10 abril, 2009

Confiança Realista

Ainda que a hora seja de focar a concentração novamente na Liga Sagres e no importante jogo com o Estrela da Amadora que se avizinha, a grande noite do FC Porto em Old Trafford continua bem viva na nossa memória. O grande resultado obtido perante o campeão europeu e mundial em título, e sobretudo a exibição conseguida pelos nossos guerreiros, enchem-nos de orgulho e fazem-nos acreditar em glórias que há poucos meses julgávamos francamente improváveis.

Havia a plena consciência de que a tarefa que esperava os pupilos de Jesualdo Ferreira no 'Teatro dos Sonhos' era espinhosa, dado o poderio superior do adversário. Notava-se, todavia, uma confiança latente nos portistas, alicerçada no crescimento que a equipa tem exibido e nos desempenhos de classe que tem protagonizado de há uns meses a esta parte. À pergunta 'Confias num bom resultado do FC Porto em Manchester na próxima 3a feira?', que esteve à consideração de todos, nos dias anteriores ao jogo, responderam 177 visitantes do blog. 105 (59%) revelaram uma confiança inabalável, 61 (34%) acreditaram num empate e apenas 11 (6%) se mostraram pessimistas. Incluo-me nas 61 pessoas que, de certo modo, acertaram no resultado que veio a acontecer. Não que não acreditasse num triunfo. Simplesmente, mesmo sabendo do momento favorável que a equipa vem atravessando, tenho sempre bem presente a qualidade dos 'red devils'.

A verdade é que se tivesse havido justiça no marcador, eu não teria acertado no empate final. O FC Porto mereceu ganhar. Fez uma exibição memorável, com classe, personalidade e maturidade, não se deixando influenciar pelo ambiente infernal vindo das bancadas. Aliás, o ambiente é que se foi tornando mais silencioso à medida que os 'dragões' iam impondo a excelência do seu futebol. A primeira parte foi soberba, tal a superioridade evidenciada pelo FC Porto. Mais qualidade de jogo, mais objectividade, mais remates, mais cantos, mais ocasiões claras de golo; foram 45 minutos em que a Europa se terá espantado e finalmente reparado que no Dragão mora uma das equipas mais fortes e traquejadas do continente. Já na etapa complementar, o Manchester United deteve algum ascendente, natural diga-se, mas o FC Porto nunca se deixou encostar às cordas, continuando, por outro lado, a constituir uma ameaça para a insegura defesa inglesa.

Após a adrenalina de 90 minutos vividos intensamente, não pude deixar de sentir o mesmo que senti aquando da igualdade em Madrid: apesar da alegria por um desfecho muito positivo alcançado fora de portas, foi inevitável uma certa frustração pela oportunidade perdida de ganhar sem espinhas. Mais ainda, pela forma infeliz como oferecemos um dos golos ao opositor. Erros primários podem suceder a qualquer um, mas eles têm-nos perseguido na Liga dos Campeões, sempre em jogos decisivos e em alturas em que estamos em vantagem: Helton em Londres e em Madrid e agora Bruno Alves em Manchester. Dói sofrer golos assim. Quem sabe não teríamos afastado o Chelsea de José Mourinho há duas épocas? Quem sabe não teríamos alcançado um triunfo histórico em Old Trafford?

Mas a resposta da equipa a essa adversidade foi formidável. Deu gosto ver o desempenho de alguns jogadores e a excelência táctica da equipa. Hulk era o jogador mais temido pelos ingleses e a nossa maior esperança. O certo é que o 'Incrível' não esteve particularmente brilhante e não foi por isso que o todo não funcionou. Lucho, na minha opinião, também não esteve muito inspirado e não foi por isso que nos ressentimos. O FC Porto é hoje uma equipa na verdadeira acepção da palavra, não depende de individualidades específicas, mas da harmonização entre todas elas. De repente, jogadores que nos pareciam inicialmente medianos ou nem isso, começam a apresentar performances admiráveis. Isto é fruto da organização colectiva que foi implementada. Fernando esteve enorme no centro do terreno. Posicionalmente irrepreensível, jogando simples e sendo intenso na pressão ao adversário, perdi a conta aos cortes providenciais e recuperações de bola, algumas delas aos pés de Cristiano Ronaldo. Cissokho foi outro dos jovens que brilhou a grande altura. Sapunaru já não parece aquela unidade insegura do princípio da temporada. Rolando, Raúl Meireles, Lisandro ou Rodríguez apenas confirmaram os grandes jogadores que são. Helton não tremeu e conferiu segurança ao sector mais recuado, com algumas paradas meritórias. Até Mariano, tantas vezes causticado com críticas, entrou para resolver.

