29 março, 2013

O maior dos nossos trunfos

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

Quando foi publicado o meu último post há duas semanas, dependíamos apenas de nós para chegarmos ao Tri. Na altura, escrevi que os recentes desaires significavam que era hora de mostrar de que massa somos feitos. Depois de mais dois pontos estupidamente perdidos, dá vontade de escrever o mesmo, mas em negrito e sublinhado.

É com pena que digo que há muito Portista que não merece o clube que tem. E, em muitos casos, não merece a época em que nasceu e cresceu. Vitória atrás de vitória, título atrás de título, festa atrás de festa. Orgulho a transbordar por todos os poros. Disse e repito: somos os adeptos mais privilegiados do mundo. Mas tão boa fortuna deixou-nos mal habituados. É cliché, mas é verdade. Começámos a tomar como garantido aquilo que nunca o foi - pelo contrário, custou muito esforço e muita perseverança, mesmo que por vezes nos parecesse fácil. Nunca foi fácil.

E nós, que fomos dando o nosso apoio pelo caminho, sentimo-nos responsáveis por parte do êxito. "Eu ajudei, eu contribuí, fiz o meu papel e por isso esta vitória também é minha". Nas horas mais difíceis, porém, as coisas mudam de figura, e há muito quem se chegue para o canto e passe à crítica na terceira pessoa, porque os jogadores isto, o treinador aquilo, o Pinto da Costa está acabado. Sem parar para pensar que, se o seu apoio contribui para as vitórias, talvez a ausência desse apoio também contribua para as derrotas. Os seus assobios, os seus insultos, a sua crítica fácil e muitas vezes injusta, o seu discurso agressivo contra aqueles que deviam defender dos tantos ataques vindos de fora. Tudo isso desestabiliza, desune, desmotiva e tem o seu peso no desempenho de um grupo de pessoas, simples humanos como nós, que carregam às costas os sonhos de milhões. Não é preciso ser psicólogo. E se tanto gostamos de ver "a casa a arder" quando as coisas correm mal aos nossos rivais, o que leva alguns de nós a, nos momentos de fragilidade da nossa equipa, pegar nos fósforos em vez de no extintor?

Felizmente, acredito que este tipo de adeptos, embora talvez mais interventivos e exuberantes, sejam uma minoria. E a sua defesa costuma ser sempre a mesma: sou exigente! Pois, somos todos. Nenhum de nós gosta de épocas como esta, nem nenhum de nós se contenta com a mediania. E não contesto o direito à crítica, nem mesmo a sua importância, quando justa e relevante. A diferença está na noção de que a glória que exigimos não é um direito, mas uma conquista. Não é algo com que possamos contar como certo e depois amuar se não nos cai no colo. Não. É algo pelo qual é preciso lutar muito, na maioria das vezes contra tudo e contra todos. Que implica fileiras cerradas, crença, empenho, capacidade, inteligência. E se isso da exigência é a sério, exijamos o melhor de todos nós. Todos!

O nosso clube passou por momentos muito difíceis ao longo dos seus quase 120 anos de existência. Leiam as histórias ou, melhor ainda, ouçam-nas de quem as viveu. Perguntem a qualquer Portista - daqueles com P bem maiúsculo, como tenho a honra de conhecer vários - nascido dos anos 60 para trás o que era ser do nosso clube naquela altura. Quantos títulos europeus festejaram, quantos Pentas, quantos Tetras ou Tris. Até mesmo quantos títulos, em geral. E perguntem-lhes se resistiram. Ou melhor, nem é preciso fazer esta última pergunta. Olhem à vossa volta. É graças à sua resiliência e dedicação inabaláveis que hoje estamos onde estamos e somos quem somos. Ser Porto é isso. E essa identidade será sempre o maior dos nossos trunfos.

Se ainda vamos ser campeões esta época, não sei. Mas, no pouco que me cabe, acreditarei e lutarei até ao último segundo. E no dia a seguir a esse, independentemente de tudo.

8 comentários:

  1. William Wallace29 março, 2013

    Muito bem escrito !
    Directo e incisivo.

    7 é o número mágico, mais do que acreditar é preciso realizar e para isso todos contam seja presencialmente ou no coração.

    A nossa Força advém do nosso querer , da nossa ambição , da nossa HUMILDADE e abnegação.

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  2. "E se isso da exigência é a sério, exijamos o melhor de todos nós. Todos!"
    Adorei esta frase... sempre me parece que os que enchem a boca para falar em exigência são uns baita complexados e atrofiados mentais, que passam pela vida a exigir aos outros o que para si não conseguem!
    também me farto muito dos chavões de que ser Portista é ser exigente, etc... Ser Portista é gostar do clube. Ponto final. Dê por onde der. Aconteça o que acontecer. Ser Portista com P grande é gostar do clube mais do que da vida... Em qualquer destes casos a exigência só recai sobre quem a leva. Não sobre os outros. Aos outros deseja-se que sejam iguais...

