07 abril, 2013

Contas do FCP (Clube e não SAD)

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Teve lugar no passado dia 26 de Março a Assembleia Geral Ordinária do FCP para apreciação, discussão e votação do Relatório e Contas da Direcção e respectivo parecer do Conselho Fiscal, referente ao período compreendido entre 1 de Julho e 31 de Dezembro de 2012.

Ao contrário do habitual em que o período abrangido é um ano fiscal, neste caso apenas se analisou um semestre porque dando cumprimento ao disposto no parágrafo único do artº 85º dos Estatutos do Clube “nos anos em que houver eleições, as contas serão encerradas em 31 de Dezembro e submetidas à Assembleia Geral até 31 de Março, cabendo à nova Direcção a elaboração do Balanço relativo aos meses de Janeiro a Julho inclusive”.

É o caso deste ano de 2013, ano de eleições, e daí a convocatória desta Assembleia Geral, note-se do Clube e não da SAD, onde apenas cabem os sócios do Clube (e não os accionistas da SAD, excepto se também forem sócios), e onde apenas se podem discutir as contas do Clube e não as contas da SAD (onde não cabem os sócios do Clube, excepto se também forem accionistas). Fica esta nota porque, a avaliar por alguns comentários sobre as contas, ainda grassa alguma confusão entre o Clube e a SAD, e as suas diferentes realidades estatutárias, jurídicas, económicas e financeiras.

Posto isto, que dizer sobre o Relatório e Contas apresentado?

Pois bem, neste período de seis meses apresentou um prejuízo de 2 970 159 € resultante de dívidas incobráveis, sendo este reconhecimento de incobrabilidade de contas a receber de duas empresas do grupo FCP:
    a) 2.043.555 € da FC Porto Basquetebol, SAD, pela extinção da Sociedade e pela consequente assunção de responsabilidade de pagamento de dívidas desta sociedade a outros credores;
    b) 1.377.395 € da Investiantas, S.A. pelo facto desta sociedade não deter quaisquer ativos que lhe permitam liquidar a dívida para com o Clube.
Destaque para a quebra no valor de quotas cobradas aos associados, como seria previsível, que baixaram de 2.543.341 € em 31 de Dezembro de 2011 para 2.323.093 € em 31 de Dezembro de 2012 (não esquecer que estas quotas respeitam apenas a seis meses), uma diminuição de 8,7% que deve ser associada à crise económica que se vive.

As contas apresentadas podem, basicamente, ser analisadas numa dupla perspectiva: da solvência e da liquidez (entre vários outros indicadores, claro, mas fiquemos por estes).

Do ponto de vista da solvabilidade total (relação entre capital próprio e passivo total) a situação é excelente por força dos elevados capitais próprios - 60.635.066 € - face ao passivo total de 41.600.449 €. Esta situação patrimonial tão boa (ao contrário da SAD, tão má … ver artigo anterior sobre a deterioração da situação patrimonial) deve-se às enormes mais valias, cujo valor se cifrou em 52.092.722 €, no exercício de 2002/2003, geradas pela avaliação dos terrenos resultante da operação de reparcelamento do Plano de Pormenor das Antas; estes terrenos pertencentes ao FCP foram o alicerce da operação financeira montada pelo Clube junto da banca para o financiamento do Estádio do Dragão.

Quanto à liquidez, tal como também acontece na SAD, a situação é muito difícil, sendo exemplo disso o fundo de maneio negativo (isto é, passivo corrente superior ao activo corrente), como o próprio revisor oficial de contas salienta na sua “ênfase” ao referir “Desta forma, a continuidade das operações do Clube está dependente da manutenção do apoio financeiro do Grupo em que se insere”. Exemplo destas dificuldades de liquidez (tesouraria) pode ser encontrado na intervenção de um sócio, no período de meia hora para serem tratados assuntos de interesse para o Clube, que evidenciou estar bem informado, quando subiu ao palco para demonstrar o seu desagrado por atletas das modalidades ditas amadoras terem subsídios em atraso, o que perante o silêncio da Direcção também me deixa desagradado. Surpreendeu-me esta situação, sobretudo porque já está em vigor a nova redistribuição interna de quotas entre Clube e SAD (75% e 25%, quando anteriormente era 25% e 75%, ou seja o Clube passou a ficar com o maior quinhão).

Bem pode o nosso ministro das finanças Angelino Ferreira vir para a comunicação social dizer que “temos o passivo financeiro mais do que controlado” que isso merece-me tanta confiança quanto o ministro Vítor Gaspar a fazer previsões sobre défices e desemprego. Porque uma coisa são os nossos desejos, mesmo que fundamentados para a realidade de hoje, outra é o futuro e suas condicionantes, que ninguém conhece.


nota: o blog BPc agradece ao JCHS a elaboração deste artigo.

2 comentários:

  1. amento dizê-lo (e custa-me bastante) mas a situação é muito má. Esperemos que isto não dê uma grande sarilhada e ponha em risco o futuro do Clube.
    Não me venham agora com a "história" dos outros. Eu quero lá saber dos outros - para mim se estiverem na falência é igual ao litro. Eu quero é saber do meu/nosso FC PORTO.

    Apetecia-me aqui dizer algumas coisas, bem fundamentadas e algumas delas indesmentíveis. Mas não, vou calar-me porque estou farto de levar porrada... Amén...

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  2. tomando como certezas o que aqui foi comentado pelo caro JCHS, diria que não será alarmante, mas sim preocupante a situação financeira, agravada ainda mais se pensarmos que o tempo das vacas gordas já lá vai há muito e sem fim à vista.

    goste-se ou não, com os riscos assumidos e calculados, há que ir de encontro à linha de pensamento que nos leva ao corte nas gorduras, doa a quem doer, custe a quem gostar... não é com despesismos estéreis e muitas vezes não compreendidos ou mininamente justificáveis nos tempos que correm, que lá vamos.

    apertar o cinto deve ser o lema, mas sem nunca deixar de pensar no que somos presentemente, desportivamente falando.

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