09 novembro, 2011

Capítulo 5: 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte IX)

http://bibo-porto-carago.blogspot.com/


FCPorto – Dragões de Azul Forte
Retalhos da história, conquistas e vitórias memoráveis, figuras e glórias do
F. C. do Porto


Capítulo 5: 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte IX)

Época 1947-48 (Continuação)

Correia Dias – Manuel Belo Correia Dias (n. Ovar, 24 Mar.1919) foi um dos maiores exemplos de amor à camisola do FC Porto, seu clube de sempre. Alto, forte, corpulento (pesava mais de 100 quilos!), aliava à pujança física um espírito de entrega exuberante.
• Ponta-de-lança gigante, verdadeiro “predador” das áreas adversárias, no dia 25 Jan.1942, com 22 anos, estreou-se frente ao V. Guimarães, no campo da Constituição, na que era a 2.ª jornada do Campeonato, ao lado de Bela Andrasik, Vítor Guilhar, Pocas, António Nunes, Pinga e Carlos Nunes. Logo nesse jogo em que encetou a sua carreira, contribuiu com dois golos para a vitória por 3-2 sobre os vimaranenses. “Sempre à espera de apanhar uma bola a jeito e à medida do seu disparo forte e certeiro” ao longo das outras vinte jornadas consecutivas apôs a sua assinatura em mais trinta e quatro golos.
• Assim, logo na primeira época (1941-42) ao serviço do FC Porto, sagrou-se o melhor marcador do Campeonato, com 36 golos. Atrás dele, e a boa distância na lista dos “reis do golo”, ficaram Peyroteo (Sporting) e Armando Correia (Académica) ambos com vinte e oito remates certeiros.
• Correia Dias é um dos mais bem sucedidos goleadores da história do clube. A sua marca – 36 golos - só é superada por dois grandes “artilheiros” da história do FC Porto: Fernando Gomes e Mário Jardel! Mas, ainda assim, com uma média de golos por jogo superior: 1,64 contra 1,30 de Gomes e 1,12 de Jardel. Extraordinário!
• A sua carreira não foi longa. Pensou em retirar-se no final de 1946-47, após seis épocas vestido de azul-e-branco sempre sem sucessos colectivos. Após dois títulos consecutivos (1938-39 e 1939-40), o FC Porto foi-se afundando, ano após ano, cumprindo uma década de absoluta abstinência de títulos e de modestas classificações. De nada serviram as dezenas de golos marcados por Correia Dias – 110 em 114 jogos – já que as classificações oscilavam entre o terceiro lugar conseguido em 1946/47 e o sétimo em 1942/43. Não existindo no plantel um avançado-centro com selo de garantia a solução era, segundo o técnico argentino Eládio Vaschetto, fazer Correia Dias mudar de ideias e trazê-lo de volta. A Direcção anuiu e Correia Dias que tinha abandonado o futebol por motivos pessoais, aceitou regressar… sem ordenado mensal. Não o queria, contudo teve mesmo de aceitar o salário em nome da disciplina imposta pela direcção. Não queria o dinheiro, não queria contrapartidas, mas não se importava de jogar só para servir a equipa.
• O jogador explica-se assim: “Eu acho o profissionalismo perfeitamente aceitável. É mesmo honroso ser profissional. Se eu precisasse do futebol acredito que receberia desde há muito. Mas, como isso não se tem dado, nunca pensei nas remunerações do clube. Agora posto o problema da disciplina e das obrigações, considerada necessária a minha inclusão na equipa do clube, nestas condições, acedi e ganho. Pronto”.
Um exemplo de entrega ao Clube, de dedicação, de amor à camisola azul-e-branca.
• Correia Dias está intimamente ligado à célebre vitória sobre o Arsenal de Londres, em Maio de 1948. Marcou 2 golos no triunfo azul-e-branco por 3-2. Nunca foi internacional. Tão pouco teve direito a qualquer faixa de campeão. A conquista da Taça de Portugal também não faz parte do seu palmarés, apesar de contabilizar mais golos (9) do que jogos (8). Foi, sim, sempre um notável goleador com lugar cativo na história do Dragão.
• Sem aviso prévio, fez o seu último jogo de alta competição a 16 Jan.1949, finda a 17.ª jornada (4.ª da segunda volta) do Campeonato Nacional de 1948-49. Dos seus “padrinhos de baptismo” nem um só sobrevivente. O palco, esse era o mesmo em que há sete anos se estreara: o velhinho campo da Constituição. Nessa tarde o pelado recebeu outros nomes: Barrigana, Francisco, Ângelo Carvalho, Joaquim, Alfredo Pais, Romão, Vital, Silva, Sanfins e Lino. Correia Dias terminava como começara, a ganhar. O FC Porto venceu por 2-0 a Olhanense e Correia Dias marcou, a Abraão, o último golo da sua carreira – o centésimo decimo golo em 114 jogos para os nacionais, à média de quase um golo por jogo (0,96)! Um feito verdadeiramente notável e pouco referenciado. Uma média que até hoje só quatro outros grandes goleadores portugueses, centenários, conseguiram superar nos campeonatos nacionais: Fernando Peyroteo: 183 jogos/297 golos (1,62), José Águas: 281 jogos/290 golos (1,03), Eusébio: 313 jogos/320 golos (1,02), e Julinho: 164 jogos/165 golos (1,01).
• Correia Dias, uma saudade, uma glória do FC Porto que muito se honra de nas suas fileiras terem pontificado desportistas e homens deste valor.
Carreira no FC Porto
1941-42 a 16 Jan.1949
Palmarés
5 Campeonatos do Porto
[Fontes: Várias, incluindo “Revista Dragões”, Ago.2007]

