09 janeiro, 2010

Um rasgo de pura ficção

O envelope fora-lhe entregue em mão, mas por gente desconhecida. O momento era único, sentia-se como se fizesse parte de uma causa maior, qual mártire das guerras santas, pronto a sacrificar-se por tudo aquilo em que acreditava.

Alberto refugiara-se na privacidade do seu quarto, longe dos olhares familiares que desconheciam esta sua devoção tão doentia.

Estudante do ultimo ano de um curso superior nada fazia supor esta faceta tão radical.

Abriu o envelope amarelo, e nas suas mãos estava o colete da mesma tonalidade, mas fluorescente que lhe havia sido destinado. Tinha um nome, igual aos demais, mas um número que o destacaria dos restantes. Um número que lhe permitiria acesso a um espaço onde não é suposto estarem elementos destes.

Não lhe foi fácil adormecer, tamanha era a ansiedade com que aguardava o domingo que já se avizinhava.

Na manhã do dia seguinte, sabado, almoçou com a família e de tarde passeou com o grupo habitual de amigos. Não conseguia ceder à tentação de olhar para o estádio do outro lado do centro comercial. Os olhos teimavam em seguir tal direcção. Os amigos não estranhavam, conheciam-lhe a fé clubística no seu clube.

Mas a intensidade era diferente. Haviam-lhe prometido um papel no jogo no dia seguinte. Um papel decisivo, que faria “dele” parte de um projecto há muito já delineado que teria por todos os meios de entregar o título de campeão, porque assim haviam prometido.

Uma noite em claro, durante a qual reviu palavra por palavra tudo o que lhe havia sido transmitido por aquele enviado de nome falso, podia ser Lucílio, podia ser João, podia ser.. é, podia ser João…

O jogo decorreria normalmente, os jogadores da sua cor evitariam todo e qualquer confronto com os adversários, não responderiam a eventuais provocações, tudo com o intuito de não haver castigos disciplinares. A contrapartida estaria reservada para o final do jogo. Os jogadores já lhe haviam tomado o gosto num jogo disputado há uns tempos atrás. Havia-lhes ficado no sangue, mas desta vez não seriam eles os protagonistas… seria ele, Alberto, um adepto até então anónimo, recrutado na faculdade pelo seu ar tranquilo e carácter reservado.

Caber-lhe-ia a ele, provocar, achincalhar a equipa visitante já quando esta estivesse de regresso aos balneários, quando e onde estivessem apenas presentes as pessoas que interessassem, onde se pudesse filmar e manipular imagens a belo prazer da entidade responsável.

O seu momento chegou e passou tão velozmente que nem conseguiu retirar a satisfação que o levara a aceitar a proposta.

Regressou a casa com o rosto marcado, regressou tambem com um aperto na alma. A duvida mantinha-se e iria prolongar-se: teria sido atingido o objectivo maior ?

Não conseguiu festejar a vitória do seu clube, afinal ele não era talhado para o serviço que aceitara. Havia-lhe sido prometido o céu, mas ele tinha uma sensação de amargo da qual não se conseguia abstrair.

O Natal estava à porta, mas ele sentia-se como um Judas, não por trair o seu clube, mas por trair o seu gosto pelo futebol que o acompanhava desde pequeno.

Maquinações destas, destroiem não só a verdade desportiva, como os próprios adeptos.

Alberto queimaria na lareira da sala tudo o que associava ao clube que o fez perder o gosto pelo futebol. O clube perdia um adepto. O futebol perde a sua verdadeira essência: jogar, vencer ou perder, mas no campo, no onze contra onze.

Heliantia

4 comentários:

  1. Caríssima Heliantia, se o Alberto está arrependido talvez ele esteja disponível para ser testemunha do F.C.Porto...e passar a ser mais um portista? Não, minha cara amiga, eles não escolhem desses...

    Beijinhos

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  2. Manobras em favor da tal verdade desportiva...

    Palhaçada como disse o nosso PdC.

    PS-hoje no jogo vem mais um pouco desta tramoia liga/slb contra o FC POrto. Não deixam consultar o processo e com isso os jogadores tb n responderam e o processo prolonga-se...

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  3. Lucho também li isso. Se havia alguma dúvida que isto é mais uma armadilha... dissiparam-se por completo. Mas agora o que interessa é ganhar! Nós somos importantes!


    Lito quer que adeptos do Fc Porto irritem a equipa (Fc Porto). - Não lhe vamos dar esse gosto pois não, pipoqueiros e assobiadores?

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