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  3. Miguel Sousa Tavares dá uma entrevista ao jornal afecto ao clube do regime onde realmente mostra todo o seu "portismo"!!!!!
    Uma coisa é a gente em pleno estádio, a ver o jogo com as emoções ao rubro, chamar filho de uma grande prostituta ao Jackson por falhar um penalti, mandar o Vitinho pró Carvalhido por uma exibição não conseguida, ou insultar a Nandinha por ter trocado os olhos ao Pinto da Costa Outra é fazer o jogo do "inimigo" em casa do próprio!!!!
    Se MST é sócio do FC PORTO, por favor dêem o dinheiro a uma instituição para doentes mentais!!!!

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  4. Está tudo dito, é pena, todos os que tanto criticam não leiam isto, parabéns por estas palavras tão certeiras.
    manuel moutinho

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  5. Enid, estou de acordo, claro está. Mas deixa que diga:
    - Não insultei, não insulto, nem insultarei qualquer jogador ou treinador do FC Porto. Com Jesualdo Ferreira nunca o fiz (quando a grande maioria malhava forte e feio no homem, defendi-o até à última – e foi campeão três vezes em quatro épocas!). Na época passada fui crítico de Vítor Pereira, mas nunca o insultei. Esta época tenho-o defendido com unhas e dentes. Compreendo e aceito quem não o faça, mas sem insultos. Assim, que fique bem claro: NÃO ACEITO, NÃO POSSO COMPREENDER OS INSULTOS. NUM E NOUTRO SENTIDO. Os blogues devem ter uma acção pedagógica, não promover as ofensas verbais. SE ALGUÉM VEM INSULTAR, DEVE SER IMPEDIDO DE O FAZER. ASSIM COMO ALGUÉM COM ACESSO LIVRE NÃO O DEVE FAZER. É a minha modesta opinião.
    - Quanto ao “acreditar” ou “não acreditar”. Quando não acredito, não acredito… E PRONTO. Por quê dizer o contrário? Não é uma questão de fatalismo. Mas o assumir do realismo que sempre presidiu ao meu pensamento em tudo o que diga respeito ao desporto. É uma questão de honestidade, entre portistas.
    Há tempos, depois de um comentário bem lisonjeiro para VP (até disse que a equipa jogou bem… ao contrário de todos os outros comentadores…), fiz outro dizendo que já “não acreditava” na revalidação do título.
    Será isso o quê? Apenas o manifestar de um desgosto ou “falta de portismo”??? Valha-nos Deus, tenhamos noção das ideias e não usemos as palavras como ARMAS DE ARREMESSO. É isso que vejo frequentemente, INJUSTIFICADAMENTE, ERRADAMENTE.
    Abraço.

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  6. ENID, falas em portistas de P maiúsculo. Eu conheço muitos. Dos que viveram os longos anos de “jejum” e dos que “só” estão habituados às vitórias. Uns e outros são PORTISTAS. PORTISTAS genuínos! Eu, que estou no lote dos que viveram a travessia do deserto (esperei 19 anos por um título!), não me arrogo no direito de contestar o P maiúsculo dos habituados às vitórias. Uns não são mais que outros. A que propósito vem isto? É que me choca (choca-me sobremaneira) estar constantemente a assistir às distinções arrogantes, insidiosas e malévolas entre portistas e à definição muitas vezes absurda e incorrecta do que é o portismo. Tenho visto definições aberrantes e do mais puro sectarismo que, confesso, me deixam muito desiludido com certas tertúlias que fazem dessa prática um “modus vivendi” e se arrogam no direito de “serem” mais portistas do que outros.
    Com que direito um portista que vive no Porto e vai a todos os jogos, se diz MAIS PORTISTA que outro que não vai a todos os jogos por viver em Luanda, Maputo, Cidade da Praia, Ponta Delgada, Funchal, Faro, Lisboa, Bragança ou Vila Real? Que direito, que razão esse portista tem para amesquinhar e diminuir o outro portista?
    Em posts do “Tripeiro”, por exemplo, já tive oportunidade de lhe dizer que o admiro muito e ao seu grupo. Cheguei a dizer que “vós sois os meus heróis”. Claro que isso não lhe dá a ele, “Tripeiro”, nem a qualquer um dos outros o direito de me classificarem de “portista menor”. Eu não admito isso nem admito que o façam com qualquer outro portista seja ele quem for.
    Detesto o sectarismo e abomino o elitismo. Quando ando nas aldeias limítrofes de Vila Real e encontro um jovem portista, não me “armo” em portista de cidade; quando vou a um jogo no Dragão – para quem não sabe, assistir a um jogo de carácter internacional custa-me cerca de 170 euros (!) porque tenho de pagar dois bilhetes e viagem de ida e volta – não humilho ninguém que não vá; quando falo da história do FC Porto e a conto a alguém menos conhecedor, não lhe chamo ignorante e “portista menor”; quando vou festejar para a rua, exuberantemente, uma vitória do FC Porto, não diminuo nenhum portista que fique em casa; quando choro uma derrota do FC Porto não insulto ninguém que não o faça; quando uso um cachecol do meu Clube não invectivo ninguém que use uma gravata… azul.
    Enfim, é preciso haver fraternidade entre portistas. A começar no relacionamento. Arrogância, sectarismo, elitismo, são maus caminhos. Lamento profundamente que blogues portistas que deveriam ter um papel aglutinador, não o tenham. Pelo contrário, fomentam e alimentam quase diariamente a divisão, o atrito entre portistas. TODOS SE DEVEM LEMBRAR QUE O “INIMIGO” NÃO ESTÁ ENTRE NÓS! “POIS NÃO” dirão alguns dos “responsáveis”. Mas basta uma pequena diferença de opinião para logo se ARROGAREM NO DIREITO DE DIMINUIR, VEXAR E INSULTAR. Não posso concordar, não está na minha índole (de portista) aceitar tal coisa.
    Abraço.

