07 maio, 2008

Com medo da Champions

‘Nortada' do Miguel Sousa Tavares

Na Amadora, o Benfica terá sepultado, com toda a naturalidade e conformismo, o que lhe restava de hipóteses de um acesso directo à Champions. Vale-lhe que é tudo menos certo que o Vitória consiga estar à altura da responsabilidade de ter de vencer o último jogo.

1. Sporting, Vitória de Guimarães e Benfica vêm mantendo, de há longas jornadas para cá, uma luta ao sprint pelos dois lugares que podem dar acesso à Champions (um directo, o outro através da pré-eliminatória), e que só na derradeira jornada ficará resolvida. Entre os três têm tido múltiplas as ocasiões em que, de cada vez que um deles aparece em condições de dar um passo decisivo em frente e destacar-se dos outros dois, tropeça e por ali fica. O Sporting, que terá sido quem mais oportunidades dessas desperdiçou, veio a beneficiar, na arrancada final, da inestimável colaboração do FC Porto, vencedor em duas jornadas sucessivas de Benfica e Vitória. E, anteontem, na Mata Real, o Sporting viu-se, finalmente e pela primeira vez, em situação de depender apenas de si próprio para chegar ao segundo lugar e aos cerca de cinco milhões de euros garantidos pela participação na fase de grupos da Champions. O jogo era difícil, pois o Paços de Ferreira lutava também pela manutenção e é equipa habituada a salvar-se in extremis. Sem Liedson, o Sporting conseguiu chegar ao golo sem nada ter então feito para tal e lá aguentou a vantagem preciosa até final. Venceu sem convencer e sem mostrar a dose necessária de ambição para quem quer figurar entre os 32 grandes da Europa, para o ano que vem. Mas, enfim, a verdade é que agora basta-lhe apenas empatar em casa com o Boavista e tem garantida a Champions. Isso, mais uma vitória na Supertaça e a presença na final da Taça de Portugal, que poderá juntar como mais úm título, farão desta uma época razoável. É claro que bom, como diz Paulo Bento, seria ter sido campeão, mas isso essa equipa do Sporting nunca demonstrou capacidade face à do FC Porto e, aliás, até é normal que assim seja olhando a desporporção dos respectivos orçamentos para o futebol.

O Vitória de Guimarães confirmou no Restelo que atingiu o seu patamar de Peter e que, se o campeonato durasse mais umas quatro jornadas, era provável que começasse a desabar na classificação. A equipa atingiu a notável posição que ocupa espremida até aos limites e graças a uma série de vitórias quase sempre tangenciais - e a prova disso é que apresenta um goal average totalmente incomum para um terceiro classificado: tantos golos sofridos como marcados. No Restelo, como já se vira na jornada anterior contra o FC Porto, o Vitória mostrou que não tem capacidade que justifique maior ambição do que o terceiro lugar - o que, aliás, continua a ser notável para quem veio da segunda divisão. Contra o Belenenses foi nítido que a equipa, os jogadores e o treinador se davam por satisfeitos com o empate, independentemente do que estivesse a suceder nos outros jogos dos seus rivais nesta luta. Mas, partindo do princípio que o Benfica vencerá o Vitória de Setúbal na Luz, está obrigado a vencer o Estrela em Guimarães, para fechar as contas com o apuramento para a pré-eliminatória da Champions - onde é de prever que a sua falta de experiência, mais do que a sorte no sorteio, venha a ser decisiva e fatal.

Já o Benfica era, à partida para esta jornada, o que tinha tarefa mais fácil, pois que lhe cabia uma curtíssima deslocação no IC 19 a um campo onde os seus adeptos estariam em maioria e face a um Estrela que garantira na jornada anterior poder disputar este jogo sem necessidade de pontos. Ora, tirando as habituais e particularíssimas análises de Chalana (que vê sempre grandes exibições do Benfica e um sem-número de oportunidades de golo onde todos os outros só vêem banalidades), os encarnados mostraram mais uma vez uma falta de talento e de ambição que explicam bem o porquê de, dos três, serem os que se encontram em pior situação à entrada para a última jornada, arriscando-se a terminar a prova num impensável quarto lugar.

Na Amadora, o Benfica terá sepultado, com toda a naturalidade e conformismo, o que lhe restava de hipóteses de um acesso directo à Champions. Vale-lhe que é tudo menos certo que o Vitória consiga estar à altura da responsabilidade de ter de vencer o último jogo e que a experiência dos últimos anos que, terminando em terceiro lugar, o Benfica é sempre feliz no sorteio da pré-eliminatória da Champions. E se há coisa que ali abunda, é fé.