Sabendo a pouco, o empate é bom, sem dúvida. Mas o que mais me emocionou foi a exibição, o carácter, a ambição. Foi maravilhoso ver um onze com seis jogadores que chegaram ao FC Porto e se estrearam na Champions apenas nesta época, muitos deles autênticos miúdos, controlarem daquela maneira uma equipa tão poderosa e com tantas estrelas cintilantes. É reconfortante ver uma equipa a ser construída em tão curto espaço de tempo, enquanto noutras paragens se pede paciência para consolidação de projectos e se prometem novos ciclos todas as semanas. É ainda melhor, quando sabemos que o país inteiro, excepto os portistas, ansiava por uma derrota copiosa, como forma de descarregar as frustrações de tantos insucessos, dentro e fora do campo.

Agora, para a segunda mão, no Dragão, estamos em vantagem. No entanto, será um erro crasso pensarmos que já estamos apurados. Equipas como o Manchester United são capazes de ganhar em qualquer campo, contra qualquer adversário e em que circunstância for. Só actuando com a mesma postura da primeira mão poderemos ser felizes. Tenho para mim que o jogo no Porto será sempre extremamente traiçoeiro e mais complicado que o de terça-feira passada. A equipa deve apresentar-se mediante duas premissas fundamentais: confiança nas próprias capacidades e prudência com as capacidades contrárias. Não nos enganemos, a eliminatória continua em aberto.

Foi no sentido de conhecer a opinião de todos os leitores acerca das perspectivas para o segundo jogo, a realizar no próximo dia 15 de Abril, que o blog promoveu nova sondagem, logo após o embate de Manchester. Foram recebidos 166 votos. 42 pessoas (25%) responderam 'Cum carago, já passámos!', 117 (70 %), inclusivé eu, disseram 'Calma, bamos com calma!' e somente 7 (4%) afirmaram 'Não percebo tanta euforia!'. Esta distribuição dos resultados da votação é esclarecedora quanto ao sentimento dos portistas. Nada de optimsimos ou pessimismos exagerados. O melhor é adoptar uma postura realista, ter confiança na passagem às meias-finais, mas sempre com cautela e muito respeitinho pela turma de Alex Ferguson.

Aconteça o que acontecer, esta equipa criada por Jesualdo merece o nosso reconhecimento. Soube crescer, vê-se espírito colectivo, união do grupo, respeito pelo emblema que ostenta no peito. Ali há trabalho, há suor, há evolução, há qualidade. O FC Porto continua a ser o único clube português com dimensão internacional e reconhecido como tal. Olhando em redor, para tudo o que se vai passando e dizendo, é fácil concluir que o futebol português não merece ter um clube como o Futebol Clube do Porto. Somos bons demais para esta realidade medíocre.

PS: Porque adoro este jogo, é impossível ficar indiferente à grandiosidade do futebol do Barcelona... Só nós os vamos conseguir parar! :-)

8 comentários:

  1. Eu votei na hipótese mais votada, porque sei que o jogo da próxima 4ª feira será bem mais difícil de encarar que a partida de volta contra o time do " simulãozinho joga nada ". O M.U. tem um grande elenco, além de terem a vantagem de muitos mouros estarem preparando macumbas para ver se nos eliminam, uma vez que não suportam a ideia do nosso enorme FCP ser de outra galáxia dentro do país.
    No entanto, além da vertente econômica, já superamos, definitivamente, aquilo que era o pensamento reinante na Europa: não tinhamos gabarito para contestar os maiores clubes europeus.
    PS: sabem o que mais dói no universo dos palhaços torcedores da gayvota depenada? um dos reds pode ser eliminado pelo nosso time, o outro vai sê-lo pelos blues do chelsea, só faltará os reds do Arsenal, mas com esses ajustaremos conta no próximo embate. VIVA O GRANDE FCP!

    ResponderEliminar
  2. Permite-me fazer um reparo

    Penso que as prestações do Lucho, assim como o Raul Meireles; foram essenciais para o êxito do conjunto!
    Se recordares, quando o MU tinha a posse de bola, tanto o Lucho como o Raul Meireles faziam a cobertura aos laterais; recuando assim para o MC o Rodríguez e o Lisandro!
    Acho e estou convicto, que estas movimentações foram importantíssimas para o semi êxito!

    Abraço à DRAGÃO!

    ResponderEliminar
  3. É impossível "esquecer",ou deixar de pensar naquela exibição de terça-feira.Mas temos que ser realistas e frios: faltam 90 minutos muito complicados,ainda mais do q os 90 minutos de Old Trafford,e os jogadores e equipa técnica sabem disso. Já cehga de euforias,somos um clube habituado a vencer e a brilhar em grandes palcos europeus. Mas não podemos mesmo ir na onda da euforia,ou excesso de confiança,seria a morte do artista!

    Temos categoria!Temos qualidade,aquele jogo não caiu do céu,não foi obra do espírito-santo,se o MU não jogou o habitual foi por nossa culpa.

    Vamos agora pensar no jogo importante com o Estrela-o Tetra é a prioridade- e ir para cima deles outra vez!

