22 dezembro, 2013

Carlos Eduardo - Pode um Jogador Salvar Um Treinador?

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Fim dos primeiros 45 minutos contra o Sporting de Braga: Paulo Fonseca era um dead man walking. Ele: olheiras fundas, olhar vazio e um ar de que aquele banco não era para ele. A equipa o seu espelho: perdida em campo, sectores desconexos, tristonha, sem confiança, sem rasgo, sem chama, sem esperança.

Carlos Eduardo entra ao intervalo. O homem da equipa B, ex-Estoril Praia, não inscrito nas provas da UEFA. A última solução, já tudo se tentou, menos isto. Segredo inconfessado, aqui para nós, muda-se também o tão afamado triângulo, de volta ao que sempre foi. Posição seis solitária e dois médios mais à frente, a assumir as despesas do jogo. Os extremos, por consequência, já não precisavam tanto de interiorizar e colaram-se à linha. Figurino táctico conservador, sem invenções, clássico.

O jogo transformou-se. O FC Porto transformou-se. Herrera mostrou predicados a carregar o jogo mais à frente, mas foi Carlos Eduardo quem interpretou a revolução ocorrida no coração do Dragão. A equipa soltou-se ao ritmo da passada elegante do brasileiro. Cabeça altiva porte eleagante, o tal a quem chamavam de “Sócrates”. Não será o típico brasileiro dos mil truques e fintas na manga, mas tem aquela passada de sambista, alegre, confiante, batucada. Ar humilde e franzino, que não combina com a estatura nem com o porte, nem faz adivinhar o futebol que tem nos pés.

Depois do Braga, volta a ir para a bancada. Não está inscrito nas provas da UEFA, sabe-se lá porquê. O FC Porto e Fonseca voltam a ser aquilo que tinham sido: tristes, sem confiança, desencontrados, desconexos, perdidos, confusos. A derrota em Madrid é óbvia e justa.

Seguem-se os Arcos, com Carlos Eduardo na equipa. Parece haver uma retoma, joga-se bom futebol a espaços, a equipa circula em redor do brasileiro, que até bate o livre para o primeiro golo de Maicon. A confiança vai crescendo à medida que o jogo colectivo vai ficando mais oleado.

Até que chega a Olhanense que é, com todo o respeito, uma das equipa mais frágeis da Liga. Carlos Eduardo pega definitivamente na batura, joga e faz jogar, cria lances de perigo. Tudo fica mais fácil quando se tem Lucho e Fernando atrás, dois monstros do nosso campeonato. Carlos Eduardo sorri e avança, com a bola no pé como uma criança. Dá jogo, não é egoísta, passa e distribui, tabela, marca golaço. É artista, dizem as bancas. Faz lembrar Deco. É o novo 10.

O que esteve a fazer este jogador na B? Porque não foi este rapaz chamado a jogo mais cedo? Confesso que não deixo de concordar com a colocação do brasileiro na B. Como se vê, só lhe veio dar rodagem e experiência, o sentir do peso da camisola e da batuta. O que não se percebe, isso sim, é que se façam listas europeias sem ver os jogadores no relvado. O que não se percebe é que Quintero, por ter custado o que custou, tenha sido lançado às feras como nenhum outro no FC Porto foi: nem Deco, nem Anderson, nem James. Todos cumpriram fases de habituação, de sombra, de cativeiro, de protecção, de experiência. Quintero chegou, com 19 anos, imaturo, pequenino e frágil e, devido a um golo em Setúbal, já viam nele o novo Maradona. Não era, claro. A qualidade está lá, imensa e não engana, mas não respeitou o processo de integração normal de um jovem sul-americano no FC Porto. Erro crasso, que espero que a recente chamada à equipa B, seja a desejada correcção.

Não é crível que Carlos Eduardo seja o responsável por tudo que está a acontecer ao Dragão. Há mudanças tácticas e dinâmicas incluídas. Mas ele foi o homem certo no momento certo no lugar certo. A equipa pedia algo assim e o brasileiro soube dar. Não me devo enganar muito se disser que Fonseca, ao olhar para Carlos Eduardo, verá uma grande botija de oxigénio como presente de Natal. Ganha Fonseca e ganhamos todos!

Um Feliz Natal a todos os portistas e leitores do Bibó Porto!

Rodrigo de Almada Martins

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