01 maio, 2015

AINDA DOS BEIJOS E ABRAÇOS.

http://bibo-porto-carago.blogspot.pt/

Acordou ensonado. Não dormiu bem de noite.

Há alguns dias que não dorme descansado. O trabalho também não lhe tem corrido especialmente bem.

Algo desconcentrado, pouco focado. Ansioso.

Desde o jogo em Munique que as coisas não rolam tranquilamente. Parece que há sempre mais uma confusão, um mal-entendido.

A verdade é que acordou, a viagem ainda é longa e não há grande tempo a perder. Toque no telemóvel – o plano está a correr conforme combinado. Todos acordados e em preparação.

Vestiu-se a rigor – camisola azul e branca e cachecol.

Não é um cachecol qualquer. É azul, de apoio ao FCPorto e, no verso, traz a inscrição “antes morto que vermelho”. Tudo certo, portanto.

Mas, como se dizia, não é um cachecol qualquer. É o cachecol. É o seu cachecol. É o cachecol que o acompanhou para todo o lado, que assistiu e consigo festejou grandes feitos e vitórias.

Fizeram-se à estrada. Os três amigos que, por regra, se juntam para apoiar o seu clube do coração.

Estava inquieto, mas, à medida que os quilómetros se sucediam, o nervosismo ia dando lugar à confiança – é o FCPorto, é para ganhar.

Chegaram. Deixaram o carro nas imediações e integraram o quadrado que rolou (não há quadrado que não role) até ao Estádio da Luz.

Pelo caminho ainda levou com um cassetete policial.

A polícia pedia: “afunila! afunila!”. Mas a multidão não é facilmente domesticável e acabou por afunilar à força.

Chegado ao estádio, dirigiu-se para uma das filas e foi revistado por um segurança privado.

“Abre os braços!” (revista)
“O que é isto?”
“É o meu cachecol.”
“Quero ver.” (abriu o cachecol)
“Vira ao contrário.”

Assim que virou o cachecol, o segurança arrancou-o das suas mãos e, secamente, disse: “este não entra”.

“Porquê?!” – exclamou.

Atirando o cachecol para um outro segurança, sorrindo, replicou - “É ofensivo.”

“Porquê?!” – repetiu.

“Fala com o chefe”.

Dirigindo-se ao dito chefe, acabou por questionar: “Porquê?! Esse cachecol é meu e esteve comigo em todos os estádios!”

O suposto chefe, sem sequer abrir o cachecol e perceber o que nele se encontrava inscrito, deixando-o cair para dentro do saco, limitou-se a responder: “Já vi que este não pode entrar”.

Nunca mais viu o seu cachecol. Tentou procurar por ele no fim do jogo, mas nem sabia de nada. O chefe desaparecera no meio de seguranças, outros chefes e de outros verdadeiros chefes.

É também por isto que a troca de camisolas e os beijos e abraços, em pleno relvado onde nos apagaram a luz e ligaram a relva e no estádio em que inventaram túneis e agressões, não é aceitável.

Pedro Ferreira de Sousa

11 comentários:

  1. Que tristeza!

    Não sei o que faria nessa situação, não sei se não perderia a razão que estava do meu lado... O meu cachecol também é sempre o mesmo, o que me acompanha para todo o lado, já velhinho mas com todo o simbolismo. Viu jogos nas Antas, no Dragão, em Portugal e no estrangeiro. Sentir-me-ia roubada se me tirassem o meu cachecol.
    De facto, é também por isso que os abraços foram uma vergonha

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  2. Alguém haveria de colocar este post no balneário!

    Mas hey, eles querem lá saber!

    Abraço Azul e Branco,

    Jorge Vassalo | Porto Universal

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  3. Como é que é possível este tipo de arremessos?
    Existem objetos piores que estes e que são atirados as caras de outras pessoas.
    E estes não foram arremessados por que razão?

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  4. é bastante desagradável, no mínimo.
    e daquelas merd@s que vai ficar para sempre gravada na memória.

    se estivesse no teu lugar, apesar da adrenalina toda, era gajo para saber o nome do agente e do chefe, e apresentar queixa deles, e pedir o cachecol de volta.

    abr@ço solidário
    Miguel | Tomo III

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  5. Pedro, mas que coisa horrível. Um mero cachecol!!! Até que ponto esta actuação é legal? Reparaste se apreenderam outros "tão" ou mais ofensivos? Farão o mesmo no nosso estádio? Desculpem todas as perguntas, mas tudo isto me tira do sério.

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  6. Não quero parecer injusto, mas devias saber que não podes levar nada do género e que ias ficar sem ele. O teu post tem esse valor, avisar malta que desconhece a regra, para não lhe acontecer igual. Mas olha que é algo com muitos anos, não é de agora. Não leves a mal, mas fica-se com a impressão que deves ser novinho.

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  7. Tiago, há uma coisa chamada liberdade de expressão. O que este artigo retrata é um atentado há liberdade de expressão. É vergonhoso.

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  8. Caros,

    Muito obrigado por todos os vossos comentários, não obstante alguns exageros de linguagem sempre relativamente normais nesta matérias de paixão.

    Esta pequena estória que vos trouxe aqui não se passou comigo, mas com um colega e amigo.

    Por isso, não vos posso deixar mais pormenores sobre o caso.

    Pareceu-me, no entanto, um testemunho importante para analisarmos o fenómeno a que chamei "Beijos e Abraços".

    Um abraço a todos,

    Pedro Ferreira de Sousa

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  9. Nesse caso tens de chamar logo a policia. Como disse o Lima Pereira esses vermes não merecem ter camisolas do Porto, a troca de camisolas e abraços no fim do jogo foi vergonhoso, ainda por cima o Quaresma e o Helton que tristeza.

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  10. Como o Tiago já disse, não nos deixam entrar, nem cachecol , bandeira ou o que quer seja ofensivo aquele clube de mer..
    Não é de agora, já acontece á uns bons anos, dizem eles que incita a violência e de todos os estádios do Pais a que já me desloquei para ver o nosso clube, e já fui a quase todos, tirando as Ilhas, é o único que tem esse tipo de atitude.

    E como tal, beijos, abraços e troca de camisolas em pleno galinheiro, depois de praticamente termos perdido o campeonato, a mim que estava lá, doeu, mas doeu muito!

    Miss BlueBay, não sei se no nosso estádio fazem o mesmo, mas também não estou muito preocupada com isso, porque só quem vai apoiar o nosso clube ao galinheiro é que sabe o que nós passamos...

    Bibó Porto

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  11. Fazer tantos Kms, aturar a escumalha, ficar sem os nossos adereços tão queridos e depois ver tanta falta de respeito, durante e após o jogo dói.

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