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  7. Obrigada a todos pelos comentários!

    reine margot, é precisamente isso. Quem enche a boca para falar na "exigência" raramente o faz consigo mesmo.

    Dragão Azul Forte:
    Começando pelo acreditar: eu própria sou pessimista por natureza e compreendo as tuas palavras. O que quero dizer é que não devemos desistir, que devemos lutar até ao fim. Já "acreditar" no sentido de "estar convicto de", isso é algo que vem de dentro e que não podemos controlar, concordo plenamente.

    Quanto à ideia de os Portistas serem todos iguais, não tenho a certeza se alguma vez escrevi sobre isto aqui no blog, mas é uma discussão que já tive várias vezes. Na minha opinião, sim, há Portistas que são mais Portistas do que outros. Para dar um exemplo extremo, parece-me óbvio que o Pinto da Costa é mais Portista do que o Miguel Sousa Tavares. Ou, já agora, do que o meu vizinho que até é do FCP mas nem acompanha grande coisa, não conhece nem meio plantel e nunca ouviu falar no Pinga. Ou seja, há diferentes graus de Portismo, disso estou certa, embora estejamos a falar de algo muito complexo, que não pode ser reduzido a meros indicadores como a presença no estádio. Conheço grandes Portistas que pelos mais variados motivos (geográficos, económicos, familiares, profissionais, etc.) pouco ou nunca vão ao estádio, enquanto que há sócios com lugar anual que não vivem o clube tão intensamente.

    É um assunto sobre o qual já reflecti bastante, e estou certa de que sim, há uns Portistas mais Portistas e outros menos. Mas não vejo qualquer problema nisso, nem considero que seja razão para menosprezar ou diminuir ninguém. Cada um vive o clube e a sua vida como entender. E concordo que o mais importante é que somos todos do FC Porto e não faz sentido criar-se clivagens entre quem é mais ou quem é menos. Não foi, de todo, essa a intenção deste meu post. Peço desculpa se passei a ideia contrária, mas não me insurjo contra pessoas, apenas contra atitudes e comportamentos que a meu ver são prejudiciais à equipa e ao clube.

    Quanto aos "Portistas com P bem maiúsculo", o que quero dizer é que só faz sentido fazer estas perguntas a quem realmente vivia o clube intensamente naquela época, porque são esses quem terá mais e melhores histórias para contar. E já agora confidencio que o Dragão Azul Forte é uma das pessoas que tinha em mente quando falei naqueles que "tenho a honra de conhecer" ;)

    Um abraço azul e branco!

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  8. Cara Enid:
    Agradeço e louvo as tuas palavras, como sempre moderadas e reflectidas. Na substância, concordo. Aliás os meus comentários anteriores não estavam em oposição a nada do que disseste no teu post. Foram, tão só, um meio para uma reflexão sobre as questões abordadas. O que eu quis vincar, mais que abordar a questão do mais ou menos portismo (que, como dizes, é assunto para muito reflectir), foi o sectarismo e o elitismo patente em algumas tertúlias. Como em tudo na vida, não são “bons companheiros” para qualquer viagem com amigos. Disso não tenho dúvidas e tu também, com toda a certeza, não tens.
    Boa Páscoa e um grande abraço.
    BIBÓ PORTO!

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