Ao final de uns meros 3 jogos oficiais, todos vitoriosos, podemos dizer que começamos aprensivos, passamos a eufóricos na abertura do campeonato e arrefecemos os ânimos na deslocação ao Jamor. Bem-Vindos à montanha-russa chamada futebol.
Parece ser pois tempo de assentar arraiais e tentar perceber o que pode de facto valer este plantel. Isto atendendo ao que já se viu e, mais importante, ao que ainda não se viu.
BALIZA
Começando na baliza, dizer peremptoriamente que Iker Casillas é claramente o melhor guarda-redes a actuar em Portugal. A saída de Rui Patrício torna as contas mais fáceis, além disso. A veterania do espanhol compensará a perda de algum fulgor físico e mais se diga que, numa posição tão sensível como a de guarda-redes, a experiência é um posto. A prestação de Casillas no FC Porto tem vindo sempre a evoluir, fruto de uma cada vez maior empatia do jogador e da sua família com os portuenses, e não será tão descabido assim esperar pela melhor época de Iker de dragão ao peito. A José Sá, creio, tem noção que lhe resta esperar por uma lesão do espanhol.
CENTRAIS
Na zona central, as duas baixas de vulto (Marcano e Reyes, este último nunca se tendo afirmado em pleno com as nossas cores) já se fizeram notar na Supertaça e no Jamor. Diogo Leite apresenta-se para já como um central experiente, tal é a forma descomplexada e mandona com que joga, mas claro está que ainda tem um percurso a fazer para cimentar a sua posição. A facilidade com que domina o jogo aéreo, ainda assim, remete-nos para centrais como Fernando Couto, Jorge Costa e Bruno Alves, na senda da velha tradição portista de dominar o jogo pelo ar.
Felipe será naturalmente o patrão da defesa e a dupla de matulões Militão/Mbemba parte para já atrás na luta por um lugar no 11. Muito embora pense claramente que Militão será talvez a melhor contratação do FC Porto nos últimos 5 anos – central com chancela de canarinha e com potencial para protagonizar transferência sonante a breve trecho – creio que se avizinha difícil que o brasileiro e Mbemba possam neste momento ganhar um lugar ao lado de Felipe. Diogo Leite reunirá as preferências dos adeptos por ser menino da casa, mas no nosso clube não costuma existir complacência com erros, pelo que ao mínimo deslize surgirá o apontar de dedo à inexperiência e juventude do jovem central. E se é certo que os erros de Diogo Leite irão acontecer mais cedo ou mais tarde, seria interessante que os adeptos azuis e brancos recordassem as várias enterradelas que tiveram de suportar por parte de Otamendi, Mangala, Maicon, Marcano, entre muitos outros.
Mas em súmula, parece-me que uma zona que conta com Felipe, Diogo Leite, Militão (pode jogar a central, lateral e até trinco) e Mbemba poderá deixar confiantes os adeptos portistas.
LATERAIS
Antecipando as contas de um campeonato e de uma Champions League que se prevêm durinhos, inspira cuidados – essa sim! – a lateral-esquerda, onde dificilmente Alex Telles aguentará uma época como a anterior. E se no ano transacto, houve Dalot para suprir a ausência de um dos melhores laterais-esquerdos da história do FC Porto – não apenas pelo que joga, que é muito, mas principalmente pelo que não fala (nem ele nem o seu empresário) – este ano não há simplesmente ninguém para permitir descanso ao brasileiro. Será que Sérgio Conceição confia em Militão ou Maxi para aquele lugar?
Na direita, ao contrário da euforia em torno de Maxi – que a meu ver começou a época como o jogador em melhor forma de todo o plantel, o que mostra bem o profissionalismo e compromisso do uruguaio – mantenho-me algo apreensivo, pois não acredito que o experiente jogador aguente uma época a este ritmo, feita de esticões e de sprints, tão ao gosto de Conceição. Será importante a sua presença no 11 até Dezembro e depois, acredito, cederá o seu lugar mais vezes a João Pedro ou Militão. O primeiro será um lateral mais à imagem de Ricardo Pereira, uma espécie de carrillero pela banda direita, enquanto que o segundo será um lateral do estilo Thuram ou Lichtensteiger, i.e., forte no jogo aéreo e a fechar ao centro, mas com mais dificuldades na saída em velocidade pelo corredor.
MEIO-CAMPO
No meio-campo surgem interrogações, muito devido ao papel que Danilo poderá ter nesta temporada, assim que regressar da lesão – oxalá tudo decorra sem problemas de maior. Se por um lado, o Comendador é um jogador que por si só garante máxima segurança e coesão defensiva, por outro foi no momento da sua lesão que Sérgio Oliveira e Herrera agarraram o meio-campo e empurraram o FC Porto definitivamente rumo ao título de campeão do ano passado. Neste momento, Sérgio Oliveira é peça imprescindível do xadrez de Conceição e Herrera é Herrera, o que deixa tudo dito. A forma como ambos pegaram no jogo frente ao Desportivo de Chaves – a combinarem quase de olhos fechados e a mostrar total sintonia fruto das rotinas ganhas na época passada – mostra que só sairão do 11 em caso de lesão.
