Nuno Rêgo em directo no BiBó PoRtO

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Nuno Rêgo, foi um guarda-redes de andebol de grande qualidade que deixou a sua marca no FC Porto, apesar de ter feito apenas parte do nosso plantel sénior, nas épocas de 1988/89 e 1989/90, saindo depois para outros clubes. Conseguiu ser campeão Nacional pelo nosso clube nos escalões de juvenis e juniores.

Lembrei-me da possibilidade de lhe fazer esta entrevista, quando me deliciava com as fotos da finalissima do campeonato de andebol do ano passado e vislumbrei o Nuno entre a assistência. Através dos emails do Professor Cunha (seu treinador nessas duas épocas), consegui obter o seu contacto electrónico, e é com todo o prazer que hoje publico mais esta entrevista de alguém que, além do andebol, tem também uma paixão intensa pelo nosso FC Porto...

Um agradecimento ao Nuno Rêgo pela sua simpatia e disponibilidade, ele que, actualmente, não exerce qualquer cargo na modalidade (exerce advocacia).

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ENTREVISTA EXCLUSIVA

NUNO RÊGO, EX-JOGADOR DE ANDEBOL DO FC PORTO

1 - Em que épocas jogou nos séniores do FC Porto, e quais os títulos conquistados?

Joguei nos séniores do FC Porto nas épocas de 1988/1989 e 1989/1990, na altura, comandados pelo Prof. Cunha, em que jogou o saudoso José Luzia, Alexandre Barbosa, Santa Bárbara, Luís Graça, Carlos Resende, Erik Filip, etc…

Apenas fui campeão pelos juvenis e juniores do FC Porto.

Infelizmente, não ganhamos qualquer título nessas duas épocas de sénior. Perdemos o título no último jogo em cada uma das épocas.

2 - Qual o jogo que mais o marcou e porquê? Qual a época em que o FCP esteve mais perto do título (com o Nuno no plantel)?

Poderia referir vários jogos... pela POSITIVA, um Sporting – FCPorto na Nave de Alvalade, com a Nave repleta de público. Jogo decisivo da fase final, em que quem perdesse, ficava definitivamente arrumado da discussão do título.

Eu tinha 17 anos e, surpreendentemente, o Prof. Cunha coloca-me a titular e remete o João Santa Bárbara para o banco de suplentes. Na altura, ele era o titular da selecção nacional!

Fiz um excelente jogo. Dos melhores de sempre. Estávamos a ganhar 21-20 e a 2 segundos do fim, marcam livre de 7 metros contra o FCPorto. Se fosse golo, adeus título.

Com o público do Sporting quase em êxtase, o Rui Ferreira (Sporting) tenta marcar e eu defendo o 7 metros. Silêncio total em Alvalade. Foi o jogo da minha afirmação.

Para sairmos de Alvalade, tivemos que sair escoltados pela Polícia e partiram os vidros do autocarro.

Pela NEGATIVA, os 2 jogos em que estivemos mais perto do título:

Em 88/89, um ABC - FCPorto na última jornada em que, se ganhássemos, éramos campeões. Lembro-me de chegar a Braga e ver uma multidão de adeptos do FC Porto, como nunca tinha visto.

Chegaram ao pavilhão 2 horas antes do jogo e já só haviam 14 bilhetes para venda. Falou-se que o Benfica (clube que seria campeão se nós perdêssemos em Braga) tinha comprado os bilhetes todos e andariam a oferecer os bilhetes nas ruas de Braga, a adeptos do ABC.

Os adeptos do FCPorto forçaram a entrada no pavilhão e quase encheram o pavilhão. Entramos para o aquecimento e era quase tudo azul nas bancadas. Parecia que estávamos a jogar nas Antas. De repente, entrou a Polícia de Intervenção pelo pavilhão dentro e evacuou o pavilhão à bastonada.

Jogámos com o pavilhão quase às moscas. Foi tudo muito estranho. Perdemos muito mal esse jogo. O Benfica trabalhou bem essa última jornada…

Em 89/90, um FCPorto - SLBenfica no pavilhão Américo de Sá. Quem ganhava, seria campeão. Pavilhão a abarrotar, com um ambiente quase irrespirável. Perdemos por 2 golos (salvo erro). O Benfica fez um excelente jogo, mas a poucos minutos do fim, houve 1 golo importantíssimo que coloca o Benfica a ganhar por 1 e provoca a exclusão de 2 jogadores nossos, por protestos. Golo do falecido Paulo Bunze, num lance estranhíssimo, marcado com o pé!! Sim, com o pé!!!!

