Sonhos de menino...

Apetece-me recordar os tempos de menino que, com aquela excitação própria da idade, percorre as ruas da Invicta em passo acelerado rumo ao Estádio do clube do coração onde vai pela 1ª vez. Já lá vão mais de 22 anos…Recuemos a 11 de Janeiro de 1987, uma tarde de tempo ameno onde Porto e Vitória enchem por completo o Estádio das Antas. As rádios falam em 90 mil pessoas... Quando chego ao Estádio e vejo aquele fabuloso tapete verde e os milhares de cachecóis azuis e brancos desfraldados ao vento foi como amor à 1ª vista. A paixão da minha vida estava ali identificada e marcada para todo o sempre. Esse jogo terrível pela enchente e pelo valor do adversário deixou o meu pai com a noção clara do filho que ali tinha. Completamente doente pelo FC Porto... O Vitória Minhoto adiantou-se no marcador por duas vezes e este que vos escreve, na altura com o seus 12 anos de idade, desespera e senta-se nas bancadas das Antas, branco como a cal, assustando por momentos alguns dos que me acompanhavam. Os golos de Juary e Casagrande foram momentos indescritíveis que determinaram um empate 2-2 perante um adversário que estava, nessa altura (2ª ronda da 2ª volta) e antes deste jogo, a 1 ponto do 1º lugar numa época em que o FC Porto acabaria por ganhar a Taça dos Campeões Europeus em Viena de Áustria. No regresso a casa o meu pai sabia que o sonho de uma criança acabara de ser realizado...

Apetece-me recordar as noites em que já deitado ouvia os relatos do Gomes Amaro e sentia os pés suados, vibrando intensamente com os golos de Gomes, Madjer, Futre, Elói e outros… Apetece-me recordar as tardes de domingo passadas em casa ouvindo a rádio no Quadrante Norte, os golos repetidos ao intervalo, o refrão “que bonito é, as bandeiras tremulando, a torcida delirando, vendo a rede balançar”… Saudades... Não esqueço uma aula de Francês em que sem o professor se aperceber ouvia o relato de um Boavista-Porto para a taça e nessa altura um colega puxa-me o rádio e por alguns segundos todos ouvem uma jogada de Celso deixando-me da cor do clube que odeio. Há recordações de tardes de desespero, como a de 1991 com César Brito na pele de mau da fita mas há muitos momentos de vitórias, de alegrias, de euforia. Não me é difícil recordar golos de Domingos e Timofte (aqui já nos anos 90) e eu ali correndo aos gritos como um louco no corredor da casa dos meus pais. Aquela magia dos meus 12 anos teve o seu êxtase absoluto em 27 de Maio de 1987 quando Madjer e Juary foram os "Deuses" que nos levaram ao Paraíso. Quantas noites sonhei eu, com aquele golo de calcanhar…

Mas não se pense que com o avançar da idade fui melhorando, pois na verdade, desconfio bem que não. A loucura que se apoderou de mim aquando do golo de Costinha ao Manchester em 2004 ou o descontrolo total após o 3º golo em Sevilha por Derlei fizeram-me chorar como uma criança e nessa altura os meus 12 anos de idade já iam bem longe. Desde a época 86/87, inclusive, que vou arquivando jornais, dossiers alusivos a conquistas do FC Porto, hábito que mantenho até hoje. Aliás, desde 1986 e durante 15 anos consecutivos, que mantive no segredo dos Deuses dossiers actualizados e escritos por mim (sim, tinha a mania que era jornalista desportivo...) com todos os jogos da época do FC Porto, desde o futebol ao andebol, passando pelo basket e pelo hóquei e não esquecendo as camadas jovens... Nos últimos anos tenho-me dedicado mais à Internet e à blogosfera...

Todas estas recordações surgiram numa recente viagem ao Sul do País onde 6 horas foram insuficientes para 2 Portistas contarem os seus episódios, as suas aventuras, as vitórias mais marcantes entre 2 adeptos que ao longo da viagem foram-se apercebendo que a “nossa doença” afinal é tão só uma forma de vida que algumas pessoas têm a sorte de partilhar, o facto de serem adeptos de um clube tão especial e tão glorioso como o FC Porto! Até os seus arquivos no quarto contendo jornais, bilhetes e outros adereços alusivos ao mágico FC Porto facilmente se confundiriam com os meus. Foi bonito. Foi reconfortante. Sentiu-se ali muito amor ao clube. Senti que não caminhava sozinho... Os sonhos deste "menino" que vos escreve, afinal, podem ser partilhados com todos vós, pois é com vocês que me identifico, plenamente! O FC Porto é a nossa vida!!! Por isso, desfrutemos dela ao máximo!!!


Um abraço do Lucho.