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Um chileno, que é assim uma espécie de alemão que nasceu no continente errado, disse-me, enquanto víamos uma meia-final da taça de Portugal no aeroporto do Panamá, que o Lizandro López tinha mais de colombiano que de argentino. Foi a forma desse meu amigo melhor esclarecer um velho dito sul-americano que diz que os colombianos se levantam da cama quando os argentinos se deitam.
Para mim, amante incondicional da Colômbia, não era preciso um grande esforço para aceitar mais este elogio ao povo colombiano. Ninguém me precisava de me explicar a garra, a vontade, o espírito de luta temperada por uma simpatia e amabilidade que desarma qualquer mortal.
Mas, nós que sabemos que o futebol é um mundo à parte, ou melhor, que é a coisa mais importante do mundo – não, não vos vou lembrar pela milionésima vez a frase do Bill Shankly -, com dificuldade aceitamos estas generalizações. Mais, nem só de força de vontade e garra vivem as equipas. Precisamos da indolência elegante dum Madjer ou dum Hernâni (obrigado caro Pai, que este não vi jogar) da frieza assassina dum Gomes ou dum Jardel, dos pezinhos de lã miraculosos dum Ricardo Carvalho ou dum Aloísio, da explosão artística dum Oliveira, dum Futre ou dum Hulk.
Só que nós portistas sabemos um segredo: com habilidade e arte ganham-se jogos, mas os campeonatos e as taças conquistam-se com sangue, suor e espírito de conquista.
E não é que de Puerto Boyacá veio um rapaz que sabia esse segredo e encarna todas as qualidades que fizeram do FC Porto o melhor clube português e um dos melhores do mundo?
O Freddy Guarín não desistiu. O colombiano não se escondeu por detrás de imaginárias perseguições, mirabolantes congeminações. Entrava em campo, marcava um golo, segurava o meio-campo, ponha os adversários em sentido, e no fim de semana seguinte ia outra vez para o banco de suplentes. Era preciso trabalhar mais, correr mais depressa, chutar melhor, pensar mais na equipa. E o rapaz lá ia para o treino, antes quebrar que torcer, e dizia lá para ele, “a minha vez vai chegar”. O treinador não o colocava no local mais apropriado para ele, não interessava: era ali que a equipa precisava dele. E a equipa não é a soma de todos os dirigentes, treinadores, massagistas e jogadores. É outra coisa, somos nós. Quem não o souber não tem espaço numa equipa, pelo menos na nossa, na do Porto.
O Guarín percebeu, ou já nasceu assim, que nesta vida ninguém nos dá nada. É preciso ser sempre melhor, querer sempre mais, suar mais, correr mais, sofrer mais. Lamúrias e queixinhas são boas para os outros. O árbitro invalida um golo legal? É preciso marcar outro. Volta a invalidar? É voltar à carga.
O Freddy recusou-se a arranjar desculpas para justificar vitórias alheias. Não se queixou dos árbitros, dos dirigentes, dos sistemas, dos azares. Cerrou os dentes e mostrou no sítio certo ao que vinha. Ali no campo onde se mostra de que massa se é feito.
O Guarín ganhou o respeito dos adeptos, como o F.C. Porto alcançou o topo do mundo futebolístico: com trabalho, garra, competência e dedicação. Não é possível dar-lhe maior elogio.
Não sei se o Guarín vai ficar na história do F.C. Porto, os deuses do futebol são injustos e a nossa memória também. Um passe errado, uma bola à trave, um treinador que não o entenda (até o grande e mais injustiçado treinador que passou pelo FC Porto, Jesualdo Ferreira, se enganou com ele) e tudo o que ele alcançou para nós, portistas, será esquecido. É assim, não há nada a fazer.
Também sabemos que nos lembramos do golo de calcanhar do Madjer e ninguém celebra o Quim; glorificamos o Deco e esquecemos o Nuno Valente; cantamos o Gomes, mas quem lembra o Teixeira ?
Mas, foi com jogadores como o Guarín, o Teixeira, o André, o Quim, o Lima Pereira e tantos mais que o FC Porto chegou onde chegou. É o mais rápido jogador? Não. É o mais tecnicista? Não. É o que mais nos entusiasma? Não (apesar daquelas bombas...). Não é o melhor jogador da história do Porto, nem sequer do actual plantel, mas ele - como outros, claro está - sabe o tal segredo.
