2013, o ano Kelvin

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Com o ano quase a terminar, chega a hora de se lhe fazer um balanço. O meu 2013 conta-se em dois números - três, de tricampeonato, e 92, de irónica fatalidade e de incomensurável felicidade. E tem um nome incontornável: Kelvin, pois claro, quem mais poderia ser? É ele que dá o nome a um campeonato que parecia perdido, naquele minuto que resume o que de melhor me aconteceu nestes quase 365 dias.

Com alguns meses de antecedência, marquei férias para aquela semana de 6 a 10 de Maio e reservei viagem para a Madeira, onde jogávamos com o Nacional, no fim-de-semana anterior. Semana potencialmente decisiva do campeonato, que terminaria com a recepção aos lampiões, e semana de Queima das Fitas. Semana de festa e de borga, portanto. Foi o que pensei na altura, longe de acreditar que naquele sábado, dia 4, viajaria de manhã cedo para o Funchal, convencido de que iria ver um jogo que serviria apenas para cumprir calendário, consolado pelo facto de saber, pelo menos, de que passaria três belos dias de sol no meio daquele belo pedaço de terra no Atlântico plantado. No fim do jogo, postei no Facebook uma fotografia com a nossa bandeira erguida, devidamente legendada: “Estamos vivos”.

Para dizer a verdade, não acreditava nem um bocadinho naquilo que escrevi. Para mim, estávamos mortos e enterrados. Quem poderia crer que os mouros não ganhavam em casa, ao Estoril? Ironia do destino: a minha viagem de regresso à Invicta estava marcada para segunda à noite, justamente à hora do jogo. Aterrei no Sá Carneiro e, ainda dentro do avião, liguei o telemóvel, sem me lembrar sequer que eles estavam a jogar. Nem me preocupei em ir ver o resultado. No “Facebook”, leio um post de um amigo a dizer: “Belisquem-me, porque eu não estou a acreditar”. Desconfiado, fui ver o resultado. Liguei ao meu pai que, a rir-se, me confirma o impensável: “É verdade, está empatado a cinco minutos de fim”. Desliguei e desatei a correr dali para fora, que nem um maluquinho, em direcção à zona de chegadas do aeroporto, onde se encontravam uns quantos colados à televisão. Foi lá a que assisti aos últimos minutos do jogo. No fim, saltei, chorei e abracei pessoas que nunca na vida tinha visto.

Foi aí que começou a semana de festa, com uma viagem à capital pelo meio para ver a equipa B, no salão. Belo dia, essa quarta-feira: uma estranha deslocação à Luz, com apenas uma camioneta e pouco mais de 50 na curva, num estádio praticamente vazio, em que quase só nos ouvíamos a nós. Incrível, como incrível foi depois aquela noite de 11 Maio, que todos os que estiveram no Dragão jamais esquecerão, por obra e graça daquele menino que fez magia por um dia.

Desde então, sempre que ele entra no campo ou salta do banco para aquecer, fazemos-lhe aquelas vénias a que só o nosso mágico tinha direito. Chamo-lhe o “momento Kelvin”, parecido com aquele orgasmo colectivo que os lampiões pareciam ter quando viam o "Mántorra", mas com uma enorme e inalcançável diferença: um deu-lhes sonhos que nunca se realizaram, o outro deu-nos um campeonato que parecia impossível. Obrigado, Kelvin, por num segundo me tornares todo um ano feliz.