Inventará Sérgio Conceição um meio-campo a três para albergar Danilo Pereira? Ou acredita o nosso treinador na necessidade de ir efectuando uma rotação nos lugares centrais, de forma a evitar a fadiga de elementos nesta zona nevrálgica do terreno? Será Conceição capaz de fazer de Danilo um box-to-box e libertá-lo da típica posição 6 a jogar à frente da defesa? Ou Danilo estará reservado mais para os jogos fora de casa, onde normalmente é necessário mais músculo a meio-campo? A curiosidade é grande, veremos.
A maior interrogação deste plantel continua a ser, ainda assim, o papel de Oliver no futebol de Conceição. Homem de toque curto e de bola no pé numa equipa de voltagem e de jogo de constantes rupturas e desmarcações, o pequeno espanhol tem-se visto como peixe fora de água. Não consigo conceber Oliver neste futebol de alta tensão de Conceição, embora defenda que, em determinados jogos, faria bem à equipa parar para pensar, pôr a bola no chão e olhar em redor. Nem sempre o ataque de granadas resolve a coisa e há momentos em que faria bem ter alguém a pensar e a organizar o jogo. Parece é, infelizmente, faltar sempre algo a Oliver para dar aquele salto necessário a quem se quer assumir como titular: mais golo, mais acutilância, mais rasgo, mais originalidade. Em suma: mais futebol de rua e menos futebol de academia. Falta audácia e risco a Oliver.
A maior interrogação deste plantel continua a ser, ainda assim, o papel de Oliver no futebol de Conceição. Homem de toque curto e de bola no pé numa equipa de voltagem e de jogo de constantes rupturas e desmarcações, o pequeno espanhol tem-se visto como peixe fora de água. Não consigo conceber Oliver neste futebol de alta tensão de Conceição, embora defenda que, em determinados jogos, faria bem à equipa parar para pensar, pôr a bola no chão e olhar em redor. Nem sempre o ataque de granadas resolve a coisa e há momentos em que faria bem ter alguém a pensar e a organizar o jogo. Parece é, infelizmente, faltar sempre algo a Oliver para dar aquele salto necessário a quem se quer assumir como titular: mais golo, mais acutilância, mais rasgo, mais originalidade. Em suma: mais futebol de rua e menos futebol de academia. Falta audácia e risco a Oliver.
ALAS
Sendo eu um fã incondicional de Yacine Brahimi (para mim o jogador mais espectacular e mais match-winner a actuar em Portugal, o que não significa que seja o mais importante, pois esse para mim é Herrera), mantenho-me ainda um feroz descrente do instável Jesus Corona.
A aparição em grande forma de Otávio neste início de época faz parecer que talvez não haja necessidade de ir ao mercado por um extremo que seja garantia de golos e assistências. Sim, é certo que Otávio parece finalmente ter pegado, mas todos sabemos que o brasileiro é um atleta de cristal e que as lesões musculares lhe surgem com frequência. Assim sendo, seria interessante garantirmos um alternativa a Brahimi e Corona, já que Marega (caso seja reintegrado) previsivelmente vai manter-se a jogar em terrenos mais adiantados. Hernâni continua a ser um caso difícil de deslindar, pois o talento de sobra que dispõe, falta-lhe no discernimento e frieza que é preciso ter quando se joga de azul-e-branco vestido.
AVANÇADOS
A zona avançada do FC Porto conta com muitos executantes. Não conta com um deus-sol esclarecido, isto é, um qualquer Jardel, Falcao ou Jackson Martínez desta vida, aquilo a que com propriedade poderemos chamar um grande ponta-de-lança. Existem, no entanto, isso sim, vários avançados de qualidade.
Os nomes mais cotados são claramente Aboubakar (melhor marcador da equipa no ano passado), Marega (melhor marcador da Liga) e Soares (acabou a época em grande forma). O primeiro é capaz do melhor e do pior, seja marcar 30 golos por época, seja eclipsar-se inexplicavelmente na fase descisiva da temporada; Marega é muito útil para furar e rebentar com os autocarros das equipas pequenas, fazendo uso dos seus sprints e arrancadas no espaço crítico entre o central e o lateral. É o jogador do plantel mais propenso a esticar o jogo, embora seja curto para jogar em apoios ou quando é necessário construir com critério, nomeadamente nos jogos mais exigentes do ponto de vista táctico (Champions); Soares é para mim o avançado mais completo e talentoso, mas as lesões musculares não lhe permitem nem a regularidade nem os golos desejados. Sobram ainda duas interrogações: André Pereira e Marius. O português parece estar enquadrado no jogo colectivo da equipa e a entender-se naturalmente com Aboubakar, enquanto que o jovem do Chade, além do poderio físico, é um completo ponto de interrogação face ao que pode efectivamente dar à equipa.
Rodrigo de Almada Martins
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