Em cada um dos vinte cinco campeonatos que conquistamos, nas taças europeias e nacionais que vencemos houve vários Guaríns, e sem eles nada tínhamos para mostrar na nossa sala de troféus.
Freddy, estás convidado para uma jantarada, em Bogotá, no Andrés Carne de Res. Comemos um assadito e dançamos umas músicas do Juanes. É pouco para te agradecer, mas é do coração. E, pelo menos, este portista não vai esquecer que percebeste os valores do dragão que vais sempre trazer ao peito.
nota: texto originalmente publicado na revista do JN e DN, FC Porto Campeão 25.
P.S. depois conto-vos da segunda garrafa de champagne no campo que utilizamos para treinar cá em Lisboa.
Para mim, amante incondicional da Colômbia, não era preciso um grande esforço para aceitar mais este elogio ao povo colombiano. Ninguém me precisava de me explicar a garra, a vontade, o espírito de luta temperada por uma simpatia e amabilidade que desarma qualquer mortal.
Mas, nós que sabemos que o futebol é um mundo à parte, ou melhor, que é a coisa mais importante do mundo – não, não vos vou lembrar pela milionésima vez a frase do Bill Shankly -, com dificuldade aceitamos estas generalizações. Mais, nem só de força de vontade e garra vivem as equipas. Precisamos da indolência elegante dum Madjer ou dum Hernâni (obrigado caro Pai, que este não vi jogar) da frieza assassina dum Gomes ou dum Jardel, dos pezinhos de lã miraculosos dum Ricardo Carvalho ou dum Aloísio, da explosão artística dum Oliveira, dum Futre ou dum Hulk.
Só que nós portistas sabemos um segredo: com habilidade e arte ganham-se jogos, mas os campeonatos e as taças conquistam-se com sangue, suor e espírito de conquista.
E não é que de Puerto Boyacá veio um rapaz que sabia esse segredo e encarna todas as qualidades que fizeram do FC Porto o melhor clube português e um dos melhores do mundo?
O Freddy Guarín não desistiu. O colombiano não se escondeu por detrás de imaginárias perseguições, mirabolantes congeminações. Entrava em campo, marcava um golo, segurava o meio-campo, ponha os adversários em sentido, e no fim de semana seguinte ia outra vez para o banco de suplentes. Era preciso trabalhar mais, correr mais depressa, chutar melhor, pensar mais na equipa. E o rapaz lá ia para o treino, antes quebrar que torcer, e dizia lá para ele, “a minha vez vai chegar”. O treinador não o colocava no local mais apropriado para ele, não interessava: era ali que a equipa precisava dele. E a equipa não é a soma de todos os dirigentes, treinadores, massagistas e jogadores. É outra coisa, somos nós. Quem não o souber não tem espaço numa equipa, pelo menos na nossa, na do Porto.
O Guarín percebeu, ou já nasceu assim, que nesta vida ninguém nos dá nada. É preciso ser sempre melhor, querer sempre mais, suar mais, correr mais, sofrer mais. Lamúrias e queixinhas são boas para os outros. O árbitro invalida um golo legal? É preciso marcar outro. Volta a invalidar? É voltar à carga.
O Freddy recusou-se a arranjar desculpas para justificar vitórias alheias. Não se queixou dos árbitros, dos dirigentes, dos sistemas, dos azares. Cerrou os dentes e mostrou no sítio certo ao que vinha. Ali no campo onde se mostra de que massa se é feito.
O Guarín ganhou o respeito dos adeptos, como o F.C. Porto alcançou o topo do mundo futebolístico: com trabalho, garra, competência e dedicação. Não é possível dar-lhe maior elogio.
Não sei se o Guarín vai ficar na história do F.C. Porto, os deuses do futebol são injustos e a nossa memória também. Um passe errado, uma bola à trave, um treinador que não o entenda (até o grande e mais injustiçado treinador que passou pelo FC Porto, Jesualdo Ferreira, se enganou com ele) e tudo o que ele alcançou para nós, portistas, será esquecido. É assim, não há nada a fazer.
Também sabemos que nos lembramos do golo de calcanhar do Madjer e ninguém celebra o Quim; glorificamos o Deco e esquecemos o Nuno Valente; cantamos o Gomes, mas quem lembra o Teixeira ?
