983 - a cábula do Dragão Azul Forte ajuda ;)) lá chegámos como finalista vencido da Taça – mas em ambos os casos invertemos os papéis e trouxemos o caneco para as Antas!

Se a tudo isto somarmos os 5x0 de 1996, até há bem pouco tempo a minha partida favorita de sempre nas competições internas, acho que percebem a importância que tem para mim abrir a época com esta conquista e o quanto me custam as raras ocasiões em que a deixamos escapar. Este ano não me parecia provável que isso acontecesse, mas como no futebol nunca se sabe, uma pequena dose de nervoso miudinho viajou comigo para Aveiro.

O primeiro golo (um grande golo e bem cedinho, bem como eu gosto ;)) tranquilizou-me, mas sofrer o empate quando o adversário nada fez por merecê-lo redespertou a ansiedade. Fomos para o intervalo a vencer, mas a margem mínima é sempre desconfortável, e ao longo da segunda parte já roí as primeiras unhas da época – literalmente. Até porque o árbitro deixou bem claro nas suas acções que, surgindo a oportunidade, empurraria os vimaranenses para o empate. Só ao apito final pude suspirar de alívio e gritar de alegria. Está feito. 18ª Supertaça, 70º título oficial.

Repitam comigo: septuagésimo título oficial. Com este marco, todos aqueles que estavam em negação foram finalmente obrigados a assumir que somos a equipa mais titulada do futebol português. Já não há tacinhas amigáveis dos anos 50 que lhes valham, e já nem os seus pasquins semi-oficiais podem esconder a realidade. Já não é a velha questão de que nós temos "presente" mas eles têm "história": agora já temos oficialmente uma história mais rica do que qualquer outro clube português. Os números não mentem.

São sete dezenas de títulos – dos seniores de futebol, claro. Admiremos a grandiosidade deste nosso feito. Foram 90 anos de competições oficiais, 48 dos quais decorridos sob o jugo de um regime ditatorial que usava o futebol como forte arma de propaganda política e que elegeu os dois clubes de Lisboa como marionetas principal e secundária desta ridícula encenação. E nós a coleccionarmos anos de travessia no deserto, a acumularmos tristezas e desilusões, mas também força, perseverança e combatividade. A forjarmos o espírito guerreiro que nos havia de guiar a tantas vitórias.

Foi esse espírito, essa mística, que nos catapultou para as estrondosas décadas de 80, 90 e 2000, e que ainda hoje nos define e distingue dos demais. É esse espírito que nos permite prevalecer num país desportivo ainda minado por muitas reminiscências dos tempos que já lá vão, ainda controlado e operado maioritariamente por adeptos de um clube específico que usam e abusam dos poderes e competências que lhes são confiados em seu benefício e nosso prejuízo. São 70 títulos em 90 anos, mas são acima de tudo 2 títulos na alvorada do futebol nacional, 10 títulos arrancados a ferros num contexto absurdamente hostil por jogadores que ficam na nossa história como verdadeiros heróis, e outros 58 títulos em três décadas e meia de incontestável superioridade, em condições ainda adversas mas não o suficiente para travarem a força do Dragão. 58 títulos em 35 anos. É mais do que um título e meio por ano – ou do que três títulos a cada dois anos. É quase sobre-humano. Já pararam hoje para pensar no privilégio que é ser adepto deste clube?

PS – Sobre o Porto Canal: gosto do Flash Porto e do Somos Porto, mas espero que sejam apenas aperitivos. A nova grelha sai em Janeiro e espero mais Porto no Canal ;) Segue ainda uma crítica que tem que ser feita: o site www.portocanal.pt não poderia estar agora em remodelação; deviam ter avançado com esse trabalho há meses e ter colocado no ar a versão nova do site no dia 1 de Agosto, disponibilizando inclusivamente os conteúdos para visualização em diferido e partilha online. Ser Porto é querer sempre mais e melhor!! :)

8 comentários:

  1. Excelente, excelente, excelente… como é habitual.

    Enid, os 5-0 de 1996, na capoeira de Lisboa, não mais serão olvidados. Dum jogo que está permanentemente vivo na minha memória. Foi um “cataclismo” inesquecível. Mas os 3-1 da última época, para a Taça de Portugal, igualaram o efeito devastador no galinheiro e o júbilo nas hostes portistas. Inesquecível para quem viveu o momento esplendorosamente azul-e-branco!