    Abraço

    ResponderEliminar
  4. Olá Armindo,

    Todos os reparos que quiseres. Importa é fomentar a discussão sadia e descomplexada. Concordo plenamente com o que disseste. Em relação ao Meireles, fez um grande jogo e mostrou o grande jogador que é. Quanto ao Lucho, tens razão que foi muito importante nas coberturas que fez aos laterais e esse factor foi decisivo para que tivéssemos conseguido estancar as alas do United. Mas se reparares bem, apenas falei que 'El Comandante' não esteve particularmente inspirado, nomeadamente em termos ofensivos, pois tacticamente foi muito importante, como quase sempre (ainda que eu ache que na segunda parte baixou muito nos índices físicos).

    Abraço.

    ResponderEliminar
  5. Começando pelo fim:

    É mesmo impossível ficar indiferente ao jogo asfixiante do Barcelona. Fantástica primeira-parte contra o Bayern, humilhando o colosso alemão, tamanha foi a superioridade evidencida.

    São, claramente, os grandes favorito a vencer a competição.

    Eu por aqui ainda continuo a sonhar baixinho. Logicamente que já dei por mim, perdido em pensamento, imaginando as sensações de estar em Roma. Prémio justo para um clube literalmente afogado em críticas, em calúnias, em boatos torpes.

    Mas, para que esse mero pensamento se transforme em realidade, há que manter os pés bem assentes no chão. Concentração máxima na recepção aos red devils, procurando evitar erros grosseiros como o de Bruno Alves.

    Vão ser 90 minutos desgastantes, mas em que pelo menos, para já, conseguimos fazer-nos respeitar. A ideia imbecil que alguma imprensa estrangeira passou, de que este confronto seria desiquilibrado, já levou a resposta adequada.

    Antes do embate com o MU, importa não esquecer o quão importante é a partida frente ao Estrela. Para nós e, pelos vistos, para eles.

    Onde andam agora os arautos da verdade desportiva, sabendo-se que os ordenados dos homens da Amadora continuam por pagar mas, por artes mágicas, esta semana eles já se treinaram? E na outra, que antecedeu a recepção ao Benfica? Qual foi a diferença para que aqueles profissionais tenham feito gazeta aos treinos?

    Já ando nisto há muito tempo para saber que não existem coincidências destas. Depois do EstorilGate, temos o AmadoraGate!

    ResponderEliminar
  6. Viva !

    Grande texto !

    Não votei porque não reparei. Vou directamente ao título dos artigos.

    Como já escrevi : Com os pés assentes no chão o Porto passará.

    Enganei-me quanto ao calendário. Estava convencido que o jogo da volta era só daqui a 15 dias. Talvez tivesse tomado os meus desejos por realidade. É que quanto mais tarde, na época, se joga uma equipa Inglesa melhor é. Acho eu.

    Vou ver se presto atenção às votações.

    Não vi o jogo do Barcelona ! Nem me interessou nem me interessa !

    Cada coisa em seu tempo !

    Lembro-me perfeitamente dos comentários e dos prognósticos do guardião do Bayern, reconduzidos, como sendo seus, de modo oficioso, pelo diário "L'Equipe" em 1987 :

    5-0 para o Bayern !

    Acho que no fim foi 2-1 para o Porto.

    Agora é preciso ganhar 3 pontos no próximo jogo. É que para o ano só há um lugar ( o primeiro ) que dá acesso directo à Taça dos Campeões Europeus.

    E Viva o Porto !

    ResponderEliminar
  7. Eu votei que era óbvio que confiava num bom resultado em Manchester e o jogo que o Porto lá fez deu-me razão. O MU é um grande equipa, mas estão pior agora que há uns meses atrás e o Porto, pelo contrário, está melhor. O Porto tem menos argumentos, mas alguma coisa me dizia que ia lá fazer um bom resultado. Grande exibição. Não me surpreendeu.

    Curisosamente, para a segunda mão acho que devemos ir com calma e o meu sentimento já não é de tanta confiança, não sei bem porquê. Acho que vamos passar, confio muito nisso e quero acreditar que não vamos morrer na praia. Mas tenho algum receio desse jogo. Acho que temos todos de manter os pés bem assentes no chão. Sobretudo os jogadores não podem facilitar nunca só porque um empate a 0 ou a 1 chega. Jesualdo tem que incutir neles a mentalidade certa e espero sinceramente que não nos reserve nenhuma das suas surpresas.

    Por agora, é ganhar ao Estrela. Vou lá estar na Superior Sul.

    ResponderEliminar
  8. Estamos em vantagem, mas nada está ganho para já! É preciso ter muito cuidado no jogo da segunda mão. Temos de ser sérios e ter coragem como demonstramos em Inglaterra.

    Quanto ao Barcelona, é um luxo vê-los jogar, ainda bem que as possibilidades de os encontrarmos são só na final!

    Hoje vou falhar o meu primeiro jogo esta época no Estádio do Dragão!!! Raramente falto, mas neste momento gozo de umas mini-férias, fora do Porto, que me vão impedir de estar presente!
    Mas espero ver muita gente, a aplaudir aqueles jogadores que bem merecem, e a assobiar aquele porco da liga, que finalmente se lembrou de entregar os DOIS (!!!!) troféus em falta na nossa vitrine.

    Abraço

    ResponderEliminar