Araújo – António Araújo (n. Paredes, 28 Set.1923 – m. 2001), um dos mais eficientes rematadores da história do FC Porto e da Selecção Nacional.
• Ingressou no FC Porto, com 19 anos, na época 1942-43 e jogou ao lado do seu ídolo, o famosíssimo Artur de Sousa (Pinga), até 1946. Mas os pontos altos da sua carreira ocorreram em 1947 e 1948. Interior-direito de grandes qualidades, sagrou-se melhor marcador do campeonato em 1947-48, apontando 36 golos em 25 jogos! A sua intuição para o golo tornou-o famoso. Como Pinga, tinha um drible curto, certeza no passe, remate potente e colocado e, de facto, uma capacidade de aproveitamento das oportunidades de golo verdadeiramente invulgar.
• Pela Selecção Nacional marcou 6 golos em 9 partidas. A selecção da altura era designada na cidade do Porto, com algum sarcasmo, por "Sport Lisboa e Araújo", por ser geralmente o único portista a impor-se numa Selecção Nacional composta maioritariamente por jogadores do Benfica, Sporting e Belenenses. Araújo foi um dos grandes responsáveis pelo facto de os chamados “Cinco Violinos” não terem conseguido ser na “equipa de todos nós” o que foram no Sporting, já que relegava Vasques para o banco de suplentes.
• Entre Abril de 1946 e Março de 1948, Araújo cumpriu 9 jogos na Selecção Nacional, algo de excelente para a época, quando os encontros internacionais eram escassos. A sua estreia deu-se contra a França (14-4-1946), numa vitória por 2-1, no Estádio Nacional, e logo aí apontou um golo. O momento de glória de Araújo foi na primeira vitória oficial frente à Espanha, em 26 Jan.1947, no Estádio Nacional que havia sido inaugurado há pouco tempo. Portugal venceu por 4-1, com os dois primeiros golos apontados por ele. O avançado portista protagonizou brilhante exibição, sendo depois recebido em alvoroço pelo povo da sua terra natal, com foguetes, banda de música e homenagem na Câmara Municipal de Paredes. O último jogo pela Selecção aconteceu em 21-3-1948, em Madrid, frente à Espanha (0-2).
• Em 6 Mai.1948 o FC Porto venceu por 3-2, no Estádio do Lima, o Arsenal de Londres, campeão de Inglaterra e considerada, de longe, a melhor equipa da Europa ou, por muitos, a melhor do Mundo. Araújo, com mais uma extraordinária exibição, o melhor jogador em campo, marcou o primeiro golo aos 9 minutos. Um grande golo! No fim, tinha deslumbrado os ingleses e o futebol do "Velho Continente".
• Nos anos 40 (sec. XX) o FC Porto foi-se afundando e cumprindo mais de uma década de absoluta abstinência de títulos de âmbito nacional. Foi o longo “jejum” a que Araújo não se furtou, pese a sua categoria e a de alguns dos companheiros no FC Porto.
• Entretanto era contactado por dirigentes do Celta de Vigo e do Arsenal de Londres. De Inglaterra, recebeu “proposta milionária, como nunca se vira em Portugal”. Scopelli, o treinador, quis levá-lo para ao Desportivo da Corunha. António Araújo disse que não ia por dinheiro nenhum!

• No início da época 1948-49, no auge da sua carreira, foi-lhe diagnosticada uma doença na garganta que acabaria por lhe afectar os rins e deixá-lo inapto para o futebol. A enfermidade obrigou-o a abandonar os relvados durante mais de dois anos. Araújo regressaria à equipa, à 5.ª jornada do Campeonato de 1950-51, contra o Benfica, na Constituição. O FC Porto ganhou por 5-2 e, mais que os cinco golos, valeu a euforia nas bancadas pelo seu regresso, como se fosse um herói renascido. Fora apenas autorizado a jogar sob vigilância médica, por ainda se suspeitar de padecer de nefrite crónica.
Depois depressa se constatou que Araújo vinha diminuído. Não voltou a ser o mesmo. Perdera a força e a agilidade que o caracterizaram como grande jogador. Permaneceu no FC Porto (único clube que representou durante dez anos) até 1952. Ainda jogou no Tirsense e terminou a carreira no União de Paredes. Depois entregou-se ao trabalho na Câmara Municipal da sua terra natal.
• A carreira de futebolista de António Araújo foi curta e, no entanto, gloriosa. Em Fevereiro de 1953, o FC Porto prestou-lhe justa e merecida homenagem. Peyroteo, seu adversário e amigo, esteve presente e, com as lágrimas nos olhos e os filhos ao colo, Araújo deu-lhe a medalha em prata que o clube mandara gravar especialmente para si.
Também o presidente Pinto da Costa, na época 1990-91, o homenageou e distinguiu com um “Dragão” entregue no Estádio das Antas perante milhares de adeptos que não lhe regatearam aplausos (foto ao lado). Araújo tinha, então, 67 anos. Morreu dez anos depois.
• Araújo, um extraordinário futebolista, uma lendária figura, uma glória do FC Porto!
Carreira no FC Porto
1942-43 a 1951-52
Palmarés
5 Campeonatos do Porto
[Fontes: várias com realce para sítios zerozero.pt e da FPF]

