20 janeiro, 2009

1 comentário:

  1. NORTADA (miguel sousa tavares na bola de 20-1-09)

    O que se há-de fazer?

    1 Realmente, esta Taça da Liga, ou o modelo dela, não tem grande futuro. Financeiramente, duvido que um só clube ganhe coisa que se veja com a dita Taça. Desportivamente, o seu interesse só poderá existir para quem, a esta altura da época, já pouco mais objectivos tem a conquistar. Servirá talvez para rodar jogadores, experimentar miúdos vindos das camadas jovens e pouco mais.
    Concordo com o José Manuel Delgado que o grosso da Taça da Liga deveria ser jogado logo em Agosto, à saída do «defeso», quando as pessoas já estão com saudades de bola, quando há emigrantes em férias e turistas por aqui que sempre podem ajudar a aumentar as assistências, e quando os treinadores precisam de experimentar todos os jogadores e definir ideias para a nova época. Seria bem mais interessante que aqueles desinteressantes jogos de pré-temporada, disfarçados de «Torneio do Guadiana» ou coisa que o valha.

    Pelo que li, as assistências para esta fase de grupos da Taça da Liga variaram entre as 50 (!) e as 35 000 pessoas que foram ver o Bruno Paixão-Belenenses, no Estádio da Luz. Nos dois jogos do Dragão, ainda assim, houve duas casas bem razoáveis, para ver a reserva do FC Porto contra o Vitória de Setúbal (12 000), ou um misto do FCP contra a Académica (18 000). Já o mesmo não aconteceu em Alvalade, onde os dois jogos não chegaram à casa dos dez mil espectadores e o último foi a segunda pior assistência desde que existe o Alvalade XXI. Pretendem que o sucesso de público no último jogo da Luz se deve ao horário diurno e porque o público tem saudades de jogos à tarde: há mesmo quem, respaldado neste único exemplo, preconize o regresso dos jogos à tarde. Discordo de ambas as coisas. Os 35 000 espectadores da Luz devem-se, sobretudo e em minha opinião, ao facto de o público benfiquista saber que não terá muito mais ocasiões de ver a sua equipa em competição este ano e que esta Taça da Liga parece ter sido desenhada à medida das ambições e frustrações do seu clube. Por outro lado, e contra-corrente, eu defendo os jogos à noite: nos dias de fim-de-semana, porque há coisas bem mais interessantes para fazer do que passar uma tarde a ver futebol e já lá vai o tempo em que os maridos iam para o estádio ver o jogo e as mulheres ficavam no carro a fazer tricot. E aos dias de semana porque, tirando aqueles doentes que habitam o dia inteiro à porta dos estádios, a gente normal trabalha durante o dia. Deixem estar os jogos assim, que estão muito bem!

    Entretanto, esta é a Taça da Liga que temos e que assim chegou a umas meias-finais de acordo com a programação feita: com os três grandes ainda em prova e incluindo os quatro primeiros do anterior campeonato. Segundo li aqui, a própria «Bola» só descobriu mediante uma consulta à Liga uma regra ad hoc de cuja existência ninguém tinha falado até aqui: os dois primeiros recebem o terceiro primeiro e o primeiro segundo, em lugar de um sorteio aberto, como na Taça de Portugal. Benfica e Sporting ficam em casa e FC Porto e Guimarães fazem o favor de vir à capital. Dificilmente se conseguiria fazer melhor para chegar à tão almejada final Benfica-Sporting. Agora, só falta mesmo nomear o Lucílio Baptista para Alvalade e o Paulo Baptista para a Luz (o Bruno Paixão fica guardado para a final).

    É, de facto, uma competição interessantíssima.

    2 Galileu Galilei passou à História por ter proferido uma das frases mais marcantes de sempre: «E pur si muove (E, todavia, move-se)». A terra movia-se em volta do sol, conforme ele sabia e tinha comprovado, e ao contrário da crença então dominante. Tal crença, porém, vinha desassossegar a verdade estabelecida pela Igreja e Galileu foi levado a julgamento e forçado a abjurar a sua crença. Mas, juram as testemunhas, que, ao retirar-se do tribunal, absolvido, ele murmurou entre dentes «e pur si muove». Só no ano passado a Santíssima Madre Igreja se dignou, cinco séculos depois, reconhecer a injustiça cometida para com Galileu: veja-se a excomunhão a que são votados os que ousam duvidar da verdade estabelecida como tal.