3 - O que significa o FC Porto para si?

O meu clube, a minha gente, a minha terra! Para mim, o FC Porto, é:

a) as minhas aulas de natação, dos 5 aos 8 anos;

b) as lágrimas que deixei em Madrid, ainda muito miúdo, num célebre Real Madrid – FCPorto, no tempo do Pedroto, em que ganhámos 2-1 cá e perdemos lá por 1-0, com o golo marcado a 15 minutos do fim, num canto (não me lembro se foi Gordilho o seu autor...). Lembro de uma oportunidade incrível falhada pelo Gomes, nos descontos, que nos daria a eliminatória;

c) Eu e meu Pai, em quilómetros e quilómetros atrás da célebre equipa do FC Porto com o seguinte ataque: Madjer na direita, Futre na esquerda e Gomes no meio. Que prazer!Coimbra, Lisboa, Setúbal, Portimão, etc... não falhámos um jogo em casa e fora, íamos a todas!

d) Mais lágrimas em Viena! Uma alegria indescritível. Ainda hoje me emociono a ver no Youtube o vídeo da jogada do 2.º golo: Madjer a pedir ao árbitro para reentrar, lançamento em profundidade do Celso para o Madjer, este “parte os rins” ao Winklhofer, cruza no limite e o Juary a encostar ao 2.º poste! Champanhe a jorrar e o meu Pai a dizer: «O Pedroto merecia ter visto isto!»

e) 1997 - O orgulho de, eu a jogar e viver em Lisboa, ir ao estádio da Luz acompanhado por 5 amigos benfiquistas, ver um SLBenfica – FCPorto! Resultado final: SLBenfica 0-5 FCPorto!!!! Um golaço do austríaco Wetl e o Jardel a começar a deixar a sua marca em Portugal… esse foi o jogo em que o repórter fotográfico Nuno Ferrari (um benfiquista ferrenho, do jornal A BOLA, célebre pelas fotografias de Eusébio) morreu de ataque cardíaco, quando o Porto marcou o 5º golo. Lembro-me de, à saída do estádio, ter dito aos meus 5 amigos benfiquistas que me acompanharam: «Não há dúvida que Deus é justo e misericordioso: foi um golo por cada um de vocês os 5, para ninguém ficar triste!»

f) A final de Sevilha, a louca corrida do Mourinho em Manchester…

g) Por fim, FC Porto é isto: o meu Pai tem pavor de andar de avião, mas tinha o sonho de conhecer o Brasil. Um dia foi com a minha mãe. Lembro-me de ir com eles e com o meu irmão mais velho levá-los à estação de Campanhã, onde apanhariam o comboio para Lisboa e daí o avião. Eram umas 6 da manhã e, no caminho, antes de começar a descer Fernão Magalhães, o meu Pai vira para o Estádio das Antas. Parou o carro e disse que queria ver as obras do rebaixamento do estádio (lembram-se dessas obras de rebaixamento do relvado e do facto de trabalharem de noite também, para acabar rapidamente?). Pois bem, o meu Pai entrou no estádio e eu fui com ele. Luzes ligadas e os trabalhadores lá em baixo… Vi lágrimas na cara do meu Pai e ele disse-me: «Meu filho, será que voltarei a ver este estádio?». Só o vi chorar mais uma vez: na campa do meu avô, pai dele, no fim do funeral e depois de toda a gente se ter ido embora...

h) A vida é feita de sonhos. Apenas a realização do maior sonho da minha vida (tirar o curso de Direito na Universidade de Coimbra) levou a que abandonasse o meu FC Porto.

4 - Ainda continua a acompanhar o andebol e o FC Porto?

Sim, tento acompanhar, quer o andebol (por ser o meu “meio”, a “minha família”, como eu costumo dizer), quer o FC Porto, por ser o clube do meu coração.

Embora não seja um frequentador tão assíduo dos pavilhões quanto gostaria, acompanho o andebol. Quer pela leitura das crónicas jornalísticas, quer assistindo a muitos jogos transmitidos via TV, quer em conversas com jogadores, treinadores, dirigentes, etc... de andebol.

Quando tenho disponibilidade, assisto a jogos “ao vivo”, quer do FC Porto, quer indo a Braga, ou à Luz, ou outro pavilhão, vendo jogos de andebol que não só do FC Porto.

Acresce a isto o facto de, no exercício da minha profissão, ter a sorte e privilégio de lidar diariamente com o fenómeno desportivo e seus intervenientes. Quase todos os dias, converso com actuais e ex-jogadores do FC Porto, quer do andebol, quer de outras modalidades.