    Obrigado e beijinhos.
    BIBÓ PORTO!

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  2. Tal como tu tb eu tenho um carinho especial por esta competição que costuma abrir a época.

    E confirmo que estavas a roer as unhas, sim:)

    Mas valeu a pena. Somos Porto!

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  3. é de facto muita taça; e é uma grande responsabilidade também. agora não podemos ser iguais ao que eles foram enquanto mais titulados: arrogantes e desprezíveis. temos de perceber com humilidade que para quem nunca ganha, e para quem de vez em quando pensa que pode ganhar, a frustração é grande... (lembro-me de na escola ter precebido como havia gente que odiava os que eram bons de mais no desporto (eu, p.ex.) só porque o eram.)
    vamos celebrar e andar de cabeça levantada. com unhas roídas ou não; estes 70 já ninguém nos tira.

    - em relação aos 48 anos e aos clubes da propaganda, queria só acrescentar que o Salazar não gostava de futebol,e, que a equipe do grande portugal continental e ultramarino era obviamente o malfica, e que a equipe do (pres.) Américo Tomás era o belenenses... não sei qual era o apoio à outra equipe de lisboa, mas pressinto que ela sempre foi a equipe dos viscondes, e nesse sentido não uma equipe dietamente do regime...

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  4. Off the topic:

    O jornal A Bola perdeu a vergonha e enverga descaradamente a camisola encarnada!
    Fui leitor de A Bola durante alguns anos no tempo do Vítor Santos. Nesse tempo ainda se podia ler este jornal desportivo porque então o enfeudamento ao SL Benfica era assim a modos que disfarçado. Hoje em dia tal já não acontece , grande parte dos jornalistas de A Bola vestiram a camisola encarnada e destilam descaradamente o seu ódio ao FC Porto, e, pasme-se já não basta denegrir a imagem dos Dragões, ainda há bem pouco tempo tentaram tambem denegrir a imagem da cidade do Porto, chamando-lhe (Palermo)uma cidade de delinquentes. Até onde vai chegar o despudor , o descaramento desta abjecta gente…?!

    Somos Porto, sempre!

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  5. Obrigada pelos comentários :)

    Reine Margot, felizmente não vivi o antigo regime, mas para dizer que o scp era a segunda equipa do regime baseio-me no que vou lendo. Um dos primeiros episódios que me vem à memória é aquele do adiamento de um Porto x Sporting pela FPF porque o Travassos ficara retido em Madrid por causa do nevoeiro... Cesário Bonito insurgiu-se e foi irradiado! Seria talvez a influência dos viscondes, mas lá que eles também foram alvo de muitas benesses, creio não haver dúvidas.

    Saudações Portistas!

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  6. Continuo a achar a taça eusebio mto mais importante! lol em todo o caso concordo que a Supertaça tem uma mística especial, como diz o outro "é a tal do gostinho especial"! ;)

    Concordo com a crítica ao Porto Canal, mas ainda há mto camnho pra percorrer e vai ser um projecto vencedor, co só pode onde o FC Porto se mete!

    Saudações

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  7. Como sabes não tenho grandes adjectivos para definir os teus posts! Mas desta vez vou comentar...
    Mas é um regalo ver o que escreves e sentir na tua escrita o que é amor ao F C PORTO.
    Quanto ao rescaldo da época passada, uma verdadeira época de sonho.
    Já no que diz respeito ao meu carinho especial pela Supertaça, desde que seja o PORTO a jogar é para Ganhar!
    Os outros gajos devem estar a cozinhar mais uma taça qualquer.....hehehehehe

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  8. Enid, que posso eu dizer que já não te tenha dito, mais um delicioso post!;)

    Lucho para além de roer as unhas, tremia, eu até pensei que ela estava com frio, mas ela disse que não...,)


    BIBÓ PORTO

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