2 - O campeão teve um apagão de todo inesperado e lá se foi o que teria sido um imbatível recorde: terminar a época com um golo apenas sofrido nos quinze jogos disputados em casa. Afinal, no último jogo sofreram o triplo dos golos sofridos em todos os outros catorze. E, não só sofreram três, como não conseguiram marcar nenhum, numa partida em que todos, absolutamente todos, estiveram como que narcotizados e ausentes do jogo. Foi um frustrante fim de festa para um título que tanto merecia ser festejado em grande. Mesmo assim, acho que os portistas devem ter estabelecido um outro recorde: o da equipa com menos faltas cometidas num jogo - seis!

3 - Mesmo que as razões que os levam a reclamar estejam à vista de todos, o União de Leiria e o Paços de Ferreira não deixam de ter toda a razão quando reclamam contra a concorrência desleal dos clubes que têm ordenados de jogadores, impostos e contribuições à Segurança Social em atraso e continuam na Primeira Liga, como se nada fosse e ao arrepio dos regulamentos. A coragem de Hermínio Loureiro é aqui que tem de se ver e não no gesto de seguir as instruções que lhe mandam de fora sobre o Apito Dourado. O Presidente do Estrela da Amadora, por exemplo, que tanto se insurge contra a posição dos reclamantes, esteve semanas sem aparecer aos jogadores, a quem devia não um mas três meses de salários. E onde é que ele reapareceu, depois de desaparecido em parte incerta? No camarote do Dragão, ao lado de Pinto da Costa e quando sabia que iria ser filmado pelas câmaras de televisão. É essa a razão principal porque muita gente quer ser presidente de um clube. Mas ao menos que paguem: não há promoções grátis.

4 - Por falar em camarote do Dragão, constato que, cada vez mais, a recente re-esposa do presidente do FC Porto vem assumindo o papel de primeira dama do clube - até já é escolhida para madrinha de sedes do FC Porto. Não é primeira vez que falo deste desagradável tema: no passado falei dele quando a primeira dama era então Carolina Salgado. Parece que não me enganei e isso dá-me legitimidade para insistir. Há aqui uma questão do foro pessoal e uma questão que tem a ver com o clube. Sobre a primeira não me pronuncio: cada um conduz a sua vida privada como entende, expõe-na ou não a expõe. Tenho, obviamente, a minha opinião sobre isso, mas guardo-a para mim e não tenho que a dar a propósito da vida alheia. Mas, acontece que não existe no FC Porto, estatutariamente, a figura de primeira dama, seja formal, seja informalmente. Não existe e não deve existir, sobretudo quando a experiência recente nos mostra que, se as coisas dão para o torto, quem paga é a imagem e o nome do clube e quem sofre em silêncio são os seus sócios e adeptos. O mínimo que Pinto da Costa deve aos sócios do clube é mostrar que aprendeu com a lição passada. E que, esteja inocente ou não, quando alguém que ele fez primeira dama do clube o senta no banco dos réus, acusado de todas as patifarias do mundo ou quase, não é apenas ele que lá está sentado: é o FC Porto e todos os portistas.

PS: Induzido em erro e de boa-fé por uma falsa notícia da TVI, e que levaram cinco dias a desmentir, escrevi aqui na semana passada que Jorge Mendes era sócio de Pinto da Costa na imobiliária deste em Cedofeita. Tal é falso e eu lamento ter, involuntariamente, veiculado essa falsa notícia. Peço desculpa por isso a Jorge Mendes, com quem, aliás, ainda fui injusto, escrevendo que é ele quem coloca quase todos os jogadores do FC Porto. Também não é assim: tem colocado quase todos os bons, a maioria daqueles que não se percebe como lá foram parar não são da sua responsabilidade, mas sim contas de outro rosário.

in jornal “A BOLA” de 2008.05.06
fonte: "Sou Portista com Orgulho"

2 comentários:

  1. Acredito que a maioria deverá ter achado o comentário ao último jogo do FCP demasiado brando, tendo MST considerado-o apenas como um "apagão".
    Eu concordo. Não passou mesmo disso.
    Isto de festejar o título a tantas jornadas do fim, era já previsível.
    Os jogadores enquanto profissionais falharam, mas convenhamos que a motivação se não era pouca , era nenhuma.
    Vá lá, têm agora oportunidade de encerrar o campeonato com uma vitória.

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  2. Miguelito outra vez esteve muito claro , como galo madrugador! Engatou vários 'peixes' na mesma linha! Bem , Miguel !

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