Mas, foi com jogadores como o Guarín, o Teixeira, o André, o Quim, o Lima Pereira e tantos mais que o FC Porto chegou onde chegou. É o mais rápido jogador? Não. É o mais tecnicista? Não. É o que mais nos entusiasma? Não (apesar daquelas bombas...). Não é o melhor jogador da história do Porto, nem sequer do actual plantel, mas ele - como outros, claro está - sabe o tal segredo.
Em cada um dos vinte cinco campeonatos que conquistamos, nas taças europeias e nacionais que vencemos houve vários Guaríns, e sem eles nada tínhamos para mostrar na nossa sala de troféus.
Freddy, estás convidado para uma jantarada, em Bogotá, no Andrés Carne de Res. Comemos um assadito e dançamos umas músicas do Juanes. É pouco para te agradecer, mas é do coração. E, pelo menos, este portista não vai esquecer que percebeste os valores do dragão que vais sempre trazer ao peito.
nota: texto originalmente publicado na revista do JN e DN, FC Porto Campeão 25.
P.S. depois conto-vos da segunda garrafa de champagne no campo que utilizamos para treinar cá em Lisboa.
Comentários á parte, também sou um fã de Guarin. Força não desistas. FCPoooorto o maiooooor
ResponderEliminarCaro Pedro Marques Lopes, antes de mais, permita-me transmitir-lhe a minha satisfação e prazer pela oportunidade que tive em poder cumprimentar-lhe e privar, por poucos momentos que tenham sido, consigo, naqueles minutos anteriores ao Porto – Spartak. Um agradecimento especial aos amigos Paulo “Blue Boy” e Vila Pouca. Um obrigado a todos.
ResponderEliminarQuanto a Guarín, este é o típico caso de jogador mal-amado, incompreendido, futebolisticamente “insultado”, pelo facto de as pessoas continuarem a colocarem, por tudo e por nada, em causa a nossa SAD, as suas decisões, desvalorizando a sua sabedoria e experiência enquanto estrutura de futebol. Cada jogador tem a sua personalidade, o seu tempo, as suas características, a sua adaptação própria ao novo País, à sua nova equipa, às novas rotinas, aos novos amigos, a sua reacção às oportunidades que terá para se afirmar, e não são contratados “à sorte” como muitos ainda e incompreensivelmente pensam. Todas essas variáveis e respectivos imponderáveis que sempre e simultaneamente acompanharão essas referidas variáveis irão determinar (ou não) a afirmação do jogador em causa. Para além de tudo isso existe a concorrência e a sorte. No entanto, e no caso de Guarín, desde cedo pareceu-me evidente que este tinha um sem número de características bastante positivas que, mais tarde ou mais cedo, o iriam permitir afirmar-se no nosso Clube. É fácil falar agora, mas recordo perfeitamente da sua primeira pré-época, acabado de chegar, e na evidência da sua força física e muscular, qualidade de remate, e até mesmo uma técnica subtil que patenteava. Mas para muitos, uma vez mais, a sentença foi logo dada antes do tempo. Por mais exemplos que sucedam ao longo da história, e são muitos, os “bota-abaixo” não aprendem e, mais grave ainda, incidem no erro ano após ano, criticando, crucificando, certos e determinados jogadores e, por arrasto, a própria SAD, que, diga-se de passagem, realmente não percebe mesmo nada de futebol. Que Deus lhes perdoe.
Abraço
Guarim é daqueles casos que mostram que vale a pena esperar, não fazer juízos precipitados e não assobiar só porque sim...
ResponderEliminarNo ano passado, nos ultimos jogos, já tinha dado um ar da sua graça...
Hoje é um valor seguro.
Mas futebol infelizmente também é isto, ingrato para muitos por várias razões, perdendo-se assim muitos talentos ...
Ainda bem que toda a gente soube esperar, até eu própria, porque o Guarim fez-se um excelente jogador, neste momento para mim ele tem lugar cativo na equipa!
ResponderEliminarBom post Pedro,agora ficamos á espera da tal história, da segunda garrafa de champagne...;)
BIBÓ PORTO
Manifesto-me surpreso pelo nível que conseguiu atingir este ano.
ResponderEliminarSempre acreditei que fosse melhor do que aquilo que tinha feito, julguei-o um bom jogador de plantel, mas nunca para titular indiscutível, papel que assume neste momento com total mérito e merecimento