    Deixem-me então murmurar também entre dentes e a propósito da consagração de Cristiano Ronaldo como melhor jogador do mundo para a FIFA: «E pur Messi...»

    3 Cissokho é o 11.º lateral-esquerdo contratado pelo FC Porto nos últimos sete anos. É um lugar votado ao insucesso para os lados do Dragão: o último que por lá passou reunindo um mínimo de consenso mas sem chegar a aquecer o lugar, foi o Nuno Valente. Mas, eu, pessoalmente, nunca o achei jogador por aí além: para mim, o último defesa-esquerdo aceitável que o FC Porto teve foi Esquerdinha, e o último verdadeiramente grande foi o também brasileiro Branco — já quase na noite dos tempos. É, de facto, altura de acertar.

    Entretanto, dizem-nos generosas vozes que «há muito mercado» para jogadores excedentários dos «dragões», tais como Stepanov, Farias, Adriano ou Bolatti. Pois, há muito mercado, mas eles continuam por ali eternamente e os únicos que se preparam mesmo para sair, emprestados, são os miúdos que mais prometem — Rabilola e Candeias. Há muito mercado, mas a verdade é que ninguém está disposto a arcar nem que seja com um terço dos fabulosos ordenados que, lá pelo Dragão, se pagam a jogadores do nível destes. E assim a SAD do FC Porto vai penando com os encargos ruinosos de jogadores que não servem mas que estão amarados por contratos de longa duração e ordenados de vedetas. Dizem, por exemplo, que a Grécia «chama» por Farias e que até há um clube grego que estará disposto a pagar os cinco milhões de euros que o FC Porto «exige» — embora, acrescenta-se, até só preferisse emprestá-lo. Sim, sim, e a minha avó só por azar não cantou ópera no Scala: por cinco milhões de euros, o FC Porto não só vendia o Farias, como ainda oferecia o Stepanov, o Bolatti, o Adriano e mais uns quantos, e até era capaz de pagar metade dos ordenados deles. E era uma grande poupança!

    4 No FC Porto-Vitória Setúbal, para a Taça da Liga, o Leandro Lima — um dos quatro portistas ao serviço do Setúbal e um dos 30 ou 40 jogadores emprestados pelo FC Porto — falhou um penalty contra o «patrão». Foi quanto bastou para que um rol de ilustres benfiquistas se lançassem numa histeria de suspeitas sobre o rapaz, «esquecidos» que já estão do inesquecível jogo do Jorge Ribeiro no Boavista-Benfica do ano passado, poucos dias depois de o Benfica ter anunciado o interesse nos seus serviços — à semelhança do que fez com vários outros, sempre antes dos jogos contra os seus clubes.

    Os ilustres benfiquistas «estranharam» que o Leandrinho tenha falhado o penalty que daria a igualdade ao Vitória, num jogo tão importante para os portistas que Jesualdo até meteu a reserva em campo. Mas já não estranharam que o árbitro do jogo tenha assinalado dois penalties contra o FC Porto e nenhum deles evidente, que o primeiro tenha sido convertido, vejam lá, pelo mesmo Leandro Lima, e que a critica tenha sido unânime em considerar que o melhor setubalense em campo foi... Leandro Lima. De que será que eles não desconfiam?

    Por estas e por outras é que eu, mais uma vez ao arrepio da opinião correcta, sustento que os clubes que emprestam jogadores têm toda a legitimidade, contratual e ética, para não os deixar utilizar contra si. Além do mais, era a maneira de calar os maledicentes. Será que lhes ocorreu, um segundo que fosse, que as suas «estranhezas» são uma forma de caluniar um profissional? E o FC Porto empresta o jogador, paga-lhe o ordenado, ajuda outro clube, deixa-o utilizar o jogador contra quem lhe paga e ainda tem que levar com o escarcéu dos profissionais da desconfiança e maledicência?

    Miguel Sousa Tavares n' A Bola.
    FONTE: http://portistaforever.blogspot.com/

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