5 - Qual a sua análise ao título ganho pelo FC Porto em 2008/09?

Ganhou a melhor equipa, a mais organizada, com a melhor defesa e com os melhores jogadores, comandada, dentro do campo, por dois nomes incontornáveis da história do andebol do FC Porto – Eduardo Filipe e Manuel Arezes - e, no banco, pela maior referência do andebol português – Carlos Resende.

Vitória indiscutível. No último jogo, no Dragão Caixa, em nenhum momento do jogo o SLBenfica foi capaz de mostrar capacidade para inverter o rumo do jogo. Vitória clara do FCPorto no play-off, confirmando a classificação obtida na fase regular (1ª fase) – 1º lugar.

Vi jogos do play-off no Dragão Caixa e no Pavilhão da Luz. Fiquei feliz porque vejo que o andebol está a renascer das trevas que passou, daquilo que sofreu, começando novamente a “arrastar” multidões. Vi o Dragão e a Luz completamente cheios. Parabéns ao andebol!

6 - Quais os favoritos para esta época?

Penso que FCPorto e o SLBenfica discutirão o título entre si. Muito provavelmente, o campeão será um destes dois. Têm os melhores jogadores e os melhores plantéis.

Todavia, não poderemos descurar o ABC, com uma mescla de jogadores experientes e outros bastante jovens, quase todos formados em Braga. Tem um treinador muito experiente, profundo conhecedor do andebol nacional. Alia-se a isto um público fervoroso e a dificuldade, para qualquer equipa, de vencer em Braga.

Poderei estar enganado, mas afasto o Sporting desta questão do título. Atendendo ao valor investido, à sua “louca” intervenção no mercado de transferências, está a revelar-se uma verdadeira desilusão para a generalidade das pessoas. Para os mais conhecedores do meio, se calhar, a desilusão não é assim tão surpreendente...

7 - Qual o sete ideal da história do andebol Portista?

Pergunta muito difícil... sabendo do risco de cometer injustiças, tentarei formar o 7 ideal, misturando jogadores que eu vi jogar, com outros que, não tendo visto (por serem bem mais velhos do que eu), habituei-me a ouvir os seus nomes, feitos e conquistas no FCPorto, através de histórias e conversas inesquecíveis. São as chamadas “lendas do andebol”, figuras incontornáveis do FC Porto. Por isso, aqui vai:

G.R. – Capela;
P.E. – Rui Rocha;
L.E. – Carlos Resende;
Central – José Luzia;
L.D. – Alexandre Barbosa;
P.D. – Ricardo Costa;
Pivôt – Ricardo Campos Costa;

8 - Qual o melhor guarda redes Português da actualidade?

Actualmente, o melhor é o Hugo Laurentino, do FC Porto... consegue aliar várias qualidades difíceis de reunir num só guarda redes: beleza e correcção técnica na forma de defender, garra e paixão pelo jogo e... frieza nos momentos decisivos. Junte-se a isto tudo uma eficácia elevada, e temos o melhor guarda redes português da actualidade.

9 - Qual a sua opinião sobre o nosso blog?

É uma fantástica fonte de informação, quer sobre a actualidade, quer sobre o glorioso passado do nosso FCPorto, aliando a isto, a interacção com os leitores.

A forma como é dirigido, tem o condão de originar o efeito contrário das novas tecnologias - o desenvolvimento dos meios de informação tende a afastar as pessoas do desporto (por uma maior oferta de outros interesses) e, quando não desvia as atenções do desportistas, leva a que estes, por razões de comodidade, se desloquem menos vezes para assistir a espectáculos desportivos (têm as imagens e informação em casa...).

A descrição de histórias e feitos passados, o recordar de ambientes fantásticos e alegrias sem igual, leva a uma grande vontade de ir mais vezes aos estádios e pavilhões porque, quer se queira, quer não, não há como a magia e beleza de um grande espectáculo desportivo ao vivo.

O destaque que dá ao andebol, beneficia a própria modalidade, o FC Porto e todos nós que amamos este fantástico desporto.

Confesso que não conhecia o blog. Despertou em mim a vontade de ir mais vezes ao Pavilhão e depois acompanhar os comentários sobre os jogos, no blog. A partir de agora, contem com mais um leitor assíduo!

Por último, devo referir que a demora nas minhas respostas deve-se ao facto de eu julgar que elas teriam que estar à altura da sua paixão pelo nosso FCPorto. Por isso, querer escrever calmamente, com tempo...

Um abraço amigo e agradecido,
Nuno Rêgo