Eládio Vaschetto (na foto como jogador), foi um avançado argentino, internacional em 71 vezes, que integrou a equipa de São Lourenzo de Almagro, goleando todas as equipas portuguesas com que jogou.
• Em Outubro de 1947, o FC Porto, por iniciativa do presidente Cesário Bonito, contratou-o para orientar a equipa de futebol em substituição de Szabo e do treinador interino Carlos Nunes. Seria o primeiro treinador argentino de outros mais que o FC Porto acolheu.
• Estreou-se com uma brilhante vitória (1-0) em Valência, campeão de Espanha e derrotou, em célebre jogo, o Arsenal de Londres (3-2) na tarde épica no Lima em 6 Mai.1948. Deixou uma boa imagem nos confrontos com equipas estrangeiras de nomeada.
• Vaschetto orientou o FC Porto até ao final da época 1947-48 que não correu bem a nível interno, já que os portistas acabaram em 5.º lugar no Campeonato Nacional e foram eliminados nos oitavos-de-final da Taça de Portugal. No entanto, o futebol praticado pelos azuis-e-brancos deslumbrou os adeptos, dada a sua forte vocação ofensiva que conduziu Araújo ao título de melhor marcador do Campeonato com 36 golos.
• Com intuito de dar novo fulgor à equipa nas competições internas, o FC Porto despediu-o contratando o também argentino Alejandro Scopelli em Agosto de 1948.
• Eládio Vaschetto regressou, em Julho de 1951, para uma segunda e fugaz passagem pelo Clube. Os dirigentes, atletas e adeptos desejavam que voltasse ao comando técnico dos Dragões, onde era carinhosamente apelidado de “homem do Arsenal”. Treinador de muito trabalho e poucas falas, Vaschetto protagonizou um arranque fabuloso no Campeonato de 1951-52, com o FC Porto a chegar a meio da prova isolado no comando, com 3 pontos de vantagem, numa equipa onde pontificavam Barrigana, Virgílio, Ângelo Carvalho, Joaquim, Vieira e Hernâni. Só que nos últimos dias de Dezembro de 1951 desapareceu misteriosamente rumo ao México. Deixou os seus fatos e mobílias no Porto, e, ao que se sabe, não mais os veio buscar. O seu substituto, o espanhol Pasarín, realizou um trabalho desastroso, perdendo não só a liderança do Campeonato, como também deixando cair a equipa no 3.º lugar, em igualdade com o Belenenses (4.º).
Carreira no FC Porto
Out.1947 a Ago.1948
Jul. a 31 Dez.1951

Basquetebol portista ganha a primeiro campeonato de âmbito nacional
O trabalho profícuo da secção de basquetebol, resultou na conquista do Campeonato Nacional da 2.ª divisão (1947-48). O FC Porto viria a revalidar o título na época seguinte, 1949-50. Duas épocas depois foi Bicampeão Nacional da 1.ª divisão (1951-52 e 1952-53).
  • No próximo post.: Capítulo 5, 1941 a 1950 – O centralismo da capital e o jejum (Parte X) – Época 1948-49; HISTORIAL Ciclismo; Fernando Moreira, Dias dos Santos e Marco Chagas; palmarés do Ciclismo do FC Porto; história do ciclismo.

3 comentários:

  1. Valeu a pena estar ao computador até depois da meia noite, para dar de caras com mais um belo artigo como este e sobretudo apreciar mais deste importante trabalho. Cá por mim não me importava de mais, disto, quanto antes.
    Abraço.

    ResponderEliminar
  2. "Araújo, um extraordinário futebolista, uma lendária figura, uma glória do FC Porto!"

    De facto, um grande nome da nossa história e excelente foto essa com JNPC na época 90/91 a prestar-lhe homenagem no estádio das Antas.


    Abraço!

    ResponderEliminar
  3. Dois exemplos de dedicação e amor à camisola, duas grandes glórias do FC Porto.

    Obrigada, mais uma vez, pelo que me ensinas.

    Não podes publicar todos os dias?

    Beijinhos.
    BIBA O PORTO!

    ResponderEliminar